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30 de set. de 2014

À noite, todos os gatos são pardos

Por Augustus Nicodemus Lopes

Confesso que no fundo de meu coração tenho medo de um dia vir a afastar-me de Deus e de Sua verdade.
Tenho medo, explico, porque vejo no fundo de meu coração uma tendência constante para afastar-me de Deus. Sinto que a tentação para a heterodoxia e para a liberação total são perigos reais que me cercam diariamente. Vejo com muita clareza que submeter-me às Escrituras e crer em Deus é um milagre na minha vida.
Vi a apostasia acontecer muito de perto ao longo da minha vida. Um famoso professor de Bíblia do Recife, que foi a pessoa que me encaminhou ao seminário, abandonou a fé cristã depois de trair a mulher e abandoná-la com nove filhos. Eu estava no primeiro ano! Três colegas meus de classe, no seminário, entre os mais brilhantes da turma, hoje nem professam mais o cristianismo. Um jovem promissor que chegou ao Evangelho por minha instrumentalidade, e que posteriormente chegou até a estudar no L’Abri, com Francis Schaeffer, renegou o cristianismo histórico. Uma conhecida minha, desde a infância, que é missionária no estrangeiro, acaba de comunicar aos pais que não é mais cristã, depois de começar a viver com um homem casado. Líderes que conheci e admirei e segui durante os primeiros anos de minha vida, não deixaram as denominações evangélicas, mas já não crêem mais naquilo que me ensinaram.
Há advertências constantes nas Escrituras contra a apostasia. Apostatar significa afastar-se da verdade de Deus revelada nas Escrituras, como resultado de uma mudança de pensamento, e levantar-se em rebelião aberta contra ela. O que leva uma pessoa a fazer tudo isso, a abandonar a fé bíblica, seguir a heterodoxia, renegar os valores morais do cristianismo e pregar a liberação total?
Não pretendo entrar aqui na delicada questão acerca da salvação do apóstata. Talvez noutro post eu tente esclarecer os motivos para acreditar que um apóstata, no sentido real da palavra, nunca foi verdadeiramente salvo. Creio na perseverança final dos santos, dos eleitos.
O que eu gostaria é de inquirir acerca dos motivos que levam uma pessoa a abandonar a fé histórica do Cristianismo, após ter pregado e defendido essa fé por muito tempo. É evidente que não poderei inquirir aqui sobre os desígnios misteriosos de Deus. A minha inquirição é apenas psicológica, espiritual e teológica.
O Novo Testamento nos dá vários motivos pelos quais as pessoas se desviam da fé. Na parábola do semeador, lemos acerca dos que creram por um tempo e depois se desviaram, por causa dos cuidados desse mundo e por causa das perseguições que começaram a experimentar por causa do Evangelho. São aqueles que não acolheram sinceramente a verdade para serem salvos. A eles, o próprio Deus envia a operação do erro e da mentira (2Ts 2.9-11). Há também os que, depois de algum tempo, passaram a dar ouvidos a doutrinas de demônios (1Tm 4.1). Outros, se desviaram da fé para professar uma doutrina que acharam que era mais intelectual (1Tm 6.20-21). Com mais freqüência, há os que foram levados pela cobiça, como Judas, Balaão e Demas, que amou o presente mundo. A demora, a relutância, a indolência e a negligência em romper definitivamente com o pecado e o erro são causas prováveis de apostasia, conforme o autor de Hebreus ensina em toda a sua carta. Ele avisa que a dureza de coração e a incredulidade são capazes de afastar alguém do Deus vivo (Hb 3.12-13).
Em resumo, os motivos externos são vários: amor ao dinheiro, orgulho, problemas morais não resolvidos, vaidade intelectual, falta de coragem para assumir a verdade e desejo de novidades. A raiz de tudo isso, ao meu ver, é a falta de um coração regenerado, um motivo que os autores bíblicos estão sempre prontos a admitir.
O apóstata pode permanecer muitos anos na igreja e no ministério cristão sem jamais revelar a apostasia que já aconteceu em seu coração. Outros, assumem a apostasia e rompem abertamente com a fé cristã histórica, e geralmente adotam outras doutrinas que mesmo aparecendo com cara de novas e revestidas de respeitabilidade intelectual, nada mais são que as velhas heresias teológicas e morais que a Igreja já enfrentou ao longo dos anos. Eu não me espantaria se por detrás dos grandes desvios teológicos da história encontrássemos pecados não resolvidos, orgulho, vaidade intelectual, soberba, dureza de coração e – obviamente – corações não regenerados. É claro que nunca saberemos ao certo. A história não registra essas coisas que sempre são abafadas, escondidas e quase nunca declaradas.
Até onde entendo, só há uma coisa que mantém o cristão na verdade: o temor a Deus, a humildade e um coração quebrantado. Os que verdadeiramente se humilham diante de Deus e tremem de sua Palavra, mesmo que errem em pontos secundários, que caiam eventualmente em pecados, jamais se afastarão definitivamente de Deus e da sua palavra. O verdadeiro crente não pode mais abandonar a Deus. Nem que queira. Nem que em momentos terríveis diga a Deus que nunca mais o servirá. Ele acaba voltando. O apóstata vence essa barreira. Ele consegue passar o limite. Ele consegue pular a cerca. Ele não receia o que poderá acontecer. Pois no fundo ele realmente não acredita.
A apostasia é uma realidade muito mais presente nos meios evangélicos brasileiros do que se deseja perceber. O falso conceito de tolerância, o relativismo, a falta de convicções doutrinárias, o liberalismo teológico travestido de ciência, tudo isso favorece um quadro cinza e enevoado onde os contornos do verdadeiro Cristianismo não são percebidos com clareza. À noite, todos os gatos são pardos.

Credos e Confissões: Pérolas Preciosas

Por Morgana Mendonça dos Santos


Hebreus 4.14 "Tendo, portanto, um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou os céus, retenhamos firmemente a nossa confissão."

É inquestionável, as Escrituras Sagradas é o verdadeiro e único tesouro que nos foi entregue, olhar com um retrovisor e perceber toda a história da transmissão do texto bíblico, o processo do cânon, as traduções, todo caminho percorrido, os manuscritos e toda a estruturação do texto bíblico é definitivamente incrível. As Escrituras Sagradas deve ser reverenciada em todas as épocas, em todos os povos, em todas as culturas, é a palavra de Deus - inspirada, infalível, inerrante e suficiente. É fundamental a lembrança constante que somente e toda as Escrituras é suficiente para vivermos uma vida agradável a Deus. Nossa regra de fé e prática!

No entanto, existe uma herança que chamo pessoalmente de pérolas preciosas, a história do cristianismo nos oferece documentos, credos, confissões, catecismos, cânones, que não podemos desvalorizar. Seria uma pena subestimá-los sem ao menos conhecer. São chamados de símbolos da fé, ou seja, resumo sistemático das verdades fundamentais do Cristianismo.

1- Os CREDOS podemos dizer que são declarações de fé, de uma forma resumida. Os mais antigos símbolos da fé. Exemplos: Credo Apostólico, Credo Niceno, Credo Atanásio.

2- As CONFISSÕES são maiores, detalhadas, produto da reforma protestante, um símbolo de fé. Exemplos: Confissão de Fé Belga, Confissão de Fé de Westminster, Antiga Confissão de Fé Escocesa, Confissão da Guanabara.

3- Os CATECISMOS podemos afirmar que são resumos da fé cristã, estruturados em forma de perguntas e respostas, objetivo didático, uma ferramenta para o ensino da igreja. Exemplos: Catecismo de Heidelberg, Catecismo de Lutero e de Westminster.

4- Os CÂNONES são decisões oficiais de concílios, em relação a doutrinas específicas. Exemplos: Os Cânones de Dort.

Existe uma história que foi preservada de forma sistemática, existe um valor que deve ser aplicado a esses documentos, na história da igreja esses símbolos da fé tornou-se uma grande ferramenta para instrução, defesa da fé e de forma prática e litúrgica proporciona um convívio eclesiástico. Em seu livro Sola Scriptura, Paulo Anglada [1] afirma: "Os credos e confissões tem servido, portanto, ao propósito de registrar para a posteridade o progresso da compreensão bíblica e das formulações teológicas no decurso dos séculos". Nada pode ser comparado as Escrituras Sagradas, afirmando isso podemos questionar, qual o verdadeiro valor que podemos entregar aos símbolos da fé? Podemos observar o reflexo, a subordinação a Palavra de Deus, a luz que recebem das Escrituras nos garante que é uma pérola preciosa, mesmo não reivindicando inerrancia, contudo é uma expressão proporcional e coerente ao ensino bíblico. Isso é valioso.

Destaco nesse pequeno texto a história da Confissão Belga, desejo motivar o leitor a buscar conhecer todo esse aparato que temos como herança da história do Cristianismo. A Confissão Belga ou Confissão dos Países Baixos foi escrita por um homem chamado Guido de Brès, no ano de 1561, escreveu em francês, traduzindo no ano seguinte para o holandês. No ano de 1567, exatamente no dia 31 de maio, Guido de Brès foi condenado a forca por sua fidelidade a fé reformada, foi martirizado. A Confissão Belga contem 37 artigos, tratando dos seguintes temas: Ser de Deus e Sua obra, Escrituras, pessoa e obra de Cristo, pessoa e obra do Espírito Santo, criação, natureza do homem, queda, eleição, promessa, salvação pela graça de Deus mediante a fé em Cristo, igreja universal, governo, disciplina eclesiástica, sacramentos como selos da promessa, autoridade civil, juízo e vida eterna.

Guido de Brès havia preparado essa confissão com o propósito de protestar contra a cruel opressão por parte do governo católico-romano. Um exemplar da sua confissão foi enviado ao rei Felipe II, juntamente com uma petição em que os signatários declaravam estar prontos a obedecer o governo em todas as coisas legítimas, mas que estavam prontos "a oferecer as suas costas aos chicotes, suas línguas às facas, suas bocas às mordaças e o seu corpo inteiro às chamas" ao invés de negarem as verdades expressas nessa confissão.

Junto com milhares que foram mortos por conta da sua genuína fé, Guido de Brès foi um deles, que selou a fé com a sua própria vida, na manhã do seu martírio, as suas últimas palavras foram ouvidas [2]: "Fui condenado à morte hoje, por causa da doutrina do Filho de Deus. Louvado seja por isso o nome do Senhor! Estou muito feliz. Nunca pensei que Deus me daria esta honra. Noto que meu rosto se transforma pela graça que Deus faz aumentar mais e mais em mim. Sou robustecido a cada momento que passa; e mais, meu coração salta de alegria". Como não valorizar uma pérola tão preciosa? A sua confissão de fé foi confirmada com a sua vida, esse tratado foi traduzido em português e podemos aproveitar para conhecer a herança que a história da igreja nos deixou, um belo presente, uma pérola preciosa. Me pergunto se estou pronta para morrer por minha confissão de fé...

A Deus toda Glória, Rm 11.36.
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Notas
[1] ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura. Ananindeua: Knox Publicações, 2013, p.24.
[2] Prólodo de G. De Brès, Creemos y Confesamos: Confesión de Fe de los Países Bajos (Barcelona: Fundacion Editorial de Literatura Reformada, 1973, 1976), 22.
As três formas de unidade das Igrejas Reformadas. Os puritanos.

29 de set. de 2014

A doce Providência


Por Samuel Alves 

Alguém já falou que as doutrinas não devem ser apenas ensinadas, mas vividas. A doce providência divina nos ensina como conciliar os decretos de Deus e a nossa responsabilidade humana. A providência trata da questão da sobrevivência do mundo e revela um Deus soberano que o governa na palma de suas mãos, como Jesus disse: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5:17). O mundo não está nas mãos do deus do deísmo “o deus relojoeiro” que deu corda no mundo e foi embora. Deus continua trabalhando no mundo. A isto chamamos de Providência. Uma boa definição de Providência pode ser: “O permanente exercício da energia divina, pelo qual o Criador preserva todas as Suas criaturas, opera em tudo que se passa no mundo e dirige todas as coisas para o seu determinado fim”. 

A palavra “providência” era denominada pelos gregos pronoia, porque proteron noei (como diz Favorinus, Dicitiarium Varini Phavorini [1538], pp. 1569-70) abarca especialmente três coisas: prognõsin, prothesin e dioikêsin o conhecimento da mente, o decreto da vontade e a administração eficaz das coisas decretadas; conhecimento que dirige, vontade que ordena e poder que cumpre, como o expressa Hugo de São Vitor. A primeira prevê, a segunda provê e a terceira executa ou realiza. Daí a providência pode ser vista no decreto antecedente ou na execução subseqüente. Aquele é a eterna destinação de todas as coisas a seus fins; este é o governo temporal de todas as coisas consoante aquele decreto. Aquele é um ato imanente em Deus; esta é uma ação transitiva fora de Deus. 

É uma pena que muitos cristãos vivem como se fossem seres autônomos, onde planejam e fazem seus planos vaidosos. Numa leitura apurada das Escrituras Sagradas, veremos que o homem pode fazer seus planos, mas, o Senhor tem a palavra final. Outros acusam a doutrina da providencia de determinismo, muitos homens com o coração ensoberbado pelo humanismo acham que são o centro do universo e que tudo gira ao redor de si, acham que podem mudar os decretos eternos de Deus. Precisamos entender: há uma providência no mundo, Deus controla todas as coisas pelo poder de sua Palavra, Ele é o Deus todo poderoso e soberano. Como já disse o Salmista “os céus Declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra de suas mãos”. Salmos 19:1, mostra o controle absoluto de Deus sobre a natureza que Ele mesmo criou, também podemos ver a providência divina revelada em outras partes das Escrituras que descrevem Deus, não apenas como criador, mas, mantenedor de sua obra, através do Plano da Salvação (Criação, queda e redenção).

