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16 de jul. de 2015

O Narcisismo Gospel - O Amor de Narciso e a Religião do Ego

Por Thomas Magnum

Na sociedade de consumo, vivemos num contexto religioso que é pluriforme, que vai de cultos as imagens de escultura,  adoração de artistas, passando por ideologias filosóficas, políticas e religiosas que entronizam vários tipos de deuses e tornam seus adoradores semelhantes a eles mesmos, como diz Paulo:  “o ídolo nada é no mundo” (1Co 8.4).

A história mitológica de Narciso nos fala muito sobre isso, um amor por si mesmo a ponto de acreditar que não havia ninguém digno de receber esse amor nem capaz de amar de forma ideal. Somente o amor a si, seria a possibilidade da felicidade plena e a materialização da satisfação do eu. Um “jardim” fechado em espiral que nutre uma ilusão ególatra e sem percepção da quantidade de ervas daninhas que proporciona invasora destruição de uma realidade que só existe na cabeça do Narciso.  

Existe até um esforço da ciência da mente para colocar o narcisismo em um lindo pedestal com flores esculpidas em bronze sobre um balcão de mármore. O narcisismo tem sido “índole” de filosofias sociais, religiosas e políticas no Brasil e no mundo. Sobre esse apadrinhamento psicológico o filósofo Luiz Felipe Pondé disse em sua coluna da Folha de S. Paulo:

Existem até psicoterapeutas e psicanalistas que começam a abraçar a causa da cultura do narcisismo afirmando que narcisistas são melhor adaptados ao mundo contemporâneo porque não sofrem dos sofrimentos imaginários dos neuróticos que idealizam o amor. O mercado do narcisismo, além de investir em apartamentos singles com um parque de diversão na área social, vende, basicamente, estilos de vida e modas de comportamentos. Essas modas se concentram no cotidiano. Alimentação, lazer, trabalhos sem muito vínculo, relacionamentos solúveis na busca de autoestima. A simples ideia de que narcisistas resolvem melhor a vida já demonstra a raiz da hipótese: a solução para a insolúvel vida afetiva é não ter muitos afetos afora aqueles que são autorreferenciais. Todo mundo muito bonitinho na fita, se roendo por dentro, mas vendendo a pose de que é uma geração de evoluídos.[i]

É de admirar, ou melhor, estarrecer qualquer mortal, dotado de bom senso, como a publicidade e propaganda tem controlado a vida das pessoas e como tal desserviço é comprado por “bom preço”. O apelo narcísico é propagado pelos quatro cantos da civilização ocidental de forma virtuosa e até digna de orgulho.  Bom, de fato, o orgulho é atributo insofismável do vírus narcísico. Essa questão aflora de forma muito interessante também em contextos muito curiosos, poderíamos citar vários, mas, vamos falar do contexto cristão.

A religião tem sido alvo do mercado de forma acalorada, afinal, o povo crente também consome e consome muito. A modinha dos cantores do gospel no Brasil agora é serem garotos propaganda de suas grifes, tivemos uma forte indústria fonográfica desde a década de noventa, encabeçada pela Igreja Renascer, que agora tem tido uma queda de mercado considerável por conta da internet. Mas o mercado muda e as estratégias das bugigangas evangélicas também mudam. Cantores como Thalles Roberto, Ana Paula Valadão, André Valadão e Mariana Valadão tem sido garotos propaganda desse eixo de mercado brasileiro, com bonecos, camisetas, Cds, DVDs e tudo que for possível vender pra ganhar dinheiro com o “dote da fé”.

Claro que também não poderíamos esquecer de citar o pastor super herói  Lucinho Barreto. Entre o pastor Chapolin e a bagunça que é esse mundo gospel, vale um alerta aos jovens que muitas vezes sinceros e em busca de entretenimento sadio acabam entrando nessa barca furada que é o movimento gospel brasileiro. Que tem sido o doutrinador de uma  geração analfabeta de Bíblia e do cristianismo histórico,  que só busca experiências extraordinárias e marchas para Jesus e coisas que lhes proporcione algo etéreo. É aí que está Narciso, é aí que Narciso se diverte, é aí que Narciso se deleita e enaltece o deus, o ídolo. Nos diz a Santa Palavra:

 Não terás outros deuses diante de mim. Êxodo 20.3

Já vi, ouvi e li muitas críticas dirigidas ao gospel, críticas que denunciam a idolatria do público evangélico: ao artista, banda ou grupo, ou seja lá o que for. Bem, o que podemos constatar como fato em toda essa avalanche de esteticidade gospelizada engendrada em uma moçada que tem seguido num processo de emburrecimento e idiotização crônica (perdoe a acidez), é que não é somente um tipo de adoração ao cantor, artista ou banda, mas, uma busca por sensações que lhe tragam alguma experiência religiosa consigo mesmo, e eleve o próprio sentido do eu a um estágio de satisfação etérea consigo. Uma experiência que tem como telos um salto no que traz sensações de entorpecimento religioso. O embuste recheado como um rocambole é mais fácil de achar do que pão doce em balcão de padaria.

O cristianismo Bíblico não nos convida a um salto irracional, mas, ao aprendizado da fé, nos chama ao conhecimento de Deus. Nos exorta ao exame (Jo 5.39), nos convoca a leitura (Is 34.16), nos atrai a meditação que preenche e que não esvazia (Sl 1.1-3; Js 1.8). O mercado da fé tem colocado em promoção valores inegociáveis do cristianismo, ou melhor, não há nada negociável no cristianismo. Cristo nos convida a uma negação, a mortificação (Lc 9.23; Cl 3.5). Cristo ou Narciso? Narciso é ídolo, é nada, é profanação do sagrado. É cegueira, é falsa percepção da realidade, é miragem enganosa. Cristo é real, seu evangelho é o poder de Deus para a Salvação, sua vida nos comunica luz, ressurreição, satisfação em Deus, alegria eterna.

Narciso nos desorienta,  entorpece, enegrece o caminho.

Fujamos do Narciso (Gl 5.19-21). Corramos para o caráter puro de Cristo (Gl 5.22-24).

[i] - O Mercado do Narcisismo, 05.01.2015. Folha de São Paulo - http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2015/01/1570503-o-mercado-do-narcisismo.shtml

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