É comum ouvirmos a afirmação que o significado das palavras hebraica e grega traduzidas como “amém” é “que assim seja”. Ouvimos, por exemplo, que devemos finalizar nossas orações com um convicto “amém”, a fim de expressar nosso forte e sincero desejo de que Deus atenda nossas petições. E, de fato, a palavra pode ser entendida dessa forma. Edward Robinson diz que a palavra aparece “usualmente no final de uma oração, onde serve para confirmar as palavras que precedem” (Léxico Grego do Novo Testamento.Rio de Janeiro: CPAD, 2012. p. 46). Isso pode ser visto, por exemplo, em Neemias 5.13: “Também sacudi o meu regaço e disse: Assim o faça Deus, sacuda de sua casa e de seu trabalho a todo homem que não cumprir esta promessa; seja sacudido e despojado. E toda a congregação respondeu: Amém! E louvaram o SENHOR; e o povo fez segundo a sua promessa” (cf. Deuteronômio 27.15-26; 1Reis 1.36; 1Coríntios 14.16). Não é incorreto afirmar que dizer “amém” é uma expressão de desejo pela consecução daquilo que é pedido ou uma confirmação do que foi afirmado.
Entretanto, a palavra “amém” possui um significado mais solene. O estudioso Hans Bietenhard afirma: “Através do ‘amém’, aquilo que foi falado é afirmado como certo, positivo, válido e obrigatório” (Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Vol. 1. São Paulo: Vida Nova, 2007. p. 110). Trata-se, portanto, de uma afirmação de veracidade. Dizer “amém” é jurar que aquilo que foi afirmado na oração é expressão da verdade. Nesse sentido, quando suplicamos algo a Deus e dizemos “amém”, estamos expressando diante do Senhor que o nosso desejo é sincero e verdadeiro. Quando louvamos a Deus e finalizamos com “amém” estamos afirmando diante dAquele que sonda o nosso coração, que verdadeiramente o valorizamos e o consideramos como supremamente valioso.
Esse significado pode ser visto, por exemplo, em Isaías 65.16: “de sorte que aquele que se abençoar na terra, pelo Deus DA VERDADE é que se abençoará; e aquele que jurar na terra, pelo Deus DA VERDADE é que jurará”. A palavra hebraica traduzida pela Almeida Revista e Atualizada como “da verdade” é 'amên. Literalmente, o tetxo diz: “aquele que se abençoar na terra, pelo Deus DO AMÉM é que se abençoará; e aquele que jurar na terra, pelo Deus DO AMÉM é que jurará”. A ideia é que toda bênção e todo juramento terão a Deus como sua testemunha, Aquele que é a própria verdade, devendo, assim, serem feitos segundo a verdade e por coisas lícitas. Em Apocalipse 3.14, Jesus se identifica para o anjo da igreja de Laodiceia da seguinte forma: “Ao anjo da igreja em Laodiceia escreve: Estas coisas diz o AMÉM, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus”. Ao identificar-se como o “Amém”, Jesus está afirmando que o diagnóstico que ele apresentará a seguir é a mais pura expressão da verdade. Tudo o que ele tem a dizer é verdadeiro e, portanto, digno de crédito e de submissão da parte daqueles que ouvem. Gregory K. Beale diz que, “as três descrições ‘o Amém, a testemunha fiel e verdadeira’ não são distintas, mas geralmente se sobrepõem para sublinhar a ideia da fidelidade de Jesus ao testemunhar diante de seu Pai durante seu ministério terreno e sua continuidade como tal testemunha” (The Book of Revelation. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1999. p. 296). Simon Kistemaker, outro estudioso do Novo Testamento diz que, “o ‘Amém’ comunica a ideia daquilo que é verdadeiro, solidamente estabelecido e fidedigno”. (Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 225).
De igual modo, quando desejava expressar de forma mais contundente a veracidade do seu ensinamento e como ele deveria ser levado a sério por seus discípulos, Jesus introduzia seus ditos no Evangelho de João com um duplo “amém”, que na nossa tradução aparece como “em verdade, em verdade vos digo”: “E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem” (1.51; cf. 3.3,5,11; 5.19,24,25; 6.26,32,47,53; 8.34,51,58; 10.1,7; 12.24; 13.16,20,21,38; 14.12; 16.20,23; 21.18). Todo o seu testemunho é verdadeiro. Nele não há engano. Nas suas declarações não existem mentiras. Ele é a verdade e tudo o que Jesus afirma é verdadeiro.
Isto posto, devemos compreender que quando fazemos nossas orações a Deus, louvando-o, bendizendo-o, fazendo súplicas e intercessões, e respondemos com o “amém”, estamos dizendo ao Deus da Verdade, ao Deus do Amém, que nossos desejos são sinceros, que nosso coração está tomado de santas afeições por suas perfeições, majestade e glória. Quando oramos e concluímos com o “amém”, dizemos ao Deus que sonda os nossos corações que tudo o que expressamos é verdadeiro. Por esta razão, devemos levar muito a sério o dever da oração. Devemos nos aproximar de Deus sabendo que ele não vê como vê o homem. Ele vê o coração. Ele sabe quando nossos desejos estão direcionados para outras coisas. Ele conhece a insinceridade dos nossos corações. Quando não somos sinceros ou quando somos indiferentes em nossas orações, o “amém” é uma mentira dita ao Deus que tudo sabe. Por isso, que ele nos guarde de toda mentira e nos preserve no caminho da verdade, para que nossas orações sejam, de fato e de verdade, nas palavras de Wilhelmus à Brakel, “a expressão de santos desejos a Deus, em nome de Cristo, que, por meio da operação do Espírito Santo, procede de um coração regenerado, junto com o pedido do cumprimento desses desejos” (The Christian’s Reasonable Service. Vol. 3. Grand Rapids, MI: Reformation Heritage Books, 1997. p. 446).
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