Vemos a total e divina providência constantemente. Deus nutre e sustenta sua criação, podemos consultar Jó 12, 38, 39, 40, 41; Salmos 19, 91, 103, 107, 136; Provérbios 16, 20; Jeremias 10; Mateus 6, 10; Atos 14,17. Cristo o expressa assim: “Meu Pai trabalha até agora” (Jo 5.17), não como se estivesse a criar novas coisas, mas conservando e governando aquelas já criadas. Assim “nem sequer um pardal pode voar sem a vontade de nosso Pai celestial, e os próprios cabelos de nossa cabeça estão todos contados” (Lc 12.6, 7). E Paulo diz: “Deus não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuva e estações frutíferas, enchendo vosso coração de fartura e de alegria” (At 14.17). Através da Revelação Especial (Bíblia) podemos ver que Deus nos dá a vida, respiração e tudo mais, pois, nele vivemos, nos movemos e existimos, como alguns de vossos poetas têm dito: 

Porque dele também somos geração” (At 17.25, 28).

E em outra parte ele ensina que Deus “faz todas as cousas conforme o conselho da sua vontade” (E f 1.11); “o Filho sustenta todas as coisas pela palavra de seu poder” (Hb 1.3); e “por ele todas as coisas subsistem” (Cl 1.17) e assim em inúmeras passagens. De Genesis a Apocalipse podemos contemplar o Senhor criando e sustentando todas as coisas, a luz das Escrituras Deus se revela aos homens e mostra sua soberania a sustentar o mundo e tudo que nele existe. Negar a doutrina da providência é um ato de um coração rebelde e obstinado, como homens temos responsabilidade de viver em humildade e responsabilidade. Portanto embora Deus seja criador e sustentador, somos responsáveis pelas decisões de nossa livre agência.
Soli Deo Glória.

A gloriosa tarefa de negar a mim mesmo

Por Martyn Lloyd Jones


Quando me defronto a esta formidável e gloriosa tarefa de negar-me a mim mesmo, tomar a cruz e seguir ao Senhor Jesus Cristo, dou-me conta de que devo andar por este mundo como Ele andou.

Quando percebo que nasci de novo e fui modelado por Deus conforme a imagem do Seu bem-amado Filho, e quando me ponho a perguntar: "Quem sou eu para viver assim? Como posso alimentar a esperança de fazer isso?" — eis a resposta: a doutrina do Espírito Santo, a verdade de que o Espírito Santo habita em nós. Que ensina ela? Primeiramente, faz-me lembrar o poder do Espírito Santo que está em mim.

O apóstolo Paulo já o dissera, no versículo 13 (de Romanos 8) . . . "Se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis». Aqui ele volta ao mesmo ensino: «Pois Deus não nos tem dado.espírito de covardia".

O que, em outras palavras, ele está dizendo aos romanos é: "É preciso que compreendais que não estais vivendo por vós mesmos. Haveis pensado nesta vossa tarefa como se vós somente, e por vós mesmos, tivésseis que viver a grandiosa vida cristã. Entendeis que estais perdoados, e podeis agradecer a Deus que vossos pecados foram cancelados e lavados, mas parece que pensais que isso é tudo e que vos deixaram para que vivais por vossa conta a vida cristã. Se pensais desse modo», diz Paulo, «não admira que estejais sob o espírito de covardia e servidão, pois não tendes esperança nenhuma de viver esta vida cristã, e, dessa maneira, tendes uma nova lei que é infinitamente mais difícil do que a antiga. Mas a situação não é essa, porquanto o Espírito Santo habita em vós".
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Fonte: Livro Depressão Espiritual

O Deleite de Deus na Redenção

Por Jhonatan Edwards


"Deus se deleita na obra salvífica de Cristo como um fim supremo da criação"

A obra da redenção realizada por Jesus Cristo é de tal maneira referida como conseqüência da graça e do amor de Deus pelos homens que não pode ser coerente com a ideia de que ele procura lhes comunicar o bem apenas de modo subordinado. Expressões como as de João 3.16 ("Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna"). 1 João 4.9,10: ("Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados"). Bem como Efésios 2.4: ("Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou"), apresentam outra ideia. Caso, porém, isso se desse apenas em razão de um fim ulterior, inteiramente distinto do nosso bem, todo amor seria concretizado e manifestado nesse objeto supremo, estritamente falando, e não no fato de que ele nos amou, ou que teve por nós a mais alta consideração. Se o nosso bem ou interesse não é considerado de modo supremo, mas apenas subordinado, é, em si mesmo, tido como nada para Deus.

As Escrituras sempre mostram que as grandes coisas que Cristo fez e sofreu foram, no sentido mais direto e estrito, decorrentes do seu imenso amor por nós. O apóstolo Paulo expressa esse fato da seguinte maneira em Gálatas 2.20: "Vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim". Efésios 5.25: "Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela". O próprio Cristo diz em João 17.19: "E a favor deles eu me santifico a mim mesmo". E as Escrituras mostram Cristo descansando na salvação e na glória do seu povo, quando estas são obtidas depois de terem sido buscadas acima de todas as coisas, como tendo alcançado o seu objetivo, recebido o prêmio pretendido e desfrutado o trabalho da sua alma no qual ele se satisfaz, como recompensa desse labor e das agonias extremas. Isaías 53.10,11: "Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos. Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si". Ele vê o trabalho da sua alma ao ver sua descendência, os filhos gerados por esse trabalho. Isso implica que Cristo se deleita, de modo absolutamente verdadeiro e próprio, em obter a salvação da sua igreja não apenas como um meio, mas como aquilo no que ele se regozija e se satisfaz, mais direta e particularmente.

Esse fato pode ser comprovado pelas passagens das Escrituras de acordo com as quais Cristo se regozija ao obter esse fruto de seu trabalho e aquisição, como o noivo quando recebe sua noiva. Isaías 62.5: "Como o noivo se alegra da noiva, assim de ti se alegrará o teu Deus". E quão enfáticas e veementes quanto ao seu propósito são as expressões em Sofonias 3.17: "O SENHOR, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo". Pode-se dizer o mesmo de Provérbios 8.30,31 ("Então, eu estava com ele e era seu arquiteto, dia após dia, eu era as suas delícias, folgando perante ele em todo o tempo; regozijando-me no seu mundo habitável e achando as minhas delícias com os filhos dos homens") e das passagens que falam dos santos como a herança de Deus, suas jóias e propriedade peculiar, afirmações amplamente corroboradas em João 12.23-32:

Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do homem. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preserva-la-á para a vida eterna. Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, o Pai o honrará. Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora. Pai, glorifica o teu nome. Então, veio uma voz do céu: Eu já o glorifiquei e ainda o glorificarei. A multidão, pois, que ali estava, tendo ouvido a voz, dizia ter havido um trovão. Outros diziam: Foi um anjo que lhe falou. Então, explicou Jesus: Não foi por mim que veio esta voz, e sim por vossa causa. Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo".

28 de set. de 2014

Trave e Argueiro

Por Wallace Jaguaribe

"E como podes dizer a teu irmão: Permite-me remover o cisco do teu olho, quando há uma viga no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás ver com clareza para tirar o cisco do olho de teu irmão."
Mateus 7:4-5

Nossos olhos são um dos principais sentidos para percebermos o mundo visível. Com eles percebemos as maravilhas da criação, mas, infelizmente, nossa visão também foi afetada pelo pecado e vemos como que pelo espelho. Perdemos a capacidade de enxergar o mundo pela ótica perfeita do Criador. Facilmente ampliamos o foco nos outros e temos muita dificuldade de nos percebermos como somos na realidade. Herdamos uma capacidade incompreensível de, mesmo com uma trave no olho, percebermos o argueiro no olho do outro.

Foi assim com Caim, o primogênito de Adão, que não entendia por que Deus aceitou apenas a oferta de seu irmão, Abel, e não a sua. Achava que o problema estava em Abel, então, planejou e executou o assassinato de seu próprio irmão. Não conseguia enxergar que o problema estava nele mesmo. Pois, Deus rejeitou Caim e sua oferta. O problema estava, portanto, no ofertante. Mas, seus olhos estavam cegos para esta realidade, uma vez que só conseguia ver falhas no seu irmão.

O profeta Jeremias, inspirado por Deus, deixou claro este grave problema da humanidade. Afirmou que cada pessoa deve queixar-se de seus próprios pecados. Esta revelação deveria nos levar a uma constante auto-avaliação, mas, ao contrário disto, continuamos procurando a causa de nossos problemas nos outros.

O apóstolo Paulo chama nossa atenção para o fato de que, cada um dará contas de si mesmo a Deus (Rm 14.12). É mais um convite ao auto-exame. No entanto, continuamos especialistas em avaliar os outros.

Jesus nos manda tirar primeiro a trave do nosso olho para, depois disto, retirarmos o argueiro do olho do nosso irmão. Não é proibido avaliar o outro para ajudá-lo a melhorar, mas, antes desta avaliação, precisamos nos avaliar.

Devido a esta dificuldade, muitos lêem a Palavra de Deus em busca de palavras que sirvam para massagear seu ego, em busca de promessas, ou para usá-la como arpão contra seu próximo. Mas, o modo correto e edificante de ler as Santas Escrituras é, em primeiro lugar, para cada um examinar-se a si mesmo (1Co 11.27).

O que este texto bíblico fala para mim? O que eu preciso corrigir em minha vida? Estou agindo como a Bíblia ordena em tal e tal situação? Estou reagindo do modo correto conforme a Bíblia ensina? Após este auto-exame, poderei ficar surpreso ao descobrir que muitos dos meus problemas são causados por mim mesmo e não pelo meu irmão.


Graça e Paz.

27 de set. de 2014

Alimentando ovelhas ou divertindo bodes?


Por Thiago Azevedo

Em dias atuais esta é a pergunta que não quer calar. Ela não é recente, Charles Spurgeon, mais conhecido como o príncipe dos pregadores, teceu-a em um artigo (disponível no site Monergismo e acessado em 22/09/2014). Nunca se viu a igreja entretendo tanto o povo ao invés de pregar o evangelho, nunca se viu “pastores” que mais parecem animadores de auditórios ou comediantes de stand up comedy divertindo a massa. Nunca se viu tanta artimanha para atrair os bodes, e, enquanto isso, as ovelhas ficam numa dieta forçada, com pouco alimento consubstanciado e nutritivo – e em alguns casos, nem alimento tem. Estes líderes precisam entender conforme o velho jargão que há nos círculos cristãos “Comida de ovelha todo bode come, mas comida de bode, ovelha não come”.

Por que tanta preocupação em agradar os bodes, em atrair os incrédulos e em fazer o evangelho parecer algo divertido e pitoresco ao invés de alimentar as ovelhas em pastos verdejantes? Na atualidade, as igrejas realizam tantas festividades voltadas para o incrédulo que acabam se esquecendo das ovelhas que estão em seu ambiente. Em certa ocasião, tive acesso ao calendário anual de uma determinada igreja e lá constava mais cultos e festas voltadas para o lado de fora da igreja do que algo voltado para os fiéis daquela instituição. Não estou querendo dizer com isso que estas atividades externas não devam existir, mas a atenção maior, sem dúvida, deve ser dada aqueles que estão no lado de dentro da igreja, isso conforme o próprio texto bíblico de 1Tm 5:8. Deve haver uma preocupação primária com os da família da fé. A proposta-mor destes líderes do evangelho humorístico e banalizado,  voltado apenas para o incrédulo é a aliança com o mundo. Eles baixam o nível do evangelho para que este seja visto como acessível, retiram a exclusividade de Cristo da pregação,  entendendo que isso cria uma barreira para os incrédulos. Omitem preciosas doutrinas bíblicas só para que o evangelho pareça algo diferente daquele que foi pregado pelos apóstolos e pais da igreja.

O reverendo Renato Vargens em seu livro “Reforma agora” mostra a gama de falsos apóstolos que profere interpretações bíblicas se gabando destas interpretações particulares serem mais valiosas que os ensinos dos próprios apóstolos. Recentemente um líder religioso de uma dessas igrejas que mais parece um grande picadeiro teceu a seguinte frase: “Paulo não compreendeu o que Deus quis dizer nesta passagem, e eu irei mostrar a todos o que de fato Deus queria aqui”. Perceba o tom de superioridade e a carga maligna destas palavras. Comportamento bem distinto dos apóstolos de cristo do primeiro século que além de humildes, tinham as escrituras como sendo sua base Jo 3:30 / 2Tm 4:2. Por sinal, no texto citado de Timóteo a recomendação de Paulo é a pregação da palavra e não para contar piadas ou para entreter o povo. Inclusive, Paulo alerta o jovem pastor Timóteo dos tempos que surgiriam homens que iriam repudiar a sã doutrina e com coceiras no ouvido, segundo seus próprios desejos, juntarão mestres para si mesmos (2Tm 4:3).

