Por Thiago Oliveira
O movimento feminista tem
crescido e ganhado força até mesmo dentro das igrejas. Desde reivindicações a
ordenação de mulheres até uma revisão terminológica que nega a descrição
paternal de Deus, preferindo chamá-lo de “Mãe Celestial”, o feminismo tem feito
muitos estragos dentro da comunidade da fé. Tenho observado nas redes sociais
um leque de compartilhamentos com conteúdos oriundos de coletivos feministas
que gritam pela emancipação da mulher e defendem a plena igualdade de gênero
(ou a inexistência do mesmo). Mas, se queremos ser chamados de cristãos,
precisamos ter uma opinião solidificada na Escritura para tratar desta questão.
Diferente dos outros escritos para a série sobre “marxismo cultural”, evitarei
citações de outros livros para focar naquilo que nos diz a Bíblia, partindo do
pressuposto ortodoxo de que ela é inspirada e isenta de erros, sendo o seu
ensino infalível e autoritativo para todo e qualquer cristão.
Homem
e Mulher: Diferentes, porém iguais
Lemos em Gênesis 1.27 que
“Deus criou o homem à sua imagem; a
imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou”. Assim sendo, se somos
cristãos e bíblicos, não podemos concordar com o discurso construtivista.
Simone de Beauvoir foi quem (nos idos dos anos 1950) propagou a ideia de que a
“mulher não nasce mulher”, mas que isto é uma construção social e que é preciso
emancipar o sexo feminino a partir de uma visão centrada em si mesma, pois,
até então, a identidade feminina era sempre observada a partir das características
dos homens. Lendo a Escritura e adotando o pressuposto de que o relato da
criação é verdadeiro e consistente, vemos que a diferenciação macho-fêmea é
algo que Deus em sua infinita sabedoria arquitetou.
Temos aqui a base para a
diferenciação entre os sexos, algo que é biologicamente perceptível, e com
muita facilidade. Homens e mulheres têm aparências distintas, o corpo é uma
amostra gritante desta diferenciação. Sabemos que tal diferenciação é
cromossômica e hormonal. Geneticistas americanos descobriram o gene TDF,
encontrado apenas nos homens, este presente no par cromossômico XY. Portanto,
um gene entre cerca de 100 mil que formam a bagagem hereditária fundamenta o
motivo de haver sexo masculino e feminino[1].
Daí vem às demais distinções: O gene TDF é o formador dos testículos, e neles
temos a produção da testosterona, hormônio que influencia na composição do
corpo másculo com todas as suas particularidades. De igual modo, as mulheres têm
seus hormônios, progesterona e estrógeno, que atuam na formação das
características sexuais do corpo feminino.
Se ninguém nasce homem ou
mulher, qual o real sentido dessas diferenças tão perceptíveis em nossos
corpos? Se, como diz a ideologia de gênero (defendida por muitas feministas), a
pessoa escolhe ser o que quiser, independente do corpo e do sexo, aí temos uma
verdadeira construção que numa forma de aberração tenta lutar com a própria
natureza que desde o nascimento já deixa evidente quem nasce com o sexo
masculino e quem nasce com o sexo feminino. Uma construção antinatural e
inconsistente. Ponto para Bíblia, que sempre endossou o que diz a biologia.
Agora devemos observar o
seguinte: se é verdade que homens e mulheres são diferentes, também é verdade,
em certo sentido que iremos estudar, que são iguais. Observemos o relato mais
detalhado da criação do ser humano:
“Então
o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre o homem, e este adormeceu;
tomou-lhe, então, uma das costelas e fechou a carne em seu lugar, e da costela
que o SENHOR Deus havia tomado, formou a mulher e a trouxe ao homem”.
Gênesis 2. 21-22
Aqui encontramos algo que
distingue a concepção judaico-cristã da concepção de outros povos da
antiguidade: A mulher foi feita da mesma substância que o homem e não de uma
inferior, como criam algumas culturas da mesopotâmia e da palestina. Lemos
também em Gênesis 1.27 que adam, isto
é, o ser humano, foi criado a imagem de Deus, e isto engloba macho e fêmea. Para
um melhor entendimento, vejamos o versículo 2 do capítulo 5 do mesmo livro: “Criou o homem e a mulher; e os abençoou, e
os chamou pelo nome de Homem (Adam), no dia em que foram criados”.
