Por Thomas Magnum
"Dando graças ao Pai, que nos tornou dignos de participar da herança dos santos no reino da luz. Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia".
Colossenses 1:12-18
Introdução
Somente o ato de ler o
texto de Colossenses 1.12-18 já eleva os verdadeiros cristãos ao louvor e a
adoração ao Cordeiro de Deus. Jesus é exaltado em sua sublimidade em sua
majestade em sua glória. Ao falarmos da supremacia e dizermos que Cristo é
supremo, não estamos apenas dizendo que Ele foi melhor que outros líderes
religiosos. Não estamos dizendo apenas que ele foi moralmente superior aos
homens mais idôneos que essa terra já teve, não estamos dizendo que ele foi o
que teve mais sabedoria de todos dos sábios. Ao conclamarmos a supremacia de
Cristo, estamos evocando sua majestade, sua soberania, sua glória, seu domínio,
seu reino.
Estamos dizendo que Ele –
A verdade, o caminho, a vida, o pão, a porta, a luz, o verbo, a água, a
ressurreição, a sabedoria, o príncipe da paz o pai da eternidade, o maravilhoso
conselheiro, o cordeiro de Deus, o Eu Sou, o alfa e o ômega, o principio e o
fim é detentor de todo poder e como disse o apóstolo, o único digno de abrir o
livro e desatar os sete selos. Estamos louvando aquele que é o cordeiro que foi
morto antes da fundação do mundo, aquele que é nosso cordeiro pascal como disse
Paulo em I Coríntios 5.7.
A supremacia de Cristo
fala de sua égide real, fala de seus ofícios de Sacerdote, profeta e rei. Fala
dos seus méritos na cruz do calvário, por quem nós fomos salvos e enxertados na
videira. Por quem a parede da separação foi derrubada, por quem o documento que
era contra nós foi anulado, aquele que nos fez mais que vencedores pelo seu
amor. Não estamos falando do Jesus dos quadros, não estamos falando do Jesus
dos filmes, não estamos falando do Jesus das músicas profanas, não estamos
falando do Jesus dos teatros. Ao falarmos do supremo filho de Deus, estamos
falando daquele que se humilhou, daquele que se tornou homem, daquele que como
disse Calvino: Cristo ao fazer-se filho do homem junto conosco, nos fez filhos
de Deus junto consigo. (Calvino – Institutas IV.17.2)
Estamos falando daquele
que tem o domínio sobre tudo e sobre todos, estamos falando daquele que dirige
e governa a história, estamos falando daquele que criou todas as coisas, que
sem ele nada do que foi feito se fez. Esse mesmo, Cristo glorioso “nasceu por
nós, viveu por nós, sofreu por nós, morreu por nós e ressuscitou por nós”
(Institutas IV.17.5).
Rendendo graças a Deus Pai
(v.12)
O versículo nos orienta a
rendermos graças ao Pai primeiramente porque ele é o grande agente da nossa
salvação, sua graça manifestada através de seu Filho Jesus é a causa última de
termos sido transformados por seu imenso amor salvífico.
Temos a compreensão dessa
convocação a ações de graças no início do versículo 12 na parte b do mesmo e no
versículo 13. Devemos ser gratos pela – Herança da vida eterna e por temos sido
transportados do reino das trevas para o reino de seu filho amado.
