Por Kevin DeYoung
Cristãos
não devem ser tolerantes com tudo, uma vez que Deus não o é. Nós podemos
respeitar opiniões diferentes e tentar entendê-las, mas não devemos afirmar
incondicionalmente e sem avaliação toda crença e comportamento, por que Deus
não faz isso. Nós devemos amar o que Deus ama. Foi aí que Éfeso falhou. E
devemos odiar o que Deus odiou. Aí que Tiatira falhou.
Das
sete cidades de Apocalipse, Tiatira é a menos conhecida, a menos impressionante
e a menos importante. E, ainda assim, é a maior carta das sete. Havia muita
coisa acontecendo nessa igreja – algumas ruins e outras boas.
Vamos
começar com as boas. O verso 19 do capítulo 2 diz: “Conheço as tuas obras, o
teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua perseverança e as tuas últimas obras,
mais numerosas do que as primeiras”. Éfeso foi louvada por suas benfeitorias e
seu forte trabalho ético. Tiatira é ainda melhor. Ela tinha os mesmo feitos que
Éfeso teve e o amor que faltou a esta. A igreja em Tiatira não era sem virtudes
genuínas. Era um grupo unido que amava, servia, cria e perseverava.
Talvez
Tiatira fosse o tipo de igreja que você entra e já se sente parte: “Prazer em
conhecê-lo. Venha, deixa-me apresentá-lo aos meus amigos. Vou lhe mostrar como
você pode participar, usar seus dons, seguir seu ministério. Somos muito gratos
de tê-lo conosco.” Era uma igreja que se importava, que se sacrificava e amava.
Essa
era a parte boa. E a parte ruim? O amor dela podia ser sem discernimento e
cegamente afirmativo. O grande problema de Tiatira era a tolerância. As pessoas
de lá toleravam falsos ensinamentos e comportamentos imorais, duas coisas com
as quais Deus é ferozmente intolerante. Jesus diz: “você é amorosa de diversas
formas, mas a sua tolerância não é amor. É infidelidade.”
O
pecado específico de Tiatira era a tolerância com Jezabel. Este não era o nome
real da mulher. Mas essa falta profetisa agia como Jezabel – guiando o povo em
adultério e em idolatria. Nós não sabemos se sua influência era formal – se ela
ia à frente das pessoas e falava esse tipo de coisa enganosa – ou se era informal
– em conversas corriqueiras e no “boca a boca”. Contudo, isso estava
acontecendo. Essa mulher era um perigo espiritual, como sua xará do Antigo
Testamento.
Jezabel
foi a filha de Etbaal, rei dos sidônios. Ela adorava Baal e Aserá e levou seu
marido Acabe para o mesmo caminho. Foi ela quem planejou matar o inocente
Nabote por causa de sua vinha. Ela foi chamada de “maldita” (2 Reis 9.34) e,
como punição por sua malícia, eventualmente foi empurrada pela janela,
pisoteada por cavalos e comida por cachorros. Ela era uma mulher má, que levou
muitos israelitas para o mau caminho.
Jesus
disse a Tiatira: “vocês estão permitindo que uma mulher como aquela guie seu
povo. Por que vocês a toleram? Não a sigam. Não dialoguem com ela. Não esperem
para ver o que vai acontecer. Livrem-se dela… ou eu farei.” Aparentemente, de
alguma forma, Deus já a havia alertado para que se arrependesse, mas ela se
negou. Então, agora, o Senhor Jesus promete jogá-la na cama doente e fazer com
que seus seguidores também sofram, a não ser que se arrependam. “Eu vou atacar
mortalmente os seus filhos espirituais”, disse o Senhor. Jesus não está
brincando. Isso não é algo secundário, mas um sério pecado digno de morte.
Havia
também um pecado arraigado. Havia uma série de cooperativas comerciais em
Tiatira. Imagine que você participasse da APT, a Associação de Pedreiros de
Tiatira, e, certa noite, a corporação se reunisse para uma festa. Você está
sentado em sua mesa, pronto para participar dessa grande celebração com seus
amigos e colegas. Então o anfitrião diz algo como: “Que bom que vocês vieram.
Que ocasião feliz para a APT. Nós temos uma grande festa preparada para vocês.
Mas, antes de começar, nós gostaríamos de reconhecer que o grande deus Zeus,
que cuida dos pedreiros, tornou esse jantar possível. Zeus, cuja estátua está
ali no canto, nós comemos por você, por sua honra e para adorá-lo. Vamos
começar.”
O
que você faria nessa situação? Ficaria ou iria embora? O que a sua participação
significaria para seus companheiros cristãos, para o mundo e para Deus?
Cristãos do mundo antigo não precisavam procurar por idolatria. Ela permeava
toda a sua cultura. Não participar desses rituais pagãos chamaria a atenção
como um torcedor do Corinthians no Palestra Itália. Essas festas, com sua
idolatria e folia sexual, que muitas vezes as seguiam, eram parte normal da
vida do mundo Greco-romano. Ficar de fora poderia ser algo social e
economicamente desastroso.
Esse
é o motivo pelo qual os falsos mestres, como essa Jezabel em Tiatira ou os
nicolaítas em Pérgamo, eram tão ouvidos. Eles tornavam o ser cristão em algo
muito mais fácil, menos custoso e muito menos contracultural. Mas era um
cristianismo diluído e vendido, e Jesus não iria tolerá-lo. Ele iria usar
Tiatira como exemplo para mostrar a todas as igrejas que Jesus tem olhos de
fogo, puros demais para ver o mal, e pés de bronze polido, santos demais para
caminhar entre a maldade. Ele queria que todas as igrejas soubessem que ele é
quem perscruta as mentes e corações e que irá punir todo mal não arrependido.
O
erro de Jezabel era um pecado sério, arraigado e sutil. Provavelmente ela havia
dito às pessoas que os “segredos profundos” não iriam prejudicá-los. Nós não
sabemos exatamente o que aprender os chamados segredos profundos de Satanás
significava para a igreja. Nós não sabemos se os falsos profetas chamavam eles
assim ou se Jesus é quem os está chamando assim. Mas o que está acontecendo é,
provavelmente, algum tipo de falso ensinamento que desvalorizava o mundo
material. Essa Jezabel poderia estar falando: “O mundo físico não importa. O
espiritual é o que conta. Então participem das festas aos ídolos e façam o que
vocês quiserem sexualmente. Essas coisas são materiais. Deus não liga para
isso”. Ou talvez ela estivesse falando: “Veja, se você é espiritual, então a
sua relação com Deus será forte o suficiente para você aguentar as coisas
profundas de Satanás. Então vá em frente. Participe das coisas do diabo. Você
pode lidar com isso e, além disso, provavelmente aprenderá mais sobre o inimigo
durante o processo.” Independentemente do que ela estivesse falando, era uma
mentira e estava levando o povo ao pecado. E a igreja era mais tolerante do que
Jesus, o que nunca é uma boa ideia.
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Fonte: Reforma21
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