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29 de out. de 2014

Expiação Limitada

Por Bruno Souza de Melo

Introdução

Quando falamos sobre o tema expiação limitada, temos pensar que primeiramente no seu conceito que é trabalhado em toda a escritura, de Gênesis a Apocalipse. Não podemos simplesmente defini-lo e jogá-lo dentro dos textos bíblicos, como se ele fosse uma conclusão de dois ou três argumentos tirados de versos isolados que vemos na bíblia. Claro, depois que analisarmos o conceito de expiação na progressão da revelação, temos como tirar conclusões lógicas, usar boa dialética para defender essa sentença tão fundamental da Escritura.    
                      
Os cinco pontos do calvinismo sistematizam com perfeição cirúrgica a situação pecaminosa da humanidade, a eleição, a expiação limitada, a graça irresistível e a perseverança dos santos. Eles são excelentes norteadores quando queremos demonstrar a lógica vinda da revelação de Deus.

Com esse pensamento queremos trabalhar o tema expiação limitada na perspectiva da progressão da revelação, ou seja, usando o escopo de análise da teologia bíblica que vê a escritura com seus temas específicos percorrendo toda a história da salvação do AT ao NT. Também veremos a importância do tema, até seu cume na chegada de Cristo. Depois disso, trataremos a questão da expiação limitada com textos próprios dos teólogos sistemáticos (Aula do Seminário Presbiteriano do Norte – Prof. de Teologia sistemática Daniel Carneiro), e por fim, refutar com alguns argumentos lógicos a tentativa frustrada dos arminianos em atacar essa doutrina. O livro usado será soberania banida de R. K. Mcgregor Wright.

Definição do termo

Expiação: É A obra de Deus em favor de pecadores para reconciliá-los consigo mesmo. Resolvendo o pecado humano, para proporcionar a comunhão com Deus. Sendo Cristo crucificado o centro da reconciliação com Deus e sua misericórdia. Sabendo que o homem está separado de Deus, a ira dele disferida sobre todos, observamos que este é um tema que se desenvolve em toda a escritura, logo, essa problemática na história da redenção remete o trabalho de Deus trazendo o sacrifício vicário desde os tipos aos antítipos. Quando falamos o temo “limitado” é que sabemos que Cristo morreu especificamente e eficazmente por um número de pessoas, ou seja, por um povo.

O conceito de expiação no AT

Quando partimos do AT para entender o conceito expiação, temos que admitir que Deus é quem garantia a eficácia expiatória do ritual prescrito. Qualquer sacrifício no AT não perdoava pecados, o sacrifício era a expressão de um coração contrito que apelava pela misericórdia de Deus Sl 51.17, esse ponto progride até Cristo que cumpre toda a exigência divina.

No AT Lv 16 o sacrifício de expiação, o rito do sacerdote no dia da expiação tinha um simbolismo vicário, a vítima do sacrifício sofria o castigo de Deus em lugar do pecador. Isto libertava o transgressor satisfazendo a ira justa de Javé. (Ez 18.4, Gn 2.17, Dt 12.23).

A expiação no NT

O NT mostra que a progressão da revelação caminhou para seu ápice, que é a morte e ressurreição de Jesus Cristo, o qual, cumpriu os tipos do AT, ou seja, toda a gama de sacrifícios expiatórios do AT eram figuras que apontavam para Cristo em sua morte sacrificial expiatória que trazem em seu bojo o justo pelo injusto, resgatando a MUITOS 1 Pe 3.18, Mc 10.45.    

Pensemos assim: Jesus paga o preço pelo pecado Rm 3.25-26, Gl 3.13. Morre no lugar de pecadores 2 Co 5.21, redimindo os pecadores pelo seu sangue Ef 1.7, liberta pecadores 1 Co 6.20, Gl 5.1, nos deu a vitória 1 Co 15.55-57, por suas feridas fomos curados 1 Pe 2.24. O NT define cruz e expiação como quase idênticos.

A importância da expiação

Devido a aproximação do juízo de Deus sobre os seres humanos e seus atos de injustiça como citamos, Jesus morre e expia o pecado eliminando a condenação, mas também faz propiciação que é o desvio da ira de Deus. Em resumo Deus prometeu condenar pecadores que não tivessem suas transgressões expiadas. A importância disto é fundamental, pois imagine que a ira de Deus não foi aplacada por um sacrifício perfeito? O que isso causaria? A conclusão é simples, estaríamos debaixo da ira de Deus, sem termos o preço do nosso pecados pagos. Logo, caminharíamos para a condenação do inferno.
                                                                                                             
Queremos enfatizar aqui que o Mitter, o centro, ou o fio que passou em toda escritura do AT ao NT desaguando em Ap 13.8 “Cordeiro morto desde a fundação do mundo” é que Deus expia o pecado mediante sacrifício em prol de um povo específico, portanto, a importância do termo expiação é basilar para nossa compreensão da salvação.

A doutrina da expiação limitada numa visão sistematizada

Entendemos o tema dentro da história da salvação, vemos que ele existe, que foi paulatinamente e pedagogicamente explanado na escritura até Cristo. Agora, vamos apontar textos prova, só que de uma forma sistematizada o que chamamos de limitação da expiação. Isto, para termos uma maior facilidade no entendimento da doutrina. Faremos como um fotógrafo que foca em textos relevantes concernentes ao assunto, diferentemente do que executamos acima, quando filmamos o movimento do conceito expiação do AT ao NT sem levarmos em conta o aspecto da limitação dessa expiação.