A gama acachapante de homens que desejam que os holofotes e todas as atenções estejam voltadas para eles é realmente surpreendente. O princípio de Jo 3:30 cai por terra.  Em Ef. 4:11 as escrituras relatam que Deus deu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para mestres e outros para doutores. A bíblia, em lugar nenhum, diz que Deus levantou um ministério do entretenimento ou da comédia dando este dom a alguém – isso não passa de invenção do homem. Em certa ocasião, certo “pastor” pregou mais de 40 minutos e nem se quer a bíblia abriu. Este homem contou toda sua história e trajetória de vida aliando rizadagem e contos engraçados. A plateia se deleitava enquanto eu voltava para casa – e eu ainda fiquei com fama de herege. Em outra ocasião, conversando com um amigo, este me disse que o verdadeiro pastor é aquele que abre a bíblia, lê um texto, e depois disso fecha a bíblia e prega com ela fechada. Em amor, lhe expliquei que isso não procede. A omissão da bíblia é uma estratégia para que não se compare ou se avalie o que está sendo dito. Durante mil anos a humanidade sofreu com isso. O que muitas vezes contribui com este panorama é a própria falta de entendimento e ignorância do povo (Os 4:6). Pois, pautados pela a ideia de que julgar não é dever nosso, e este entendimento provém de uma interpretação pobre de Mt 7:1.

Alguns dão campo para atuação destes falsos mestres e com isso permitem que a igreja se torne um circo e uma fonte de entretenimento direcionada mais para quem se encontra fora dos portões dela. A bíblia nos traz vários textos que alertam acerca de falsos prodígios e sinais, mentiras e falsidade, são eles: (Mateus 24:4; 2 Coríntios 11:13-15; 2 Timóteo 3:13; Apocalipse 13:13-14; 16:13-14). Se acreditarmos na Bíblia, podemos esperar uma abundância de falsos milagres[1]. Logo, como se deve avaliar se tudo isso é verdadeiro ou como se deve avaliar a postura de um líder? A resposta é JULGANDO DE ACORDO COM AS ESCRITURAS! João adverte para testar os espíritos em 1Jo 4:1. Também adverte acerca daqueles que não são de Deus 1 Jo 4:6. Era mais ou menos o comportamento dos cristãos de Beréia (At 17:10-11) que examinavam o ensinamento de Paulo e de quaisquer outros pela escritura. As escrituras são o crivo, e não se o sujeito é ou não cômico ou promove entretenimento. O final do versículo 11 do texto supracitado diz que os cristãos de Beréia examinavam diariamente as escrituras para ver se os ensinos procediam. Deva ser por isso que cada vez mais as igrejas estão se tornando verdadeiros parques de diversão e as ovelhas estão famintas e desnutridas, em paralelo, os bodes estão cada vez mais robustos e cevados pelo fato de serem alimentados constantemente.

Não há mais o costume de examinar as escrituras e confrontar o que está sendo dito e o que está errado. De certa forma, há um regresso aos tempos medievais, vive-se na atualidade uma nova idade média, onde a bíblia tem - cada vez - mais caído no esquecimento  e na omissão. Isso é fruto da estratégia maligna de alguns líderes tendenciosos. Em Gálatas 1: 8-9 Paulo diz que ainda que ele ou um anjo que venha do céu pregue algo diferente, seja este amaldiçoado. Como saberá se é diferente ou não? Por meio das escrituras sagradas. Em outras palavras, é como se Paulo estivesse dizendo que ele mesmo, o seu ensino, devia ser confrontado para ver se era ou não verdadeiro. Por que na atualidade não vemos os líderes fazendo esta proposta? Por que os pastores atuais não pedem para os fiéis procurarem na bíblia onde constam estes tipos de ensino como: ungir objetos, dízimos astronômicos, correntes de fé, copo com água santificada ou vendas de objetos santos que transmitem graça? Ou ainda, por que os líderes da atualidade não pedem para os fiéis procurarem nas escrituras onde existe o ensino de que é preciso fazer algo para alcançar a salvação? Muitos até têm atribuído graça salvífica a certos objetos. Ou seja, ou adquire e vai para o céu ou não adquire e vai para o inferno. É ou não é um medievo contemporâneo? Sim.
A resposta para as demais perguntas é a seguinte: Os “líderes e pastores” contemporâneos não pedem que os fiéis consultem a bíblia à procura destas aberrações porque não há nenhuma passagem bíblica que corrobore com estes sacrilégios heréticos. Isso tudo não passa de ração para bodes, e este tipo de alimento ovelha não come. Na atualidade não se deve avaliar os líderes religiosos pelo o que os mesmos proferem, eles são adeptos de uma verborragia clássica, ou seja, dizem que amam as escrituras, que creem na graça salvífica, que creem na justificação pela fé e na soberania de Deus na salvação. Mas, as práticas e as atitudes destes líderes os denunciam veementemente.

Há um dito puritano que se deve fazer uso no ambiente eclesiástico tupiniquim: “Aquilo que alguém faz fala mais alto que suas próprias palavras” Alguns líderes têm um discurso bonito quanto às verdades bíblicas, mas os seus atos mostram que são filhos do diabo. Estes líderes realizam campanha para que se alcance graça salvadora, uns ainda dizem que quem não contribui não vai para o céu e outros líderes chegam até a vender lugar no céu. Outros colocam um óleo perfumado em um patamar mais elevado que a própria oração etc. Estes líderes são de fato muito habilidosos quando o assunto é alimentar seus bodes e desprezar as ovelhas. Portanto, a convivência entre bodes e ovelhas não cessará tão cedo, os bodes podem muito bem se alimentar na comida das ovelhas – eles até gostam –, mas, infelizmente, alguns falsos pastores preferem privar as ovelhas de um bom alimento e alimentar tão somente os seus cabritos.

É por isso que as ovelhas andam desnutridas. Mas, com toda convicção, há pastos saudáveis e verdadeiros pastores que ainda se preocupam em alimentar suas ovelhas com alimento nutritivo como fez o pastor do Salmo 23. Como ovelha, aconselho que haja uma procura por pastos saudáveis e por pastores comprometidos em alimentar primariamente seu rebanho, e, ao encontrá-los, possa de fato usufruir e se deleitar numa boa alimentação e num bom pastoreio, sobretudo, no Pastor dos pastores que se encontra na pessoa de Deus.



[1] http://www.estudosdabiblia.net/a5.htm

Não são os dias daqui

Por Fernando Carvalho


A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. (Filipenses 3:20 - NVI) 

Irmãos nota-se de maneira cada vez mais límpida como em nada temos identificação com esse tempo presente, dentre todas a suas ações humanas, observando também onde guardam toda sua esperança. O desespero estampado nas faces daqueles que inseridos nesta competitividade implacável, veem ameaçadas as realizações de seus desejos e sonhos, gerados também pela máxima atual de serem os primeiros em tudo e sobre todos.

São alimentados por todo tipo de propagandas estrategicamente criadas para promover desejo de vitória, poder, construção de uma vida que sirva de admiração e referência para os demais. Poderia citar uma frase de efeito de uma determinada empresa de comunicação, que afirma que você poderá viver sem fronteiras.

O que não é mais novidade, é que alguns púlpitos são plataformas geradoras desse tipo de mensagem satânica, com o pretexto de estarem levando esperança para todos aqueles que vivem sofrendo neste mundo, arrastando uma multidão a entrarem também no ramo da competição pelos bens terrenos.

O Apóstolo Paulo escrevendo à Igreja em Filipos, de dentro de uma prisão certamente romana, anima aos crentes em Jesus Cristo a viverem as dificuldades desse tempo guardando a esperança em Jesus Cristo e aguardando uma nova vida, numa nova pátria. Essa é a esperança de um servo de Cristo que mesmo em situação dificílima, tendo perdido a liberdade física animava aos demais a não perderem a verdadeira esperança que jamais os deixariam frustrados. Observem irmãos que NÃO SÃO OS DIAS DAQUI que poderão trazer conforto, paz, felicidade, justiça para aqueles que são eleitos e salvos por Jesus Cristo. Perdemos nossa identificação com esse tempo! Tudo se fez novo, inclusive a nossa esperança que não é mais nas coisas terrenas. Um verdadeiro Cristão sente-se como um estranho nesse mundo, quando a falsa esperança desse tempo é apresentada como supridora de seus anseios.

Em outra passagem o mesmo apóstolo Paulo escrevendo aos coríntios no capítulo 15 versículo 19 nos afirma: Se esperamos em Cristo somente nesta vida, somos os mais infelizes de todos os homens (R A). É a uma nova vida que esse texto se refere, mostrando que agora temos em Jesus a esperança da ressurreição para que se complete a nossa alegria e recebamos a nossa herança. 

Muitos acreditam que se “aceitarem” Jesus como salvador estarão isentos de quaisquer dificuldades, serão bem sucedidos e vencedores dentro dos padrões e filosofias deste mundo. Esse ensino está fora da proposta bíblica ensinada por nosso Senhor e seus servos. Somos chamados a sermos participantes dos sofrimentos presentes, negando a nos contaminarmos com a praticidade maligna de se dar bem em nosso cotidiano, usando das artimanhas oferecidas a todo instante. Nos DIAS DAQUI teremos momentos de alegria, sentimento de vitória, e sensação de paz e conforto quando as excelências de Cristo habitarem dentro de nossos corações! Pois nos lembraremos de que apesar das dificuldades atuais temos uma pátria onde, para sempre ao lado do Senhor e todos os irmãos, desfrutaremos das bênçãos eternas incalculáveis. 

Alguns conselhos para os DIAS DAQUI:

1) O padrão de suas tomadas de decisões deverá ser pautado no exemplo do Senhor Jesus, enquanto Ele andou entre nós. (Filipenses 2:1-8).

2) Busque conhecer as reais promessas oferecidas para aqueles que são chamados a servirem a Cristo, descritas na bíblia (1 Pedro 1:3-7).

3) Ocupe a sua mente a pensar na glória de Cristo quando algumas dificuldades afligirem a sua vida por causa do seu novo padrão de vida. Isso não fará desaparecer a dificuldade, mas lhe ensinará a passar por ela com esperança (Romanos 8: 18-27).

4) Não se molde aos DIAS DAQUI se comportando igualmente aqueles que desconhecem a Deus, para que você não seja envergonhado (Mateus 5: 13-16).

Busque viver os conselhos acima andando com pessoas que professam uma fé sadia pelas Escrituras (Igreja) e você verá que a motivação para execução dessas práticas virá através do exemplo dessas outras vidas e do próprio Senhor Jesus.

Soli Deo Glória!