Mulheres possuem valor,
tem dignidade e devem ser tratadas como seres humanos da mesma estatura que os
homens. Não são inferiores intelectualmente e/ou moralmente, como disseram
filósofos do gabarito de Aristóteles e até mesmo um iluminista como Voltaire. A
Bíblia nunca negou isso, pelo contrário, sempre reafirmou. Sabemos o quão
importantes foram as mulheres durante todo o ministério de Jesus Cristo, e que
sua primeira aparição após ter ressuscitado foi para três delas (Mc 16. 1-8).
Até mesmo o apóstolo Paulo, que muitas vezes é apontado como machista por boa
parte das feministas, teve um apreço enorme por muitas mulheres pelas quais
chamou de cooperadoras, recebendo honrosas menções em suas epístolas[2].
Agora devemos separar
muito bem as coisas. Igualdade não é o mesmo que igualitarismo. Deus dotou
homens e mulheres com características distintas e que se complementam. Esta
agenda feminista que exige que mulheres exerçam toda e qualquer função ocupada
por homens é um extremo que deve ser evitado. Mais uma vez é preciso se
fundamentar biblicamente para tratar a questão com coerência.
Papéis
Diferentes e Complementares
A base da relação homem e
mulher é a formação da família. Coube ao primeiro casal encher a terra e
sujeitá-la (Gn 1.28). A sociedade é o desdobramento da relação familiar e
dentro da família os papéis masculino e feminino estão bem delimitados. Em
Efésios 5. 22-33 temos a delimitação pormenorizada pelo apóstolo Paulo.
No referido texto, Paulo
começa dizendo que as mulheres precisam se submeter aos seus maridos. Esta
submissão é como sendo uma sujeição ao próprio Cristo. Mas isto não quer dizer
que o homem pode tratar a mulher como um lixo e que a mesma tem que se sujeitar
a uma situação humilhante. Não! É preciso entender que o papel do marido é
semelhante ao de Jesus. O marido é o cabeça do lar, mas sua liderança é a de
líder-servo. Jesus amou a igreja ao ponto de se entregar por ela, de igual
modo, os maridos devem portar um amor altruísta e sacrificial, exercendo sua
liderança não pela força bruta, mas amando. É fato que o homem é biologicamente
mais forte que a mulher, e muitos se utilizam desta maior força física para
subjugá-las. Paulo ensina que o verdadeiro homem, que se parece com Cristo,
abdica de sua força e não exerce um domínio violento. O amor é o elemento pelo
qual os maridos exercem sua liderança familiar.
Se no casamento, os papéis
são bem definidos, o mesmo vale para a igreja. Biblicamente, cabe ao homem o
papel de liderança, o que não quer dizer que este seja um crápula pelo simples
fato de liderar. O que torna um homem inapto para exercer liderança é a
deturpação do princípio bíblico de que liderar é servir e todo o serviço
cristão é pautado em amor. A liderança masculina é inerente à ordem criacional
e Satanás tentou inverter quando tentou Eva e esta influenciou Adão. O resultado
foi o mais desastroso entre todos os desastres. O pecado surgiu com a inversão
da ordem estabelecida por Deus. De igual modo, não pode haver na igreja uma
contraversão que coloque mulheres exercendo autoridade sobre os homens. Daí a
inconsistência do pastorado feminino, que em nenhum local da Escritura encontra
respaldo, muito pelo contrário (veja p. ex., 1 Tm 2. 11-14).
As mulheres não estão
segregadas ao ostracismo, elas podem ser ativas e são. Muitas mulheres na
história da igreja foram úteis em ministérios de oração, educação infantil,
ação social e evangelização. Não foram poucas as mulheres que educaram homens
que se tornaram pastores fiéis, e que por meio da pregação ortodoxa
glorificaram a Deus e trouxeram muitos ao arrependimento. Estes ministérios não
podem ser encarados como inferiores. Tem muita importância e glorificam a Deus.
As mulheres não exercem liderança oficiosa sobre os homens, este é o ponto. O
igualitarismo não fará com que as mulheres se sintam algo a mais por fazerem
exatamente aquilo que fazem os homens. O que dá sentido a vida de alguém é a
noção de que se está fazendo aquilo que Deus requer para si de forma fiel e
amorável.
