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11 de mar. de 2015

Os Puritanos e o Calvinismo na Prática

Por Thiago Oliveira

Falar sobre o Calvinismo sem abordar a história dos Puritanos é inviável. Este grupo, muitas vezes depreciado – injustamente – possui um lugar especial na historiografia eclesiástica. Nomes como o de John Knox, John Owen, Jonathan Edwards, Richard Baxter, George Whitefield e João Bunyan estão associados ao puritanismo, assim como os Catecismos e a Confissão de Westminster, documentos importantes da ortodoxia protestante, adotados por Igrejas Reformadas de todo o mundo.

Há quem pinte o retrato dos Puritanos como pessoas legalistas, austeras, egoístas, intolerantes e até hipócritas. Todavia, C. S. Lewis nos fornece uma ótica totalmente diferente:


Devemos imaginar estes Puritanos como o extremo oposto daqueles que se dizem puritanos hoje, imaginemo-los jovens, intensamente fortes, intelectuais, progressistas, muito atuais. Eles não eram avessos à bebidas com álcool; mesmo à cerveja, mas os bispos eram a sua aversão’. Puritanos fumavam (na época não sabiam dos efeitos danosos do fumo), bebiam (com moderação), caçavam, praticavam esportes, usavam roupas coloridas, faziam amor com suas esposas, tudo isto para a glória de Deus, o qual os colocou em posição de liberdade. (...) [Os primeiros puritanos eram] jovens, vorazes, intelectuais progressistas, muito elegantes e atualizados ... [e] ... não havia animosidade entre os puritanos e humanistas. Eles eram freqüentemente as mesmas pessoas, e quase sempre o mesmo tipo de pessoa: os jovens no Movimento, os impacientes progressistas exigindo uma “limpeza purificadora”. [1]

Esse perfil arrojado, progressista, em nada se assemelha com a ideia do senso comum, que até se utiliza do termo “puritano” num sentido absolutamente pejorativo. Sãos estes jovens que iniciam o puritanismo com um ímpeto, pode se dizer, revolucionário. Contudo, não foi um movimento fugaz, foi algo robusto, e isso é fruto da imensa estima nutrida pelas Sagradas Escrituras. Como diz Packer [1996]:

O Puritanismo era, acima de tudo, um movimento em favor da Bíblia. Para os Puritanos, a Bíblia era realmente a mais valiosa possessão no mundo. Suas mais profundas convicções eram que a reverência a Deus leva à reverência à Bíblia, e que servir a Deus significa obedecer a Bíblia. No parecer deles, pois, não pode haver insulto maior ao Criador do que negligenciar sua Palavra escrita; e, por outro lado, não pode haver um mais autêntico ato de homenagem a Deus do que prezar a Bíblia e estudá-la cuidadosamente, e então vivenciar os seus ensinamentos e anunciá-los. Uma intensa veneração pelas Escrituras, como a Palavra viva do Deus vivo, e um devotado interesse em saber e cumprir tudo quanto ela prescreve eram o selo de autenticidade do Puritanismo.

A Origem do puritanismo está ligada a insatisfação religiosa. A Igreja Anglicana, sob a batuta do monarca da Inglaterra gerou uma série de abusos teológicos e morais. Foi com o intento de terminar a reforma da igreja inglesa que os puritanos se levantaram. A administração e a liturgia muito próxima do catolicismo fez com que aqueles que viam a Genebra de Calvino como modelo ideal, torcer o nariz para aquilo que tinha aspecto de uma “reforma pela metade”. Foi na regência de Elizabeth I (século XVI) que o nível de insatisfação aumentou, pois a nomeação dos bispos tornou-se um mecanismo meramente político. Logo, a insatisfação religiosa passou a ser uma insatisfação política, acentuada com a chegada dos Stuart’s ao poder. Começou-se a questionar se uma autoridade secular poderia ter tanto poder no governo da Igreja.

O questionamento acerca do poder do regente sobre a Igreja foi o mote para o espírito republicano, e em seguida, laico, dos puritanos. Eles eram intelectuais que ajudaram no desenvolvimento da democracia moderna. Seu engajamento político desembocou numa forte conscientização social. Era comum nos sermões puritanos a ênfase no auxílio aos mais pobres. A assistência social para os puritanos era um gesto que evidenciava o “novo nascimento”. Praticar a caridade era um ato de gratidão e não a busca pelo mérito. Por isso, tendo o amor ao próximo como preceito, o puritanismo via nas ações individuais uma maior eficácia do que no assistencialismo institucionalizado. Na verdade, havia o receio de que a caridade indiscriminada produzisse preguiçosos vivendo à custa do Estado.

É essa parte da História que precisa ser resgatada. A cosmovisão puritana tem muito que ensinar a igreja de nossa era. O legado doutrinário é imensurável, todavia, no puritanismo vemos a aplicabilidade da teologia calvinista. Não basta saber a doutrina correta, é preciso viver essa doutrina e fazer da sua conduta um instrumento para glorificar a Deus. Se o que é costumeiramente chamado Calvinismo for o Evangelho puro e simples, e nada mais que isso, temos que praticá-lo.  

Soli Deo Gloria.


[1] Citado por Franklin Ferreira na revista Fides Reformata 4/1 (1999).

REFERÊNCIAS

LLOYD-JONES. D.M. Os Puritanos: Suas origens e seus sucessores. São Paulo. Editora PES, 1993.

PACKER, J.I. Entre os Gigantes de Deus. São José dos Campos/SP. Editora Fiel, 1996.

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