“A herança dos santos
significa, a herança dos crentes redimidos, isto é, daqueles que, tendo-se
retirados das trevas e tendo sido trazidos à luz, são consagrados a Deus”. [i]
“Essa herança dos Santos é
ao mesmo tempo herança na luz. Essa luz é o conhecimento da glória de Deus na
face de Cristo (2 Co 4.16), é o amor de Deus derramado pelo Espírito em nosso
coração (Rm 5.5); a paz de Deus que excede todo entendimento (Fp 4.7); a
alegria indizível e cheia de glória (1 Pe 1.8)”.[ii]
A intensão de Paulo ao
exortar os crentes em Colossos a serem gratos a Deus era a centralidade de
Cristo na vida comunitária da igreja e na vida de cada crente individualmente
como disse Calvino ao comentar o versículo 12:
“Pois somente Cristo faz
com que as demais coisas desvaneçam subitamente . Daí não há nada que Satanás
se esforce mais em fazer do que provocar nevoeiros a vista de obscurecer
Cristo, porque ele sabe que por esse meio se abre uma via de acesso a todo
gênero de falsidade, portanto esse é o único meio tanto de reter como de restaurar,
a doutrina pura – colocar Cristo diante dos olhos como ele é com todas as suas
bênçãos, para que sua excelência seja realmente percebida.”[iii]
Calvino nos diz ainda em
seu comentário aos Colossenses que se deve atentar para as cores que Paulo
pinta Cristo nesse texto, a beleza das verdades sobre a supremacia de Cristo
são evidenciadas como aponta Calvino “Cristo é o começo o meio e o fim – que é
nele que todas as coisas devem ser buscadas – que nada é nem pode se encontrado
fora dele.” [iv]
A gratidão que Paulo nos
exorta a ter por tudo que Deus fez por nós nos leva a entender que:
Gratidão é votar os olhos
para o passado e com esperança direcionar os olhos para o futuro. Nossa vida
deve ser um eterno hino de gratidão a Deus, por aquilo que Ele fez, faz e fará
por nós.[v]
A Supremacia de Cristo na
Obra da Redenção (1.13,14)
No trecho que estamos
examinando temos a referência histórica que havia um ataque de hereges a igreja
e principalmente a obra da redenção e da criação. Os gnósticos afirmavam que a
matéria era essencialmente má, algo que era uma herança do platonismo que
afirmava que o mundo perfeito era a dimensão das ideias a matéria era inferior
ao mundo espiritual. Ao afirmarem isso os hereges diziam que Cristo não tinha
encarnado e invalidavam automaticamente a obra criadora de Deus e a obra
redentora de Cristo.
No versículo 13 temos
algumas lições importantes ensinadas pelo apóstolo
1. Existe um império um
reino das trevas em que os homens sem Cristo são escravos, prisioneiros, e esse
reino está sob a égide de Satanás.
2. O homem por si mesmo
não pode libertar-se desse reino de trevas, por sua vontade nunca sairá, pois
está sob o domínio de um reino.
3. Somente Cristo liberta
o homem desse reino de trevas e maldade, somente Cristo nos transporta para seu
Reino.
Estávamos imersos em
trevas, sem perspectiva, sem direção, “pois onde quer que sua graça não esteja,
aí só existem trevas.”[vi]
Ao chegarmos ao versículo
14 destacamos três pontos sobre a nossa redenção em Cristo
1. Deus nos redimiu como
povo seu, propriedade exclusiva dele para louvor da sua glória.
2. Deus pagou um alto
preço pela nossa redenção, nos diz a Escritura em Atos 20.28 que ele comprou a
igreja com seu próprio sangue.
3. Deus não pagou esse
preço a Satanás, mas, a si próprio.
Fomos perdoados em seu
filho, somente o Deus encarnado poderia realizar a reconciliação da humanidade
caída com ele mesmo, somente Deus tomando a fraqueza humana poderia levar-nos a
ele novamente, somente o sangue do próprio Deus em Jesus Cristo poderia pagar o
preço da nossa libertação, da nossa redenção. Os sacrifícios de animais eram
imperfeitos como nos diz o escritor aos Hebreus, mas, o sacrifício de Jesus
pagou o preço, um sacrifício sangrento, perfeito, imutável.
