Por Daniel Clós Cesar
Não muito tempo atrás, um pastor
me perguntou o que eu achava de fazer uma pesquisa na região em torno da igreja
para descobrir o que os vizinhos esperavam de uma instituição religiosa. O
objetivo muito claro deste pastor era simples, ainda que não explicito. Saber
o que seus clientes em potencial queriam, para que pudesse lhes oferecer um
serviço sob medida, para que então eles passassem a consumir o produto dele e
não mais o da concorrência.
A ideia não é apenas perversa,
ela também claramente aponta uma falta de confiança em Deus de que Ele dará o
crescimento quando e como Ele desejar, uma falta de maturidade espiritual pois,
delega a pessoas que não conhecem a Cristo e não são nascidas no Espírito para
dizer a igreja como ela deve agir; e por fim, uma falta de compromisso com a
Palavra, buscando um compromisso profundo com o homem. Minha opinião na época
foi de que, ir ao cemitério ouvir os
mortos, não é uma prática cristã protestante.
Quando Jeosafá, rei de Judá,
juntou-se a Acabe, rei de Israel, para enfrentar Ramote de Gileade, pediu ao
rei de Israel que a Palavra fosse consultada, então foram chamados 400 profetas
de Israel, e todos foram unânimes: “Sobe, porque Deus a entregará na mão do
rei”. Jeosafá pede ao rei de Israel que traga um profeta verdadeiro do Senhor,
afinal, profetas não profetizam benção, conforme ensinou Jeremias, profetizam
guerras e destruição, mal e peste, não paz (Jeremias 28.8). Acabe, contrariado
com o tal profeta que “nunca profetiza de mim o que é bom, senão sempre o mal”
(2 Crônicas 18.7) manda vir o profeta Micaías, e esta é sua profecia:
“Vi a todo o Israel disperso
pelos montes, como ovelhas que não têm pastor; e disse o SENHOR: Estes não têm
senhor; torne cada um em paz para sua casa.” (2 Crônicas 18.16)
Acabe rejeitando as palavras do
profeta o manda ao cárcere, segue para a batalha e lá é morto por uma flecha
lançada a esmo.
O que você pode esperar de uma
igreja onde seu pastor consulta os mortos? O que você pode esperar de uma
congregação onde os homens e não Deus dizem como as coisas devem ser feitas, o
que deve ser pregado, como deve ser pregado e como deve ser prestado o culto a
Deus?
O cristianismo obteve uma grande
vitória no século XVI com a Reforma Protestante. A constante reforma pregada
pelos primeiros reformadores “ecclesia reformata, semper reformanda secundo
verbum Dei” (“A igreja reformada, sendo sempre reformada de acordo com a
Palavra de Deus”) é abandonada por um adágio do catolicismo romano medieval “semper
idem” (“Sempre o mesmo”).
Se homens morreram para que o
Evangelho fosse pregado em sua constante renovação que só é possível pela
atuação sobrenatural do Espírito Santo, os pastores contemporâneos, em uma
confusão que chamam de “renovação” ou “avivamento”, buscam seu suporte “teológico”
nos cemitérios do mundo para “renovar” e “avivar” suas pregações, as mantendo
sempre como a mesma coisa, comida fria e insípida para pessoas que não tem
condições nem mesmo de comer, pois estão mortas em seus pecados e delitos.
Não há exposição da Palavra nas
igrejas, a pregação segue o ritmo de declínio moral e espiritual secular.
Pastores estão preocupados com a reunião para jovens solteiros, jantar para os
casais, pipoca com cinema para os adolescentes e esquecem que a sua preocupação
deveria ser passar horas e mais horas debruçados sobre a Palavra de Deus para
quem sabe, apenas quem sabe, compreender o que Deus tem para a sua igreja no
próximo sermão a ser pregado. E então, renovados pela Palavra, a expor para os ouvintes
que, pelo ouvir a Palavra de Deus recebessem a Fé necessária para a Salvação.
No entanto, os pregadores amoldam
a Palavra de Deus para disseminar seus conhecimentos, a Palavra não muda suas
pregações, elas são sempre as mesmas, suas mentes não mudam pela Palavra, são
absolutamente “semper idem”. Versículos são usados para ilustrar um ponto de
vista, não para renovar mentes. E quando ocorre alguma “renovação”, trata-se
apenas de uma inovação secular no meio da igreja, trata-se de uma secularização
do culto, uma “atualização” descabida da liturgia que tem como único objetivo
dar mais conforto e interatividade a pessoas de outro século, de outra época...
o que esquecem esses pastores, é que os pecados deles são os mesmos de Adão.
Não precisamos fazer pesquisas no
bairro e perguntar a pessoas que não conhecem a Deus o que elas esperam de
Deus. Não precisamos promover eventos que atraiam as pessoas a igreja como
peixes em um cercado, para que então lancemos uma rede de “bençãos” que os
deixaram num emaranhado de promessas que nunca serão cumpridas, isto é no
mínimo desonestidade, e se formos mais severos na aplicação da Palavra, é
passível de morte os que tais coisas praticam. Precisamos sim lançar uma rede
onde os fios são a própria Palavra de Deus, e os nós que os unem são a verdade,
o arrependimento e a conversão.
O Evangelho ultrapassou dois mil
anos em pleno crescimento sem nenhuma necessidade de inovação humana. Todas as
inovações mostraram-se tempos mais tarde ser um fracasso, tanto que foram
abandonadas e substituídas por outras que alguém julgou ser melhor... todas
elas sem exceção mostraram que apenas uma pregação simples, mas centrada
unicamente na Palavra, expondo-a dia após dia, geraram ovelhas saudáveis e
sadias, que geraram mais ovelhas, e mais ovelhas, e mais ovelhas...
Sola Scriptura. Soli Deo Gloria.
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