Por Thiago Oliveira
Sistemático é aquilo que segue um
sistema, uma ordenação, um método. A Teologia Sistemática pode ser definida
como a ciência que procura oferecer uma apresentação ordenada do que a Bíblia
ensina sobre Deus, Sua Obra e Sua relação para com o universo. Sistematizar o
conteúdo bíblico é um norteador que potencializa a assimilação dos valores do
Reino. E como a nossa espiritualidade deve estar ligada a ortodoxia, nada
melhor do que algo que nos facilite entender o que o Senhor tem nos falado
através da Sua Palavra.
Como a Teologia Sistemática atua com um
padrão unificador da mensagem canônica, ela se torna didaticamente mais
acessível do que a Teologia Bíblica e a Histórica. Embora Orígenes (218) tenha
sido o primeiro a sistematizar o conteúdo canônico em sua obra “Dos
Princípios”, gostaria de destacar três grandes nomes dessa ciência: Agostinho
de Hipona, Anselmo de Cantuária e João Calvino, como representantes de três
importantes períodos da história da Igreja (Patrístico, Medieval, Reformado).
Agostinho de Hipona é um gigante da
Teologia e da Filosofia, um homem a quem Deus usou para a edificação da Igreja
e que muito influenciou o pensamento ocidental. Agostinho, oriundo do século IV
e tendo vivido também uma parte do V, tinha uma vida mergulhada na luxúria até
ser convertido pelo poder do Evangelho pregado por Ambrósio. Sua mãe muito orou
para que o filho abandonasse todos os seus pecados, e teve graciosamente suas
preces atendidas.
Nas suas “Confissões”, Agostinho relata
o doloroso processo de santificação. Não foi fácil abandonar o velho homem.
Mas, Cristo completou a boa obra e fez deste pecador um santo remido pelo
sangue do Cordeiro. Após sua conversão, trabalhou como um pastor dedicado ao
rebanho do Senhor, tornou-se Bispo de Hipona (atual Argélia.África) e escreveu
uma vasta obra. Dentre elas, a mais influente, principalmente no pensamento
reformado no século XVI é: “Da Trindade”. Este livro antecede as Institutas de
Calvino no que diz respeito a exposição doutrinária ortodoxa. Ele aborda a
natureza divina, defendendo o trinitarianismo em oposição a doutrina ariana e
também a natureza humana, alegando que o homem é um ser depravado que carece da
graça divina para se salvar, se opondo ao pelagianismo, que defendia o
livre-arbítrio.
Quem estudou, mesmo que superficialmente
a teologia reformada, sabe o quanto Lutero e Calvino beberam das obras de
Agostinho. Principalmente o reformador de Genebra, que apela para o pensamento
agostiniano inúmeras vezes.
Já no período medieval, Anselmo,
arcebispo da Cantuária, foi o grande sistematizador deste período. Discípulo do
agostianismo e considerado por muitos o pai da escolástica, tem uma obra
notável sobre a expiação: “Por que Cristo se Tornou Homem?”. Ele respondeu sua
própria pergunta, argumentando que a encarnação e expiação de nosso Senhor
Jesus Cristo foram necessárias por causa da justiça de Deus. Sua grande
compreensão sobre estas verdades tornaram-se parte da herança confessional das
Igrejas Reformadas. Escreveu outras obras como “Monologion” e “Proslogion”, “sobre
a natureza de Deus” (argumento ontológico) e “De Concordia”, sobre a
predestinação.
Todavia, João Calvino com a sua já
citada obra “As Institutas da Religião Cristã” é considerado o teólogo que
melhor sistematizou o conteúdo ortodoxo bíblico em todos os tempos.
Principalmente as doutrinas da graça. É tanto que qualquer cristão que seja
favorável ao monergismo, irá se identificar como calvinista.
Bem, a primeira edição das “Institutas”
data de 1536, quando o reformador de Genebra tinha apenas 26 anos de idade e 2
anos que havia se convertido ao protestantismo. Ao todo, as “Institutas” de
Calvino passaram por cinco edições. Sua obra, tanto as “Institutas” como seu
catecismo, seus comentários sobre a maioria dos livros da Bíblia, sermões,
folhetos, cartas, etc. têm exercido grande influência desde o período da
Reforma até hoje. As Confissões e Catecismos da Fé Reformada, que foram
produzidos pelas igrejas a partir de então, tiveram nos escritos de Calvino, em
larga escala, grande fonte de embasamento teológico.
Em 1559, as “Institutas” ganham a sua
edição definitiva, dividida em 4 livros:
Livro 1:O Conhecimento de Deus, o
Criador.
Livro 2: O Conhecimento de Deus, o
Redentor em Cristo.
Livro 3: A Aplicação da Redenção (o
modo como recebemos a graça de Cristo).
Livro 4: A Igreja e os Sacramentos (os
meios externos pelos quais Deus nos convida à comunidade de Cristo e nos mantém
nela).
É a partir da obra de Calvino e dos
credos e catecismos reformados que a Teologia Reformada foi ganhando a forma
que tem hoje, logicamente que me refiro ao círculo protestante. Os loci (do
latim, área restrita) clássicos da Teologia Sistemática são:
a) Prolegomênos: estuda os princípios básicos da fé cristã de maneira
introdutória.
b) Teontologia: o estudo sobre Deus e Seus atributos.
c) Bibliologia: investiga a origem e a formação do cânon, tratando-o como
livro inspirado que é a palavra revelada de Deus.
d) Cristologia: estudo sobre a natureza de Cristo e sua obra.
e) Pneumatologia: estudo da pessoa e do ministério do Espírito Santo.
f) Antropologia: neste caso, estuda o homem numa perspectiva teológica.
g) Soteriologia: estuda os aspectos da salvação em Cristo Jesus.
h) Eclesiologia: este é o ramo da Teologia que trata da doutrina e
organização da igreja.
i) Escatologia: trata dos últimos tempos
que antecederá o retorno de Cristo.
j) Hamartiologia: estudo da origem e dos
efeitos do pecado.
k) Angelologia: o ramo da Teologia que estuda os anjos.
l) Demonologia: o estudo sistemático sobre
os demônios.
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REFERÊNCIAS
HANKO, Herman. Retratos de Santos
Fiéis. Dublin. Firelandy Missions.2013.
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