“Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois
te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado
no inferno. E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti;
pois te convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para
o inferno”.
Mateus 5.29-30.
INTRODUÇÃO – Vivemos num
tempo em que homens comuns podem desfrutar de muitas coisas boas. Alguns trabalhadores
assalariados de nossos dias tem uma vida mais confortável do que muitos que
foram homens nobres no passado. Comodidade é um slogan atraente. Todos querem
mais, fazendo menos, bem menos. No meio disso tudo, uma mensagem que fale que
nem tudo vai tão bem quanto parece, que o homem deve se preocupar com a vida
que leva, pois por sua conduta está perecendo, não é uma mensagem tão atrativa.
O Evangelho que tira o homem de sua zona de conforto e diz: “mexa-se e abandone
essa vida aparentemente boa, pois, Cristo vem e você precisa abrir mão de
muitas coisas que considera legais” não é o que as pessoas anseiam ouvir. Tal
como nos tempos de Jeremias, eles querem ser entretidos e consolados com
palavras que dizem “paz, paz!”. Mas a verdade é que não existe paz (Jr 6.14) e
quando todos acharem que estão seguros, a calamidade chegará, e não há ninguém
que escape (1Ts 5.3).
Jesus Cristo, que para muitos é
uma espécie de hippie da Palestina que pregava a paz e o amor, fala claramente
aqui nestes versos sobre pecado e sobre inferno. Existem, atualmente, dois
temas mais enfadonhos para nossa sociedade do que estes? Há dois conceitos que
agridem mais ferozmente a filosofia do homem pós-moderno? Sabemos que a
sociedade corre em direção oposta a este discurso. E o que devemos fazer?
Escondê-lo? Atenuá-lo? Ou simplesmente esquecê-lo? Se você se diz cristão e se
opõe ao conceito de pecado e a ideia de um lugar chamado Inferno que punirá
todo o pecador, então saiba que você está a discordar do próprio Nazareno e se
opondo ao Salvador, que nunca omitiu a verdade para obter a simpatia de seus
ouvintes. Não nos importa se o Evangelho soe agressivo perante os homens, a
nossa missão é propagar a verdade revelada na Palavra e assim glorificar a Deus
e ao seu enviado, o Filho unigênito, aquele que é o caminho, a verdade e a vida
(Jo 14.6).
Tendo apenas estes dois
versículos por base deste sermão, gostaria de refletir com a amada Igreja do
Senhor sobre os seguintes pontos: O Homem,
O Problema e O Destino. E que o Espírito Santo faça a Sua obra enquanto a Palavra
é pregada para a edificação do corpo de Cristo e para confrontação dos que não
confessaram Jesus como o Senhor de suas vidas.
O HOMEM
Quando Jesus fala nos versos 29 e
30, que o homem, se preciso for, deve se automutilar para que não seja
condenado, ele está continuando o assunto sobre o adultério, iniciado no
versículo 27. Jesus diz aos fariseus que
o mandamento que impede o homem de adulterar é muito mais profundo do que eles
imaginavam. O adultério não é algo contado como pecado apenas quando consumado.
O fato de cobiçar a mulher do próximo já atesta a culpa daquele que em seu
coração maquina a infidelidade. De uma maneira subjetiva, Cristo define o homem
tal como ele é. Daí podemos nos perguntar: O que é o homem?
Existem diferentes respostas para
este questionamento. Podemos responder segundo a ótica das religiões orientais,
podemos apelar para a ciência e as suas vertentes ou ficar com aquilo que a
Bíblia afirma acerca do ser humano e sua composição. No nosso contexto, podemos
focar na resposta científica, e depois confrontá-la com o ensinamento da
Escritura Sagrada.
O homem, para um físico, nada
mais é do que matéria. Um corpo sólido que está em movimento. Já o químico pode
destrinchar essa matéria e dizer quais e quantas substâncias compõem o corpo
humano. Todavia, a biologia, ou para ser mais preciso, a anatomia, irá estudar
exaustivamente o corpo e dividi-lo: ossos, músculos, pele, membranas, vasos,
artérias, líquido, células e por aí vai. Nenhuma dessas respostas atende aos
nossos anseios. Nenhuma delas nos dá sentido de propósito. Então, surgem outros
saberes derivados destes. A psicologia talvez seja a mais acionada para dar
respostas as questões humanas. E o que ela diz?
