Por Luiz Sayão
A adolescência é marcada por
crises. É a fase entre a criança e o adulto: ora o adolescente é criança, ora
“sabe” mais que os pais. Mas essa idade “rebelde e difícil” é normal. Nossos
filhos terão de ser eles mesmos, e não poderão ser o que fomos. Até certo
ponto, as respostas malcriadas, as críticas e as opções diferentes devem ser
vistas como parte do processo natural do adolescente. A verdade é que temos
tanta dificuldade quanto eles para nos adaptarmos à nova fase. E talvez sejamos
mais inflexíveis do que imaginamos. O fato é que precisamos monitorar as crises
normais da adolescência em vez de nos desesperarmos. Se tivermos a expectativa
correta, será mais fácil lidar com as crises.
HOJE É DIFERENTE!
Na história humana, todas as
culturas enfrentaram o desafio de passar valores para a nova geração. Até certo
ponto, o desafio tem sido vencido com sucesso. Todavia, na sociedade
contemporânea isso já não ocorre. O fato é que o mundo mudou muito, complicando
o processo. Há pelo menos duas diferenças significativas entre o nosso tempo e
o dos nossos antepassados que merecem destaque: O Pluralismo de Idéias e a
Velocidade das Mudanças Sociais.
O desenvolvimento
tecnológico recente permitiu uma veiculação de informações sem precedentes por
meios como Rádio, tv, cinema e internet. Além disso, a facilidade de
intercâmbio entre diversas culturas é enorme. Essas mudanças, aliadas a outros
fatores, levaram o homem de hoje a uma convivência com as mais diversas
ideologias. Antigamente, uma pessoa nascia e crescia quase que numa visão
cultural monolítica. Hoje, um jovem vê um clip dos “Raimundos” na MTV de manhã,
encontra um muçulmano no metrô, “troca ideia” com um “punk” na escola, assiste
a aula de arte de uma professora mística, “new-age”, discute com o professor de
química ateu e termina o dia escutando a ladainha proselitista de um
“dinossáurico” marxista, que afirma que Cuba não é tão ruim; e dependendo das
circunstâncias, antes de dormir, na TV a cabo, ainda assiste “Os Três Patetas”.
Como se vê, a convivência com idéias contraditórias é uma realidade hoje. A
verdade é que o adolescente atual pensa de modo diferente. Ele convive
tranqüilo com idéias opostas, sem se preocupar com isso. É a pós-modernidade!
Muito do desentendimento familiar procede da diferença sem pais e filhos que
percebam que cada um funciona num “sistema” distinto: Os pais só “funcionam em
AM”, enquanto que os filhos “têm sintonia em FM”.
Além disso, a velocidade das
mudanças hoje é rápida demais. As mudanças de hábitos e de idéias antes do
mundo da mídia eram bem mais lentas. Hoje, alguém de 25 anos de idade está
totalmente “por fora” do que “rola” na cabeça da “galera” de 15 anos. Há 40
anos nossos avós namoravam na frente dos pais e quando pegavam na mão era “o
máximo”. Hoje, há adolescente crente que pergunta se há algum problema em
“ficar” com alguém. O abismo entre as gerações é enorme. Isso prejudica, e
muito, a mútua compreensão entre as duas partes. Isso mostra que é necessário
um esforço maior por parte dos pais para compreender seus filhos.
OS PERIGOS DO MUNDO ATUAL
A adolescência é preciosa,
pois nela se tomam decisões importantes na vida. Especialmente hoje, uma
escolha errada nessa época da vida pode ser fatal. Vivemos em tempos difíceis.
A violência juvenil atinge números alarmante, o sexo virou mercadoria barata e
fácil. Um “pequeno erro” pode custar a vida de um jovem. As drogas estão por
toda parte e produzem danos irreparáveis. Grupos de extremistas, revoltados,
fanáticos, etc. lutam pelas cabeças de nossos filhos. Aborto, homossexualismo e
amor livre viraram “papo cabeça” da “galera sem preconceito”. O que precisamos
entender é que se bobearmos, nossos filhos podem tomar uma direção errada; e
hoje os riscos são mais sérios do que os do passado. É preciso ter bom senso,
pois muita liberdade pode ter conseqüências terríveis. Por outro lado,
proibição sem diálogo e convivência tranqüila também não darão resultado.
O QUE FAZER?
1. COMEÇANDO CEDO.
“Corrija os seus filhos
enquanto eles têm idade para aprender” (Pv 19.18a – BLH). Essa lição é muito
esquecida pelos pais brasileiros. Um dos defeitos do brasileiro é tentar
resolver tudo “de última hora”. Só começamos a pensar na adolescência, quando
os filhos já estão nela. Temos uma fé ingênua de que no fim tudo “dará certo”.
Por isso, enquanto os filhos têm entre 9-12 anos não nos preocupamos, pois tudo
está sob controle (afinal, eles são uma gracinha, não são?). Todavia, é nessa
época que se prepara o filho para a adolescência, antes que ela vire
“aborrecência”. Mas, em muitos casos, conversamos pouco com os filhos,
desconhecemos seus gostos e interesses, pouco sabemos sobre o “papo” deles com
os amigos, e sobre seus sonhos. Se eles são comportados, e nós lhes damos
comida, roupa, escola, sabemos que tudo está indo bem. O fato é que o segredo
de uma boa adolescência está no trabalho feito antes que ela chegue.
