Por Thiago Azevedo
É com esta afirmação
“matemática”, diferente da tradicional que alega que a ordem dos fatores não
altera o produto, que pretende-se demonstrar que nem sempre a alteração da
ordem dos fatores mantém o produto intacto. Talvez, matematicamente falando, a
veracidade desta alegação possa ser considerada, mas isso não se torna uma
verdade universal quando aplicada a outros ramos do saber. Citaremos a teologia
como exemplo.
Houve um tempo em que a
pregação da palavra de Deus se tratava de algo sério, a saber, em um período em
que pregadores de renome se destacaram como sendo grandes referências na arte
da pregação da sagrada escritura. Estes não se envaideciam com o status de
pregador de renome, muito pelo contrário. Nomes como Jonathan Edwards, George
Whitefield, Charles Spurgeon, dentre outros, sempre mantiveram uma postura
humilde sem colocar os holofotes direcionados a si mesmos. Na certa, estes
homens tinham em mente o legado de outros que lhe antecederam, tais como, Jan
Huss, John Wycliffe, João Calvino, etc. Estes, com certeza, lembravam-se de
outros expoentes da fé cristã que também lhes antecederam como, por exemplo,
Pedro Valdo, Arnaldo de Brescia e assim sucessivamente até meados do primeiro
século da era cristã. Estes homens citados em seus respectivos tempos padeceram
em prol da causa do evangelho e deram suas respectivas vidas na causa cristã,
com isso, criaram um ambiente propício para que outros viessem a desfrutar de
uma fé robusta e madura. Esta é a mesma lógica que se vê nas páginas da bíblia,
a saber, pessoas que conhecem um passado construído com luta e amor à causa
divina e que externam um desejo perene de manter uma honra a tal passado. Um
bom exemplo disso é o texto de Hebreus 11 conhecido como a galeria da fé em que
o autor relembra um passado mais que glorioso naquilo que pode ser visto como o
combustível do cristianismo, ou seja: a fé.
Os primeiros nomes de
pregadores mencionados neste texto entendiam que para aquele presente está
acontecendo foi necessário um rastro de sofrimentos e derramamento de sangue
incalculável, neste ambiente em destaque, nos parece que a profecia tertuliana
de que o sangue dos mártires era como semente em terra fértil se cumpriu. Logo,
parece-nos que não se faz mais pregadores como antigamente, na atualidade há
uma preocupação com tudo, menos com a relevância da mensagem bíblica. A
pregação pode ser vista como o elo mais estreito entre Deus e os homens, pois é
por meio desta que a obra de Deus é anunciada. Assim, é mais que notório a
percepção da inversão da ordem de alguns fatores que comprometem os produtos.
Ou seja, a negligência na prática da pregação da palavra de Deus e das
responsabilidades que a cerca é tida como a consequência mais grave nas
inversões dos papeis e resultado final.
Sabemos que uma gama de
pregadores surgiram no vácuo dos verdadeiros anunciadores do evangelho, em
todas as épocas houve este comportamento, homens que queriam nada mais nada
menos que ser notados no vácuo destes que são verdadeiros ministros do evangelho.
O que dizer de Paulo confrontando os falsos apóstolos em 2 Co 12? Conta-se que
Spurgeon na sua época também passou por isso. Um dos que se opuseram ao mesmo
foi Dwight Moody. Conta-se que Spurgeon mostrou-lhe os princípios de se fazer
tudo para a glória de Deus conforme 1 Co 10:31 em uma espécie de debate em que
o mesmo criticava Spurgeon por algumas atitudes. Em outra ocasião, conta-se que
um grupo de jovens visitou duas igrejas no mesmo dia, a saber, a Tabernáculo
Batista Metropolitano – igreja de Spurgeon – e a igreja de Joseph Packer, outro
grande pregador da época. Os comentários dos grupos em questão foram os
seguintes: “Que pregador maravilhoso, que eloquência!” isso acerca de Packer.
“Que Deus maravilhoso é esse anunciado por este pregador!” Isso acerca de
Spurgeon (VARGENS 2013 p. 90).