A Supremacia de Cristo na
Obra da Criação (1.15-17)
Ao chegarmos a esse ponto
de nosso texto considero importante notarmos que a doutrina da criação tem sido
atacada desde tempos remotos. A tese de que Cristo não havia criado o mundo
permeava a igreja de Colossos com os ensinos dos gnósticos. Invalidar a
doutrina da criação é minar todo o evangelho, é tentar destruir toda a
revelação de Deus na Escritura, é manifestação de um pensamento liberal que
tenta conciliar o Darwinismo com as Escrituras e todas as vezes que se tenta
somar algo as Escrituras as mesmas saem perdendo. O ataque a doutrina da
criação não começou com Darwin, mas, já havia no mundo antigo a ideia que não
havia um criador eterno, uma causa última e incausada. No versículo 18 lemos
que Jesus é o princípio é o arché, dele procede a criação, ele é o causador e a
finalidade da criação. Por ele o mundo subsiste, por ele a criação foi criada e
é sustentada chamamos isso de imanência, por ele somos salvos e seremos
ressuscitados por ele ser o principio e o primogênito dentre os mortos.
Voltemos ao texto
propriamente.
Ele é a imagem do Deus
invisível (v.15)
Calvino ao comentar esse
versículo nos diz que Jesus faz de certa forma Deus visível a nós.[vii] Ao
lidarmos com o que a palavra empregada para imagem quer dizer aqui temos um
sentido amplo e teologicamente firme da intensão de Paulo no uso da palavra
imagem. Dr. John MacArthur nos diz:
A Palavra grega para
imagem é eikón, de onde deriva a palavra ícone em português. Significa cópia ou
semelhança. Jesus Cristo é a imagem perfeita – a semelhança exata – de Deus e
subsiste na forma genuína de Deus (Fp 2.6; Jo 1.14; 14.9), e tem sido assim
desde toda a eternidade. Ao descrever Jesus dessa maneira, Paulo enfatiza que
ele é tanto a representação como a manifestação de Deus. Portanto ele é
plenamente Deus em todos os sentidos. [viii]
Ao esclarecer o texto de
Paulo aqui temos uma referência paralela em Hebreus 1.3:
Ele que é o resplendor da
sua glória, e a expressão exata do seu Ser, e sustentando todas as coisas pela
palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos
pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas;
O escritor aos Hebreus ao
usar o termo a expressão exata do seu Ser nos desperta um ponto interessante. O
termo só é usado aqui em todo o Novo Testamento, na literatura antiga o termo
era usado como referência a um entalhe em madeira, uma gravação em metal, uma
marca na pele de animal, uma impressão em barro e uma imagem estampada em
moeda. “Ser” é uma palavra que expressa natureza, pessoa ou essência. O filho é
a impressão perfeita, a representação exata da natureza e da essência de Deus
no tempo e no espaço.[ix]
O Primogênito de toda criação
Nos nossos dias as
Testemunhas de Jeová que são herdeiras do arianismo que negava a divindade de
Cristo tentam se valer dessa expressão para dizer que Jesus é uma criatura de
Deus, que Jesus não é o Deus todo-poderoso, afirmando que o termo primogênito tem
apenas um sentido que é o primeiro gerado. No entanto nos tempos bíblicos o
termo primogênito como também usado em Hebreus 1.6 e Romanos 8.29 se referem
aquele que possuía a herança do Pai. O herdeiro. O termo primogênito aqui
significa aquele que está na mais alta posição, a exemplo disso tanto na
cultura judaica como na grega o primogênito era aquele que recebia a herança em
maior parte, dobradamente. Não necessariamente o primogênito teria que ser
sempre o primeiro, vemos o caso bíblico de Esaú que vendeu sua primogenitura a
seu irmão Jacó. Em passagens como Êxodo 4.22; Jr 31.9, vemos que Israel era a
nação preeminente mesmo sem ter sido a primeira a nascer.
Todas as coisas foram
criadas para Ele
No versículo 17 lemos que
para ele todas as coisas foram criadas, nele tudo se sustenta, ele é o criador
e mantenedor de sua obra criadora, aqui o deísmo é minado pela Palavra de Deus,
Deus não é apenas transcendente a sua criação, mas, também imanente. Como nos
diz ainda o versículo 16 que ele criou tudo que é visível e invisível. O Deus
trino é evocado no pensamento paulino veja que em Romanos 11.33-36, Paulo
atribui a finalidade da criação ao Deus eterno, porque dele, por Ele e para Ele
são todas as coisas. Aqui lemos que Deus criou o mundo através de se Filho
amado e criou não só por meio dele, mas, para Ele. Diz o texto em Cristo tudo
subsiste i.e. Lit. “manter unido”, Cristo sustenta o universo, mantendo o poder
e o equilíbrio de todas as coisas.