Vox Dei: A Teologia Reformada da Pregação

Por Paulo Anglada

A pregação, como uma forma distinta de comunicação da vontade de Deus revelada na sua Palavra, está em declínio. Em muitas igrejas ela tem sido substituída por um número cada vez maior de atividades.
Há 30 anos atrás, o Dr. Martyn Lloyd-Jones foi convidado a proferir uma série de conferências no Westminster Theological Seminary, em Filadélfia. Nessas palestras, publicadas em 1971 com o título Pregação e Pregadores, ele enfatizou que a pregação é a tarefa primordial da igreja e do ministro, e explicou que estava ressaltando isso “por causa da tendência, hoje, de depreciar a pregação em prol de várias outras formas de atividade.”1 A situação não melhorou. John J. Timmerman observou, quase vinte anos depois, que “em muitas igrejas o sermão é uma ilha que diminui cada vez mais em um mar turbulento de atividades.”2
Mesmo igrejas de tradição reformada parecem estar sucumbindo paulatina, mas progressivamente, a essa tendência, e o lugar da pregação no culto tem perdido importância. John Frame, teólogo de tradição reformada, publicou há dois anos o livro Culto em Espírito e em Verdade:Um Estudo Estimulante dos Princípios e Práticas do Culto Bíblico. No livro o autor nega, entre outras coisas, que a pregação seja função restrita dos ministros da Palavra, ou mesmo dos presbíteros em geral, considera a dramatização e o diálogo métodos legítimos de ensino no culto público, e não vê razão pela qual um culto público não possa ser inteiramente musical.David Engelsma, outro reformado conhecido, observa, entretanto, que com base na negação de qualquer distinção entre o culto público oficial e o culto familiar, John Frame faz uma interpretação tão ampla do princípio regulador reformado, que este acaba se tornando sem sentido.4
Muitas são as razões para o declínio contemporâneo da pregação. O surgimento de novos meios de comunicação e de novas mídias interativas, a aversão do homem pós-moderno pela verdade objetiva ou absoluta, a secularização da sociedade, o afastamento do cristianismo das Escrituras, e a própria corrupção da pregação, em muitos púlpitos degenerada em eloqüência de palavras, demonstração de sabedoria humana, elucubrações metafísicas, meio de entretenimento, ou embromação pastoral dominical, certamente são algumas delas.Uma das principais razões, entretanto, diz respeito à concepção moderna da pregação, muitas vezes encarada como atividade meramente humana e pouco relevante, cuja eficácia depende fundamentalmente das habilidades naturais ou capacidade do pregador.
Todas estas tendências, influências e concepções produziram resultados devastadores sobre a pregação nos meios evangélicos. Ela tornou-se como que um apêndice no culto público, e as conseqüências, sem dúvida, se têm feito sentir na vida da igreja. Na perspectiva reformada, o declínio do lugar da pregação no evangelicalismo moderno é uma constatação seríssima. Se a teologia reformada com relação à pregação reflete o ensino bíblico, então muito do estado presente da igreja cristã, se explica como resultado desse declínio da pregação. Meu propósito com este artigo é apresentar, resumidamente, o ensino reformado concernente à natureza, importância, eficácia e propósito da pregação.
I. a natureza da pregação
O conceito reformado de palavra de Deus é mais amplo do que aquele geralmente compreendido pela expressão. Ele inclui a palavra escrita: a Bíblia; a palavra encarnada: Cristo; a palavra simbolizada ou representada: os sacramentos do batismo e da ceia; e a palavra proclamada: a pregação.Na teologia reformada, portanto, a pregação da Palavra de Deus é palavra de Deus. Esta concepção de pregação é professada no primeiro capítulo da Segunda Confissão Helvética, de Bullinger, nos seguintes termos:
A Pregação da Palavra de Deus é palavra de Deus. Por isso, quando a Palavra de Deus é presentemente pregada na igreja por pregadores legitimamente chamados, cremos que a própria palavra de Deus é proclamada e recebida pelos féis; e que nenhuma outra palavra de Deus deve ser inventada nem esperada do céu...
Isto não significa identificação absoluta da palavra pregada com a palavra escrita. As Escrituras são definitivas e supremas, inerentemente normativas, enquanto que a autoridade da pregação é sempre delas derivada e a elas subordinada.Não significa também que a pregação seja inspirada ou inerrante. Os pregadores, por mais fiéis que sejam na exposição das Escrituras, não são preservados do erro como o foram os autores bíblicos. Muito menos significa que os ministros da Palavra sejam instrumentos de novas revelações do Espírito. O próprio documento reformado acima citado repudia essa idéia, ao afirmar que “nenhuma outra palavra de Deus deve ser inventada nem esperada do céu.”
A pregação da Palavra de Deus é palavra de Deus, primeiro porque é na condição de porta-voz, de embaixador, de representante comissionado por Deus, que o pregador fala (2 Co 5.20). “A natureza da obra do pregador,” observa Dabney, “é determinada pela palavra empregada para descrevê-la pelo Espírito Santo. O pregador é um arauto.”A pregação é palavra de Deus porque é entregue em nome de Deus, e debaixo da sua autoridade. Em segundo lugar, a pregação é palavra de Deus em virtude do seu conteúdo. Parker observa que a pregação recebe seu status de palavra de Deus das Escrituras. A pregação “é palavra de Deus, porque transmite a mensagem bíblica, que é a mensagem ou Palavra de Deus.”Enquanto a pregação refletir fielmente a Palavra de Deus, ela tem a mesma autoridade, e requer dos ouvintes a mesma obediência.10 
Robert L. Dabney observa que o uso do termo arauto para descrever o ofício do pregador encerra duas implicações. Primeiro, que não lhe compete inventar sua mensagem, mas transmiti-la e explicá-la. Segundo, que o arauto
...não transmite a mensagem como mero instrumento sonoro, como uma trombeta ou tambor; ele é um meio inteligente de comunicação...; ele tem um cérebro, além de uma língua; e espera-se que ele entregue e explique de tal maneira a mente do seu senhor, que os ouvintes recebam, não apenas os sons mecânicos, mas o verdadeiro significado da mensagem.”11 
Pregação, definiu Phillips Brooks, é a comunicação da verdade de Deus através da personalidade do pregador.12 Assim como a palavra inspirada não deixa de ser divina, embora escrita por autores humanos em pleno uso de suas peculiaridades humanas, assim também a palavra pregada não deixa de ser de Deus por ser mediada pela personalidade do pregador.
Na verdade, mais do que mero instrumento de comunicação da vontade de Deus, a pregação, na concepção reformada, é um dos meios pelos quais Cristo se faz presente na igreja. Assim como a fé reformada crê na real presença espiritual de Cristo nos sacramentos, crê também na sua real presença espiritual na pregação, pela qual ele salva os eleitos e edifica e governa a igreja.13 Essa concepção, em certo sentido sacramental da pregação, considerada como que uma epifania de Cristo,14 é afirmada freqüentemente por Calvino nas Institutas e em seus comentários.15 Leith observa que, nas Institutas (4.14.26), Calvino cita Agostinho, o qual referia-se às palavras como sinais, porquanto na sua concepção, “na pregação, o Espírito Santo usa as palavras do pregador como ocasião para a presença de Deus em graça e em misericórdia,” e, “nesse sentido, as palavras do sermão são comparáveis aos elementos dos sacramentos.”16 
A concepção reformada de pregação como vox Dei é compartilhada por Lutero. Comentando João 4.9-10, o reformador pergunta: “Quem está falando [na pregação]? O pastor? De modo nenhum! Vocês não ouvem o pastor. A voz é dele, é claro, mas as palavras que ele emprega são na realidade faladas pelo meu Deus.”17 Condenando a tendência católica romana de transformar em sacramento tudo o que os apóstolos fizeram, Lutero afirma que se alguma dessas práticas tivesse que ser sacramentalizada, que a pregação o fosse.18
Foi Calvino, entretanto, quem elaborou mais detalhadamente a questão da natureza da pregação como “a voz de Deus.”19 Em seu comentário de Isaías ele afirma que na pregação “a palavra sai da boca de Deus de tal maneira que ela de igual modo sai da boca de homens; pois Deus não fala abertamente do céu, mas emprega homens como seus instrumentos, a fim de que, pela agência deles, ele possa fazer conhecida a sua vontade.”20 Comentando Gálatas 4.19, “até ser Cristo formado em vós,” Calvino enfatiza a eficácia do ministério da Palavra, afirmando que porque Deus “...emprega ministros e a pregação como seus instrumentos para este propósito, lhe apraz atribuir a eles a obra que ele mesmo realiza, pelo poder do seu Espírito, em cooperação com os labores do homem.”21 Para Calvino, a leitura e meditação privadas das Escrituras não substituem o culto público, pois “entre os muitos nobres dons com os quais Deus adornou a raça humana, um dos mais notáveis é que ele condescende consagrar bocas e línguas de homens para o seu serviço, fazendo com que a sua própria voz seja ouvida neles.”22 Por isso, quem despreza a pregação despreza a Deus, porque ele não fala por novas revelações do céu, mas pela voz de seus ministros, a quem confiou a pregação da sua Palavra.23 Ao falar Deus aos homens por meio da pregação, Calvino identifica dois benefícios: “...por um lado, ele [Deus], por meio de um teste admirável, prova a nossa obediência, quando ouvimos seus ministros exatamente como ouviríamos a ele mesmo; enquanto que, por outro, ele leva em consideração a nossa fraqueza ao dirigir-se a nós de maneira humana, por meio de intérpretes, a fim de que possa atrair-nos a si mesmo, ao invés de afastar-nos por seu trovão.”24 
Os puritanos não pensavam de modo diferente. Eles viam o pregador da Palavra como um porta-voz de Deus.25 Eles afirmavam que “na fiel exposição da Palavra, Deus mesmo está pregando, e que se um homem está fazendo uma verdadeira exposição das Escrituras, Deus está falando, pois é a palavra de Deus, e não a palavra do homem.”26 “Não pode haver dúvida de que para estes adoradores, a pregação da Palavra tornou-se um sacramento verbal.’’27 John Owen, por exemplo, escreveu que “Cristo nos chama a si... nas pregações do evangelho, pelas quais ele é evidentemente crucificado diante de nossos olhos” (Gl 3.1).28 Mencionando a mesma passagem bíblica, Paul Helm comenta que, na pregação, os Gálatas como que viram a Cristo com seus próprios olhos.29 Ele também observa que “os protestantes geralmente enfatizam que a graça conferida nos sacramentos não é de natureza diferente e, certamente, não superior àquela conferida na pregação fiel... assim como os sacramentos são emblemas visíveis da graça de Deus, assim também é a pregação fiel.”30 
II. a relevância da pregação
Em virtude dessa elevada concepção da pregação como vox Dei, a fé reformada atribui à proclamação pública da Palavra de Deus a maior importância. Na tradição reformada a pregação é considerada como o principal meio de graça, como a tarefa primordial da igreja e do ministro da Palavra, como o elemento central do culto, como marca genuína da verdadeira igreja e como o meio por excelência pelo qual é exercido o poder das chaves.
A. O Principal Meio de Graça
Na teologia reformada a pregação é um meio de graça. Ela e a ministração dos sacramentos são as ordenanças pelas quais o pacto da graça é administrado na nova dispensação.31 
De fato, na concepção reformada, a pregação é o mais excelente meio pelo qual a graça de Deus é conferida aos homens,32 suplantando inclusive os sacramentos. Os sacramentos não são indispensáveis; a pregação é. Os sacramentos não têm sentido sem a pregação da Palavra, sendo-lhe subordinados.33 Os sacramentos servem apenas para edificar a igreja; a pregação, além disso, é o meio por excelência pelo qual a fé é suscitada; é o poder de Deus para a salvação.34 Os sacramentos são como que apêndices à pregação do evangelho.35 É assim que reformadores e puritanos interpretam as palavras de Paulo em 1 Coríntios 1.17: “Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho.” Para Calvino, os sacramentos não têm sentido sem a pregação do evangelho.36 Quando a ministração dos sacramentos é dissociada da pregação, eles tendem a ser considerados como práticas mágicas.37 
A idéia puritana quanto à relevância da pregação não é diferente. Lloyd-Jones observou que “os puritanos asseveravam também que o sermão é mais importante que as ordenanças ou quaisquer cerimônias. Alegavam que ele é um ato de culto semelhante à eucaristia, e mais central no serviço da igreja. As ordenanças, diziam eles, selam a palavra pregada e, portanto, são subordinadas a ela.”38 Comentando Efésios 4.11, Hodge explica o papel do pregador como canal da operação do Espírito como segue:
Assim como no corpo humano há certos canais por meio dos quais a influência vital flui da cabeça para os membros, os quais são necessários à sua comunicação, assim também há certos meios divinamente designados para a distribuição do Espírito Santo, de Cristo para os diversos membros do seu corpo. Quais canais de influência divina são esses, pelos quais a igreja é sustentada e impulsionada, é claramente indicado no verso 11, no qual o apóstolo diz: “Cristo deu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos.” É, portanto, através do ministério da Palavra que a influência divina flui de Cristo, o cabeça, para todos os membros do seu corpo; de modo que onde o ministério falha, a influência divina falha. Isto não significa que os ministros, na qualidade de homens ou oficiais, sejam de tal modo canais do Espírito para os membros da igreja, que sem a intervenção ministerial deles, ninguém se torna participante do Espírito Santo. Significa, sim, que os ministros, na condição de despenseiros da verdade, são, portanto, os canais da comunicação divina. Pelos dons da revelação e inspiração, Cristo constituiu uns apóstolos e outros profetas para a comunicação e registro da sua verdade; e pela vocação interna do seu Espírito, ele constitui outros evangelistas e outros pastores, com vistas à sua constante proclamação e persuasão. E é somente (no que diz respeito aos adultos) em conexão com a verdade assim revelada e pregada, que o Espírito Santo é comunicado.39 
