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15 de ago. de 2015

O mercantilismo gospel brasileiro e o juízo de Deus: uma meditação no profeta Amós

Por Bruno Mathias
Hoje pela manhã, estava fazendo o meu devocional diário e comecei a meditar no livro do profeta Amós. Amós é um dos doze profetas menores do Antigo Testamento, nativo de Tecoa, Tribo de Judá (1.1), recolhedor de figos silvestres (7.14) e o seu nome significa literalmente “carga”, “carregador”. Ele profetizou durante os reinados de Jeroboão II, de Israel, e Uzias de Judá (aproximadamente no século 8 a.C.). Foi um homem de origem humilde (7.15) e trabalhador (7.14), que denunciava os maus feitos do povo de Israel em sua época (2.6-16) e os chamava para uma adoração sincera (5.1-27).
Em seu reinado, Jeroboão II conseguiu restabelecer as fronteiras de Israel, comparando-se aos limites estabelecidos no reinado de Davi e de Salomão. Ele trouxe paz e prosperidade e a prosperidade acarretou luxo ao povo israelense. Porém, mesmo com toda a sua prosperidade, o povo de Israel sofria uma decadência social e moral. Israel era corrupto, pois através dos tribunais, comprava a justiça com suborno (5.12); enganava os pobres “diminuindo a medida” e “aumentando o preço” (8.5) e os ricos, enquanto esbanjavam o seu luxo com comidas e bebidas, ignoravam os necessitados (4.1; 6. 4-6). Israel achava que por ser escolhido de Deus (3.2), poderia usufruir dos seus benefícios de uma forma libertina.
Porém, Amós como “boca de Deus”, não deixou essa situação ao bel prazer de homens; ele deu ênfase na ideia que o privilegio de ser escolhido por Deus (3.2) trazia consigo responsabilidade e não anulava o fato do “povo escolhido” passar pelo juízo vindouro (2.6-16); ele fala do juízo vindouro sobre as nações vizinhas a Israel (Síria, Filistia, Tiro, Edom, Amon e Moabe) (1.3-15) assim como ao próprio Israel (2.6-16); e, então, o convida para que O busque com sinceridade de coração (5.1-27).
Mas, o que isso tem exatamente haver com o mercado gospel brasileiro? Pois bem, tendo em vista os recentes escândalos e a falta de embasamento bíblico nas canções da maioria dos artistas gospel da atualidade (como vimos recentemente o que afirmou o cantor Thalles Roberto em um show[1]), achei de suma importância um verso onde Amós trata das canções entoadas pelo povo israelita de sua época (que estava vivendo em desconformidade com a revelação de Deus): “afasta de mim o som dos teus cânticos, pois não ouvirei a melodia dos teus instrumentos. Corra, porém, a justiça como as águas e a retidão como ribeiro perene”. (5.23-25)[2]. Em outras palavras, o povo era hipócrita. Cantavam o que, de fato, não viviam e nem buscavam viver. Usurpavam de sua eleição e prosperidade, mas eram crentes apenas nominalmente. Contudo, Amós não dá apenas a repreensão, ele exorta o povo de Deus para que “corra, porém, a justiça como águas e a retidão como ribeiro perene”.
A situação do “mercado gospel brasileiro” em muito se assemelha com a situação em que o povo de Israel vivia nos tempos de Amós. Há hoje, nesse mercado, grande “prosperidade”: vendem-se milhões de discos; ganham-se troféus e discos de ouro, platina; os shows são bem estruturados com luzes, telões e tudo o que se tem direito, o povo brada nos shows, tem-se as agendas lotadas, apresentações nas mídias. Mas ao passo que esses artistas lucram e luxam, esbanjando claramente a sua “prosperidade” ao mundo, o Evangelho é corrompido com os valores exorbitantes pagos aos artistas gospel. As suas letras, na maioria das vezes, centralizam o homem e/ou distorcem a verdade bíblica em prol daquilo que acham mais conveniente e, então, o povo os idolatra (já que o deus criado pelo “mercado gospel” é exatamente o deus que o “povo gospel” quer) e são desviados do único e verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo, trazendo sobre si próprios o justo juízo de Deus. Como bem disse o mestre Stêniu Marcius,“as letras das canções têm enorme peso na vida espiritual da igreja contemporânea. Letras com conteúdo equivocado produzem cristãos equivocados”[3].
Esse “evangelho” não faz efeito no mundo. Ele é falso! O que tem poder para salvar e transformar o homem, é o Evangelho, mas, sim, o verdadeiro Evangelho e não um mercantilismo emocionalista. Esse “evangelho gospel” não é a semente que suporta o pássaro, o terreno pedregoso ou os espinhos sufocantes (Mt13.4-9), simplesmente por ele não ser verdadeiro e não pregar a verdade que liberta. As emoções nada servem se não houver contido nelas a verdade.  O “povo gospel”, assim como Israel nos tempos de Amós, tem a errônea ideia que, por ser o povo de Deus (se é que são) ou/e por estarem prosperando e cantando canções de cunho religioso estão no “centro da vontade de Deus” e que não estão sujeitos ao juízo vindouro dEle. Mas isso está em total oposição ao que a palavra de Deus nos revela, pois como já vimos, Deus castigou a Israel e também nos é sabido que “o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo o que o recebe” (Hb12.6), pois “a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte” (2Co7.10). Agora deixe a preguiça de lado e leia com muita atenção o que Paulo diz (com meus comentários entre parênteses) acerca de todos os homens (até mesmo aos que professam ser o povo de Deus, mas não o são):
Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo(hipocrisia).E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade (palavra revelada e registada, a Bíblia) sobre os que tais coisas fazem (julgam, mas fazem o mesmo, exemplo: pedem para que amem ao Senhor acima de tudo, mas amam mais o luxo do que a Deus). E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus ? Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento (benefícios trazem consigo responsabilidades, lembra?)? Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus (do que adianta ganhar o “mundo gospel” e perder a sua alma?); O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção; Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade; Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal (você está incluso aqui); primeiramente do judeu e também do grego; Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem (seja este); primeiramente ao judeu e também ao grego; Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas. (Rm2.1-11).