De acordo com a psicologia, o
homem é um animal racional (resposta alinhada com as demais ciências). Um ser que evoluiu, descendendo do macaco. A mente
humana, este campo assombrosamente misterioso, é algo que emergiu deste
processo e está ligado a natureza. Todo o impulso humano é uma ação conjunta da
natureza e este não pode lutar contra ela. É por isso que para o mundo
científico, o adolescente que se guarda para o casamento está errado. Por isso
alguns psicanalistas dizem que a castidade frustra as pessoas, pois é uma ideia
retrógrada que coloca a vontade do homem contrária a sua natureza. Este
conflito deve ser encerrado e todo o apelo do corpo deve ser saciado, pois esta
é a condição natural da qual se encontram todos os seres vivos, inclusive a
espécie humana.
A resposta bíblica sobre a
natureza humana é antagônica a da ciência. Jesus não vai associar o homem a um
animal e nem lhe reduzirá aos seus membros. O homem está além disso. A sua
mente não faz parte de um processo natural evolutivo. Ela foi criada por Deus (assim como todo o corpo) e
é, segundo a Sua imagem e semelhança, eterna. Por isso que Cristo vai afirmar:
“se teu olho te faz tropeçar, arranca-o e joga fora”. Tropeçar, no original
grego é escandalizar, ser atraído por uma armadilha e cair, no caso o Pecado é
a arapuca preparada para pegar os néscios. O homem, segundo o próprio Salvador
nos assevera, possui uma consciência e dará contas a Deus por seus atos. Ele
não pode dar uma desculpa esfarrapada e pôr na conta da natureza os seus erros.
A mente humana, ou melhor
dizendo, a alma humana deve exercer domínio sobre o corpo. Assim Deus nos
criou. Esta é a descrição antropológica verdadeira. O homem é um ser
consciente, diferente dos animais que agem instintivamente. Ele é um ser moral,
volitivo, e diante de Deus, prestará contas de cada um de seus pensamentos e
atos que destoaram da Sua Palavra (Hb
4.12). Todas as coisas ruins que assolam
o homem, são derivadas de seus próprios pensamentos, ou seja, do seu íntimo, do seu coração (Mt 16.9). Isto nos leva ao
segundo ponto desta mensagem.
O
Problema
O que os homens precisam saber é
que o pecado é o grande mal que os impede de viver plenamente. Quantos de nós
não conhecemos pessoas que tem uma boa educação, dinheiro, fama, uma carreira
sólida e mesmo assim são infelizes e nunca estão satisfeitas com nada? Alguns
humanistas afirmam que o homem nasce bom, que ele é uma folha em branco e que
vai sendo manchada a medida em que cresce na sociedade. Rousseau afirmou que
quem corrompe o homem é a sociedade, mas esqueceu de refletir sobre quem foi
que corrompeu a sociedade. O pedado é uma realidade. Sua entrada no mundo é
descrita em Gênesis 3. Herdamos a natureza pecaminosa de nosso pai Adão e desde
então vemos que por mais que o homem crie coisas notáveis, ele caminha a passos
largos para a autodestruição, sempre guerreando e danificando o mundo que lhe
cerca.
Nos dias de Noé, a iniquidade era
tanta que Deus destrói aquela civilização para recomeçar a partir da família do
profeta que construiu a arca e foi poupado do dilúvio. Depois que o pecado
entrou, toda a inclinação do pensamento humano era para o mal (Gn 6.5). Não somos pecadores porque
pecamos, pelo contrário, pecamos porque nascemos com o gene do pecado em nossas
entranhas. Tal como Davi frisou em seu salmo “eis que em iniquidade fui
formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5).
A coisa toda é tão horrenda que
nossos membros, que são uma benção, foram todos contaminados ao ponto de o olho
que deveria nos fazer contemplar as maravilhas das mãos de Deus, é algo que nos
leva a cobiçar e nutrir os maus desejos, desagradando ao Criador. A mão que nos
foi dada para que pudéssemos trabalhar e da terra tirar o nosso sustento, agora
toca a impureza e nos leva a obscenidade. Os pés, obras de Deus para nos levar
em qualquer direção, teimam em nos conduzir até locais onde o nome do SENHOR é
profanado e a imoralidade reina. O que fazer com tais membros? Jesus nos
aconselha lançar mão deles. É melhor chegar maneta ou caolho no céu do que
esteticamente perfeito no Inferno. E aqui chegamos ao último ponto deste
sermão. Um ponto crucial que diz
respeito as coisas eternas.