Que graças são comunicadas por meio da pregação? A pregação é o meio pelo qual as pessoas adultas e capazes são externamente chamadas para a salvação.40 É a causa instrumental da fé e principal meio pelo qual a fé é aumentada e fortalecida, a igreja é edificada e o Reino de Deus é promovido no mundo.41 Pela pregação da Palavra a igreja é ensinada, convencida, reprovada, exortada e confortada.42 
B. A Tarefa Primordial da Igreja e do Pregador
Na concepção reformada, a pregação é a tarefa primordial da igreja e do ministro da Palavra.43 Em suas mensagens e escritos, os reformadores condenam insistente e duramente o clero romano por negligenciar a pregação. Incapacitados para a tarefa, os sacerdotes católicos delegavam a função a outros,44 e dedicavam-se a atividades secundárias, ou mesmo à ociosidade e à luxúria. A superficialidade e leviandade com que as pessoas participavam da missa era, para Lutero, culpa dos bispos e sacerdotes, que não pregavam nem ensinavam as pessoas a ouvir a pregação.45 Ele considera que:
...não há praga mais cruel da ira de Deus do que quando ele envia fome [escassez] de ouvir sua Palavra, como diz Amós [8.11s], como também não existe maior graça do que quando envia sua Palavra, conforme o Salmo 107.20: “Enviou sua Palavra e os sarou, e os livrou de sua perdição.” Também Cristo não foi enviado para outra tarefa do que para [pregar] a Palavra; também o apostolado, o episcopado e toda ordem clerical para outra coisa não foram chamados e instituídos do que para o ministério da Palavra.46 
Para Lutero, “...quem não prega a Palavra, para o que foi chamado pela igreja, não é sacerdote de maneira alguma... quem não é anjo (mensageiro) do Senhor dos Exércitos ou quem é chamado para outra coisa que não para o angelato (por assim dizer), certamente não é sacerdote... Por isso também são chamados de pastores, porque devem apascentar, isto é, ensinar. O múnus do sacerdote é pregar. O ministério da Palavra faz o sacerdote e o bispo.”47 
Calvino também condena repetidas vezes os sacerdotes e bispos por não pregarem o evangelho.48 Comentando Atos 1.21-22, quando Barsabás e Matias são indicados para preencher a vaga de Judas no apostolado, como testemunhas da ressurreição de Cristo, Calvino conclui com isso que o ensino e a pregação são funções essenciais do ministério.49 
Forma de Governo Eclesiástico Presbiteriano relaciona, entre as atribuições do ministro da Palavra, juntamente com a oração e a administração dos sacramentos, “alimentar o rebanho pela pregação da Palavra, de acordo com a qual deve ensinar, convencer, reprovar, exortar e confortar.”50 
Esses documentos presbiterianos simplesmente refletem a concepção puritana. William Brad­shaw, autor de uma das obras mais antigas sobre os puritanos comenta que, para eles, “o mais elevado e supremo ofício e autoridade do pastor é pregar o evangelho solene e publicamente à congregação.”51 Packer cita Owen para demonstrar que a pregação era, para os puritanos, “o principal dever de um pastor. De acordo com o exemplo dos apóstolos, eles devem livrar-se de todo impedimento a fim de que possam dedicar-se totalmente à Palavra e à oração.”52 Jonathan Edwards considerava a pregação do evangelho o principal dever do ministro.53 Em uma carta, ele comentou:
Devemos ser fiéis em cada parte das nossas obras ministeriais, e nos empenhar para magnificar nosso ofício. De maneira particular, devemos atentar para a nossa pregação, a fim de que ela seja não apenas sã, mas instrutiva, temperada, espiritual, muito estimulante e perscrutadora; bem pertinente à época e tempos em que vivemos, labutando diligentemente para isso.54 
Dentre as passagens bíblicas que fundamentam essa característica da pregação reformada, as seguintes podem ser mencionadas: com relação a Jesus, Lucas 12.14 e João 6.14-15; com relação aos apóstolos, Atos 6.1-7 e 1 Coríntios 1.17; com relação aos evangelistas, precursores do ministério permanente da pregação da Palavra, 1 Timóteo 5.15; e com relação aos ministros permanentes da Palavra, Romanos 10.13-17 e 2 Timóteo 4.1-4.
C. A Centralidade da Pregação no Culto
No culto medieval, a pregação era considerada, no máximo, como elemento preparatório para a ministração e recepção dos sacramentos. Na concepção reformado-puritana, “a leitura das Escrituras, com santo temor, a sã pregação da Palavra e a consciente atenção a ela em obediência a Deus com entendimento, fé e reverência...,” são os principais elementos do culto a Deus na dispensação da graça.55 A Reforma restaurou a pregação à sua posição bíblica, conferindo a ela a centralidade no culto público.56
Na antiga dispensação, o elemento central do culto público era o sacrifício, uma pregação simbólica apontando para o sacrifício de Cristo. Na nova dispensação, havendo Cristo oferecido a si mesmo como o Cordeiro Pascal que tira o pecado do mundo, não há mais lugar para sacrifícios. A pregação da Palavra é a legítima substituta do sacrifício como atividade central do culto na dispensação da graça. O que o sacrifício proclamava de forma simbólica e pictórica na antiga dispensação, deve ser agora anunciado de forma oral, pela leitura e pregação da Palavra.
Com o propósito de restaurar a igreja em Genebra ao modelo bíblico, Calvino e outros redigiram as Ordenanças Eclesiásticas, um manual de governo eclesiástico e de culto. De acordo com as Ordenanças, a pregação da Palavra deveria ser o elemento essencial do culto público e a tarefa essencial e central do ministério pastoral.57 No seu prefácio aos sermões de Calvino sobre o Salmo 119, Boice observa:
Quando a Reforma Protestante aconteceu no século XVI e as verdades da Bíblia, que por longo tempo haviam sido obscurecidas pelas tradições da igreja medieval, novamente tornaram-se conhecidas, houve uma imediata elevação das Escrituras nos cultos protestantes. João Calvino, em particular, pôs isto em prática de modo pleno, ordenando que os altares (há muito o centro da missa latina) fossem removidos das igrejas e que o púlpito com uma Bíblia aberta sobre ele fosse colocado no centro do prédio.58 
Lutero também “...considerava a pregação como a parte central do culto público e colocava a pregação da Palavra até mesmo acima da sua leitura.”59 Timothy George descreve assim a contribuição de Lutero para a pregação:
Lutero recuperou a doutrina paulina da proclamação: a fé vem pelo ouvir, o ouvir pela palavra de Deus... (Rm 10.17). Lutero não inventou a pregação mas a elevou a um novo status dentro do culto cristão... O sermão era a melhor e mais necessária parte da missa. Lutero investiu-o de uma qualidade quase sacramental, tornando-o o núcleo da liturgia... O culto protestante centrava-se ao redor do púlpito e da Bíblia aberta, com o pregador encarando a congregação, e não em volta de um altar com o sacerdote realizando um ritual semi-secreto. O ofício da pregação era tão importante que até mesmo os membros banidos da igreja não deviam ser excluídos de seus benefícios.60
Quanto aos puritanos, eles “anelavam ver a pregação da Palavra de Deus tornar-se central no culto.”61 O culto puritano culminava no sermão. Ryken observa que “os puritanos fizeram da leitura e exposição das Escrituras o evento principal do culto.” A pratica puritana da “profetização” (prophesying), um tipo de escola de profetas em que ministros pregavam um após o outro, com vistas ao treinamento de pregadores menos experientes,62 “contribuiu mais do que qualquer outro meio para promover e estabelecer a nova religião na Inglaterra” na época.63 
D. A Marca Essencial da Verdadeira Igreja
Porquanto na pregação Cristo fala e se faz presente, governando e ensinando a igreja, a fé reformada é unânime em considerar que a pregação da Palavra é uma das marcas da verdadeira igreja. Diversos símbolos de fé reformados, dentre os quais a Confissão Belga (artigo 29), a Confissão Escocesa de 1560 (artigo 18), a Confissão da Igreja Inglesa em Genebra de 1556 (artigos 26-28), a Confissão de Fé Francesa de 1559, e a Segunda Confissão Helvética de 1566 (capítulo 17) professam que a “pregação pura do evangelho,” a “verdadeira pregação da Palavra de Deus,” é uma das marcas pelas quais a verdadeira igreja de Cristo pode ser reconhecida neste mundo. Lutero escreveu que “unicamente Cristo é o cabeça da cristandade. Ele age através do evangelho pregado, do Batismo e da Ceia do Senhor, os quais, portanto, são também os sinais pelos quais a verdadeira igreja se identifica.”64 Para Calvino, Satanás tenta destruir a igreja fazendo desaparecer a pregação pura.65 Conseqüentemente,
... os sinais pelos quais a igreja é reconhecida são a pregação da Palavra e a observância dos sacramentos, pois estes, onde quer que existam, produzem fruto e prosperam pela bênção de Deus. Eu não estou dizendo que onde quer que a Palavra seja pregada os frutos imediatamente apareçam; mas que, onde quer que seja recebida e habite por algum tempo, ela sempre manifesta sua eficácia. Mas isto quando a pregação do evangelho é ouvida com reverência, e os sacramentos não são negli­genciados...66
De fato, dentre as três marcas da verdadeira igreja geralmente reconhecidas (a pregação, a ministração dos sacramentos e o exercício da disciplina), a pregação é considerada a mais importante. Primeiro, porque inclui as outras duas: como vimos, na concepção reformada, os sacramentos não podem ser dissociados da Palavra, nem o exercício da disciplina. Segundo, porque é através da pregação verdadeira da Palavra que os eleitos são congregados e edificados. Berkhof, por exemplo, afirma que, “estritamente falando, pode-se dizer que a pregação verdadeira da Palavra e seu reconhecimento como o modelo da doutrina e da vida é a única marca da igreja. Sem ela não há igreja, e ela determina a reta administração dos sacramentos e o exercício fiel da disciplina eclesiástica.”67
 Herman Hoeksema, outro teólogo reformado, escreveu:
...podemos dizer que a única marca distintiva importante da verdadeira igreja é a pura pregação da Palavra de Deus. Onde a Palavra de Deus é pregada e ouvida, aí está a igreja de Deus. Onde esta Palavra não é pregada, aí a igreja não está presente. E onde esta Palavra é adulterada, a igreja deve arrepender-se ou morrerá.68 
III. a eficácia da pregação
Embora tendo elevada concepção da pregação, a fé reformada não atribui à palavra pregada eficácia automática, mecânica ou mágica,69 e nem a associa primordialmente às habilidades e capacidades pessoais do pregador ou dos ouvintes. A eficácia da pregação, na teologia reformada, depende fundamentalmente da operação do Espírito Santo e da responsabilidade humana do pregador e dos ouvintes.
A. A Eficácia da Pregação e as Habilidades Pessoais do Pregador
Com base em 1 Coríntios 2.1-4 e 2 Coríntios 3.5, a fé reformada sustenta que a eficácia da pregação não depende, em primeiro lugar, da eloqüência, linguagem elaborada, gesticulação premeditada ou da capacidade intelectual do pregador. Um pregador pode ser eloqüente, pode gesticular bem, evidenciar grande capacidade intelectual e, no entanto, sua pregação pode ser completamente ineficaz. De fato, estas coisas podem tornar-se até em empecilho para a genuína promoção do reino de Deus. O ideal reformado-puritano da pregação inclui linguagem simples e gesticulação natural.
B. A Obra do Espírito Santo para a Eficácia da Pregação
No entendimento reformado, a eficácia da pregação depende principalmente da obra do Espírito,70 que ocorre em três instâncias: na preparação do sermão, na entrega da mensagem e na recepção da mensagem por oca­sião da pregação.
Com relação ao pregador, a eficácia da pregação depende da capacitação do Espírito para a tarefa (2 Co 3.5-6). É o Espírito Santo quem confere poder à pregação (1 Co 2.4-5 e 1 Ts 1.5). Calvino escreveu que “nenhum mortal está por si mesmo qualificado para a pregação do evangelho, a não ser que Deus o revista com o seu Espírito.”71 Para ele, como observou seu biógrafo Thomas Smith, “as qualificações que habilitam qualquer homem para este elevado ofício [da pregação] só podem ser conferidas por Deus, através de Cristo, e pela operação eficaz do Espírito Santo.”72
A eficácia da pregação depende da ação iluminadora do Espírito Santo na preparação do sermão e da unção do Espírito na entrega da mensagem. Na preparação, a escolha do texto ou do livro a ser exposto e a determinação da sua extensão; a compreensão do seu propósito, sentido, argumentação, significado e aplicação; e a elaboração da mensagem (redigida, em forma de esboço, ou apenas de idéias gerais); tudo depende especialmente da operação interna do Espírito Santo na mente e no coração do pregador. Se o Espírito Santo não assistir o pregador no seu labor exegético, o resultado do seu trabalho será insuficiente, por maior que seja o seu conhecimento e por mais diligente que seja no seu trabalho. Na entrega da mensagem, a eficácia varia na proporção da dependência do pregador da assistência do Espírito, e não da confiança no seu preparo ou habilidades naturais. Havendo se empenhado para compreender o texto e preparar a mensagem e suplicado pela iluminação do Espírito, no momento da pregação o pregador precisa confiar-se completamente à assistência do Espírito Santo, dando lugar a que ele intervenha na entrega da mensagem.
