Por Phil Fernandes
Ao
comparar os pensamentos de Cornelius Van Til e Gordon Clark, descobrimos vários
pontos de concordância, bem como várias áreas de discordância. Em primeiro
lugar serão examinados alguns pontos de concordância entre estes dois homens.
Ambos
eram calvinistas sérios e consistentes. Como ambos acreditavam que, à parte da
obra regeneradora do Espírito Santo, ninguém poderia livremente se decidir por
Cristo, as tentativas diretas de persuadir os incrédulos eram consideradas
contraproducentes.
Ambos
concordavam que o evangelho deveria ser pressuposto, e não provado. Van Til e
Clark sentiam que defender a verdade do evangelho era negar a doutrina
calvinista da depravação total do homem. Ambos acreditavam que a razão do homem
estava danificada devido à Queda e que seria inútil uma argumentação direta
pela verdade do cristianismo. Ainda assim, ambos estavam dispostos a refutar as
crenças dos incrédulos e fornecer uma confirmação indireta da verdade do
cristianismo.
Ambos
concordavam que a filosofia secular era um completo fracasso. Clark ensinava
que todas as filosofias não cristãs reduziam-se eventualmente ao ceticismo. Van
Til acreditava que a filosofia secular era fútil, posto que a razão humana
encontrava-se num estado caído. Na sua visão, se a pessoa não pressupõe o Deus
da Bíblia, nenhum conhecimento é possível. Contudo, Van Til acreditava que até
mesmo os incrédulos pressupõem a existência de Deus (embora suprimam esta
verdade) para encontrar a verdade.
Ambos
concordavam que a apologética tradicional é antibíblica e inútil. Ao longo de
seus escritos, Clark e Van Til depreciavam o método tradicional de defesa da
fé. Eles acreditavam que entre o crente e o incrédulo não havia campo de
batalha neutro onde o cristianismo poderia ser defendido. O evangelho deveria
ser pressuposto em vez de defendido. Eles não viam qualquer utilidade aos
argumentos clássicos para a existência de Deus ou para o uso tradicional de
evidências históricas para a fé cristã.
A
despeito desses pontos de concordância entre Clark e Van Til, havia áreas de
discordância. Os exemplos a seguir ilustrarão isso.
Eles
discordavam sobre o raciocínio circular. Van Til acreditava que todo raciocínio
é circular. A conclusão dos argumentos de uma pessoa pode sempre ser encontrada
nas premissas dos seus argumentos. No entanto, Clark era mais racionalista em
seu pensamento. Considerava o raciocínio circular uma falácia lógica. Por causa
disso, Clark pressupôs de forma dogmática seu princípio primeiro (A existência
do Deus da Bíblia [1]) e então deduziu as suas crenças a partir deste princípio
primeiro.
Eles
discordavam sobre o status e uso da lei da contradição. Clark acreditava que a
lei da contradição fluía da natureza de Deus. Ele ensinava que Deus é lógica.
Portanto, ao pressupor o Deus trino que se revelou na Bíblia, ele também
pressupôs a lei da contradição. Ele então usaria essa lei para destruir os
sistemas de crenças dos incrédulos.
Van
Til, no entanto, acreditava que essa lei era uma limitação humana que Clark
tinha forçado sobre Deus. Van Til acreditava que Clark sujeitara Deus a essa
lei. Embora Van Til usasse esta lei para refutar os demais sistemas de crenças,
isto somente assim se dava porque ele escolhera usar “a própria munição do
inimigo para derrotá-lo na batalha”. De fato, a visão clarkiana da lei da não
contradição é provavelmente o que produziu a maior lacuna entre o pensamento
destes dois homens. Clark assumia a lei da não contradição como pressuposto ao
fazer apologética. Van Til recusava-se a fazê-lo.
_______________
NOTAS:
[1]
É comum ver esta afirmação nas análises que são feitas sobre o pensamento de
Clark. Contudo, quem lê todos os seus escritos e está mais familiarizado com
seu método, percebe que o seu princípio primeiro era na verdade o seguinte: “A
Bíblia é a Palavra de Deus”. “A existência do Deus da Bíblia” é uma crença
extraída desse princípio primeiro, e não o próprio princípio primeiro. Na
verdade, esta é outra diferença entre Clark e Van Til. Van Til começa com a
existência do Deus trino, e Clark começa com a divina inspiração da Bíblia. [N.
do T.]
Fonte:
Monergismo
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