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21 de jan. de 2015

Amor, Tolerância e Coragem: Ingredientes da Comunhão

Por Thiago Oliveira

A comunhão é marca de toda igreja saudável. Koinonia, é o termo usado no Novo Testamento e aparece 18 vezes. Ele expressa a vida em comunidade na igreja, que comunga dos mesmos princípios e está ligada em Cristo num só propósito. A falta de comunhão é algo doentio, além de ser um mal testemunho. Por isso, escrevo esse breve texto no intuito de fornecer alguns ingredientes relacionados a comunhão, que são: Amor, Tolerância e Coragem.

Amor

- Leitura Bíblica: Marcos 12. 30,31 e Romanos 13.8

Amor é o elo de comunhão com Deus. Para ser um legítimo cristão, e estar em total acordo com a Palavra, amar não é opcional. Todavia, é preciso lembrar que nos textos lidos, amar não é um simples sentimento. O texto que lemos em Marcos 12, também é registrado por Lucas. Após falar sobre os dois grandes mandamentos, que apesar de estarem posicionados de maneira hierárquica são totalmente correlatos, o questionador pergunta ao Mestre: Quem é o meu próximo?” A resposta de Jesus o surpreende, mas no fim ele vai acabar entendendo a mensagem. Em resposta ao seu inquiridor, Cristo conta a parábola de um homem (judeu) que assaltado, ficou na estrada gravemente ferido, após ser agredido severamente pelos salteadores. Dois religiosos, um sacerdote e depois um levita, passaram de largo. O homem, desfalecendo, foi finalmente ajudado por um samaritano, que realizou ali os primeiros cuidados e depois providenciou uma estalagem para que o judeu, seu inimigo racial, pudesse ser atendido até melhorar seu estado.

Esta história registrada em Lucas 10.25-37 é bem conhecida. Após contá-la, Cristo se volta ao Doutor da Lei que o importunava e pergunta: “Quem foi o próximo do homem assaltado?”. A resposta do rabino foi: “aquele que teve misericórdia dele”. Então, Jesus ordena que o homem faça o mesmo. O termo misericórdia aqui é eleos, e denota uma compaixão ativa. É apiedar-se e não ficar de braços cruzados. O amar, agapao, que está presente no grande mandamento dá a mesma ideia. Não precisamos notar se os nossos olhinhos brilham e nem é obrigado sentir as palpitações do coração para amar. Agir é superior a sentir e assim os cristãos procedem de bom grado, glorificando a Deus que nos incumbiu da tarefa de espalhar o amor pelo mundo.  

No entanto, que o amor seja sem hipocrisia (Rm 12.9). Isso é de fundamental importância. Leon Tolstói, escritor russo (meu favorito, por sinal), tornou-se em sua velhice, um humanista e pacifista que escrevia e palestrava sobre o amor fraterno. Suas palavras são belas e tocantes, mas havia um problema com Tolstói. Segundo a sua esposa e companheira de tantos e tantos anos, Sônia, ele não era capaz de ser terno com seus filhos e nem dizia que os amava. Isto é algo frequente. Falamos em ação social, em amar os de fora das quatro paredes da Igreja...mas se não começarmos a amar os que estão dentro das quatro paredes, seremos um bando de hipócritas e nada mais que isso. De igual modo, não podemos falar em amor entre os irmãos da congregação se nos portamos de uma maneira não amorosa em casa. 

O apóstolo Paulo, em duas de suas cartas, diz que o amor deve suportar os mais fracos (Ef 4.2 e Rm 15.1). Prestemos atenção! Suportar aqui não é sinônimo de aturar. Suporte é algo que mantém um objeto numa posição segura e funcional. Pense num suporte para lâmpada fluorescente. Ou então num pedestal que segura o ventilador. Nosso amor deve manter nossos irmãos em pé e sendo membros que funcionam bem e em prol do corpo. A pergunta que fica é: temos feito isso? Os mais fracos precisam do suporte dos mais fortes na fé. Infelizmente, há muita atitude desastrosa nas igrejas e nós, geralmente, terminamos de apagar a chama fraquinha dos vacilantes. Sejamos desafiados a mudar esse quadro. Amemos já!

Tolerância

- Leitura Bíblica: Romanos 12.18

O que é ser tolerante? Alguns acham que tolerância é não ter valores absolutos ou nunca dizer que o outro está errado. Não, isso não é ser tolerante. Se eu afirmo, baseado em minha crença bíblica, que o comportamento homossexual é pecaminoso, isto não faz de mim um intolerante. Intolerante eu seria se pregasse a exterminação de todo aquele que é assumidamente gay ou que eu não o permitisse se expressar. Logo, tolerância é o convívio pacífico com os diferentes. Mesmo quando não há concordância. Se ninguém está errado e todos têm sempre razão, como então exercerei tolerância? Percebem a incongruência?

Voltaire discordava de Rousseau. O que ele disse ao filósofo francês tornou-se uma máxima: “Posso não concordar com o que dizes, mas, defenderei até a morte o teu direito de dizer”. Isso é que é ser tolerante. Discordar a ferro e fogo e mesmo assim, deixar que o outro se manifeste. Mas, voltando a igreja...

Precisamos ser mais tolerantes com pequenas diferenças. Questões centrais da fé devem ser unanimidades, tais como a crença no Deus Triúno, o nascimento virginal de Cristo, a justificação mediante a fé e a inspiração e inerrância das Escrituras, como sendo palavra de Deus e nossa regra de fé e prática. Todavia, há coisas que podemos divergir e mesmo assim continuar caminhando juntos. Hoje, vemos uma infinidade de denominações e grande parte surge por divisões mesquinhas. Tem gente que briga por causa da cor da roupa do coral e faz disso uma celeuma. Estou falando sério. Igrejas já racharam por uma bobagem dessas. E daí nos perguntamos: Onde está o amor? Paulo não nos disse que no que depender de nós devemos ter paz com todos?

