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20 de dez. de 2014

A Adolescência não é um Bicho de Sete Cabeças

Por Luiz Sayão

A adolescência é marcada por crises. É a fase entre a criança e o adulto: ora o adolescente é criança, ora “sabe” mais que os pais. Mas essa idade “rebelde e difícil” é normal. Nossos filhos terão de ser eles mesmos, e não poderão ser o que fomos. Até certo ponto, as respostas malcriadas, as críticas e as opções diferentes devem ser vistas como parte do processo natural do adolescente. A verdade é que temos tanta dificuldade quanto eles para nos adaptarmos à nova fase. E talvez sejamos mais inflexíveis do que imaginamos. O fato é que precisamos monitorar as crises normais da adolescência em vez de nos desesperarmos. Se tivermos a expectativa correta, será mais fácil lidar com as crises.

HOJE É DIFERENTE!

Na história humana, todas as culturas enfrentaram o desafio de passar valores para a nova geração. Até certo ponto, o desafio tem sido vencido com sucesso. Todavia, na sociedade contemporânea isso já não ocorre. O fato é que o mundo mudou muito, complicando o processo. Há pelo menos duas diferenças significativas entre o nosso tempo e o dos nossos antepassados que merecem destaque: O Pluralismo de Idéias e a Velocidade das Mudanças Sociais.

O desenvolvimento tecnológico recente permitiu uma veiculação de informações sem precedentes por meios como Rádio, tv, cinema e internet. Além disso, a facilidade de intercâmbio entre diversas culturas é enorme. Essas mudanças, aliadas a outros fatores, levaram o homem de hoje a uma convivência com as mais diversas ideologias. Antigamente, uma pessoa nascia e crescia quase que numa visão cultural monolítica. Hoje, um jovem vê um clip dos “Raimundos” na MTV de manhã, encontra um muçulmano no metrô, “troca ideia” com um “punk” na escola, assiste a aula de arte de uma professora mística, “new-age”, discute com o professor de química ateu e termina o dia escutando a ladainha proselitista de um “dinossáurico” marxista, que afirma que Cuba não é tão ruim; e dependendo das circunstâncias, antes de dormir, na TV a cabo, ainda assiste “Os Três Patetas”. Como se vê, a convivência com idéias contraditórias é uma realidade hoje. A verdade é que o adolescente atual pensa de modo diferente. Ele convive tranqüilo com idéias opostas, sem se preocupar com isso. É a pós-modernidade! Muito do desentendimento familiar procede da diferença sem pais e filhos que percebam que cada um funciona num “sistema” distinto: Os pais só “funcionam em AM”, enquanto que os filhos “têm sintonia em FM”.

Além disso, a velocidade das mudanças hoje é rápida demais. As mudanças de hábitos e de idéias antes do mundo da mídia eram bem mais lentas. Hoje, alguém de 25 anos de idade está totalmente “por fora” do que “rola” na cabeça da “galera” de 15 anos. Há 40 anos nossos avós namoravam na frente dos pais e quando pegavam na mão era “o máximo”. Hoje, há adolescente crente que pergunta se há algum problema em “ficar” com alguém. O abismo entre as gerações é enorme. Isso prejudica, e muito, a mútua compreensão entre as duas partes. Isso mostra que é necessário um esforço maior por parte dos pais para compreender seus filhos.

OS PERIGOS DO MUNDO ATUAL

A adolescência é preciosa, pois nela se tomam decisões importantes na vida. Especialmente hoje, uma escolha errada nessa época da vida pode ser fatal. Vivemos em tempos difíceis. A violência juvenil atinge números alarmante, o sexo virou mercadoria barata e fácil. Um “pequeno erro” pode custar a vida de um jovem. As drogas estão por toda parte e produzem danos irreparáveis. Grupos de extremistas, revoltados, fanáticos, etc. lutam pelas cabeças de nossos filhos. Aborto, homossexualismo e amor livre viraram “papo cabeça” da “galera sem preconceito”. O que precisamos entender é que se bobearmos, nossos filhos podem tomar uma direção errada; e hoje os riscos são mais sérios do que os do passado. É preciso ter bom senso, pois muita liberdade pode ter conseqüências terríveis. Por outro lado, proibição sem diálogo e convivência tranqüila também não darão resultado.

O QUE FAZER? 

1. COMEÇANDO CEDO.

“Corrija os seus filhos enquanto eles têm idade para aprender” (Pv 19.18a – BLH). Essa lição é muito esquecida pelos pais brasileiros. Um dos defeitos do brasileiro é tentar resolver tudo “de última hora”. Só começamos a pensar na adolescência, quando os filhos já estão nela. Temos uma fé ingênua de que no fim tudo “dará certo”. Por isso, enquanto os filhos têm entre 9-12 anos não nos preocupamos, pois tudo está sob controle (afinal, eles são uma gracinha, não são?). Todavia, é nessa época que se prepara o filho para a adolescência, antes que ela vire “aborrecência”. Mas, em muitos casos, conversamos pouco com os filhos, desconhecemos seus gostos e interesses, pouco sabemos sobre o “papo” deles com os amigos, e sobre seus sonhos. Se eles são comportados, e nós lhes damos comida, roupa, escola, sabemos que tudo está indo bem. O fato é que o segredo de uma boa adolescência está no trabalho feito antes que ela chegue.