A glória de Deus deve ser
vista necessariamente na mensagem do indivíduo e na vida deste, se houver uma
inversão na ordem destes fatores o produto se altera. Em outra ocasião conta-se
também que Spurgeon testando o som do microfone do local que ia pregar repetiu
a seguinte passagem bíblica: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo”, alguns operários que ali estavam trabalhando vieram chorando aos
soluços e aceitaram o evangelho. Este sentimento, o de pranto e choro, era uma
marca ao cabo dos sermões do chamado “príncipe dos pregadores”. Isto sem falar
nas conversões em massa e sempre marcadas pelo desespero de indivíduos que
reconheciam seus respectivos estados pecaminosos. Tudo isso nada mais era que
resultados de uma mensagem bíblica cristocêntrica e eficaz. Spurgeon demorava,
mais ou menos, entre 40 minutos à uma hora ministrando. Segundo dados
biográficos, o maior auditório em que pregou continha, exatamente, 23.654
pessoas: este imenso público lotou o The Crystal Palace, de Londres, no dia 7
de outubro de 1857, para ouvi-lo pregar por mais de duas horas.[1]
Até o tempo que se passa
ouvindo sermões na atualidade pode ser tido como uma inversão de fatores que
altera em muito o produto ou resultado final. Muitos não conseguem mais
ministrar mais que meia hora, isso quando se alcança esta marca. Esta situação,
por muito, se dá por duas razões, a saber, a exigência dos próprios fiéis que
não suportam mais de meia hora de ministração e também pela ausência de preparo
de quem ministra. Uma das maiores dificuldades de algumas igrejas quanto ao
tempo da ministração se dá por conta da acachapante quantidade de ministérios
que a mesma possui, com isso há uma negligência à ministração da palavra em
prol de uma tentativa de agrado aos ministérios diversos. Em certa ocasião fora
dado a certo pastor convidado para ministrar em certa igreja apenas cinco
minutos para expor uma mensagem. Tudo isso se deu por conta de um ministério
específico naquela data está completando idade nova. Logo, se pode concluir que
os aniversários ministeriais em algumas igrejas são mais importantes que as
escrituras sagradas e tudo que nela contém. Estas inversões na ordem dos
fatores resultam na alteração de diversos produtos.
A inversão dos sentimentos
demonstrados no momento exato da mensagem da palavra de Deus na atualidade
deixa mais que notório que há uma alteração na ordem dos fatores. Na atualidade
as pessoas ao ouvirem certos pastores pregando apenas riem, riem de se
estourar. Não é para menos, pois a moda de rir ao ouvir mensagens ditas cristãs
já se tornou até em uma unção, a saber, a funesta “unção do riso”. Nesta, as
pessoas riem, riem, riem, até desmaiar. Outra moda nova é alguns pastores ao
pregar mudarem a tonalidade de suas vozes, ou seja, tentam imitar uma
criancinha falando ou tentam imitar aquele líder mais famoso de seu ministério.
A moda do stand up comedy chegou aos púlpitos. A ênfase é no riso, na
brincadeira e na palhaçada em cima do púlpito. Tudo isso se dá por meio da alteração
na ordem dos fatores que resulta em um produto alterado – povo se deleitando em
sucessivas risadas ao invés de contrição –, além do desprezo e do compromisso
às escrituras em troca da ênfase hedonista que permeia o ambiente cristão
brasileiro. Importante que se diga que
rir e ser feliz são mais que importantes, não defendemos uma vida sem risos e
gargalhadas, muito pelo contrário, mas o púlpito não é lugar para isso. Na
atualidade um bom pastor ou líder é medido pelo “risômetro” do povo e não por
seu conhecimento bíblico ao mostrar o plano de Deus por meio da pregação. Isso
altera ou não a ordem dos fatores? Esta alteração na ordem dos fatores também
altera o produto. Além dos sentimentos externados pelas pessoas ao ser
ministradas na atualidade diferirem daqueles que as pessoas externavam quando
Spurgeon, Edwards e outros ministravam.
Existem outros pontos notórios de uma mudança na ordem dos fatores: antes se
enfatizava uma vida de caráter ilibado, na atualidade não, antes se dedicava
horas a fio numa verdadeira busca espiritual que resultaria no preparo de
sermões, na atualidade não.
