Por Thiago Oliveira
O capítulo 24 do Evangelho segundo Mateus registra as falas de Jesus acerca do fim dos tempos.
Todavia, Jesus ali também fala da destruição de Jerusalém que aconteceria ainda
naquele século, como de fato aconteceu no ano 70 d.C., quando os romanos -
liderados por Tito - invadiram e assolaram a Cidade de Davi. Se tratando de um
texto escatológico, a controvérsia se faz presente nos círculos teológicos.
Poucos textos geram tantos debates e interpretações como Mateus 24 (cf. Mc 13 e
Lc.21). O que contribui para que haja alguns desacordos interpretativos é a
presença do linguajar figurativo, tão comum da profecia judaica.
O Ambiente (Mateus
24. 1-3)
O longo discurso de Jesus, o sexto[1]
registrado em Mateus, ocorre fora do templo, no Monte das Oliveiras, segundo o
comentário de Hendriksen, no fim da terça-feira da semana em que o Cordeiro
Pascal seria imolado. Os discípulos mostram para Jesus, enquanto este se
afastava do templo, a beleza monumental do Santuário. Mostram-no toda a
suntuosidade daquele edifício. Fazem isso talvez por estarem atônitos com o que
o Rabi tinha dito anteriormente: “eis que sua casa ficará deserta” (Mt 23.38).
É como se dissessem: “toda essa maravilha ficará vazia e inútil?”. Jesus então
diz que haverá um dia em que não sobrará pedra sobre pedra (vv. 2). Então,
quando Jesus se assenta no Monte das Oliveiras, seus discípulos lhe fazem um
duplo questionamento (vv. 3): a) quando aquilo (i.é. a destruição do templo)
ocorreria? e b) qual o sinal da [segunda] vinda de Cristo e do fim dos tempos? [2]
A fala de Jesus é uma resposta a estas duas perguntas. Por
isso, a posição [hiper] preterista, afirmando que tudo descrito em Mateus 24 já
se cumpriu não é sustentável, uma vez que Jesus também disserta sobre o fim dos
tempos. Ademais, o capítulo subsequente é uma continuação de sua resposta,
agora por meio de parábolas. O Juízo Final, com suas consequências para e
eternidade, é mencionado claramente em Mt 25. 30-34, 41 e 46.
De acordo com a justaposição do questionamento, podemos
inferir que os discípulos identificavam a destruição do templo e
consequentemente de Jerusalém, com o fim dos tempos. Quando começa a
respondê-los, Jesus deixa claro que não são eventos próximos um do outro,
apesar de terem conexão, pois a destruição de Jerusalém é um presságio para o
juízo que acontecerá na parousia,
i.é. a segunda vinda de Cristo.
O Princípio das Dores (Mt 24. 4-14)
É comum vermos pastores alarmando a Igreja quando acontecem
determinados eventos, tais como guerras, epidemias ou catástrofes climáticas. É
justamente nesses períodos que surgem falsos salvadores e falsos profetas que
enganarão a muitos. Jesus adverte aos discípulos que eles não se deixem alarmar
por estes sinais, pois eles não são propriamente o fim, mas sim, o começo do
fim.
Notemos que desde então, com a queda de Jerusalém, quatro
décadas após esta profecia e com os eventos que se seguiram na história, muitos
são os registros de pestes, terremotos, furações, erupções vulcânicas,
eclipses, fome, estiagem e conflitos. Estes eventos por si só não dizem muita
coisa. Eles antecederão a parousia,
mas isso não quer dizer que ela ocorrerá logo em seguida. Outros fatores devem
ser incorporados a nossa visão escatológica. Um deles é a perseguição que
assolará os cristãos. Segundo Cristo adverte, a morte dos crentes, entregues até
mesmo por familiares e amigos próximos é um marco que precede a sua vinda. Dos
apóstolos, todos tiveram uma morte associada a perseguição, exceto João, que
mesmo não morrendo padeceu exilado na ilha de Patmos. Esta perseguição se
alastra, o império romano irá matar milhões de cristãos, e até nos nossos dias,
países comunistas, muçulmanos e algumas regiões hindus assassinam crentes. A
perseguição produzirá mártires, hereges e apóstatas. A perseverança dos santos
em meio a esta turbulência resultará no descanso eterno, na presença do seu
Senhor.
Soma-se a isto o fato de que antes do retorno triunfal de
Cristo, o Evangelho do Reino será pregado a todas as nações. Jesus não fala que
todas as pessoas ouvirão ou que haverá conversões em massa para as nações que
forem evangelizadas. O que ele diz é que o Evangelho alcançará todo o grupo
étnico e aí teremos o fim.
Sabemos que o Evangelho, desde então, tem sido propagado.
Há muitos povos ainda não alcançados, todavia muitos já ouviram da boa nova.
Algumas nações receberam e não se comprometeram com a mensagem do reino. A
China pode ser tomada por exemplo. Embora haja um número de cristãos reduzidos
por lá, o Evangelho já foi pregado por missionários destemidos e comprometidos
com o SENHOR, isto desde Hudson Taylor no século XIX.
Se no começo do século passado tínhamos a Bíblia traduzida
em torno de 300 idiomas, hoje o número passa de 2.500 idiomas e dialetos que
tem acesso a Escritura, se não toda, ao menos a partes significativas dela,
como o Novo Testamento. Isto nos dá um parecer de que estamos muito mais
próximos da vinda de Cristo, contudo, ainda nos resta tempo, uma vez que temos
aproximadamente 7 mil línguas no mundo. Ao invés de ficarmos atentos para
sinais celestes, climáticos e políticos, devemos focar mais na causa
missionária, pois, à medida que o Reino vai avançando, Cristo se aproxima para
buscar aqueles que o Pai lhe deu.
Em Atos 1, os discípulos perguntam ao Cristo ressurreto
quando Israel seria restaurada (vv. 6) e ele responde que não os competia saber
de tais coisas, contentando-se em apenas revelar que enviaria o Espírito Santo
para fazer dos discípulos suas testemunhas até os confins da terra (vv. 8).
Após dizer tais coisas Cristo ascendeu aos céus enquanto todos permaneceram
olhando para o alto. Então, dois anjos dispersaram a multidão dizendo que não
era preciso ficar com os olhos fitos no céu, pois da mesma forma que viram
Jesus subindo, iriam ver o seu retorno (vv. 11). Por isso, o nosso dever não é
assistir o jornal em casa e tentar ligar as notícias com os versículos
bíblicos. Embora seja ótimo nos mantermos antenados ao que acontece no mundo,
devemos focar – como Igreja – no evangelismo dos povos que ainda não foram
alcançados.
[1] Alguns comentaristas falam
em 5 discursos, contando Mt 23, 24 e 25, todavia, no capítulo 23, o ambiente e
o público não é o mesmo dos capítulos 24 e 25.
[2] De acordo com Mc 13.3, a
pergunta foi feita particularmente por um grupo menor e não pelos Doze. Thiago,
André, Pedro e João foram os discípulos que questionaram o Mestre.
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