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23 de abr. de 2015

Sobre o mesmo Espírito: Experimentando comunhão pelos meios de Graça

Por Thiago Oliveira

“Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados. Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo”.

1Coríntios 12.1-5

A carta que o apóstolo Paulo escreve aos irmãos que congregavam em Corinto é um texto exortativo para uma congregação recheada de sectarismo. Lemos no capítulo 3 que havia entre aqueles irmãos, inveja, contenda e disseções (v.3). Havia partidarismo e uns alegavam ser discípulos do próprio Paulo e outros alegavam ser discípulos de Apolo (v.4).  No capítulo 11 vemos que havia sectarismo até na hora da ceia (vv. 17-21). Os mais ricos comiam de maneira apressada, como glutões, e o exagero chegava ao ponto de se embriagarem com o vinho. Os mais pobres ficavam com fome. Uma coisa horrível. 

No texto que começamos lendo, no capítulo 12, a divisão é causada também por causa dos dons. Havia, podemos assim dizer, um grupo mais carismático, enfatizando a questão do dom de línguas de uma maneira exacerbada, e um grupo, digamos, não carismático. Paulo vai tratar sobre a questão das línguas mais adiante, no capítulo 14, mas este não é o objetivo do nosso estudo. Focaremos naquilo que ele fala acerca da unidade do corpo de Cristo, isto é, a Igreja, por meio da atuação do Espírito do SENHOR.

Para salvar os eleitos em Cristo, Deus faz uso de um método. A metodologia divina é a Pregação, seguida dos seguintes sacramentos: Batismo e Ceia. Assim Deus chama para si aqueles que são seus escolhidos desde antes da fundação do mundo (Ef 1.4). Como a salvação é pela graça e não por méritos humanos, os meios para obter-se a salvação também são graciosos. Por conta disso, a atuação divina se faz presente em todas as etapas de nossa salvação. O Espírito Santo, que é Deus, substância indivisível junto com Pai e Filho, eterno majestoso como as demais pessoas da Trindade, é o vínculo que une todos os santos por meio da pregação, do batismo e da ceia.

Nos primeiros versículos do capítulo 12, o apóstolo dos gentios afirma que se não fosse o Espírito Santo, ninguém seria capaz de confessar o senhorio de Cristo. Essa confissão de fé que assegura a salvação de todo o que proclama que Jesus é o Senhor (Rm 10.9 e 14) é algo que parte do próprio Espírito. Cristo ao falar com os doze revelou que o Espírito Santo - por ele enviado - iria convencer os homens do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8). E para que os homens creiam e confessem é necessário que haja a pregação do evangelho (Rm 10.14).

A pregação é algo que não é humano. Nenhum homem seria capaz de pregar ou ensinar (de modo ortodoxo) aquém de ter o Espírito do Senhor derramado sobre si. Jesus noticiou aos apóstolos que o Espírito da Verdade os guiaria em toda a verdade (Jo 16.13). Seria Ele quem anunciaria o que os apóstolos deveriam proclamar entre as nações. Antes de ser assunto aos céus, Jesus disse aos seus: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (Atos 1:8). Em todo livro de Atos vemos que o enredo é o desdobramento dessa palavra. Logo após o evento do Pentecostes, Pedro em sua pregação inaugural da Igreja relaciona esse evento com a profecia de Joel, em que o derramamento do Espírito é a causa motriz do anúncio do Evangelho (At 2.17,18). E vemos que todo o empreendimento missionário foi compelido pelo direcionamento do Santo Espírito. As passagens de Atos 11.12; 13.4; 16.6 testificam isso claramente. Escrevendo aos tessalonicenses, Paulo, juntamente com Silas e Timóteo assim afirmaram:

Porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós”.

1 Tessalonicenses 1:5

Na igreja primitiva, toda a conversão era seguida pelo batismo. Já naquele sermão inaugural, o apóstolo Pedro, cheio do poder que vem do Alto faz o apelo a multidão que ali estava: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2.38). Nos versos que se seguem, o relato de Lucas diz que naquele dia, mais de 3 mil almas foram batizadas (At 2.41), e diz mais: Eles perseveravam na doutrina, na comunhão, no partir do pão e nas orações (At 2.42). Todos os que criam, estavam juntos e tinham tudo em comum (At 2.44).

Voltando ao texto inicial, 1 Coríntios 12, o versículo 5 afirma que em meio a diversidade de dons presente na Igreja, todos estão vinculados a mesma fonte, que é o Espírito Santo. Esse vínculo ocorre pela fé que Ele opera em nós e é externado, ou seja, evidenciado através do batismo. Atentemos para o que diz o verso 13: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”.