2. EVITANDO A RUPTURA
“Enganoso é o coração, mais
do que todas as coisas, …; quem o conhecerá?” (Jr 17.9). Muitos conhecem o
texto e gostam de aplicá-lo aos outros! Mas será que paramos para pensar sobre
como o nosso coração nos engana?
Quando nos tornamos pais e
passamos a criar os filhos não sabemos fazê-lo automaticamente, nem resolvemos
todos os problemas. A verdade é que a maioria empreende tal tarefa sem ter
idéia da complexidade da mesma. Muitos são os perigos que enfrentamos nessa
jornada; às vezes nem os percebemos:
Tendemos a repetir
inconscientemente os erros de nossos pais. Corremos o risco de agir e reagir
conforme o padrão presenciado e vivido por nós mesmos.
Dificilmente tratamos os
filhos de modo igual. Muitas vezes a semelhança física ou psicológica com um
filho pode levar um dos pais a protegê-lo. Às vezes, a ruptura entre os pais
favorece a polarização dos filhos. O problema é pior quando o filho liga-se
demais à mãe, e a filha, ao pai.
O pai brasileiro tende a ser
distante dos filhos (pois assim foi criado), entendendo que deve trabalhar e
“pôr dinheiro em casa”.
A mãe corre o risco de ser
muito “tolerante” e proteger os filhos nos conflitos com o pai. Muitos filhos
têm a mãe como confidente, e o pai como adversário.
Os pais frustrados no
casamento inconscientemente transformam os filhos num foco de realização
pessoal, já que a relação fracassou.
Esses são alguns dos
problemas que podem ocorrer. Precisamos encará-los, procurar resolvê-los sob a
graça de Cristo, não permitindo que se tornem uma “herança maldita” para os
filhos. É na adolescência que surge a ruptura entre pais e filhos, mas a raiz
existe antes. Quando o filho começa a fazer tudo diferente dos pais, ou a agir
para chocar e chamar a atenção, a coisa está grave. Muitas vezes um dos pais
tem uma ruptura acentuada com um filho, enquanto que o outro o defende.
Às vezes a diferença não é
problema. Os pais mal preparados desconfiam demais dos filhos, fazem muita
crítica, não reconhecem qualidades. Há casos em que o pai é médico, o filho
quer ser músico; o pai não aceita. A mãe é bióloga, a filha quer ser alpinista;
a mãe se decepciona. A frustração pode transformar-se em “pequenas vinganças”
contra os filhos que não fazem a vontade dos pais; e a ruptura aumenta. Precisamos
detectar quaisquer sinais de ruptura e com humildade corrigir o problema
enquanto há esperança.
3. IDÉIAS CRIATIVAS E
REALISTAS
Muitos pais acordam tarde e
começam a reclamar dos sintomas de problemas maiores. O choque é grande:
Pastor, meu filho quer usar brinco; minha filha quer ir num “baile evangélico”;
meus filhos estão ouvindo músicas de louco; o Júnior não sai da internete;
minha filha é louca pelo Ricky Martin; será que o Ricky Martin é a Besta?, ou
besta é quem gosta das músicas dele?
Nossos filhos jamais
reproduzirão exatamente o que somos. Antes dos Beatles, as pessoas passeavam de
terno e gravata! Hoje ninguém acha estranho usar tênis, jeans e mascar
chicletes. Tudo isso já foi marca de rebeldia. Muitos evangélicos falam mal da
“música mundana”, especialmente do rock, e depois copiam tais ritmos e melodias
e as tornam “santas”. Por que tal contradição? Há várias maneiras de ser
contemporâneo no mundo atual. Nós precisamos descer ao nível de nossos filhos,
saindo de nossa “fossilização” para ajudá-los a fazer escolhas razoáveis. Não
adiante sonhar com Bach e Chopin como alvos do futuro. Sejamos práticos:
Sabendo que meus filhos
estão entrando na adolescência e que vão se interessar por música popular, eu
preciso começar a ouvir essas música e conversar com eles. Uma coisa é gostar
de Toquinho, outra coisa é “curtir” o Tchan. É muito diferente ouvir um Dairy
Straits e um Sepultura. Não existe apenas “música mundana”. Existem músicas
boas e ruins, construtivas e destrutivas. Se formos amigos de nossos filhos
nessa fase, eles farão boas escolhas. Fale a língua deles: “quem gosta disso aí
tá por fora, isso é baixaria pura “.
O mesmo ocorre com os filmes
e outras atividades. É preciso manter o diálogo constante e franco com os
filhos. Encerrando, gostaria de deixar dicas importantes que não podem ser
esquecidas:
* Nunca perca a comunicação
com os filhos. É melhor ser ofendido por um filho franco do que perdê-lo.
* Mantenha vigilância
constante sobre uma possível ruptura com seu filho.
Não critique com raiva e
amargura o esposo (a) para os filhos.
* Assista e ouça aquilo de que
seus filhos gostam.
* Fuja da contradição. Mães
“noveleiras” e pais “fanáticos por futebol e filmes violentos” não têm moral
para criticar.
* Comece a trabalhar cedo nos
filhos.
* Seja espiritual e
espirituoso. Mostre seu cristianismo de maneira natural. Não tenha
espiritualidade fabricada. Seja descontraído e aprenda a ser brincalhão e amigo
dos seus filhos, sem perder a autoridade.
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