2. EVITANDO A RUPTURA

“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, …; quem o conhecerá?” (Jr 17.9). Muitos conhecem o texto e gostam de aplicá-lo aos outros! Mas será que paramos para pensar sobre como o nosso coração nos engana?

Quando nos tornamos pais e passamos a criar os filhos não sabemos fazê-lo automaticamente, nem resolvemos todos os problemas. A verdade é que a maioria empreende tal tarefa sem ter idéia da complexidade da mesma. Muitos são os perigos que enfrentamos nessa jornada; às vezes nem os percebemos:
Tendemos a repetir inconscientemente os erros de nossos pais. Corremos o risco de agir e reagir conforme o padrão presenciado e vivido por nós mesmos.

Dificilmente tratamos os filhos de modo igual. Muitas vezes a semelhança física ou psicológica com um filho pode levar um dos pais a protegê-lo. Às vezes, a ruptura entre os pais favorece a polarização dos filhos. O problema é pior quando o filho liga-se demais à mãe, e a filha, ao pai.

O pai brasileiro tende a ser distante dos filhos (pois assim foi criado), entendendo que deve trabalhar e “pôr dinheiro em casa”.

A mãe corre o risco de ser muito “tolerante” e proteger os filhos nos conflitos com o pai. Muitos filhos têm a mãe como confidente, e o pai como adversário.
Os pais frustrados no casamento inconscientemente transformam os filhos num foco de realização pessoal, já que a relação fracassou.

Esses são alguns dos problemas que podem ocorrer. Precisamos encará-los, procurar resolvê-los sob a graça de Cristo, não permitindo que se tornem uma “herança maldita” para os filhos. É na adolescência que surge a ruptura entre pais e filhos, mas a raiz existe antes. Quando o filho começa a fazer tudo diferente dos pais, ou a agir para chocar e chamar a atenção, a coisa está grave. Muitas vezes um dos pais tem uma ruptura acentuada com um filho, enquanto que o outro o defende.

Às vezes a diferença não é problema. Os pais mal preparados desconfiam demais dos filhos, fazem muita crítica, não reconhecem qualidades. Há casos em que o pai é médico, o filho quer ser músico; o pai não aceita. A mãe é bióloga, a filha quer ser alpinista; a mãe se decepciona. A frustração pode transformar-se em “pequenas vinganças” contra os filhos que não fazem a vontade dos pais; e a ruptura aumenta. Precisamos detectar quaisquer sinais de ruptura e com humildade corrigir o problema enquanto há esperança.

3. IDÉIAS CRIATIVAS E REALISTAS

Muitos pais acordam tarde e começam a reclamar dos sintomas de problemas maiores. O choque é grande: Pastor, meu filho quer usar brinco; minha filha quer ir num “baile evangélico”; meus filhos estão ouvindo músicas de louco; o Júnior não sai da internete; minha filha é louca pelo Ricky Martin; será que o Ricky Martin é a Besta?, ou besta é quem gosta das músicas dele?

Nossos filhos jamais reproduzirão exatamente o que somos. Antes dos Beatles, as pessoas passeavam de terno e gravata! Hoje ninguém acha estranho usar tênis, jeans e mascar chicletes. Tudo isso já foi marca de rebeldia. Muitos evangélicos falam mal da “música mundana”, especialmente do rock, e depois copiam tais ritmos e melodias e as tornam “santas”. Por que tal contradição? Há várias maneiras de ser contemporâneo no mundo atual. Nós precisamos descer ao nível de nossos filhos, saindo de nossa “fossilização” para ajudá-los a fazer escolhas razoáveis. Não adiante sonhar com Bach e Chopin como alvos do futuro. Sejamos práticos:

Sabendo que meus filhos estão entrando na adolescência e que vão se interessar por música popular, eu preciso começar a ouvir essas música e conversar com eles. Uma coisa é gostar de Toquinho, outra coisa é “curtir” o Tchan. É muito diferente ouvir um Dairy Straits e um Sepultura. Não existe apenas “música mundana”. Existem músicas boas e ruins, construtivas e destrutivas. Se formos amigos de nossos filhos nessa fase, eles farão boas escolhas. Fale a língua deles: “quem gosta disso aí tá por fora, isso é baixaria pura “.

O mesmo ocorre com os filmes e outras atividades. É preciso manter o diálogo constante e franco com os filhos. Encerrando, gostaria de deixar dicas importantes que não podem ser esquecidas:

* Nunca perca a comunicação com os filhos. É melhor ser ofendido por um filho franco do que perdê-lo.

* Mantenha vigilância constante sobre uma possível ruptura com seu filho.
Não critique com raiva e amargura o esposo (a) para os filhos.

* Assista e ouça aquilo de que seus filhos gostam.

* Fuja da contradição. Mães “noveleiras” e pais “fanáticos por futebol e filmes violentos” não têm moral para criticar.

* Comece a trabalhar cedo nos filhos.

* Seja espiritual e espirituoso. Mostre seu cristianismo de maneira natural. Não tenha espiritualidade fabricada. Seja descontraído e aprenda a ser brincalhão e amigo dos seus filhos, sem perder a autoridade.

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