Por Brian Parks
“A evangelização mudou a minha vida”. John, meu taxista, disse-me isso enquanto dirigíamos pela autoestrada de Orlando até a conferência da qual eu estava participando. A nossa conversa mudou para o assunto da fé assim que ele descobriu que eu não estava em Orlando para ir à Disney World, como a maioria dos seus passageiros.
“O que você quer dizer?”, perguntei, esperando que ele explicasse como alguém o havia levado a Cristo. Mas não era disso que ele falava. Ele estava dizendo que evangelizar havia mudado a sua vida.
“O que você quer dizer?”, perguntei, esperando que ele explicasse como alguém o havia levado a Cristo. Mas não era disso que ele falava. Ele estava dizendo que evangelizar havia mudado a sua vida.
Ele explicou: “Aprender a compartilhar a minha fé trouxe muitas questões importantes à tona. Fez com que eu lidasse com coisas sobre as quais eu nunca havia pensado antes. E, cara, levar alguém a Cristo é algo que você nunca mais esquece. É como se você não conseguisse mais parar! Não há nada semelhante a isso!”.
O testemunho de John a respeito do efeito espiritualmente revigorante de compartilhar a sua fé coincidia com tudo aquilo que eu havia experimentado na minha própria caminhada com Cristo e em 22 anos de ministério no campus e de liderança na igreja.
No entanto, com quanta freqüência nós pensamos em discipulado e evangelização como dois aspectos separados e desconexos de nossa vida em Cristo? O que é ainda mais preocupante, nós frequentemente consideramos o discipulado necessário e a evangelização, opcional. Ou pensamos que a evangelização é apenas para os mais zelosos e “espiritualmente dotados” de nossas igrejas.
Todo discípulo deve evangelizar
Mas o Novo Testamento pinta um quadro no qual todo discípulo de Cristo está ordinária e naturalmente envolvido na evangelização tanto quanto no estudo bíblico, na oração e na adoração corporativa. Do cristão recém-convertido ao santo mais enrugado, compartilhar o evangelho é uma parte necessária e fundamental para uma vida de crescimento em Cristo.
Muitos de nós ouvimos, ou até pregamos, sermões que corretamente enfatizam o tema da Grande Comissão acerca de “fazer discípulos” (Mateus 28.18-20). E ensinamos aqueles ao nosso redor que eles próprios devem ser fazedores de discípulos. Mas nós também precisamos deixar claro que “fazer discípulos” necessariamente envolve ajudar aqueles que ainda não são discípulos a se tornarem discípulos – isto é, evangelizar. Jesus foi um modelo de evangelização (Marcos 1.14-15; Mateus 9.35) e treinou seus apóstolos a fazerem o mesmo (Marcos 6.7-13; Lucas 10.1-12). Apenas alguns dias depois, Jesus disse que eles seriam suas “testemunhas... até os confins da terra” (Atos 1.8).
Parte do ensino dos apóstolos, no qual a igreja recentemente cheia do Espírito perseverava (Atos 2.42), certamente consistia no ordinário e regular compartilhamento do evangelho com família, amigos e estranhos. Desde as primeiras semanas e meses após o Pentecoste, pessoas eram salvas diariamente (Atos 2.47). A evangelização se tornou imediatamente uma parte da sua nova vida de discipulado ao Senhor Jesus ressurreto.
Os benefícios da evangelização
Aqui estão seis modos pelos quais tratar a evangelização como uma parte necessária do discipulado ajuda a conduzir os discípulos à maturidade.
1. A evangelização ajuda a manter o evangelho no centro das nossas vidas e igrejas.
O evangelho gera a igreja (Colossenses 1.5-6), é a sua mensagem principal (1 Coríntios 15.1-3) e capacita o nosso crescimento em Cristo (Filipenses 1.6). Portanto, nós devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para mantê-lo no centro. Nós sabemos que o mundo, a carne e o diabo farão tudo o que puderem para tirar o nosso foco do evangelho.
D.A. Carson diz que uma maneira de preservar o evangelho é transmiti-lo a outros. A evangelização nos ajuda a manter a mensagem do evangelho como o motor de uma vida de crescimento em Cristo.
2. A evangelização aprofunda o nosso entendimento das verdades mais fundamentais da Escritura.
Conversar sobre o evangelho com não cristãos nos força a compreender melhor as verdades centrais e fundamentais da Palavra de Deus. Questões como o caráter de Deus, a sua santidade e ira, a criação do homem à imagem de Deus, o pecado, a graça, a cruz de Cristo e o julgamento, todas se tornam bastante nítidas. Nós precisamos pensar em como explicar esses conceitos a pessoas diferentes, em circunstâncias diferentes. E nós aprendemos melhor como essas verdades dão unidade a toda a Escritura, de Gênesis a Apocalipse.
Um dos versículos mais claros acerca dos benefícios do evangelização para o discipulado é Filemom 1.6: “para que a comunicação da tua fé se torne eficaz, no pleno conhecimento de todo o bem que em nós há para com Cristo” (NVI).
Conhecer algo e explicá-lo a alguém que não compreende nem crê naquilo são duas coisas diferentes. Essas verdades entesouradas se tornam mais claras para nós à medida que as explicamos a outros.
3. Uma evangelização apropriadamente motivada aumenta o nosso amor a Deus e ao próximo.
Todos são chamados a amar a Deus e as outras pessoas com integridade de coração (Marcos 12.28-31). Compartilhar a nossa fé por causa do nosso amor por Deus e pelas pessoas aumenta o fogo desse amor mais e mais. Eu nunca vi uma evangelização apropriadamente motivada produzir o oposto.