Há relatos de pregadores que
passavam mais de 12 horas orando antes de ministrar um sermão, mas na
atualidade não há este comportamento. Sabe-se que este foi o ambiente que
permeou os maiores e verdadeiros avivamentos de Deus na história da igreja, com
isso se pode alegar que não há avivamento sem ênfase nas escrituras. Na
atualidade é justamente o oposto, os ditos ministros do evangelho realizam seus
avivamentos sem se quer respaldo bíblico ou ênfase nas escrituras. Ainda bem
que estes avivamentos são dos próprios supostos ministros e não de Deus. Os supostos ministros do evangelho preparam
seus sermões minutos antes de subirem no púlpito, outros nem isso, basta uma
acessada na net ou uma colinha no rodapé de suas grossas bíblias de estudos.
Quanto a isso existe uma anedota que vem a calhar: Em certa cidadezinha de
interior havia uma igreja reformada e muito apegada aos preceitos das
escrituras sagradas. O pastor morava há alguns quilômetros da referida igreja.
Os irmãos já haviam conversado sobre a queda no desempenho do pastor nos
sermões ministrados. Logo, os irmãos interrogaram o referido reverendo e o
mesmo prontamente alegou que estava preparando os sermões no caminho entre sua
casa e a igreja. Aquele grupo de irmãos, por gostar muito do pastor, encontrou
a solução de imediato. Compraram uma casa na cidade vizinha para o pastor.
Moral da história: haveria, portanto, uma distancia maior a ser percorrida no
caminho entre a casa do pastor e a igreja. Logo, o sermão teria mais tempo para
ser preparado. Essa história alude à situação atual do evangelho brasileiro, ou
seja, uma mudança na ordem dos fatores em que a fé cristã se consolidou. Um
maior tempo na preparação dos sermões com ênfase no lado espiritual sendo
abandonado por preparação de sermões do tipo caldo de cana – saindo na hora.
Não tem como o produto se manter intacto numa inversão de ordem dessas.
Conclui-se, atestando que
dentro deste esquema apresentado acerca do panorama dos sentimentos externados
na hora da pregação da palavra de Deus, tanto por quem prega como por quem
recebe a pregação, como também nos interesses e objetivos envolvidos no
ambiente da pregação da palavra de Deus na atualidade, como também o tempo de
preparação destes sermões etc., que há de fato uma alteração na ordem dos
fatores que desemboca numa modificação do produto em si. Ou seja, antes o
produto era pessoas quebrantadas, arrependidas, desesperadas por ter a real
noção de suas respectivas situações pecaminosas, ministros de Deus conseguiam
mostrar-lhes suas verdadeiras e respectivas realidades e seus estados
pecaminosos. Isso desembocava em choro, pranto e desespero. Estas pessoas
alcançadas por uma mensagem do evangelho pura e simples refletiam sobre seus
estados, era um sentimento semelhante ao de Moises em Êxodo 33:3 quando Deus
lhe revela que não acompanharia o povo na caminhada – isso é motivo para se
desesperar.
Na atualidade o produto é
afastamento de Deus, perca da noção do real estado pecaminoso, rebeldia,
idolatria promiscuidade etc., etc., e, em meio a isso, há risos, alegria
demasiada e felicidade em excesso. Isso porque os animadores de plateia que
sobem aos púlpitos, e que muitos intitulam de pastores ou ministros os proporcionam.
Estes estão se ramificando cada vez mais na pregação do evangelho, alguns se
especializam em temas específicos: Família, jovens, casais, finanças etc. Em
suma, trata-se de uma alteração na ordem dos fatores que altera e muito o
produto – resultado – e a verdade desta conta, desta operação numérica
pervertida onde os fatores foram tirados de ordem, não só poderão ser vistos na
vida presente, mas também na vida eterna. Esperamos que muitos, como bons
matemáticos, possam identificar a alteração dos fatores e o comprometimento dos
resultados enquanto há tempo.
___________________
[1] Disponível em
<http://www.projetospurgeon.com.br/quem-foi-spurgeon/quem-foi-charles-haddon-spurgeon/>
Acessado em 07 de Dez. 2014.
Olá Thiago! Você foi extremamente feliz na elaboração deste texto! A Glória de Deus é o fim da pregação do evangelho e não o meio. Se algum pregador quer mudar essa ordem, o aconselhável é ir pedir emprego para o Sílvio Santos, pois lá no SBT, por exemplo, a ordem é diferente. Um abraço!
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