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17 de ago. de 2015

O Perigo do Marxismo Cultural

Por Bruno Rafael Souza

Nos tempos de efervescência política, onde a crise no país é notória, parece que todos viram especialistas em marxismo, terceira via, direita e esquerda. Outros batizam posições políticas, esquecendo que o cristão reformado vê na Escritura uma cosmovisão completa sobre a vida - incluindo a política. Não podemos comprar pacotes políticos completos. Pensando nisso, quero trazer para nosso texto a questão da cosmovisão cristã x marxismo cultural e suas perigosas consequências. As duas cosmovisões propõem a transformação do mundo. Uma vê essa transformação a partir de agora até a consumação e outra como transformação unicamente agora (isto, a grosso modo). Quando alguém adere qualquer uma das duas visões, será automaticamente amoldado por ela, ou seja, todo seu sistema de valores na vida será afetado. Antes de entrar no marxismo cultual, devemos conceituar o marxismo a partir de Marx. Ele tinha um pensamento de observar o fenômeno religioso demonstrando que através de mudanças na sociedade, tais como aumento da opressão, fome e outros, o ser humano criava um imaginário de fé para se apegar. Isto é normal para o homem na sociedade. Interpretando Marx, G. Reale e D. Antiseri dizem o seguinte:

Marx não ironiza o fenômeno religioso, a religião não é para ele a invenção de padres enganadores, mas muito mais obra da humanidade sofredora e oprimida, obrigada a buscar consolação no universo imaginário da fé. Mas as ilusões não se desvanecem se não eliminarmos as situações que as criam e exigem.[1]

O modo de produto da vida material condiciona, em geral, o processo social, político e espiritual da vida.[2]

Segundo esse pensamento, as pessoas tem religião, por conta do produto da vida material, ou seja, o que é palpável socialmente. Logo, o social determina o senso religioso do homem. Então, sendo retiradas as distorções sociais de classes “proletariado e burguesia” que produzem a fome e desigualdade, a religião seria modificada ou finalizada. O contexto dos livros de Marx tem fatores diferentes do nosso tempo, no entanto servem para demonstrar o princípio que ele prega em seu Manifesto Comunista, ficando claro que a solução para as distorções sociais era a busca da transformação através da luta de classes, determinando o sentido de toda existência:

Esboçando em linhas gerais as fases do desenvolvimento proletário, descrevemos a história da guerra civil mais ou menos oculta, que fermenta na sociedade atual, até a hora em que essa guerra explode numa revolução aberta e o proletariado estabelece sua dominação pela derrubada violenta da burguesia.[3]

Os comunistas não se rebaixam em dissimular suas ideias e seus objetivos. Declaram abertamente que seus fins só poderão ser alcançados pela derrubada violenta de toda ordem social existente. Que as classes dominantes tremam diante de uma revolução comunista! Os proletários não tem nada a perder nela, a não ser suas cadeias. Têm muito a ganhar.[4]

Esse é o pensamento Marxista na tese do materialismo científico, grosso modo. Esta é a sua cosmovisão: vê as coisas de baixo para cima, tudo sendo transformado por ela e ela engolindo o aspecto teleológico.

O PERIGO DO MARXISMO CULTURAL

O ponto que vamos salientar parte do pensamento da conquista do ideal comunista não numa guerra de movimento, luta de classes ou retirada do estado à força como pensava Marx, no qual expomos acima, mas numa guerra de posição para transformação do mundo como explicada no livro “A revolução Gramscista no ocidente” que reflete a evolução do pensamento Marxista ou Cosmovisão Marxista a partir de Gramsci:

A revolução bolchevique foi vitoriosa na Rússia (Então sociedade oriental), aplicando a estratégia revolucionária Marxista Leninista, caracterizada pelo assalto direto ao Estado, com emprego de violência revolucionária (levante popular).

Para as sociedades do tipo ocidental, mais complexas e protegidas por forte sistema de trincheiras e de defesas políticas e ideológicas, a guerra de movimento não se mostrará adequada. Nessas sociedades, a luta teria que ser semelhante à guerra de posição, longa e obstinada, conduzida no seio da sociedade civil, para conquistar cada trincheira e cada defesa da classe dominante burguesa.[5]

Como vimos, o pensamento Marxista ou a cosmovisão Marxista na voz de Gramsci, vem com tons de transformação primeiramente na sociedade civil, através da implantação de outro sistema de pensamento, ou seja, senso comum, que vem com valores, história e tradições diferentes, e este por meio da mídia, pensadores, por fim, chegando na formatação de partidos e tomada total de posição sem violência. Em sua totalidade, é a troca de uma cosmovisão por outra. Vejamos:

A superação do senso comum é um empreendimento de profunda e demorada transformação cultural e psicológica da sociedade civil como um todo e das classes subalternas em particular. Consiste em apagar certos valores tradicionais e uma parte significativa da herança cultural (intelectual e moral) da sociedade burguesa e substituí-las por conceitos novos e pragmáticos, abrindo a mente das pessoas para as mudanças políticas, econômicas, e sociais que farão a transição para o socialismo.