Se você nunca conduziu ninguém a Cristo, eu mal posso descrever a você a alegria de ver o poder transformador do evangelho começar a operar em alguém. Ver o coração das pessoas quebrantado por seus pecados torna o meu coração mais plenamente quebrantado pelos meus. Vê-las deleitando-se na liberdade do perdão me faz desejar beber desse perdão ainda mais. Experimentar o privilégio de conduzir alguém a Cristo nos lembra de como Deus é mais poderoso, santo e misericordioso do que costumamos pensar.
Do mesmo modo, quando compartilhamos a mensagem da esperança do evangelho com outros, Cristo nos promete que, às vezes, ela será rejeitada e, talvez, nós sejamos rejeitados também (João 15.18-20). Quando isso acontece, meu coração fica mais quebrantado diante da prisão e da cegueira que o pecado traz. Eu medito no julgamento vindouro com urgência ainda maior. E me indago, de novo, por que Deus me salvou, sendo eu tão pecador quanto a pessoa que rejeitou a mensagem do evangelho e a mim.
4. A evangelização desperta questões e objeções inesperadas dos não cristãos, o que pode aprofundar a nossa fé.
Eu morei no Oriente Médio por quase dez anos e minhas interações com muçulmanos e outros não cristãos fortaleceram de modo consistente a minha fé, à medida que eu buscava a Deus para obter respostas sábias às suas questões.
Na praça de alimentação próxima ao escritório da nossa empresa, eu passei muitas tardes fazendo amizades com muçulmanos. Com frequência, nossas conversas naturalmente se voltavam para questões de fé e eu tinha a oportunidade de explicar no que os cristãos de fato creem. Eu nem sempre conseguia responder às suas perguntas imediatamente, mas, ao buscar as respostas em Deus e na sua Palavra, minha fé sempre era fortalecida. Compartilhar a minha fé me possibilita ouvir objeções e encontrar respostas a perguntas que eu jamais teria feito por mim mesmo.
5. A evangelização nos protege da presunção enganosa de que as pessoas ao nosso redor estão salvas.
Pessoas não regeneradas não podem ser discipuladas em qualquer sentido bíblico. Elas não crescem nem podem crescer em piedade (Romanos 8.5-8).
Um grande perigo para a igreja de hoje é presumir a salvação de pessoas que simplesmente se afirmam cristãs ou que estão envolvidas em atividades na igreja. A falta de cuidado a respeito de quem consideramos ser “nascido de novo”, com frequência, tem raiz em visões antibíblicas da conversão (ver a Revista do Ministério 9Marks sobre conversão). Ou, às vezes, o temor dos homens nos dissuade de assumirmos o risco de ofender um crente professo ao sugerirmos que ele pode não confiar em Cristo de verdade.
Mas fazer do evangelho uma parte de nossas conversações diárias, com frequência, resultará em cristãos nominais sendo de fato regenerados pelo Espírito Santo.
O semeador lança a semente com liberalidade, aparentemente sem considerar o solo no qual ela cai (no caminho, nas rochas, nos espinhos, na boa terra; Marcos 4.2-8). Nós também devemos compartilhar o evangelho amplamente e sem discriminação, deixando que o nosso soberano Deus o use da maneira que achar apropriada, para salvar os perdidos e também para encorajar os santos.
6. A evangelização aumenta a probabilidade de sermos perseguidos por causa do evangelho, o que conduz ao nosso crescimento.
Há uma razão pela qual eu não comecei com esse “benefício”! Ainda assim, consideremos Romanos 5.3-5:
E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.
Embora não devamos buscar o sofrimento pelo sofrimento, devemos estar preparados para abraçar o sofrimento pelo evangelho (2 Timóteo 1.8; Romanos 8.17). De fato, sofrer por causa da nossa evangelização deveria ser um encorajamento para nós, assim como foi para a igreja primitiva (Atos 5.41). E compartilhar a nossa fé ajuda a nos assegurar de que sofreremos por causa do próprio evangelho, e não por causa de decisões tolas ou de ofensas desnecessárias. Sofrer pela nossa proclamação do evangelho pode aprofundar a nossa fé, à medida que contemplamos o nosso Salvador sofredor.
Alerta e encorajamento
Uma palavra de alerta: ao engajar-se na evangelização como parte do seu discipulado, tenha cuidado com programas evangelísticos. Eu descrevi que a evangelização precisa ser “ordinário e natural”. Quando evangelizamos apenas porque estamos participando de um programa, então não estamos nos conformando ao modo como a Escritura descreve a evangelização na vida dos crentes. Tratar a evangelização como um programa pode divorciá-la do discipulado e da nossa vida diária.
Em algum momento, as rodinhas precisam ser tiradas da bicicleta da criança. Do mesmo modo, programas são apropriados apenas enquanto os vemos como formas e estruturas que, em algum momento, darão lugar a uma integração mais natural e normal com o padrão de nossas vidas.
Por fim, o maior encorajamento para que sua congregação e seus amigos cristãos compartilhem ativamente sua fé é o pastor titular e os presbíteros serem vistos e ouvidos compartilhando a sua fé. As pessoas aprenderão melhor sobre aquilo que mais o anima. Se você, como pastor, tem ânimo de compartilhar a sua fé, a congregação aprenderá a ter ânimo para compartilhar a fé. E eles crescerão como discípulos de Jesus ao fazerem isso.
Jesus disse aos seus apóstolos na Grande Comissão: “Fazei discípulos [...] ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mateus 28.19). Ao fazer discípulos, asseguremo-nos de que estamos modelando e ensinando tudo o que ele ordenou – incluindo a grande alegria e bênção de uma vida de evangelização.
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Tradução: Vinícius Silva Pimentel
Revisão: Vinícius Musselman Pimentel
Fonte: Ministério Fiel
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