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6 de out. de 2015

Trabalhar Para Deus Vai Além da Santidade

Por Pedro Pamplona

Nesse último domingo o quadro “Chefe Secreto” do Fantástico mostrou um bom testemunho cristão por parte de um funcionário. A ideia do quadro é inserir o diretor da empresa disfarçado entre seus funcionários. A proposta é realmente excelente, ajudando a diretoria a perceber como seus funcionários trabalham e podem ser melhor ouvidos. Assista ao vídeo nesse link. Em meio ao disfarce o patrão ouviu um conselho sincero de um colega de profissão:Quando vocês forem fazer alguma coisa procura fazer como vocês tivessem fazendo pra Deus. Você vai fazer sempre o seu melhor”. (tempo do vídeo 11:12)

O conselho bíblico baseado Colossenses 3:23 e Efésios 6:5-7 emocionou o chefe e muitos que assistiram ao quadro. Fiquei muito feliz ao ver que uma postura cristã foi tomada e influenciou emoções e decisões. Fico feliz por termos uma prova registrada de que uma pequena atitude, como um simples conselho bíblico, pode fazer uma grande diferença. E fará ainda mais diferença se nós entendermos plenamente o que significa esse conselho. Precisamos meditar nisso: O que significa trabalhar ou fazer tudo como se fosse para o Senhor?

Uma resposta comum e verdadeira é a santidade. Realmente é isso que também primeiro aparece na minha cabeça. E claro, é verdadeiro. Trabalhar para o Senhor é trabalhar em santidade, ou seja, principalmente honestidade e submissão. Isso já faria uma enorme diferença no nosso contexto brasileiro, mas quero abrir nosso horizonte do pensamento e mostrar outros aspectos que uma visão bíblica sobre o trabalho oferece sobre esse conselho. Trabalhar como se fosse para o senhor vai além da santidade. Vejamos como base na criação o que Deus espera dos seus trabalhadores. Como digo: Trabalhar para Deus significa trabalhar como Deus trabalhou. Em cada ofício somos chamados a sermos a sua imagem, exercendo o mandato cultural de dominar sobre a criação.

Deus trabalhou com criatividade

Quando o capítulo 2 de Gêneses inicia com uma conclusão do ato criador de Deus, antes de partir para a ênfase na criação do homem o autor destaca a grande obra das mãos de Deus. Percebemos claramente uma referência ao trabalho criador de Deus na expressão do escritor, principalmente pela instituição divina do descanso, o que verdadeiramente nos remete a concluir que Deus estava trabalhando. Sobre a palavra “obra” podemos citar Victor Hamilton:

A atividade criativa de Deus é descrita duas vezes como sua obra. O Antigo Testamento usa duas palavras para labor. A segunda palavra enfatiza o labor que é rústico e amador. A primeira, e que usamos aqui, indica labor hábil, trabalho que é realizado por um perito ou artífice. Tal é o alcance do refinamento e da habilidade da obra de Deus.”[1]

Percebemos então que o trabalho tem sua origem no próprio Deus. As primeiras palavras da Bíblia descrevem seu perfeito trabalho. Algo criativo, planejado, executado em etapas e bem estruturado. Assim o trabalhador cristão deve trabalhar, com qualidade e principalmente criatividade. O trabalho cristão segue o padrão e ordem divina de criar e transformar a cultura. O trabalhador cristão está em busca de inovações e contínuas melhorias para todos no ambiente de trabalho. Crie e transforme!

Deus trabalhou com alegria

Vemos no capítulo 1 de Gênesis que Deus, ao final do dia, contemplava sua própria criação e tinha prazer nela por ser boa. Percebemos que Deus trabalhava para produzir coisas boas e que nisso Ele se alegrava e tinha prazer. Aqui temos algo importantíssimo para nossa cosmovisão. Podemos responder àquela principal e sentença da cosmovisão secular: O trabalho é um castigo pelo pecado ou mal necessário? Claro que não. Ele tem sua origem em Deus e é prazeroso. Tim Keller assim colocou:

No princípio então Deus trabalhou. O trabalho não é um mal necessário que adentrou o cenário mais tarde ou algo que fora criado para os seres humanos fazerem, mas que estava abaixo da dignidade do poderoso Deus. Não! Deus trabalhou por puro prazer e alegria. O trabalho não poderia ter tido um início mais glorioso.” [2]

Trabalhar para o Senhor significa encontrar algum prazer no trabalho e ter alegria nele. Ser grato a Deus e descobrir como o trabalho pode lhe ajudar a ser uma pessoa melhor faz parte disso. Se seu trabalho é penoso pense no sustento que ele lhe dá, sempre existe algo para se alegrar. Um trabalhador cristão não vive triste e irado com o trabalho, mas buscar fazer coisas boas e influenciar o ambiente com qualidade e alegria.

Deus descansou

É interessante notar o dia de descanso na criação. Deus não precisa dele, é um ser que não se cansa. Por qual motivo ele descansou? Porque Deus sabia que estava trabalhando e que seu padrão de trabalho seria o padrão de trabalho do seu povo.

Até hoje nossa semana de trabalho é dividida dessa forma, mas nem sempre foi assim. No Egito, por exemplo, não existia dia de descanso. Por isso Moisés solicitou a Faraó que desse um dia ao seu povo para descansar e cultuar a Deus. Os Hebreus já possuíam uma cosmovisão do trabalho diferente por estarem seguindo o padrão do trabalho de Deus no descanso. Assim, o trabalhador cristão não é um workaholic, não idolatra o trabalho e sabe respeitar o seu período de descanso.

Aqui fica uma boa dica para o patrão cristão: Não devemos explorar os nossos funcionários. Devemos respeitar o seu descanso, para que assim trabalhem melhor e sejam mais produtivos. Aos empregados, lembre-se que o descanso foi só de uma dia, não abusem da vontade de Deus para pecar. O descanso é o preparo para mais trabalho. A preguiça é o preparo para mais preguiça.

Concluindo…

Unindo esses 3 aspectos à santidade estaremos desenvolvendo um papel totalmente cristão no trabalho. Não seja santo sem ser bom e criativo. Não seja santo sem alegria e gratidão. Não seja santo sem descanso. Dessa forma vamos conseguir atingir a meta do conselho inicial: fazer sempre o melhor. E tenha certeza, seu patrão, sua empresa e a sociedade vão sentir esse impacto. Seja exemplo nessas coisas, mas como nosso amigo no vídeo, não deixe de falar e testemunhar. E que acima de tudo, já que é para o Senhor, que Deus receba toda a glória de seus trabalhadores.
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[1] Victor Hamilton – The Book of Genesis, p 142
[2] Timothy Keller – Como Integrar Fé e trabalho, p 37

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