A Supremacia de Cristo na
Igreja (1.18)
Cristo o cabeça do corpo
Talvez fosse desnecessário
falar da supremacia de Cristo na igreja depois de ter falado de sua supremacia
na redenção, mas, considero importante para um claro entendimento do trecho que
estamos considerando o texto sagrado nos diz que Cristo é o Cabeça do Corpo, da
igreja. Ainda nos diz que Ele é o primogênito dentre os mortos para ter a
supremacia. A metáfora usada por Paulo para igreja como corpo já é bem
conhecida, no entanto vale ressaltarmos aqui que o corpo é dirigido pelo
cérebro, sem a cabeça o corpo não é nada, não faz nada, não pode nada. Sem os
comandos cerebrais o corpo é invalido, sem mobilidade, sem expressão. Todo
movimento do corpo vem de comandos do cérebro, da mesma forma Cristo controla
todas as partes da igreja, ele é o cabeça, dele provem a vida do corpo, a
expressão do corpo, a vitalidade e alegria do corpo, Cristo é supremo sobre o
corpo que é a igreja.
O Principio
Cristo é mostrado também
por Paulo como o principio. Na epístola aos Efésios Paulo nos diz que a igreja
tem origem em Cristo (Ef 1.4). Nesse trecho do versículo 18 mostra Cristo como
a fonte e como o preeminente.
O Primogênito dentre os
mortos
Jesus foi o primeiro a
ressuscitar, provendo para nós também a ressurreição. Pois em suas palavras Ele
é a ressurreição e a vida. Em ordem cronológica ele foi o primeiro (Jo
5.28,29). No que se refere à vida eterna.
Aplicação
O texto que meditamos nos
leva a edificantes aplicações em nossa vida cristã. Primeiro, devemos crer e
compreender que Cristo é supremo, soberano e é Deus. Segundo, Cristo é
suficiente para nossa vida, sua vida em nós é o que de mais precioso temos.
Terceiro, a criação é dele, ele tudo criou, por ele e para ele são todas as
coisas, por tudo isso devemos viver para louvor de sua glória. Quarto Cristo é
supremo em sua santidade, e nos seus méritos na cruz nos santifica e requer de
nós santidade. Quinto, Cristo é supremo em sua justiça, ele governa todas as
coisas e ainda que não entendamos o concursus divinus de sua providência dirige
toda a história e sua ira se acumula para o dia do juízo.
"... ao único Deus,
nosso Salvador, sejam glória, majestade, poder e autoridade, mediante Jesus
Cristo, nosso Senhor, antes de todos os tempos, agora e para todo o sempre!
Amém".
Judas 1:25
Solus Christus
______________________
[i] - Hendriksen, William.
Comentário de Colossenses p. 320 – ed Cultura Cristã.
[ii] - Hendriksen,
William. Comentário de Colossenses p. 320 – ed. Cultura Cristã.
[iii] - Calvino, joão.
Comentário Expositivo de Colossenses p. 502 – ed. Fiel.
[iv] - Calvino, joão.
Comentário Expositivo de Colossenses p. 502 – ed. Fiel.
[v] - Dias Lopes,
Hernandes. Colossenses. A suprema grandeza de Cristo, o cabeça da igreja p.66 –
ed. Hagnos.
[vi] - Calvino, João.
Comentário Expositivo de Colossenses p. 503 – ed. Fiel.
[vii] - Calvino, João.
Comentário Expositivo de Colossenses p. 505 – ed. Fiel.
[viii] - MacArthur, John.
Bíblia de Estudo MacArthur p.1628 – ed. SBB
[ix] - ibdem.
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