Ademais, existe uma
compatibilidade no binômio macho-fêmea que os tornam um por meio do matrimônio.
Deus criou Eva para ser uma auxiliadora idônea (Gn 2.28) e aqui temos dois
sentidos. Podemos interpretar como mesma estatura ao ponto de Adão poder
olhá-la diretamente, olhos nos olhos, e também podemos inferir que seja o
correspondente a posição oposta, a banda que forma um todo. Assim, toda mulher
que foge do casamento e da maternidade (ou adia) para se dedicar a uma carreira
profissional, achando que irá se realizar na vida, comete um equívoco e
alcançará frustração, pois, está abnegando daquilo que é sua incumbência
natural. Não afirmo que não possa trabalhar e almejar um bom cargo, apenas saliento
que estes devem ser objetivos secundários.
Um
abismo chama outro abismo
Quando o feminismo surgiu,
algumas pautas eram até justas[3],
todavia, o movimento se perdeu em pressupostos marxistas e tentaram redefinir o
papel das mulheres na sociedade. Para os coletivos feministas-marxistas, o
modelo patriarcal é basilar para o sistema capitalista e por isso é necessário
subverter o papel da família para se atingir os ideais revolucionários e
estabelecer o regime do proletariado. Acontece que a subversão não para por aí.
Após a proposta de
redefinição do papel social da mulher, houve a defesa de uma redefinição da
sexualidade. Sexo livre e homossexualidade foram os primeiros frutos colhidos.
Muitas lésbicas endossaram os coletivos feministas e pregaram a legitimação do
casamento gay. Atualmente a ideologia de gênero é pauta principal, juntamente
com a legalização do aborto, pois, afirmam que a mulher tem o direito de fazer
o que quiser com o seu corpo. Quer algo mais anticristão do que os assuntos
elencados? O moderno movimento feminista é mais um instrumento nas mãos do
marxismo cultural para doutrinar a sociedade com conceitos divergentes daquilo
que o cristianismo sempre apregoou e tem ganhado cada vez mais espaço nos
governos de esquerda, tornando-se pastas que abertamente lutam pela emancipação
feminina, associadas aos grupos LGBT’s e outras ditas minorias.
Recentemente, um vídeo campanha
protagonizado por atores globais exaltou o direto da mulher de decidir
interromper a gravidez. A campanha intitulada “Meu corpo, Minhas regras”
tem 30 mil “deslikes” a mais do que likes, demonstrando que a sociedade não
digere bem este tipo de abordagem leviana e pobre. Existe uma moção de repúdio
contra o vídeo (você pode assinar clicando aqui). O corpo da criança não nascida não é uma extensão do corpo da mãe. E
pouco importa o tempo de semanas do embrião. O que há no ventre da mulher é um
ser vivo e portador da imago Dei, é
assim que trata a Escritura (Gen. 25:22; Jer 1.5; Sal 22:9-10; 71:6). Perceba que
a filiação antecede o nascimento de acordo com Lc 1.36, 41, 44. Logo, abortar é
assassinato, um pecado hediondo e que Deus sempre puniu com severidade.
À guisa de conclusão, fica
nítida a inconsistência entre os ideais feministas - intoxicados de marxismo -
e o ensino bíblico. O materialismo e o construtivismo são pensamentos que
contrastam com o Evangelho, este último, é metafísico e sustenta a ordem
criacional. Por isso, estejamos alertas e combativos. Quando o feminismo
começar se infiltrando em nossas congregações, usemos a Bíblia para que este
mal seja arrancado fora do seio da Igreja. Fiquemos com o compatibilismo de Gênesis
1.27:
“Deus
criou o homem à sua imagem; a imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou”.
[1]
Saiba mais clicando aqui: http://super.abril.com.br/ciencia/cromossomos-coisa-de-homem
[2]
Seria bom ler o Capítulo 16 de Romanos e contar quantas mulheres são saudadas
pelo apóstolo Paulo.
[3]
Direito ao voto, direito a educação e salários iguais para funções iguais
exercidas por funcionários homens são exemplos de pautas que considero justas.
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