Há apenas uma razão para nos mostrarmos intolerantes, chama-se: pecado. Ele afeta a nossa santidade, e a paz não pode ser desassociada da santificação (Hb 12.14). Não posso viver pacificamente com pessoas que deliberadamente vivem uma diva devassa. Isto não quer dizer que irei mata-los ou algo do tipo. Obviamente que não! Porém deixarei claro com todas as letras: “Olha aqui cara, você quer andar comigo, ser meu amigo, então por favor, não conte essas piadas sujas, não me mande pornografia por mensagens e não compartilhe comigo suas aventuras sexuais”. Se a pessoa não abrir mão disso pela amizade, você também não deve abrir mão da sua santidade. Entre agradar a Deus e aos homens, não hesite: agrade ao SENHOR!

Podemos dar o exemplo da igreja sediada em Tiatira, ainda no primeiro século. Ela é uma das sete igrejas que recebem uma mensagem direta de Jesus. Ela é duramente criticada por tolerar a imoralidade pregada por uma profetiza por nome Jezabel (Ap 2.20). Tiatira era uma cidade que estava numa importante rota comercial, e com isso, seu comércio estava em ebulição. Uma associação de comerciantes foi fundada, porém, como a maioria da cidade cultuava a divindades pagãs, para fazer parte desse grupo era preciso oferecer culto a tais deuses.Um dos rituais era orgíaco. Com certeza, alguns comerciantes associados eram membros da igreja. Com medo da reclusão, de serem expulsos e assim não faturarem como gostariam, esses comerciantes acabaram cedendo a imoralidade, desagradando ao SENHOR que os convocou ao arrependimento. Não devemos cair no mesmo erro.

O Evangelho é , em muitos aspectos, sectário  (Lc 12. 51-53). O mundo está dividido entre crentes e incrédulos, santos e ímpios. Jesus é o marco divisório. Por isso que Paulo diz sobre manter a paz: “se possível” e “no que depender de vós”. Há momentos em que não depende de nós, pois, o mundo nos odeia (Jo 3.19 e 15.18). Mas, naquilo que não interfere em nossa santidade, se for questões de preferência em assuntos periféricos, por favor, não sejamos tão sectários. Tolerar a diferença é extremamente necessário para se viver bem em comunidade. Sejamos mais tolerantes e não vamos nos esconder por trás do temperamento. Cristo é capaz de mudar temperamentos e te dotar de longanimidade para não ser um “Crente Saraiva”. Lembra dele? Aquele personagem que tinha como bordão: “Comigo é tolerância zero!”. Definitivamente, não devemos ser iguais ao Saraiva.

Coragem

- Leitura Bíblica: Hebreus 10.25

O escritor aos Hebreus diz claramente que não devemos deixar de congregar. Atualmente, qualquer imbróglio vira motivo para deixar de frequentar os cultos: “Ah, dei boa noite a irmã e ela não me respondeu”, “o pastor falou na pregação uma palavra que eu não gostei”, “a igreja está cheia de adolescentes”, “não suporto o jeito daquele diácono” e por aí vai.  Não vamos aqui tapar o sol com a peneira e dizer que na igreja não existem problemas de relacionamento. É claro que eles existem, como em qualquer lugar onde dois seres humanos convivem. Por mais pacíficos que sejam, mais cedo ou mais tarde haverá algum choque entre eles.

Amor e Tolerância, como vimos, são ingredientes elementares para a comunhão, porém se não tivermos coragem, qualquer desculpinha esfarrapada servirá para abandonarmos a nossa comunidade de fé. Listo aqui algumas situações onde falta coragem:

1. Falta coragem para se reconciliar. Coragem de assumir que aquele irmão que você tanto fala que te feriu, também foi ferido por você. Relacionamento é uma via de mão dupla, ninguém briga sozinho. O mais fácil, quero dizer, mais conveniente é se vitimizar e sair contando a sua história. Coragem de assumir parte da culpa tem faltado.

2. Falta coragem para caminhar com quem você discorda. Coragem de andar com alguém que não concorda com tudo o que você fala e diz. Impressionante como nossos egos são inflados ao ponto de não nos conformarmos quando somos contrariados. Isso é problema de egolatria, e tem faltado coragem para tratar desse mal.

3. Falta coragem para abrir mão de sua agenda. Coragem para ter responsabilidade e assumir compromissos. Vivemos numa geração que não quer comprometimento e vive atrás de prazer, daí as programações da Igreja são vistas como empecilho para nossa vida hedonista. Falta coragem em assumir que nossos programas mundanos nos soam mais atrativos do que adorar a Deus e ouvir sua Palavra no meio da congregação. Clamemos pela divina misericórdia.

4. Falta coragem para abrir mão de alguns bens. Coragem para doar um pouco do que se ganha e investir em missões, em ações sociais e tantas outras coisas que não sejam produtos usados para o nosso bel prazer. Se não congregarmos não saberemos das dificuldades enfrentadas pelos nossos irmãos e assim não os socorreremos. Falta coragem para deixarmos de ser consumistas e investir no Reino.

Pois bem, que possamos dosar esses ingredientes para vivermos em comunhão e exaltamos o nome de Cristo pelos quatro cantos dessa Terra. O mais importante é fazer uma autoanálise. Não leia esse texto pensando no outro. Medite pensando em como você pode mudar e ser mais amoroso do que está sendo, mais tolerante como deveria e mais corajoso quanto você gostaria de ser. Que o SENHOR nos abençoe.

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