Com relação ao ouvinte, a eficácia da pregação depende, em última instância, da ação iluminadora interna do Espírito Santo na sua mente e coração. É ele quem abre o coração dos ouvintes para que compreendam a mensagem (At 16.14). É ele quem escreve a mensagem no coração dos ouvintes (2 Co 3.3). Somente ele faz resplandecer o evangelho no coração, “para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2 Co 4.6). A pregação em si mesma, por mais verdadeira que seja, e por mais ungido que seja o pregador, é inútil. Não porque falte poder a ela. Mas, por causa da cegueira espiritual do homem natural, a palavra pregada só se torna eficaz pela operação interna imprescindível do Espírito Santo, “o Mestre interior,” que a acompanha.73 Em contraste com a posição arminiana, a fé reformada enfatiza que “é Deus somente, na pessoa do Espírito Santo, quem pode tornar e torna eficaz a pregação.74 A depravação do coração humano não permite dissociar a palavra pregada da operação do Espírito.75 
É este o ensino de Calvino sobre o assunto, e aqueles que o investigam raramente deixam de observar o fato.76 Para ele, “assim como a pregação é o instrumento da fé, assim também o Espírito Santo torna a pregação eficaz.”77 Em seu comentário de Isaías, ele escreveu que “o Espírito está ligado à Palavra, porque, sem a eficácia do Espírito, a pregação do evangelho de nada adiantaria, mas permaneceria infrutífera.”78 E em seu comentário do livro de Atos, ele deixa claro que depende do poder secreto do Espírito Santo que a pregação dos ministros do evangelho seja eficaz.79 A vocação eficaz, explica Calvino, consiste de um duplo chamado: externo, pela pregação da Palavra, e interno, pela iluminação do Espírito, que enraíza a palavra pregada.80 Em seu comentário de Miquéias, por exemplo, o reformador observa que “o governo peculiar de Deus existe no âmbito da igreja, onde pela Palavra e Espírito, ele dobra os corações dos homens à obediência, de modo que eles o seguem voluntária e livremente, sendo ensinados interna e externamente — internamente pela influência do Espírito, externamente pela pregação da Palavra.”81 O fato de que o apóstolo Paulo chama a sua pregação em 2 Coríntios 3.8 de “ministério do Espírito,” mostra a Calvino quão relacionados estão a pregação da Palavra e o Espírito.82 Para ele, “o Espírito exerce o seu ofício pela pregação do evangelho.”83
Confissão de Fé de Westminster afirma que é pelo ministério (da Palavra), tornado eficiente pela presença de Cristo e pelo seu Espírito, que os santos são congregados e aperfeiçoados nesta vida.84 Catecismo Maior de Westminster reconhece que é o Espírito Santo quem torna a pregação da Palavra o meio especialmente eficaz para a salvação: “O Espírito de Deus torna a leitura, e espe­cialmente a pregação da Palavra, um meio eficaz para iluminar, convencer e humilhar os pecadores; para lhes tirar toda confiança em si mesmos e os atrair a Cristo; para os conformar à sua imagem e os sujeitar à sua vontade; para os fortalecer contra as tentações e corrupções; para os edificar na graça e estabelecer os seus corações em santidade e conforto mediante a fé para a salvação.”85 
C. A Responsabilidade do Pregador e dos Ouvintes para a Eficácia da Pregação
Como vimos, a fé reformada condiciona a eficácia da pregação primordialmente à obra do Espírito no pregador e nos ouvintes. Isso, entretanto, não ocorre em detrimento da responsabi­lidade humana de um e de outros. A eficácia da pregação depende também da fidelidade do pregador em não adulterar ou mercadejar a Palavra de Deus (2 Co 2.17 e 4.2) e do uso correto que fizer da Palavra, o qual, por sua vez, dependerá da sua fidelidade no preparo. Depende, ainda, da responsabilidade dos ouvintes em receberem com atenção, reverência, fé e obediência a palavra pregada (Rm 1.5; 15.26).
Os ministros da Palavra são descritos nas Escrituras como “presbíteros que se afadigam na Palavra e no ensino” (1 Tm 5.17), são exortados a manejarem bem a Palavra da verdade (2 Tm 2.15) e a não se tornarem negligentes na preparação para a tarefa (2 Tm 4.14). Da perseverança deles nestes deveres dependerá também a eficácia da pregação para a salvação dos ouvintes (v. 16).
Quanto aos ouvintes, são instados nas Escrituras a considerarem atentamente a Palavra e a não serem negligentes, mas operosos praticantes (Tg 1.25); a “acolherem com mansidão a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar as vossas almas” (Tg 1.21b); a tornarem-se “praticantes da Palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1.22).
Reformadores e puritanos enfatizaram bastante a responsabilidade dos ouvintes para a eficácia da pregação. A teologia reformada da palavra pregada resultou em uma teologia reformada da palavra ouvida.86 Especialmente com relação à edificação dos crentes, esta responsabilidade inclui o devido preparo prévio para ouvir a pregação, a atitude correta ao ouvir a palavra pregada, e o uso apropriado posterior da mensagem ouvida. A preparação prévia requer oração, apetite e um espírito ensinável. Somente uma semana vivida pensando nas coisas do alto, onde Cristo vive, deixa o crente preparado para ouvir a pregação (Cl 3.1-2; 2 Co 4.18). A atitude ao ouvir exige reverência, atenção, humildade e fé (Hb 4.1-2), características daqueles que discernem a real natureza do culto e da pregação. O uso apropriado posterior inclui meditação, oração e prática da mensagem ouvida (Tg 1.21-25).87 
Lutero escreveu que “incorre em grave pecado quem não ouve [a pregação do] evangelho e despreza semelhante tesouro...”88 Para Calvino, “a pregação é um ato corporativo da igreja toda.” A congregação participa da pregação tão ativamente quanto participa da ceia.89 Por isso, ele insiste em que os ouvintes venham preparados para receber a mensagem.90 Ele enfatizou que a pregação da Palavra precisa ser ouvida “com grande reverência”, “bastante atenção,” e “sobriedade para o nosso proveito.” Acima de tudo, disse ele, “precisamos orar continuamente para que o generoso e gracioso Senhor nos conceda seu Espírito, a fim de que por ele a semente da Palavra de Deus seja vivificada em nossos corações.”91 Calvino menciona também a necessidade de humildade para receber a palavra pregada, mas observa que é o próprio Espírito Santo quem torna uma pessoa desejosa de ser ensinada pela Palavra.92 William Perkins, um dos pais do puritanismo inglês, escreveu que
...a responsabilidade daqueles que ouvem a pregação da Palavra de Deus, é submeterem-se a ela... O dever de vocês é ouvir a Palavra de Deus, pacientemente, submeter-se a ela, ser ensinados e instruídos, e mesmo ser perscrutados e repreendidos, e ter os seus pecados descobertos e as corrupções arrancadas.93 
Whitefield pregou um sermão especificamente sobre o assunto, intitulado Instruções sobre Como Ouvir Sermões, baseado em Lucas 8.18, “Vede, pois, como ouvis.”94 Eis suas instruções: 1) venha ouvir, não por curiosidade, mas motivado por um sincero desejo de conhecer e praticar seus deveres; 2) “não apenas prepare seu coração de antemão para ouvir, mas também atente diligentemente para as coisas que forem faladas da Palavra de Deus”; 3) não tenha prevenção contra o ministro a que Deus constituiu bispo (supervisor) e embaixador sobre você;95 4) aplique tudo o que ouvir ao seu próprio coração; 5) ore, antes, durante e depois do sermão, a fim de que Deus conceda poder ao pregador e habilite você a praticar a mensagem.
Breve Catecismo de Westminster, na resposta à pergunta de número 90, “Como se deve ler e ouvir a Palavra a fim de que ela se torne eficaz para salvação?” resume assim a responsabilidade do ouvinte na pregação: “Para que a Palavra se torne eficaz para a salvação, devemos ouvi-la com diligência, preparação e oração, recebê-la com fé e amor, guardá-la em nossos corações e praticá-la em nossas vidas.” Já o Catecismo Maior de Westminster, na resposta à pergunta de número 160, afirma:
Exige-se dos que ouvem a palavra pregada que atendam a ela com diligência, preparação e oração; que comparem com as Escrituras aquilo que ouvem; que recebam a verdade com fé, amor, mansidão e prontidão de espírito, como a palavra de Deus; que meditem nela e conversem a seu respeito uns com os outros; que a escondam nos seus corações e produzam os devidos frutos em suas vidas.
D. Conclusão
Estas considerações sobre a obra do Espírito e a responsabilidade humana para a eficácia da pregação não devem levar o leitor a pensar que a pregação da Palavra só se torna eficaz quando obtém resposta positiva dos ouvintes. A genuína pregação do evangelho nunca é vã. Os legítimos pregadores do evangelho são sempre conduzidos por Deus em triunfo, pois por meio deles se manifesta em todo lugar a fragrância do conhecimento de Deus. Eles são, diante de Deus, o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos, como nos que se perdem. “Para com estes cheiro de morte para morte; para com aqueles aroma de vida para vida” (2 Co 2.14-16).96  Mesmo quando rejeitada, a eficácia da palavra pregada se manifesta tornando indesculpáveis os réprobos, os quais, afirma Calvino, são cegados e estupeficados ainda mais pela pregação da Palavra.97 Ou a pregação nos aproxima de Deus, ou nos coloca mais perto do inferno.98 
IV. O propósito da pregação reformada
Em alguns círculos evangélicos em nossos dias, a pregação parece ter como propósito o entretenimento do auditório, a exacerbação das emoções, o bem-estar material e emocional dos ouvintes e a promoção do próprio pregador ou da sua denominação. Ricardo Gondim, pastor da Assembléia de Deus, reconhece que os púlpitos brasileiros “estão cada vez mais empobrecidos. Pastores animam seus auditórios com frases de efeito, contentam suas igrejas com mensagens superficiais...” Ele admite que necessitamos de uma nova Reforma no cristianismo, a qual deve começar pelo púlpito.99 Em outro artigo, o mesmo autor comenta que “há uma tendência de transformar a igreja em big business. Pior, big business do lazer espiritual.” Ele continua: “Pastores e padres abandonaram sua vocação de portadores de boas novas. Assumiram novos papéis: animadores de auditório e levantadores de fundos. O púlpito transformou-se em mero palco. A igreja, simples platéia... Sermões podem ser facilmente confundidos com palestras de neurolingüística.”100 
 O propósito da pregação reformada é completamente diferente. Ela tem objetivos claros e elevados com relação ao texto que está sendo pregado, com relação aos ouvintes e, especial­mente, com relação a Deus e ao seu reino neste mundo.
A. Com Relação ao Texto
Uma das qualidades mais marcantes da pregação reformada consiste na determinação de fazer do propósito do texto o propósito do sermão. Reformadores e puritanos compreenderam que cada passagem das Escrituras tem propósito(s) específico(s). Por isso, fizeram grande esforço para entender o texto, para discernir o seu propósito(s), para proclamar fielmente a mensagem bíblica e aplicá-la em consonância com o propósito divino. Lutero, por exemplo, afirma que “a principal tarefa do pregador é ensinar corretamente, procurar os pontos [doutrinas] principais e bases do seu texto, e instruir e ensinar de tal maneira os ouvintes que eles entendam corretamente [o texto].”101 Ele assim descreve o dever do pregador:
...ele deve saber ensinar e admoestar. Quando prega uma doutrina, deve, primeiramente, caracterizá-la. Em segundo lugar, deve defini-la, descrevê-la e explicá-la. Em terceiro lugar, deve apresentar passagens bíblicas que a comprovem e confirmem. Em quarto lugar, deve explicá-la e declará-la com exemplos. Em quinto lugar, deve adorná-la com comparações. E, finalmente, deve admoestar e despertar os preguiçosos, reprovar veementemente todos os desobedientes, todas as falsas doutrinas e seus autores...102
A pregação de Zuínglio é geralmente “direcionada ao propósito de libertar seus ouvintes do mundo de superstições e da falsa religião.” E isto ele fez, na avaliação de Bullinger, “pela verdade divina e com ela, e não com frivolidades humanas.”103 O labor exegético de Calvino a fim de compreender e transmitir o sentido real do texto bíblico em sua pregação é amplamente reconhecido. “Como pregador, Calvino tinha um ardente desejo, qual seja, de levar seus ouvintes a um entendimento preciso do que Deus está dizendo à congregação na passagem escolhida das Escrituras e o que aquilo significava para os diferentes tipos de pessoas que estavam ouvindo a pregação.”104 Ele mesmo testifica que, quando assumia o púlpito, não era para expor ali seus sonhos e imaginações, mas para transmitir fielmente, sem nenhum acréscimo, o que havia recebido.105 Calvino descreve o propósito geral da pregação do seguinte modo:
Nisto consiste o poder supremo com o qual os pastores da igreja, seja qual for o nome pelo qual sejam chamados deveriam ser investidos: serem ousados na proclamação da Palavra de Deus, exortando toda virtude, glória, sabedoria e autoridade do mundo a se submeter e obedecer sua majestade; ordenar que todos, dos maiores aos menores confiem no seu  poder [de Deus] para edificar a casa de Cristo e destruir a casa de Satanás; alimentar as ovelhas e expulsar os lobos; instruir e exortar os dóceis; acusar e subjugar os rebeldes e petulantes, ligar e desligar; em suma, queimar (to fire) e fulminar, mas tudo de acordo com a Palavra de Deus.106 
O que Dargan escreveu com relação à pregação de Lutero, pode certamente ser generalizado como ilustrativo do propósito da pregação dos reformadores em geral: “O contexto é considerado, e o real sentido e intenção dos autores das Escrituras é buscado e respeitado.”107 
Packer menciona um comentário bastante elucidativo de um pregador puritano com relação à determinação reformado-puritana no sentido de discernir o propósito do texto e fazer dele o propósito da pregação:
