Por John Owen
A glória do nosso Senhor
Jesus Cristo é por demais grande para que as nossas pequenas mentes a possam
entender. Desta forma, nunca pode- remos dar a Ele o louvor que Lhe é devido.
No entanto, através da fé podemos ter algum conhecimento de Cristo e Sua
glória, e esse conhecimento é melhor que qualquer outra forma de sabedoria ou
entendimento. O apóstolo Paulo disse: "E, na verdade, tenho também por
perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu
Senhor" (Filipenses 3:8). Se a nossa felicidade futura significa estar
onde Cristo está e ver a Sua glória, não há melhor preparação para isso que
encher os nossos pensamentos com ela desde agora. Assim, estaremos gradualmente
sendo transformados naquela glória.
É apenas de Cristo que
podemos nos ufanar e nos gloriar, pelas seguintes razões:
1. A nossa natureza humana
foi no princípio feita em Adão e Eva à imagem de Deus, cheia de beleza e
glória. Todavia, o pecado derrubou essa glória no pó e a natureza humana
tornou-se completamente diferente de Deus, cuja imagem ela havia perdido.
Satanás assumiu o controle e, se as coisas fossem deixadas dessa forma, a
humanidade teria pereci- do eternamente. Mas, o Senhor Jesus, o Filho de Deus,
curvou-Se em grande perdão e amor para assumir a natureza humana. Assim, a
nossa natureza humana, após ter mergulhado nas maiores profundezas da miséria,
agora foi erguida acima de toda a criação de Deus, pois Deus exaltou a Cristo
“... pondo-o à sua direita nos céus, acima de todo o principado, e poder, e
potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas
também no vindouro" (Efésios 1:20-21). Aqueles que receberam fé e graça
para entenderem corretamente o propósito da natureza humana, devem se regozijar
porque ela foi elevada das profundezas do pecado para a glória que agora
recebeu mediante a honra concedida a Cristo.
2. Em Cristo, o
relacionamento da nossa natureza com Deus é sempre o mesmo. Contudo, a nossa
amizade original com Deus, na criação, foi rompida pela queda do homem. Os
seres humanos se tornaram inimigos de Deus. Mas a sabedoria e a graça de Deus
planejaram restabelecer novamente a nossa natureza à semelhança da Sua, e
fazê-lo de tal forma que tornasse qualquer separação entre nós e Ele
impossível. Não podemos deixar de nos admirar que a nossa natureza possa
participar da vida gloriosa de Deus. A sabedoria onipotente, poder e bondade
tornaram isso possível através de Cristo. Esta obra de Deus é parte do mistério
da piedade que os anjos desejam perscrutar. (I Pedro 1:12). Quão pecaminosos e
tolos seremos nós se pensarmos muito em outras coisas e não O suficiente nisso.
O grande amor de Deus para com a humanidade é demonstrado pelo fato de o Filho
de Deus não ter vindo à terra como um anjo, e sim como homem — o homem Cristo
Jesus — tendo natureza humana como a nossa.
3. Cristo mostrou que é
possível para a nossa natureza humana morar no céu. As nossas mentes não podem
entender o número e as distâncias das estrelas no céu. Como, então, supomos que
os seres humanos podem morar num céu mais glorioso que o firmamento? Todavia, a
nossa natureza, no homem Cristo Jesus foi para o céu eterno de luz e glória e
Ele prometeu que onde estivesse ali estaríamos com Ele para sempre.
Tentações, provações,
tristezas, temores, medos e doenças são parte desta vida presente. Todas as
nossas ocupações têm problemas e tristezas nelas. Se considerarmos porém, a
glória de Cristo que iremos compartilhar, podemos obter alívio de todos esses
males e ganhar a vitória sobre eles. "Em tudo somos atribulados, mas não
angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados;
abatidos mas não destruídos. Por isso não desfalecemos: mas ainda que o nosso
homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia,
porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de
glória mui excelente; não atentando nós nas coisas que se vêem mas nas que não
se vêem; porque as que se vêem são temporárias, e as que não se vêem são
eternas" (11 Coríntios 4:8-9,16-18). O que são todas as coisas desta vida,
quer sejam boas ou más, comparadas com o benefício a nós da excelente glória de
Cristo?
A condição em que as nossas
mentes se encontram é o que geralmente nos causa os maiores problemas. O
salmista perguntava a si mesmo: "Por que estás abatida, ó minha alma, e
por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei na salvação
da sua presença" (Salmo 42:5,11).
A centralização de nossos
pensamentos, pela fé na glória de Cristo, trará paz e calma à mente perturbada
e desordenada. É através de Cristo que “... temos entrada pela fé a esta graça,
na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus...
porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo
que nos foi dado" (Romanos 5:2-5).
Podemos até pensar com
alegria na morte quando fixamos nossos pensamentos na glória de Cristo. Muitos
vivem com receio da morte todos os seus dias. Como podemos vencer estes
temores?
1. Devemos deliberadamente
entregar as nossas almas, ao partirmos deste mundo, nas mãos dAquele que pode
recebê-las e guardá-las. A alma, sozinha e por si mesma, tem que ir para a
eternidade. Ela deixa para trás, para sempre, tudo o que conheceu anteriormente
pelas suas faculdades próprias e naturais.
