Por Thiago Oliveira
Lamentavelmente escrevo esse
texto sabendo que muitos vão aqui comentar coisas do tipo: “Ele faz isso, mas ganha muitas almas para
Jesus, e você o que faz além de julgar?” ou “Ele fez o que de errado? Ora, deixem ele falar do Evangelho.” Daí
você se pergunta, quem é ele e o que ele faz/fez. Ok, vou explicar.
O Pr. Lucinho Barreto, da
Igreja Batista da Lagoinha pregou no último Sábado (06/12) um sermão intitulado
“E agora, quem poderá me defender?” Até aí tudo bem...Sobre a pregação, a
intenção era falar sobre depender de Deus. Ótimo! Só que o Lucinho chega no
púlpito vestido de Chapolin Colorado (veja aqui) e é
ovacionado por isso. Diante dos aplausos ele arremata o bordão do famoso
personagem do recém falecido Roberto Bolaños: “Não contavam com minha astúcia!”
No púlpito, o Lucinho conta
diversas piadinhas e até faz referência a uma música da funkeira Anita (Pre-pa-ra). Ele grita, se ajoelha, acena, assobia,
gargalha...enfim, um típico showman.
Seria muito bom para uma empresa tê-lo como palestrante motivacional. Talvez
algum programa televisivo fizesse sucesso com um apresentador tão eletrizante
quanto ele. Mas para ser um mensageiro bíblico, o Lucinho com a sua personalidade
narcisista, está distante do que Deus requer para o ofício de ser porta-voz da
Palavra revelada.
Em seu excelente livro, "Supremacia
de Deus na Pregação", o Pr. John Piper fala que o alvo da pregação deve ser a
glória de Deus. Ou é isso, ou de nada vale pregar. A partir do momento que um
pastor ou mensageiro da Palavra começa a desfocar desse alvo, deixando de
manter a sobriedade, este deixou de glorificar ao seu Senhor e até passa a
querer ser o centro das atenções. E muitos em nosso meio costumam associar
sobriedade com frieza. Se um pastor conduzir os ouvintes a quietude, muitos
acharão que a mensagem foi enfadonha, morosa, lúgubre, etc. Segundo Piper (pág
49), muitos pastores têm se deixado levar por tal pensamento e o resultado
disso é:
“...uma
atmosfera de pregação e um estilo de pregação contaminados com trivialidades,
leviandade, negligência, irreverência e uma sensação generalizada de que nada
de proporções eternas e infinitas está sendo feita ou dita aos domingos”.
Obviamente que o pregador
não precisa ser engessado ou robótico. Ele deve ser vibrante, entusiasmado,
afinal, é do Evangelho que ele fala. E não há nada mais vibrante do que o
Evangelho, não é mesmo? Charles Spurgeon, um dos maiores evangelistas da
história da Igreja tinha um humor peculiar. O pastor presbiteriano Augustus
Nicodemus é, atualmente, um bom exemplo de alguém que faz o bom uso do humor e
conta suas anedotas vez ou outra. No entanto, leviandade é diferente de bom
humor. Lógico que uma risada é sadia e que a alegria é marca de todo o cristão
satisfeito em Cristo Jesus. Mas para tudo existe limite. Transformar um sermão
num roteiro de stand-up comedy não é
uma ideia sensata. A pregação é a forma que Deus estabeleceu para falar aos
pecadores e auxiliar na perseverança dos santos. Se as pregações virarem
palhaçada, como alguém dará crédito a esta mensagem?
O próprio Lucinho é exemplo
disso. Ele inventou de “cheirar a Bíblia” para dizer que os jovens precisam ser
loucos por Jesus. Sua iniciativa, com perdão do termo, abobada, virou matéria
de um programa de TV e o apresentador não aguentou e mandou que a matéria
deixasse de ser exibida, ao vivo (veja aqui). Um incrédulo
censurou o Lucinho, que para a repórter que o entrevistava, disse que fazia
essas coisas para atrair os adolescentes, pois estes acham os assuntos sobre
Deus (ou religião) muito chatos.
É justamente nesse afã de
querer incrementar o Evangelho que as bizarrices começam a se proliferar. Como
disse anteriormente, alegria é inerente do cristão e o apóstolo Paulo
escrevendo aos filipenses fala muito sobre alegria (Fl 4.4). Porém, na mesma
carta, Paulo chora por causa dos inimigos da cruz de Cristo (Fl 3.18). Ou seja:
nem tudo são flores! Se o alvo da mensagem é a glória de Deus, e Ele é
glorificado quando chamamos pecadores ao arrependimento, esta mensagem não pode
ser trivial. Se vestir de Chapolin é algo tão despojado que fere o caráter
sóbrio da pregação que diz “arrependei-vos e convertei-vos”. Não só a
sobriedade como também a seriedade desta mensagem, pois a resposta a ela resultará
em vida eterna ou morte eterna.
Em 2 Timóteo 4.3 lemos o
seguinte "Pois haverá tempo em que
não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo
as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos". Isso
é um retrato do que estamos vivendo. Incomodados com a agressão que é a Palavra
de Deus (ou você acha que uma espada que penetra na divisão das juntas e
medulas não causa dor?), os homens de nosso tempo forjam um pseudo-evangelho
que massageia o ego e diz tudo aquilo que queríamos ouvir, e não o que deveríamos
ouvir. Spurgeon, certa feita disse que chegaria um dia em que no lugar dos
pastores alimentando as ovelhas haveria palhaços entretendo os bodes. Ele
estava muito certo.
O egocentrismo de pastores
feito Lucinho e outros que para serem notados e ganharem fama nas redes sociais
vestem coisas bizarras (veja aqui)
e falam palavrões, são um câncer que vem destruindo a Igreja progressivamente. Aonde
estão os homens que pregam a cruz? Aonde estão os pastores que não querem o
aplauso dos homens? Aonde estão as pregações que falam que Deus lançará no
inferno os pecadores resolutos?
Não desanime, ainda existem homens
comprometidos com o Evangelho ao ponto de negarem o aplauso dos seus ouvintes.
Duvida? Então, se não conhece, recomendo a você a assistir ao vídeo dessa
pregação aqui
do Paul Washer. E para terminar, contarei uma anedota que não me lembro onde li
ou ouvi, sobre o já citado Charles Spurgeon. Mas ela diz que numa certa conferência
na Inglaterra vitoriana, alguns jovens ao verem o pastor do primeiro dia pregar
ficaram maravilhados e diziam entre si: “Você
viu aquele pregador? Nossa como ele prega bem. Que oratória. Que sermão!”.
No segundo dia, Spurgeon foi o preletor e após a conclusão da sua mensagem os
jovens, novamente admirados, falavam uns com os outros: “Você viu como Jesus é perfeito? Como Jesus é bom! Como Jesus é
admirável! Quão lindo é Jesus”.
Que Deus nos presenteie com
pastores segundo o Seu coração! Soli Deo
Gloria!
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