Eu nunca preguei, a não ser que me sentisse convencido de haver descoberto a vontade de Deus com relação ao sentido da passagem. Meu propósito é extrair da Escritura o que ali está... Sou muito zeloso quanto a isso: nunca falar mais nem menos do que acredito ser a mente do Espírito na passagem que estou expondo.108 
B. Com Relação aos Ouvintes
1. Alcançar e Converter o Coração
Reformadores e puritanos queriam, com a pregação, informar o intelecto, mover as afeições e motivar a vontade.109 Entretanto, o alvo estava além do intelecto, dos sentimentos e das emoções. Eles almejavam alcançar e converter o coração, o próprio centro da alma humana.110 E isto eles buscavam, não por meio de manipulação retórica da audiência, mas através da pregação fiel da Palavra de Deus.111
Em uma de suas obras, Lutero resume assim o propósito da pregação: “Estimular os pecadores a sentirem seus pecados e despertar neles o desejo pelo tesouro” do evangelho.112 Em outra obra, ele deplora o fato de que não poucos pregam a Cristo meramente com a intenção de comover os sentimentos humanos, ao invés de promover neles a fé em Cristo.113 Calvino escreveu que “o propósito pelo qual a Palavra de Deus é pregada é nos iluminar com o verdadeiro conhecimento de Deus, fazer com que nos voltemos para Deus, e nos reconciliar com ele.”114 
Para os pregadores puritanos, o sucesso da pregação não deve ser avaliado apenas pelo que acontece na igreja, mas pelo seu efeito nas vidas dos ouvintes que estão fora da mesma.115 Catecismo Maio­r de Westminster exorta os ministros da Palavra a pregarem “...com sinceridade..., procurando converter, edificar e salvar as almas.”116 A salvação da alma é o grande propósito da pregação reformada com relação àqueles que se encontram em estado de pecado.117 
2. Mediar Encontros com Deus
Como o coração é alcançado e convertido? Quando pecadores têm um encontro verdadeiro com Deus mediado pela pregação do evangelho. Packer resume o propósito da pregação reformada como “mediar encontros com Deus.” Para ele, a pregação de Lutero, Latimer, Knox, Baxter, Bunyan, Whitefield, Edwards, McCheyne, Spurgeon, Ryle, Lloyd-Jones, entre outros, não tencionava apenas informar os ouvintes, mas fazer com que a “pregação se tornasse o meio de encontro de Deus com seus ouvintes,” pela exposição e aplicação das verdades das Escrituras.118 Para Lloyd-Jones, “o propósito primeiro e primordial da pregação não é somente fornecer informação mas produzir uma impressão...”;119 é colocar os homens diante de Deus, propiciando um encontro verdadeiro com ele.120 Em suas próprias palavras, o propósito da pregação “é dar a homens e mulheres a sensação de Deus e da sua presença.”121 Ao fazer essas afirmativas, Lloyd-Jones segue de perto a tradição puritana.122
3. Restaurar a Imagem de Deus no Homem
A conversão, entretanto, é apenas o começo. Na concepção reformada, o evangelho deve ser pregado com o objetivo de restaurar nos ouvintes a imagem de Deus corrompida na queda.
Calvino relaciona a restauração da imagem de Deus no ser humano com o ministério da Palavra. Para ele, a restauração da imago Dei no coração humano é obra do Espírito Santo de Deus por meio da pregação da Palavra.123 Ele interpreta o pedido de Paulo em 2 Tessalonicenses 3:1 no seguinte sentido: “Que sua pregação possa manifestar seu poder e eficácia para renovar o homem de conformidade com a imagem e semelhança de Deus.”124 A “reforma” e “edificação” da vida dos ouvintes, segundo Calvino, é o propósito geral da pregação com relação à igreja.125
Os puritanos relacionavam igualmente o propósito da pregação com a restauração da imagem de Deus no homem. Peter Lewis, um estudioso do movimento puritano escreveu que para eles, “o fim principal da pregação... era a glorificação de Deus na restauração da sua imagem nas almas e vidas dos homens.”126 
Dennis Johnson, um autor reformado contemporâneo, assevera na mesma linha que a pregação não se exaure na evangelização e no ensino. Seu telos é a maturidade espiritual dos ouvintes. Ele afirma, com base em Romanos 8.29, Colossenses 3.10-11 e Efésios 4.24, que “o alvo da pregação não é plenamente alcançado senão quando um rebelde se torna filho de Deus. A pregação cristã, o evangelho apostólico, tem como seu propósito nada menos do que a conformidade completa de cada filho de Deus à perfeita imagem do Filho: Cristo.”127 
C. Com Relação a Deus
A restauração da imago Dei na alma e na vida do homem, não é, contudo, o propósito principal da pregação reformada. O propósito maior da pregação reformada consiste em promover o reino e a glória de Deus e destruir o reino de Satanás. Reformadores e puritanos anelavam com a pregação da Palavra, por um lado, avançar com a obra de Deus no mundo, libertando pecadores da escravidão de Satanás, e edificar os santos, instruindo-os a viver para a glória de Deus; e, por outro lado, desmascarar e lançar por terra a obra do diabo. Na proclamação do evangelho a glória de Deus resplandece na face de Cristo (2 Co 4.6), assim como a glória de Deus é proclamada na obra da criação (Sl 19).
Parker afirma que, para Calvino, “o propósito do pregador é direcionado antes de mais nada para Deus. Ele prega a fim de que Deus seja glorificado.”128 Comentando 2 Corintios 2.15 (“somos para com Deus o bom perfume de Cristo”), Calvino afirma que “temos aqui uma passagem notável, porque nela somos ensinados que seja qual for o resultado da nossa pregação, ainda assim ela é agradável a Deus..., porque Deus é glorificado mesmo quando o evangelho resulta na ruína dos ímpios.”129 Calvino afirma que os crentes da antiga dispensação “foram exortados a buscarem a face de Deus no santuário... (Sl 27.8; 100.2; 105.4) por nenhuma outra razão, senão porque o ensino da lei e as exortações dos profetas eram uma imagem viva de Deus, assim como Paulo afirma que na sua pregação a glória de Deus resplandece na face de Cristo (2 Co 4.6).”130 
Benoît, um autor reformado francês, observa que “fazer da salvação o fim da religião significa, segundo Calvino, colocar o homem no centro e fazer de Deus um simples meio com vistas a um fim pessoal.” Ele continua, afirmando que, para Calvino, “a salvação individual não é o propósito final da pregação do evangelho. Ela tem um propósito muito mais elevado: a manifestação da glória de Deus...”131 Para o Sínodo de Dort, também, nota Peter Jong, o propósito último da pregação “é a glória de Deus na salvação de pecadores.”132 
Na tradição puritana, o Catecismo Maio­r de Westminster exorta os ministros da Palavra a pregarem... “tendo por alvo a glória de Deus.” 133 Joseph Pipa, estudioso da pregação puritana, afirma que “o grande propósito do sermão puritano era transformar a vida das pessoas e equipá-las para viver para a glória de Deus.”134
Embora anelasse profundamente a conversão de almas para Cristo, Spurgeon não considerava esse o fim maior da pregação. Ele enfatiza insistentemente que a glória de Deus, sim, é o principal propósito da pregação. Ele escreveu que “nada deveria ser o alvo do pregador a não ser a glória de Deus através da pregação do evangelho da salvação.”135 “Vocês e eu,” disse ele em um de seus sermões, “somos constrangidos a pregar o evangelho, mesmo que nenhuma alma jamais seja convertida por ele; pois o grande propósito do evangelho é a glória de Deus, visto que Deus é glorificado mesmo naqueles que rejeitam o evangelho.”136 “Preguem o evangelho tendo em vista unicamente a glória de Deus,” adverte Spurgeon, “ou então, segurem suas línguas.”137
V. conclusão
Em muitos círculos evangélicos contemporâneos e até mesmo entre reformados, o surgimento de novos meios de comunicação, a aversão do homem moderno por verdades objetivas, a secularização da sociedade, o afastamento do cristianismo das Escrituras, e especialmente a concepção moderna da pregação como uma atividade meramente humana, têm resultado em evidente declínio da pregação. Outras atividades têm tomado o seu lugar no culto, e a pregação têm sido relegada a um plano secundário no culto e na vida da igreja.
Na concepção reformada, entretanto, a pregação pública da Palavra de Deus é considerada não como palavra de homem, mas como vox Dei. Na proclamação solene da Palavra de Deus por arautos comissionados pelo próprio Deus, Cristo se faz presente, fala e governa a igreja. A fé reformada tem uma concepção quase que sacramental da pregação. Ela professa a real presença espiritual de Cristo na pregação, assim como na Ceia.
Em virtude dessa elevada concepção quanto à sua natureza, a teologia reformada atribui grande importância à pregação. Na teologia reformada, a pregação é imprescindível. É o principal meio de graça, a tarefa primordial da igreja e do ministro, o principal elemento de culto na dispensação da graça; constitui-se em marca essencial da verdadeira igreja, e meio pelo qual o reino de Deus é aberto ou fechado aos pecadores. Isto não significa que a fé reformada atribua eficácia automática à pregação. A eficácia da pregação também não está, primordialmente, nas habilidades pessoais do pregador ou dos ouvintes. Está, sim, na operação do Espírito Santo, tanto na preparação e entrega da mensagem, como na sua recepção. Os pregadores devem laborar na interpretação da Palavra, e transmiti-la fielmente. Os ouvintes, devem receber com atenção, reverência, fé e obediência a palavra pregada. Contudo, somente o Espírito Santo pode conferir eficácia à pregação, assistindo e capacitando o pregador, e iluminando e convencendo os ouvintes do pecado e da graça de Deus em Cristo. Não obstante, independentemente da resposta dos ouvintes, a genuína pregação do evangelho nunca é vã. O reino de Deus é promovido também na condenação dos réprobos.O propósito da pregação reformada consiste na fidelidade ao sentido, significado e propósito do texto; na conversão e restauração da imagem de Deus nos ouvintes; e na promoção do reino e da glória de Deus no mundo. Que a vox Dei seja ouvida em nossos púlpitos, para a conversão dos perdidos, para a restauração da imago Dei na alma e na vida dos ouvintes, com vistas à promoção do reino e da glória de Deus no mundo.
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NOTAS
    O autor é ministro presbiteriano, professor de Grego e Hermenêutica no Seminário Teológico Batista Equatorial e presidente da Associação Reformada Palavra da Verdade, na cidade de Belém. É mestre em Teologia pela Potchefstroom University for Christian Higher Education (África do Sul) e doutorando em Ministério no Westminster Theological Seminary, na Califórnia.
Obs.: Este artigo é parte de um dos capítulos da dissertação de Doutorado em Ministério que está sendo elaborada pelo autor com o tema: “Hermenêutica e Pregação: Manual de Hermenêutica Reformada para Pregadores.”
     D. Martyn Lloyd-Jones, Preaching and Preachers (Londres: Hodder and Stoughton, 1985 [1971]), 26.
     John J. Timmerman, Through a Glass Lightly (Grand Rapids: Eerdmans, 1987). Citado em David J. Engelsma, “Preaching in Worship: Voice of God, Voice of Christ (1),” The Standard Bearer 74/8 (1998). Internet: http://www.prca.org/standard_bearer/1998jan15.html#PreachingInWorship; acessado em 05/09/98. Ver também Paul Helm, “Preaching and Grace,” The Banner of Truth 117 (s/d), 8.
     John M. Frame, Worship in Spirit and Truth: A Refreshing Study of the Principles and Practice of Biblical Worship (Presbyterian & Reformed, 1996), 91-94, 114. Ver a resenha dessa obra por T. J. Ralston, em Bibliotheca Sacra 155 (Jan-Mar 1998), 124-5.
     Engelsma, “Preaching in Worship: Voice of God, Voice of Christ (1).”
     No livro Pregação e Pregadores, Lloyd-Jones menciona algumas razões bem particulares para a presente depreciação da pregação, que também merecem ser consideradas, dentre as quais: os “pulpiteiros,” os profissionais do púlpito do século passado e do início deste século, os quais davam valor exagerado à forma e ao estilo elaborado do sermão; a ênfase moderna em aconselhamento pessoal (hoje degenerado em clínicas pastorais de aconselhamento psicológico); e o ritualismo, que enfatiza formas elaboradas de culto, atribuindo-lhes certa conotação religiosa (ver Lloyd-Jones, Preaching and Preachers, 16-18 e 36-40).
     Para um estudo da perspectiva reformada sobre a relação entre a palavra escrita, pregada e representada, ver o segundo capítulo de Pierre Ch. Marcel, El Bautismo: Sacramento del Pacto de Gracia (Rijswijk: Fundación Editorial de Literatura Reformada, 1968), 33-61.
     T. H. L. Parker, Calvin’s Preaching (Edinburgh: T&T Clark, 1992), 23.
     Ver Robert L. Dabney, Sacred Rhetoric: A Course of Lectures on Preaching (Edimburgo e Pensilvânia: Banner of Truth, 1979 [1870]), 36.
     Parker, Calvin’s Preaching, 23.
10     Ver também Pierre Ch. Marcel, The Relevance of Preaching, trad. Rob Roy McGregor (Grand Rapids: Baker, 1977), 21-22, 30-31, 61-62; J. J. Van der Walt, “Prediking wat God van die Woord laat kom,” em God aan die Woord, ed. Van der Walt (Potchefstroom: Departement Diakoniologie, Potchefstroom University for Christian Higher Education, 1985), 11; e David J. Engelsma, “Preaching in Worship: Voice of God, Voice of Christ (2),” The Standard Bearer 74/9 (1998).
11     Dabney, Sacred Rhetoric, 37-8.
12     Phillips Brooks, Eight Lectures on Preaching, reimp. da 5ª edição (Londres: SPCK, 1959), 5.
13     Ver John Calvin, Commentary on the Acts of the Apostles, trad. Christopher Fetherstone, ed. Henry Beveridge (Albany, Oregon: Ages, 1998), 25-26 e 238.
14     Como coloca Richard Stuaffer, em “Les Discours a la premiere personne dans les sermons de Calvin,” em Regards Contemporains sur Jean Calvin (citado por Leith, “Calvin’s Doctrine of the Proclamation of the Word,” 31).