Coisa maravilhosa é saber que o Santo Espírito é quem forma e quem concede unidade aos crentes. O Batismo é um só, por meio do mesmo Espírito e SENHOR (Ef 4.4). Este sacramento não é desprovido de significado. Por meio do batismo, sepultamos o velho homem e ressuscitamos pelo poder divino dentre os mortos (Rm 6.4 e Cl 2.12). Morremos para o mundo e andamos em novidade de vida, como seres renovados. Ser batizado é ter identificação com a pessoa e obra de Cristo, além de ser o recebimento de um selo que testifica que somos parte do seu corpo.

Uma ressalva precisa ser feita aqui. O batismo não confere salvação. Ele é apenas um símbolo visível dela. O dom que Pedro se referiu em sua pregação no dia de Pentecostes (At 2.38) é conferido por conta do arrependimento que é o termo imperativo. A expressão “seja batizado” está na voz passiva. O que isto quer dizer? Que o batismo em si não é o portador da salvação é apenas o testemunho dela. Com isso não devemos desprezar o sacramento batismal, pois além de servir como um testemunho público da nossa fé, ele também serve a nossa fé, nos comunicando que nossos pecados foram perdoados e não mais serão imputados. A dívida que tínhamos para com Deus foi liquidada por Cristo. Aleluia!

Existem algumas pessoas que não se batizaram, mas que foram salvos acrescentados ao corpo de Cristo? Sim, existem. Um exemplo bíblico que temos é o ladrão da cruz que se converteu e escutou do Salvador que o céu seria a sua morada (Lc 23.43). No entanto, o verdadeiro cristão não negligencia o batismo, pelo contrário por ele anseia e se alegra ao recebê-lo. Afinal, negligenciar tal sacramento é desobedecer ao mandamento do Senhor, batizando em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28.19).

Uma vez salvos e batizados, sendo habitados pelo Espírito de Cristo, que é derramado sobre os seus remidos, participamos da Santa Ceia, uma ordenança feita pela Igreja até que o SENHOR retorne para buscá-la e leva-la aos céus. Em Atos 20.7, registrasse que no primeiro dia da semana, os apóstolos reuniam-se para cear. A ceia era feita nas casas, com frequência (At 2.46).

Celebrar a ceia é fazer exatamente como Jesus fez na noite em que foi traído. Ele tomou o pão ordenando que o comessem, pois aquilo significava o seu corpo que seria moído e ordenou que bebessem do vinho, significando seu sangue, derramado para a remissão dos pecados (Mt 26. 26,27). Ao participarmos da mesa do Senhor, com os elementos que ele instituiu, fazemos isso em sua memória até que ele venha. Assim registra um dos texto mais utilizados por pastores ao ministrarem este sacramento, 1 Coríntios 11. 23-29.

O fazer em memória de Cristo é ter em mente o que Ele fez para que nós fôssemos salvos da ira divina. A ceia nos lembra de que a salvação é mérito de Cristo e nós a conquistamos pela graça. Além disso, é o anúncio de sua morte, isso é, uma forma de proclamar a boa-nova. Mas, o que não devemos esquecer é que a ceia é um ato de fé, pois requer promessa: “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha (v.26)”. Comer do pão e beber do vinho é testificar de que Ele virá. E se este sacramento nos serve como um meio de exercitarmos a nossa fé, não podemos, de modo algum, deixar de realiza-lo.

Ali, diante da mesa do Senhor, Ele se faz presente e nós precisamos glorificá-lo por essa realidade. A presença não é física. Não é tangível. A presença é espiritual, pois se dá por meio do seu Espírito. Jesus prometeu que não nos deixaria órfãos, mas enviaria o Consolador, que é um outro nome do Espírito Santo (Jo 14. 8 e 26). Ele está conosco até a consumação dos séculos (Mt 28.20). O SENHOR está na ceia, pois ela é uma reunião feita pelo seu povo em seu nome (Mt 18.20).

Para concluir, gostaria de enfatizar que o Cristão necessita da Igreja. Digo mais, sem a Igreja é impossível seguir o cristianismo. Não há vida fora do corpo. Um dedo que está fora da mão é um dedo morto que logo apodrecerá. Os meios de graça foram confiados a Igreja. Nela, Deus levantou homens para pregar. O batismo e a ceia são parte inerente da vida em comunidade. Por isso, não deixe de congregar. Não viva isolado. Participe de uma comunidade de fé onde a Palavra é ensinada fidedignamente. Participe da Igreja, mesmo ela não sendo perfeita, pois aqui nesta terra ela jamais será. Participe da Igreja com fé de que na glória, ela será alva mais que a neve. A perfeição não é o foco, perseverança sim.

A Deus toda glória!

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