Portanto queridos irmãos, como Amós, o povo de Deus precisa ser “boca de Deus” para o próprio povo de Deus, denunciando o falso evangelho disfarçado de mercantilismo emocionalista e os equívocos nos credos e nas letras que as igrejas professam e cantam por causa desse movimento. Nós que temos entendimento da verdade devemos nos posicionar, sabendo que seremos negligentes e consequentemente pecaremos se não anunciarmos a verdade. Devemos não somente denunciar, mas também mostrar como eles podem adorar ao nosso Deus “em espírito e em verdade” (Jo4.24). Devemos mostrar que suas atitudes trazem juízo sobre eles e que se permanecerem nesse erro, Deus os castigará temporalmente e/ou eternamente. Sejamos, pois, puros de coração e perseverantes na Verdade.  Que possamos ser também humildes e trabalhadores como Amós e como também foi e é o nosso Mestre Jesus Cristo, comendo do fruto do nosso esforço e sendo fiéis a Deus.
O que Deus diz hoje a esses homens é que “afasta de mim o som dos teus cânticos, pois não ouvirei a melodia dos teus instrumentos”, porque estão trazendo sacrifício imundo a Deus (Ml1.8) e o que nós devemos proclamar da parte de Deus juntamente com Amós é para que “corra, porém, a justiça como as águas e a retidão como ribeiro perene”.
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Notas:
[1] Veja a notícia disponível em: <http://musica.gospelprime.com.br/video-thalles-roberto-acima-da-media/&gt;. Acesso em: 20/07/2015.
[2] Encontrei, não por acaso, uma bela canção chamada “Instead of a Show” do cantor cristão Jon Foreman onde ele tata a questão da hipocrisia e o luxo gospel. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yxO4yDqUZHk>. Acesso em 20/07/2015.
[3] Esta foi uma citação do cantor cristão Stêniu Macius disponível em: <http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/334/vamos-ler&gt;. Acesso em: 20/07/2015.

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