Por Thiago Oliveira
As
eleições terminaram há mais de um mês (contando o primeiro turno) e todos os
candidatos eleitos, pela maioria dos votos dos cidadãos, irão exercer um
mandato que durará quatro anos. Durante a disputa pelas vagas nos poderes
executivo e legislativo, diversas pessoas manifestaram a sua preferência e o
seu entusiasmo com o candidato A ou B. Todavia, passada a eleição, a paixão
política permanecerá?
Temos
uma responsabilidade inerente ao exercício da nossa cidadania, que é a
fiscalização do mandato de quem contribuímos para que se elegesse. Nossa tarefa
é acompanhar o político que recebeu o nosso voto. Será que ele tem desempenhado
bem o seu ofício? É triste saber que muitos sequer recordam dos candidatos que
votaram. Uns foram influenciados pela boca de urna ou por uma sugestão de um
amigo ou irmão que disseram: “vote no meu candidato, pois eu o conheço”. Uma
grande fatia da população – infelizmente – procede assim e acaba votando às
cegas, como se desse um tiro no escuro.
Na
Grécia antiga, quando os cidadãos participavam da Pólis (Cidade-Estado), uma pessoa que não se interessasse por
assuntos políticos recebia a alcunha de idiota (gr. idiótes). Pois bem, o idiota era alguém que em oposição ao público,
concentrava-se apenas em seus interesses, isto é, na sua vida privada. Com
relação a isso, existe um poema atribuído a Bertold Brecht onde ele teria dito
que o pior tipo de analfabeto é o analfabeto político, pois, “o preço do
feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, dos sapatos e do remédio dependem das
decisões políticas”. O que é uma grande verdade.
Por
isso, precisamos estar atentos e – de certa forma – seguir os passos de nossos
políticos, cobrando os mesmos para gerirem o patrimônio público em prol do bem
estar social. Não é novidade para ninguém, que nossos homens públicos, muitas
vezes, exercem os seus mandatos voltados para os seus próprios interesses, e
fazem da política um fim para o seu enriquecimento. E se isto acontece, a culpa
também é dos cidadãos inertes as questões políticas. A idiotice (desprezo pela vida
pública) é quem alimenta a corrupção.
Mas
e quanto a nós, cristãos? Temos que nos envolver com a política? Não somos
cidadãos do céu? Claro que somos! No entanto, continuamos na terra e temos que
exercer o que a teologia reformada chama de “mandato cultural”. Entendamos isto como sendo a vice-gerência do
mundo. Deus, lá no Éden, deu ordens a Adão (Gn 2:15) para que este cuidasse bem
do Jardim. Devido a esta ordenança divina, toda a humanidade descendente de
Adão, deve zelar para que o planeta seja bem cuidado em todas as esferas. Só
que como nascemos pecadores e degenerados, acabamos por gerir mal a obra da
criação. Por isso que os cristãos, pessoas regeneradas por Deus, precisam
influenciar positivamente a sociedade e toda a atividade inerente a convivência
humano versus humano e humano versus outras criaturas.
Tal
pensamento ressoa fortemente no coração daqueles que entendem a condição de ser
cidadão do céu, mas que, concomitantemente, se enxergam como cidadãos na terra.
Tim Keller, no livro Igreja Centrada,
revela-nos o conceito de “encarnação cultural”. Ele diz, que a exemplo de
Cristo, a Igreja precisa adentrar na cultura para depois julgá-la e remi-la. Pois,
o Evangelho transforma tudo, até mesmo o modo de se fazer política. Certa
feita, o maior pregador batista de todos os tempos assim falou: “Eu tenho
ouvido, ‘Não traga a religião para a política’. É precisamente para este lugar
que ela deveria ser trazida e colocada ali na frente de todos os homens como um
candelabro”. Quando Cristo nos diz que somos a luz do mundo, nosso brilho deve
iluminar toda e qualquer área de nossas vidas terrenas.
Mediante o que foi dito, exorto os queridos
irmãos, a se envolverem em assuntos políticos não apenas no período eleitoral,
mas, acima de tudo, no momento em que o político não fica “beijando crianças” e
“abraçando idosos”. Cobrem os prefeitos, os governadores, os presidentes, os
vereadores, os senadores e os deputados. Fiscalizem cada mandato. E se quiser
saber como devem proceder os governantes, segundo a Bíblia, aqui vai uma série
de versículos: Deuteronômio 1.16-17, Deuteronômio 16.19, Deuteronômio 17. 16-18,
Provérbios 24.24, Jeremias 22.1-3, Romanos 13.4, 1 Pedro 2.14.
Política não se faz visando interesses privados.
João Calvino, comentando o texto de Romanos 13.4, salienta que a administração
dos governantes não deve ser feita em função de si próprios, e limita o poder
governamental restringindo a sua autoridade ao bem estar do povo. Esta é uma
cosmovisão (forma de enxergar o mundo) coerentemente bíblica.
Para concluir este breve artigo, gostaria de
elencar três pontos que considero essenciais para o cristão, no que tange a ação
política:
1. Antes de mais nada, ore pelos governantes. Independentemente
de você ser favorável a gestão que está exercendo poder. Paulo exorta Timóteo a
orar pelas autoridades, num contexto em que tais homens perseguiam os servos de
Deus (1 Tm 2. 1-6).
2. Acompanhe mais de perto a atividade política de quem recebeu
o seu voto nas últimas eleições.
3. Caso você queira pleitear um cargo na gestão pública ou
apoiar algum candidato; Lembre-se que seus interesses não podem se sobressair
ao interesse coletivo.
Que possamos fazer política para a Glória de
Deus. Louvado seja o Senhor!
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