Deve haver, portanto, um ato
de fé ao entregar a alma à disposição de Deus, como Paulo foi capaz de fazer.
“... eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o
meu depósito até aquele dia" (11 Timóteo 1:12).
O Senhor Jesus Cristo é o
nosso grande exemplo. Quando Ele despediu o Seu espírito, Ele entregou a Sua
alma nas mãos de Deus o Pai, em total confiança que ela não sofreria nenhum
mal. "Portanto está alegre o meu coração e se regozija a minha glória:
também a minha carne re- pousará segura. Pois não deixarás a minha alma no
inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção" (Salmo 16:9-10). O
último e vitorioso ato de fé acontece .na morte. A alma poderá, então, dizer
para si mesma: "Você está agora deixando o tempo e entrando naquelas
coisas eternas que o olho natural não viu, nem o ouvido ouviu, nem o coração do
homem tem sido capaz de imaginar. Desta forma, em silêncio e confiança
entregue-se à soberana graça, verdade e fidelidade de Deus, c encontrarás
descanso e paz". Jesus Cristo imediatamente recebe a alma daqueles que
crêem nEle, como no caso de Estevão.
Quando morria, ele disse:
"Senhor Jesus, receba o meu espírito" (Atos 7:59). O que poderia ser
de maior encorajamento para entregar as nossas almas nas mãos de Cristo, na
hora da morte, do que conhecer em cada dia de nossas vidas alguma coisa de Sua
glória, do Seu poder e da Sua graça?
2. Como seres humanos, não
somos semelhantes aos anjos que são apenas espírito e não podem morrer. Nem
somos semelhantes aos animais que não possuem alma eterna. Mas Deus designou
para nós uma ressurreição gloriosa do corpo que não mais terá uma natureza
física; seremos mais semelhantes aos anjos. Nesta vida há uma relação tão
íntima entre alma e corpo que nós tentamos tirar da cabeça qualquer pensamento
sobre a sua separação. Como é possível, então, ter tal disposição de morrer, a
exemplo do apóstolo Paulo quando disse: "mas de ambos os lados estou em
aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, por que isto é ainda muito
melhor" (Filipenses 1:23)? Essa disposição só pode ser encontrada se
olharmos pela fé para Cristo e Sua glória, tendo a certeza que estar com Ele é
melhor do que tudo quanto esta vida possa oferecer.
Se quisermos morrer
alegremente, devemos pensar em como Deus nos chamará do túmulo na ressurreição.
Então, pelo Seu grandioso poder, Ele não apenas nos restaurará à glória de Adão
e Eva na criação, como também nos acrescentará ricas bênçãos além da nossa
imaginação. Devemos, também, nos lembrar que apesar do corpo e da alma do nosso
glorioso Salvador terem sido separados na morte (à semelhança que os nossos
também o serão), Ele agora possui grande glória. O Seu exemplo pode nos dar
esperança.
3. Deve haver uma disposição
nossa em aceitar o tempo de Deus para morrermos. Podemos, à semelhança de
Moisés, desejar ver mais da gloriosa obra de Deus em favor do Seu povo na
terra. Ou, à semelhança de Paulo, podemos sentir que seja necessário, para o
benefício de outros, que vivamos um pouco mais. Pode ser que desejemos ver as
nossas famílias e as nossas coisas numa condição melhor e mais estabelecidas.
Mas não podemos ter paz
neste mundo, a não ser que estejamos dis- postos a nos submeter à vontade de
Deus com respeito à morte. Os nossos dias estão em Suas mãos, à Sua soberana
disposição. Devemos aceitar isso como sendo o melhor.
4. Alguns podem não temer a
morte, porém podem temer a maneira como morrerão. Uma longa doença, grandes
dores, ou alguma forma de violência poderiam ser uma maneira de trazer a nossa
vida terrena a um fim. Devemos ser sábios, como se estivéssemos sempre prontos
para passar por qualquer experiência que Deus nos permita passar. Não seria
correto que Ele fizesse o que deseja com o que Lhe pertence? Acaso a vontade
dEle não é infinitamente santa, sábia, justa e boa em todas as coisas? Ele não
sabe o que é melhor para nós e o que trará maior glória para Si mesmo? Muitas
pessoas descobriram que são capazes de suportar as coisas que mais temiam
porque receberam maior força e paz do que podiam imaginar que lhes fosse dado.
No entanto, nenhuma dessas
quatro coisas podemos fazer, a não ser que acreditemos na excelente glória de
Cristo e desfrutemos dela.
Muitas outras vantagens de se meditar na glória de Cristo ainda poderiam ser ditas, porém a minha fraqueza e a proximidade da morte me impedem que eu escreva aqui com maiores detalhes.
Muitas outras vantagens de se meditar na glória de Cristo ainda poderiam ser ditas, porém a minha fraqueza e a proximidade da morte me impedem que eu escreva aqui com maiores detalhes.
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Fonte: Blog Os Puritanos
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