Queremos começar com a pergunta clássica: Cristo comprou a salvação para todos os homens? Segundo os arminianos sim, segundo os calvinistas não. Diante disso, podemos citar Arthur Pink, teólogo calvinista escreveu o seguinte sobre o assunto:

“... Se Cristo levou em seu próprio corpo, no madeiro, os pecados de todos os homens, sem exceção, nenhum deles perecerá. Se Cristo se fez maldição em favor de todos os membros da raça de Adão, ninguém sofrerá a condenação final... Mas Cristo não saldou a dívida de todos os homens sem exceção, porquanto há alguns... que “perecem no seu pecado!” (Cristo) não foi feito maldição pela totalidade da raça de Adão, porque há aqueles aos quais ainda dirá: “Apartai-vos de mim malditos.”

Um outro ponto da escritura que corrobora bem com nosso raciocínio é o texto de Paulo que descreve a morte de Cristo deixando claro que é um cancelamento de dívida (Cl 2.14). Devemos Perguntar então: O mundo inteiro está com sua dívida cancelada diante de Deus? É claro que não, caso contrário ninguém seria mandado para o inferno. A escritura deixa evidente que Cristo Morreu por Suas Ovelhas, Por Seu Povo, Por Sua Igreja, ela distingue ou divide a humanidade, metaforicamente, como ovelhas e cabritos (Mt 25.32,33, 34,41). As ovelhas são os crentes em Cristo e os cabritos são os incrédulos. Os cabritos são atirados no inferno, lugar preparado para o diabo e seus anjos. Eu pergunto: Cristo morreu pelos cabritos? É claro que não. As ovelhas resplandecerão como o sol no reino que lhes foi preparado desde a fundação do mundo. Por suas ovelhas Cristo deu sua alma (Jo. 10.14,15,26,27). Jesus tem um rebanho que é composto pelos que creram Nele, e foi por eles que Ele deu Sua vida. Observe o conselho que Paulo dá aos presbíteros de Éfeso em Atos 20.28 e o que ele escreveu em Efésios 5.25.

A oração de Jesus pelos escolhidos limita a expiação a um grupo

A oração sacerdotal de Jesus não foi um pedido de salvação pelo mundo, mas única e exclusivamente pelos Seus escolhidos, pelo Seu povo. Não faria sentido Cristo morrer pelo mundo e se negar a orar pelo mundo. Cristo não orou pelo mundo porque não morreu pelo mundo. Cristo orou por aqueles por quem daria Sua vida (Jo. 17.6-9,12,15-17,19-26). Em suma, respondendo o que propomos na sentença: Por quem Cristo Morreu? Por “Seu Povo”, Por “Suas Ovelhas”, Por “Sua Igreja”. Por ninguém mais. Este é o ensino bíblico e evidente desde o AT leiamos Is 53.11,12.

Considerações finais e lógicas do teólogo McGregor White

O livro soberania banida é contundente quando se trata do assunto expiação, ele fomenta e argumenta não deixando dúvidas quanto a limitação da mesma. Vejamos alguns pontos irrefutáveis desse belíssimo trabalho:

Argumentações que refutam textos aparentemente arminianos

1-Um texto clássico usado pelos arminianos é João 3:16 que diz: Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Embasado nesse texto eles dizem que quem quiser vir a Cristo vem livremente.

Refutação: O problema é que mesmo que o ser humano venha, ocasionaria a expiação universal. Onde Cristo morreria por todos os homens, logo, mesmo sendo incrédulo ao próprio Cristo a pessoa seria salva.

2-Um outro texto é:  Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo. 1 Timóteo 2:3-6

Eles afirmam que “todos os homens” e “todos” devam significar todos os seres humanos existentes.

Refutação: O texto se refere a todos os tipos de pessoas, ou seja, Reis e autoridades. Refere-se ao verso 1 e 2 e não todos os homens. Cairíamos novamente no universalismo.

3-Passemos agora a brilhante defesa da expiação limitada ou particular, na visão de John Owen.

3.1-Cristo morreu por alguns pecados de todos os homens. Não por todos os pecados de homens específicos.

Refutação: Todos os homens tem alguns de seus pecados pagos, mas ninguém será salvo.

3.2-Cristo pagou o preço na cruz por todos os pecados de todos os homens.

Refutação: Por que então todos não são libertos da punição do pecado?

Possível resposta do arminiano: Por causa da incredulidade deles; eles não crerão.

Perguntamos: Mas essa incredulidade é pecado ou não? Se não, por que deveriam ser eles punidos por ela?

Perguntamos novamente: Se ela (incredulidade) é um pecado, então Cristo sofreu a punição devida por ela ou não?

Ainda respondemos: Se ele não morreu por esse pecado de incredulidade, então ele não morreu por todos os pecados deles.

3.3-Os argumentos dos calvinistas são lógicos e não bíblicos.

Refutação de McGregor citando J. I. Packer:

"Ninguém tem o direito de desprezar a doutrina da limitação da expiação, como se ela fosse uma monstruosidade da lógica calvinista, até que tenha refutado a prova de Owen de que ela é parte da apresentação bíblica uniforme da redenção, claramente ensinada em passagem após passagem. E ninguém fez isso ainda."

Concluímos que a prova bíblica da expiação limitada é irrefutável. Demonstramos ela na linha da história da salvação, dentro do escopo analítico da teologia bíblica. Apontamos evidências na progressão da revelação, que gradativamente trabalhou o conceito do AT ao NT alcançando a plenitude em Cristo. Ainda provamos que os argumentos dos teólogos sistemáticos são suficientes para qualquer mente equilibrada crer na particularidade da expiação. Finalizamos com a bela exposição de argumentos fortíssimos do livro Soberania banida de McGregor. Ele utiliza John Owen, que despedaça qualquer tentativa dos arminianos em ir de encontro a expiação limitada.
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Bruno Souza de Melo é Presbítero e seminarista do SPN-PE.