Por Alison Aquino
As discussões em torno da pessoa do Espírito Santo, a princípio, foram um pouco negligenciadas nos primeiros séculos da igreja cristã. Isto se deve principalmente ao fato de que a pessoa de Cristo é que era alvo de controvérsias teológicas. O credo de Nicéia (325), por exemplo, embora cite a expressão “Espírito Santo”, não faz nenhuma descrição mais detalhada quanto a Ele. No credo Niceno diz: “... e novamente virá para julgar os vivos e os mortos; E no Espírito Santo.”
No entanto, algumas descrições quanto à pessoa do Espírito foram sendo feitas no decorrer da história. No credo niceno-constantinopolitano (381), o qual constitui uma ratificação do credo niceno com alguns pormenores a mais, diz: “... e se encarnou [do Espírito Santo...]”. Em outra parte afirma: “E no ESPÍRITO SANTO, o Senhor e Vivificador, o que procede do pai e do Filho, o que juntamente com o pai e o filho é adorado e glorificado, o que falou através dos profetas;”. Aqui nós temos uma descrição um pouco mais ampla da pessoa do Espírito. Já no credo atanasiano (c.500), várias vezes é mencionada a pessoa do Espírito Santo. Nele é enfatizado que o Espírito Santo também é Deus juntamente com as duas outras pessoas da trindade: o Pai e o Filho. O credo usa expressões tais como: “o Espírito Santo eterno”, “Espírito Santo onipotente”, “o Espírito Santo é Deus”, “o Espírito Santo é Senhor”, etc.
A ortodoxia enfatiza a divindade plena do Espírito em igualdade com o Pai e o Filho. No entanto, existe outro aspecto a respeito do Espírito, além da sua divindade, digno de ser tratado com bastante diligência, a saber, a sua personalidade. Uma vez que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas e um único Deus, iguais em essência, e sendo o Pai e o Filho seres pessoais, também o Espírito o é.
Estes dois aspectos (divindade e personalidade) do Espírito Santo tem sido negados por algumas seitas e religiões. Enquanto determinadas religiões, como o islamismo, uma vez que este nega a unidade absoluta de Deus, negam o primeiro, geralmente seitas (ex. As Testemunhas de Jeová) negam o segundo, embora nós possamos dizer que em muitos casos negar um aspecto implica em negar o outro. Assim sendo, analisemos então o que as Escrituras dizem a respeito destes dois aspectos intrínsecos à pessoa do Espírito Santo.
Quanto à divindade do Espírito, as Escrituras são claras ao atribuir a estes atributos pertencentes somente a Deus. Logo em Gênesis nós vemos uma indicação de um desses atributos quando lemos que “o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”. Ou seja, o Espírito participou da atividade criadora da terra, atividade esta realizada pelas pessoas da trindade. Em outras palavras, o Espírito estava presente na obra da criação, demonstrando assim o atributo da onipotência que o caracteriza como ser divino. Jó também atribuiu sua criação ao Espírito: “O Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida.” (Jó 33.4).
Outro atributo concedido ao Espírito Santo é a onipresença: “Para onde me irei do teu ESPÍRITO, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.” (Salmos 139.7-10).
O texto de Isaías 40.13-14 demonstra o atributo da onisciência: “Quem guiou o ESPÍRITO do Senhor, ou como seu conselheiro o ensinou? Com quem tomou ele conselho, que lhe desse entendimento, e lhe ensinasse o caminho do juízo, e lhe ensinasse conhecimento, e lhe mostrasse o caminho do entendimento?” (Isaías 40.13-14).
Além dos versículos que demonstram os atributos divinos do Espírito, há outras passagens da Escritura que claramente afirmam que o Espírito Santo é Deus. Talvez o texto mais claro quanto a isso seja o de Atos 5.3-4 que diz: “Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao ESPÍRITO SANTO, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a DEUS.” (Atos 5:3-4). Em outras palavras, a passagem nos diz que mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus, uma vez que aquele também compartilha da essência divina.
Quanto à personalidade do Espírito, as Escrituras são ainda mais claras ao tratar o Espírito como um ser pessoal. A palavra para “Espírito” no grego épneuma. Esta palavra é neutra, porém quando usada para o Espírito possui um artigo masculino. Um fato que indica que o Espírito Santo é uma pessoa é que ele, como Consolador (parakletos, João 14.26; 15.26), é colocado ao lado de Cristo como o consolador que estava para partir. Além disso, a Escritura também confere ao Espírito atributos pessoais. Vejamos alguns deles.
João 14.26 indica o atributo da inteligência: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ENSINARÁ todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.”. O papel do Espírito em nos ensinar toda a verdade aponta para o aspecto pessoal do Espírito. Uma força impessoal não poderia fazer isso.
O texto de Atos 16.7 mostra que o Espírito Santo tem vontade: “E, quando chegaram a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito não lho PERMITIU.”. Mais claro ainda é o texto de I Coríntios 12.11: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um COMO QUER.” Uma força impessoal obviamente não tem vontade.
Outros textos mostram que o Espírito também tem sentimentos (emoções). Isaías 63.10 diz: “Mas eles foram rebeldes, e CONTRISTARAM o seu Espírito Santo; por isso se lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou contra eles.” (Isaías 63:10). Também o texto de Efésios 4.30: “E não ENTRISTEÇAIS o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção.” (Efésios 4.30). Uma mera influência ou força não pode se entristecer.
Além de todos estes textos que comprovam a personalidade do Espírito, outras passagens demonstram que o Espírito realiza atos próprios de uma pessoa como falar, sondar, testificar, revelar, ordenar, interceder, entre outros. Quem realiza todos estes atos só pode ser um ser pessoal, não pode ser uma mera influência, poder ou força impessoal.
Como afirma Erickson: “Todas essas considerações levam a uma conclusão. O Espírito Santo é uma pessoa, não uma força, e tal pessoa é Deus, na mesma dimensão e da mesma forma que o Pai e o Filho”.
Aqueles que negam que o Espírito é Deus e aqueles que negam sua personalidade, afirmando que Ele é apenas uma força, incorrem no erro gravíssimo de ofendê-lo. É necessário que tais pessoas tenham seus olhos abertos para contemplarem a maravilha da pessoa e da obra do Espírito Santo como um ser divino e pessoal.
O erro da própria igreja cristã tem sido esquecer a pessoa do Espírito. Como afirma Franklin Ferreira e Alan Myatt: “Devemos dar ao Espírito Santo, que é plenamente divino, a mesma glória que damos ao Pai e ao Filho. Agir de outra forma é cair em algum tipo de subordinacionismo.” O Espírito Santo deve ser adorado e glorificado juntamente com o Pai e o Filho como nos diz o credo de Constantinopla: 'no Espírito Santo, Senhor e vivificador, o qual procede do Pai e do Filho; que juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado'”.
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Notas:
[1] Millard J. Erickson, Introdução a Teologia Sistemática, p.349.
[2] Franklin Ferreira & Allan Myatt, Teologia sistemática, p. 340-341.
Fonte: Bereianos
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