15     Ver, por exemplo, Institutas 1.11.7, onde, combatendo o emprego de símbolos visíveis para representar a presença de Cristo no culto, Calvino afirma que é “...pela verdadeira pregação do Evangelho,” e não por cruzes, que “Cristo é retratado como crucificado diante de nós.” Ver também John Calvin, Commentary on the Prophet Isaiah, vol. 2, trad. William Pringle (Albany, Oregon: Ages, 1998), 331; e John Calvin,Commentary On the Prophet Jeremiah, vol. 2, trad. e ed. John Owen (Albany, Oregon: Ages, 1998), 403.
16     Ver Leith, “Calvin’s Doctrine of the Proclamation of the Word,” 31. Leith cita as Institutas 4.1.6 e 4.14.9-19, para corroborar sua afirmativa. Verificar também a citação de T. H. L. Parker, comparando o sermão com a eucaristia (Peter Lewis, “Preaching from Calvin to Bunyan,” Puritan/Westminster Conference [1985], 36).
17     Martin Luther, Luther’s Works, ed. Jaroslav Pelikan, trad. Martin H. Bertram, vol. 22, Sermons on the Gospel of St. John Chapters 1-4,American Edition (St. Louis: Concordia Publishing House, 1957), 528 (citado por Carl C. Fickenscher II, “The Contribution of the Reformation to Preaching,” Concordia Theological Quarterly 58/4 [1994], 263).
18     Martinho Lutero, “Do Cativeiro Babilônico da Igreja: Um Prelúdio de Martinho Lutero,” em Martinho LuteroObras Selecionadas, vol. 2,O Programa da Reforma: Escritos de 1520 (São Leopoldo e Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1989), 399.
19     Calvin, Commentary on the Acts of the Apostles, 291.
20     John Calvin, Commentary On the Prophet Isaiah, vol. 2, 434 (ver pp. 50, 112, 341). Ver também Calvin, Commentary on the Acts of the Apostles, 291; John Calvin, Commentary on the Prophet Haggai (Albany, Oregon: Ages, 1998), 24; e John Calvin, Commentary on Matthew, Mark and Luke, vol. 1, trad. William Pringle (Albany, Oregon: Ages, 1997), 43.
21     John Calvin, Commentary on the Epistle to Galatians (Albany, Oregon: Ages, 1998), 116. Ver também Institutas 4.1.5; e John Calvin,Commentary On the Epistle to the Ephesians (Albany, Oregon: Ages, 1998), 47.
22     Institutas 4.1.5. Ver também Calvin, Commentary on the Prophet Haggai, 1.12, 25.
23     Calvin, Commentary on the Acts of the Apostles, 340.
24     Institutas 4.1.5. Ver John Calvin, Harmony of the Law, vol. 1., trad. Charles William Bingham (Albany, Oregon: Ages, 1998 ), 252.
25     James I. Packer, A Quest for Godliness: The Puritan Vision of the Christian Life (Wheaton, Illinois: Crossway Books, 1990), 284.
26     Ver Martin Lloyd-Jones, “A Pregação,” em Os Puritanos: Suas Origens e Seus Sucessores, trad. Odayr Olivetti (São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991), 385.
27     Leland Ryken, Santos no Mundo: Os Puritanos como Realmente Eram (São José dos Campos, São Paulo: Editora Fiel, 1992), 135.
28     John Owen, The Doctrine of Justification by Faith (Albany, Oregon: Ages, 1997), 78.
29     Helm, “Preaching and Grace,” 10.
30     Ibid., 12. Ver também George Whitefield, “Sermon 38 — The Indwelling of the Spirit: The Common Privilege of All Believers,” emGeorge Whitefield 59 Sermons (Albany, Oregon: Ages, 1997), 569.
31     Catecismo Maior de Westminster, resposta 35. Ver também Confissão de Fé de Westminster, 7:6.
32     James I. Packer, “Mouthpiece for God: Preaching and the Bible,” em Truth & Power: The Place of Scripture in the Christian Life(Wheaton, Illinois: Harold Shaw Publishers, 1996), 158.
33     Ver Martinho Lutero, “Um Sermão a respeito do Novo Testamento, isto é, a respeito da Santa Missa,” em Martinho Lutero: Obras Selecionadas, vol. 2, O Programa da Reforma: Escritos de 1520 (São Leopoldo e Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1989), 271.
34     Ver Institutas 4.14.14 e 4.17.39; Marcel, El Bautismo, 55-58; e “The Directory for the Publick Worship of God,” 379.
35     Institutas 4.16.28.
36     Ibid., 4.14.5.
37     Calvin, Commentary on the Acts of the Apostles, 363.
38     Lloyd-Jones, “A Pregação,” 385. Whitefield também menciona a pregação como meio de graça (ver George Whitefield, “Sermon 32: A Penitent Heart: The Best New Year’s Gift,” em George Whitefield 59 Sermons (Albany, Oregon: Ages, 1997), 445.
39     Charles Hodge, An Exposition of Ephesians (Albany, Oregon: Ages, 1997), 167-68.
40     Confissão de Fé de Westminster, 10:3.
41     Ver Confissão de Fé de Westminster, 14:1 e 25:3, e “The Form of Presbyterial Church Government,” em Westminster Confession of Faith (Glasgow: Free Presbyterian Publication, 1994), section 1.
42     “The Form of Presbyterial Church Government,” section 3.
43     Packer, A Quest for Godliness, 281.
44     Especialmente a pregadores itinerantes, como os dominicanos e franciscanos.
45     Martinho Lutero, “Das Boas Obras,” em Martinho Lutero: Obras Selecionadas, vol. 2, O Programa da Reforma: Escritos de 1520 (São Leopoldo e Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1989), 97.
46     Martinho Lutero, “Tratado de Martinho Lutero sobre a Liberdade Cristã,” em Martinho LuteroObras Selecionadas, vol. 2, O Programa da ReformaEscritos de 1520 (São Leopoldo e Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1989), 438.
47     Lutero, “Do Cativeiro Babilônico da Igreja,” 415-16.
48     Institutas 4.5.13.
49     Calvin, Commentary on the Acts of the Apostles, 52.
50     Seção 3. Ver também “The Directory for the Publick Worship of God,” 379.
51     Citado em Lloyd-Jones, “A Pregação,” 382.
52     Packer, A Quest for Godliness, 282.
53     Ver Sereno E. Dwight, “Memoirs of Jonathan Edwards,” em The Works of Jonathan Edwards, vol. 1 (Albany, Oregon: Ages, 1997), 86.
54     Dwight, “Memoirs of Jonathan Edwards,” 293.
55     Confissão de Fé de Westminster, 21:5.
56     Ver Fickenscher, “The Contribution of the Reformation to Preaching,” 263-64.
57     J. H. Merle d’Aubigné, History of the Reformation in the Time of Calvin (Albany, Oregon: Ages, 1998), vol. 7, 82.
58     James Montgomery Boice, prefácio a Sermons on Psalm 119, by John Calvin (Albany, Oregon: Ages, 1998), 7.
59     Clyde E. Fant, Jr. e William M. Pinson, Jr., 20 Centuries of Great Preaching: An Encyclopedia of Preaching (Waco, Texas: Word Books, 1971), vol. 2, 9.
60     Timothy George, Teologia dos Reformadores, trad. Gérson Dudus e Valéria Fontana (São Paulo: Vida Nova, 1994), 91-92
61     R. T. Kendall, “Puritans in the Pulpit and ‘Such as run to hear Preaching,’” Westminster/Puritan Conference (1990), 87.
62     Lloyd-Jones, “A Pregação,” 138-139.
63     Kendall, “Puritans in the Pulpit,” 87.
64     Martinho Lutero, “A Respeito do Papado em Roma contra o Celebérrimo Romanista de Leipzig,” em Martinho Lutero: Obras Selecionadas, vol. 2, O Programa da Reforma: Escritos de 1520 (São Leopoldo e Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1989), 199
65     Institutas 4.1.11.
66     Ibid., 4.1.10. Ver também John Calvin, “Prefatory Address,” em Institutes of the Christian Religion (Albany, Oregon: Ages, 1996), 27.
67     Louis Berkhof, Teologia Sistematica, 3ª ed. espanhola (revisada), trad. Felipe Delgado Cortés (Grand Rapids: T.E.L.L., 1976), 689.
68     Herman Hoeksma, Reformed Dogmatics (Grand Rapids: Reformed Free Publishing Association, 1985), 620. O autor explica a razão dessa primazia na página seguinte.
69     Peter Y. De Jong, “Preaching and the Synod of Dort,” The Banner of Truth 63 (s/d), 30.
70     Ver Dabney, Sacred Rhetoric, 36.
71     John Calvin, Commentary on Matthew, Mark, Luke, vol. 3 (Albany, Oregon: Ages, 1997), 296.
72     Thomas Smith, Calvin and His Enemies (Albany, Oregon: Ages, 1998), 47.
73     Ver Institutas 2.2.20.
74     De Jong, “Preaching and the Synod of Dort,” 30.
75     Ibid., 27-28.
76     Ver, por exemplo, Parker, Calvin’s Preaching, 29, e Leith, “Calvin’s Doctrine of the Proclamation of the Word,” 31-32.
77     John Calvin, Commentary On the Epistle to the Ephesians, 17.
78     John Calvin, Commentary On the Prophet Isaiah, vol. 2, 516. Ver John Calvin, Sermons on Psalm 119, 249.
79     John Calvin, Commentary on the Acts of the Apostles, 777.
80     William Wileman, John Calvin: His Life, Teaching and Influence (Albany, Oregon: Ages, 1998), 47. Ver John Calvin, Commentary on the Prophet Hosea (Albany, Oregon: Ages, 1998), 103; e John Calvin, Commentary on the Epistle of James (Albany, Oregon: Ages, 1998), 21.
81     John Calvin, Commentary on the Prophet Micah, trad. John Owen (Albany, Oregon: Ages, 1998), 97. Ver também John Calvin,Commentary on First Epistle to the Thessalonians (Albany, Oregon: Ages, 1998), 7-8.
82     Institutas 1.9.3.
83     John Calvin, The Commentaries on the Epistle of Paul the Apostle to the Hebrews, trad. John Owen (Albany, Oregon: Ages, 1996), 88.
84     Confissão de Fé de Westminster, 25:3.
85     Catecismo Maior, 155. Ver a pergunta e a resposta 89 do Breve Catecismo: “Como a Palavra se torna eficaz para a salvação? Resposta: O Espírito de Deus torna a leitura, especialmente a pregação da Palavra, meios eficazes para convencer e converter os pecadores, para os edificar em santidade e conforto, por meio da fé para a salvação.”
86     Peter H. Lewis, The Genius of Puritanism (Morgan, Pensilvânia: Soli Deo Gloria Publications, 1996), 53.
87     Para este uso triplo (anterior, no momento e posterior) da palavra pregada, ver resumo de Joel Beek, do ensino de Thomas Watson no livro Heaven Taken by Storm (Joel R. Beek “Hearing the Word in a Puritan Way,” Banner of Sovereign Grace 4/5 [1996], 120-21). Ver também Peter Lewis, “The Puritans in the Pew,” em The Genius of Puritanism, 53-62.
88     Lutero, “Das Boas Obras,” 128.
89     Parker, Calvin’s Preaching, 48.
90     Ibid., 49.
91     Ibid., 18.
92     Ibid., 51.
93     William Perkins, “The Calling of the Ministry,” em The Art of ProphesyingWith The Calling of the Ministry (Edimburgo e Carlisle, Pensilvânia: Banner of Truth, 1996), 118-119.
94     George Whitefield, “Sermon 28: Directions How to Hear Sermons,” em George Whitefield 59 Sermons (Albany, Oregon: Ages, 1997), 385-393.
95     O ponto também é objeto da exortação de William Perkins: “Você não deve ficar com raiva e se rebelar, nem deve odiar o ministro, nem recorrer à crítica pessoal contra ele. Ao invés disso, submeta-se ao Evangelho, porque é a mensagem e ministério para a sua salvação (The Art of Prophesying, 119).
96     Ver John Calvin, Commentary on Matthew, Mark, Luke, vol. 4, 226.
97     Institutas 3.24.12.
98     John Preston, citado em Ryken, Santos no Mundo, 103.
99     Ricardo Gondim, “Como a Pena de um Destro Escritor,” Ultimato 253 (1998), 50-51.
100   Ibid., “A Cultura Pop Chegou para Ficar?,” Ultimato 257 (1999), 44-45.
101   Martin Luther, Table Talk (Albany, Oregon: Ages, 1997), 248.
102   Ibid., 202.
103   Ver Fant, Jr. e Pinson, Jr., 20 Centuries of Great Preaching, vol. 2, 87.
104     Allan Harman, “The Reformed Confessions and Our Preaching,” The Banner of Truth 115, 24.
105   Fant, Jr. e Pinson, Jr., 20 Centuries of Great Preaching, vol. 2, 144.
106   Institutas 4.8.9.
107   Edwin Charles Dargan, A History of Preaching, vol. 1, From the Apostolic Fathers to the Great ReformersA.D. 70-1572 (Grand Rapids: Michigan, 1974), 390.
108   Packer, A Quest for Godliness, 284.
109   Ver Iain Murray, “Some Thoughts on our Preaching,” The Banner of Truth 140 (1975), 21; e Pipa, William Perkins on Preaching, part 2.
110   Lewis, “Preaching from Calvin to Bunyan,” 49. Ver também Sinclair B. Ferguson, prefácio de Perkins, The Art of Prophesying, x.
111   Ryken, Santos no Mundo, 115.
112   Lutero, “Das Boas Obras,” 128.
113   Martinho Lutero, “Tratado de Martinho Lutero sobre a Liberdade Cristã,” em Martinho Lutero: Obras Selecionadas, vol. 2, O Programa da Reforma: Escritos de 1520 (São Leopoldo e Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, 1989), 446.
114   John Calvin, Commentary on the Gospel According to John, trad. William Pringle (Albany, Oregon: Ages, 1968), 445.
115   Ryken, Santos no Mundo, 115-16.
116   Catecismo Maior de Westminster, resposta 159.
117   Ver John Cobin, “Spurgeon’s View of Preaching,” The Banner of Truth 310 (1989), 23.
118   Packer, “Mouthpiece for God,” 158-59.
119   Jung, “An Evaluation of the Principles and Methods of the Preaching of D. M. Lloyd-
Jones,” 36.
120   Ibid.
121   Citado em Murray, “Dr. Lloyd-Jones on ‘Preaching and Preachers’,” 18.
122   Ver também Lewis, “Preaching from Calvin to Bunyan,” 45.
123   Ver John Calvin, Commentary On the Epistle to Philemon (Albany, Oregon: Ages, 1998), 8; Calvin, Commentary on the Epistle of James, 21; and Calvin, Sermons on the Deity of Christ, 208-209.
124   John Calvin, Commentary on the Second Epistle to the Thessalonians (Albany, Oregon: Ages, 1998), 37-8.
125   Parker, Calvin’s Preaching, 46-7.
126   Lewis, Genius of Puritanism, 48.
127   Dennis E. Johnson, “What’s a Young Preacher to Do? Toward Reconciling Rival Approaches to Reformed Preaching” (Apostila para cursos de homilética no Westminster Theological Seminary, na Califórnia), 24.
128   Parker, Calvin’s Preaching, 46.
129   John Calvin, Commentary on the Second Epistle to the Corinthians (Albany, Oregon: Ages, 1998), 61.
130   Institutas, 4.1.5.
131   Jean-Mare Berthoud, “La Formation des Pasteurs et la Prédication de Calvin,” La Revue Réformée 201 (1998); Internet; http://www.asi.fr/cle/rr/98/bert.htm.
132   Jong, “Preaching and the Synod of Dort,” 34.
133   Catecismo Maior de Westminster, resposta 159.
134   Joseph Pipa, “Sermão Puritano: Um Novo Modelo de Exposição,” texto não publicado, 4.
135   Charles Spurgeon, “The Ministry Needed by the Churches and Measures for Providing it,” The Sword and the Trowel 3 (1871), 58.
136   Charles Spurgeon, “Cheer For the Worker, and Hope For London,” em Metropolitan Tabernacle Pulpit, vol. 26 (Albany, Oregon: Age, 1997), 796.

137  Charles Spurgeon, “The Rat-Catcher’s Idea,” The Sword and the Trowel, vol. 7 (1983-84), 524.