O DESTINO
Por duas vezes Cristo fala sobre
o Inferno. Ele usa de um recurso que todo o rabino se utilizava: a repetição.
De acordo com a pedagogia rabínica da época, para dar ênfase a uma ideia,
repetia-se ela. Cristo então, repete o ensinamento de que é preciso arrancar
aquilo que te leva até o pecado e consequentemente te condena. A amputação aqui
não é literal. O uso de hipérboles era uma marca da pregação messiânica. O
conceito é o de que é preferível agredir a si mesmo e desprezar a vontade
natural para não pecar contra Deus. Os teólogos ao longo da história cunharam o
termo “mortificação do pecado”. O apóstolo Paulo tratou disso ao dizer “Mas
esmurro o meu próprio corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de haver
pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado” (1 Co 9.27).
O Inferno é real e não podemos
negá-lo com tantas evidências bíblicas que falam sobre ele. Talvez ele não seja
como no ideário popular (Um forno cheio de caldeirões onde os demônios com seus
tridentes e chifres vermelhos atormentam os pecadores). Mas que ele será um
destino doloroso e insuportável, disso a Bíblia não nos deixa dúvidas. O
Inferno é estar no estado de danação, banido da presença de Deus e isto em si
já é uma tortura, pois como falou Agostinho: “Tu nos criastes para ti mesmo, e
nossos corações não tem sossego enquanto não acham descanso em ti”.
Romanos 3.23 vai afirmar que todos pecaram, e por isso estão destituídos da
glória de Deus. Esse destino é inevitável para todos os pecadores. Não podemos
deixar de ensinar essa verdade. Fazer isso não é sábio. Se a ideia de pecado e
Inferno forem retiradas da proclamação do Evangelho, não existe motivos para
chamarmos os homens ao arrependimento. Ninguém sentirá a necessidade de ser
salvo por Cristo e cegos, continuarão se aproximando do abismo, sem reconhecer
que necessitam apelar para o único que pode evitar que o homem seja consumido
pelas chamas infernais: Jesus Cristo, que morreu para dar vida a todo aquele
que crer nesta mensagem a qual chamamos boa-nova.
CONCLUSÃO – Diante de nós
estão os elementos da Santa Ceia. Pão e vinho significam o corpo e o sangue do
Cordeiro que foi morto para perdoar pecados. Nada disso fará sentido se a
Igreja deixar de falar sobre aquilo que tratamos neste sermão. Você, pecador
que não se deu conta da sua perdição e estado deplorável: Eis o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo. Ele não está morto. Ele vive. E aqui estamos
celebrando também a sua vida e a vitória sobre a morte, sobre o pecado e sobre
o Inferno. Fazemos isso até a sua aguardada volta.
Para concluir, devo lhes dizer
que há esperança para o pecador arrependido. Muitos homens irão escapar das
garras de Satanás pelo mérito de Cristo. Sua morte e ressurreição serviram para
nos levar a presença de Deus-Pai, e nós temos motivos de sobra para louvar a
Deus. O que estou tentando lhes falar, talvez seja melhor entendido utilizando-se
da resposta a primeira pergunta do Catecismo de Heidelberg: Qual é o seu único
consolo na vida e na morte?
Que não pertenço a mim mesmo,1
mas pertenço de corpo e alma, tanto na vida quanto na morte,2 ao meu fiel
Salvador Jesus Cristo.3 Ele pagou completamente todos os meus pecados com o Seu
sangue precioso4 e libertou-me de todo o domínio do diabo.5 Ele também me
guarda de tal maneira6 que sem a vontade do meu Pai celeste nem um fio de
cabelo pode cair da minha cabeça;7 na verdade, todas as coisas cooperam para a
minha salvação.8 Por isso, pelo Seu Espírito Santo, Ele também me assegura a
vida eterna9 e faz-me disposto e pronto de coração para viver para Ele de agora
em diante.10
1. 1Co 6.19, 20. 2. Rm 14.7-9. 3.
1Co 3.23; Tt 2.14. 4. 1Pe 1.18, 19; 1Jo 1.7; 2.2. 5. Jo 8.34-36; Hb 2.14,15;
1Jo 3.8. 6. Jo 6.39, 40; 10.27-30; 2Ts 3.3; 1Pe 1.5. 7. Mt 10.29-31; Lc
21:16-18. 8. Rm 8.28. 9. Rm 8.15, 16; 2Co 1.21, 22; 5.5; Ef 1.13, 14. 10. Rm
8:14.
A Deus toda Glória!
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