É preciso ainda estabelecer um amplo sistema orgânico e também espontâneo no interior da sociedade civil, abrangendo variados canais informais, desligados das organizações políticas (Partidos e Estado), por meio do qual se fará a penetração dos novos sentimentos, conceitos e expectativas. Dentre os canais de difusão do novo senso comum, em primeiro lugar os meios de comunicação social (Imprensa, rádio e televisão), mas não excluindo, como igualmente importantes, o setor editorial, a cátedra, o magistério, a expressão artística e o meio intelectual tradicional.[6]

Em suma, a troca da cosmovisão atual para uma cosmovisão marxista, é uma mudança de cultura da sociedade perigosíssima, que acontece não pela luta de classes, mas silenciosamente no seio cultural, pois imputa valores sociais que aniquilam ou deixam sem alma a religião cristã. As universidades, a política, as artes, as ciências estão sendo definhadas por esse pensamento marxista. Temos uma troca dos conceitos da família, implantação das ideologias de gênero e casamento anticristão. Para barrar esse andamento, só uma volta da cosmovisão cristã, que seria o senhorio de Cristo em todas as esferas e a religião determinando e transformando o social.

COSMOVISÃO CRISTÃ

Podemos fomentar, de início, que a religião deve voltar ao centro da sociedade, criá-la, transformá-la e não ser amoldada por ela. O correto não é o que Marx pensava, o social determinando a religião, mas a religião determinando o social. Kuyper sintetizou o contraveneno com maestria:

O impulso religioso do Calvinismo também tem colocado debaixo da sociedade política uma concepção fundamental toda própria dele, precisamente porque ele não apenas podou os ramos e limpou o tronco, mas alcançou a própria raiz de nossa vida humana. Que isto deveria ser assim torna-se imediatamente evidente a todos que são capazes de apreciar o fato de que nenhum esquema político jamais se tornou dominante a menos que tenha sido fundado numa concepção religiosa específica ou numa concepção anti-religiosa.[7]

Qualquer sistema político é fundado ou concebido religiosamente ou anti-religiosamente. Marx e um dos analistas do seu pensamento – Gramsci - lutam por uma cosmovisão fundada na anti-religião, contra as liberdades humanas e soberania das esferas. Eles querem que todos sejam iguais na ditadura do proletariado, quer por violência armada ou por tomada de posição na implantação do marxismo cultural. Kuyper mais uma vez pode contribuir sobre a liberdade e o fundamento religioso dela habita na soberania de Deus:

A Soberania do Deus Triuno sobre todo o Cosmos, em todas as suas esferas e reinos, visíveis e invisíveis. Uma soberania primordial que irradia-se na humanidade numa tríplice supremacia derivada, a saber, 1. A Soberania no Estado; 2. A Soberania na Sociedade; e 3. A Soberania na Igreja.

“No Calvinismo encontra-se a origem e a garantia de nossas liberdades constitucionais.” Que o Calvinismo tem levado a lei pública a novos caminhos, primeiro na Europa Ocidental, então nos dois Continentes, e hoje mais e mais entre todas as nações civilizadas, é admitido por todos os estudantes científicos, se não ainda plenamente pela opinião pública.[8]

Podemos concluir em cima do pensamento dos autores que colocamos em diálogo, que o Marxismo é uma cosmovisão contra as liberdades, contra a soberania das esferas, impondo valores anti-cristãos, reduzindo tudo a luta de classes e trazendo como consequência uma religião alienante. Os conceitos deles estão sendo inseridos pelo marxismo cultural e isto pode causar um dano irreparável. No entanto, a cosmovisão cristã é completa, trazendo liberdade, valores saudáveis e frutos de pacificação.  Voltando, a questão não é o social determinando o religioso, mas o religioso determinando o social e transformando-o, isto por meio de uma cosmovisão que toque cada ponto da vida.


[1] REALE, G. História da filosofia. 1. ed. São Paulo: Paulus , 2005. p. 176.
[2] Ibid. p. 178.
[3] MARX,  Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto comunista. 2. ed. São Paulo: Centauro, 2006. p. 64.
[4] Ibid. p. 92.
[5] COLTINHO, Sérgio Augusto. A revolução gramscista no ocidente. 1. ed. Rio de Janeiro: Estandarte, 2002. pp.33-34.
[6] COLTINHO, Sérgio Augusto. A revolução gramscista no ocidente. 1. ed. Rio de Janeiro: Estandarte, 2002. p. 53.
[7] KUYPER, Abraham. Calvinismo. 1. ed. São Paulo: Cultura cristã, 2002. p. 63.
[8] Ibid. pp. 63-64. 

Um comentário:

  1. muito bom uma forma bem clara e objetiva de descrever o marxismo cultural que tenta se introduzir na nossa sociedade de forma sutil e perversa fiquemos atentos.

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