Por Thiago Azevedo
Não
surpreende mais ninguém ver as histórias bíblicas sendo reconstruídas mundo afora.
Muitos produtores de filmes se aventuraram em reconstruir as histórias
encontradas nas páginas da Bíblia. Foi assim com Mel Gibson, Darren Aronofsky,
Ridley Scott e outros. Respectivamente falando, eles produziram “A Paixão de
Cristo”, “Noé” e “Êxodo: Deuses e reis”. Tive a oportunidade de ver os três, e
o que se aproximou mais do que a Escritura relata fora o primeiro dessa lista.
Os outros dois distorcem e muito o texto bíblico, e sem dúvidas, não teríamos
como mencionar todas as incoerências ali encontradas.
Por exemplo, no filme, “Noé”, quando o
comparamos com a Bíblia, há algumas pessoas a mais na arca. A primeira pessoa é
Tubalcaim, que adentra na arca por sua lateral. Uma vez lá dentro, o indivíduo
mata alguns animais e tenta induzir um dos filhos de Noé a matar o próprio pai.
Isso sem falar numa filha adotiva que Noé leva consigo no interior do grande
barco. No que tange ao filme “Êxodo: Deuses e Reis”, as incoerências são também
inúmeras, portanto, não temos como destacar todas, mas sim algumas. Primeiro, a
infantilização da pessoa divina nas aparições de Deus. Parece-nos que Deus fora
retratado de forma tendenciosa como sendo malévolo, mimado e mal-humorado –
tendencioso demais. Quando faraó aparece com seu primogênito morto em mãos fica
claro que a intenção é de mostrar um Deus perverso e mal. Porém, naquela época,
havia diversas divindades pagãs que exigiam crianças sacrificadas em sua
liturgia – Moloch é um bom exemplo. Outra aberração foi quando a praga das
águas transformadas em sangue se deu por meio de ataques de crocodilos – essa
não merece nem ser comentada. E por fim, a passagem de Israel pelo mar vermelho
se dá em proveito de uma maré baixa. A Bíblia é clara e nos informa que Israel
passou pelo mar vermelho a pés enxutos, pois este se abriu formando grandes
muros d’água.
A
Rede Record de Televisão já se aventurou muito na reconstrução de diversas histórias
bíblicas; “José”, “Os Milagres de Jesus”, “O rei David” foram apenas algumas das
minisséries que a emissora reconstruiu e extraiu das páginas da Bíblia. No
presente momento a emissora está apresentando a telenovela intitulada “Os Dez
Mandamentos”. A trama aborda a vida do patriarca Moisés e sua vida no antigo
Egito. Evidentemente que se olharmos a programação da televisão brasileira como
um todo, e se alguém não tiver outro recurso que lhe forneça uma programação
mais diversificada e saudável como filmes, minisséries ou documentários, a
telenovela “Os Dez Mandamentos” ainda é de grande proveito. Porém, isso não
significa dizer que não devamos assisti-la sem as lentes das Escrituras Sagradas
e sob o crivo de 1 Tessalonicenses 5:21 para pormos tudo a prova. Em dado capítulo
da telenovela, Moises teve seu cajado roubado! Isso mesmo! A pergunta que vem à
mente é clássica: onde há essa informação na Bíblia? O problema de tudo é que
ao se tentar remontar uma história bíblica, as adaptações se fazem necessárias,
pois as informações que foram registradas da época bíblica são escassas. E é
justamente neste momento que habita todo perigo – as adaptações dizem algo que
a Bíblia não diz. Em um dos mais recentes capítulos, e diríamos que o principal
até agora, se retratou a abertura do mar vermelho, onde todo o povo israelita
passou a pés enxutos e o séquito de faraó padeceu submerso. Porém, faraó
contemplou do alto de uma colina toda destruição de seu exército. Por sinal,
essa interpretação acerca de faraó e da travessia do mar vermelho, a qual
sempre faraó fica vivo, não é “privilégio” da telenovela “Os Dez Mandamentos”. Na
maioria dos filmes que tentam remontar essa história, faraó sempre sai com
vida. Porém, precisamos abordar este fato de acordo com A Bíblia. Vejamos
alguns textos:
Êxodo
9: 15-16
“Porque
eu já poderia ter estendido a mão, ferindo você e o seu povo com uma praga que
teria eliminado você da terra. Mas eu o mantive de pé exatamente com este
propósito: mostrar-lhe o meu poder e fazer que o meu nome seja proclamado em
toda a terra”
Entendemos
que havia alguns propósitos divinos para o período em que faraó viveu. Um dos
principais propósitos era que o nome de Deus fosse anunciado em toda a terra.
Faraó serviria como uma espécie de mola propulsora do povo israelita e do
próprio Deus, o próprio Deus o levantou para este fim. Outro detalhe é que Deus
deixa claro, que se quisesse, já teria eliminado da terra faraó.
Êxodo
14: 17-18
“Eu,
porém, endurecerei o coração dos egípcios e eles os perseguirão. E serei
glorificado com a derrota do faraó e de todo o seu exército, com seus carros de
guerra e seus cavaleiros. Os egípcios saberão que eu sou o Senhor quando eu for glorificado com a derrota
do faraó, com seus carros de guerra e seus cavaleiros".
Deus está alegando por meio de Moisés que se gloriará na
derrota de faraó, essa informação ocorre
duas vezes nos dois versículos. Logo, uma derrota de faraó sem morte, não seria
uma derrota completa. Mas, todo o problema recai sobre a palavra derrota, ela
não significa, necessariamente, que faraó morreu afogado.
Êxodo 14:23
“E os egípcios os seguiram, e entraram atrás
deles todos os cavalos de Faraó, os seus carros e os seus cavaleiros, até ao
meio do mar”.
O texto diz que todos os cavalos de faraó entraram no mar,
logo se todos os cavalos de faraó entraram no mar, então o cavalo de faraó
também entrou no mar. E sendo assim, quem estaria usando o cavalo de faraó se
não o próprio? Porém, muitos ainda podem dizer que não fica claro e evidente
que faraó morreu afogado.
Salmos 136:15
“Mas lançou o
faraó e o seu exército no mar Vermelho; O seu amor dura para sempre”.
Será que agora
restam dúvidas quanto à morte de faraó na passagem do mar vermelho? Utilizamos
aqui o texto da NVI, noutra tradução temos o seguinte: “Derrubou a faraó com seu
exército no mar vermelho” (Grifo nosso). A palavra utilizada no
hebraico é נִעֵר que possui a mesma raiz da palavra “rugir”,
do leão. De acordo com suas modalidades verbais, significa também “lançar para
fora”, “sacudir”, “jogar fora”. Neste caso, a NVI se aproxima mais do original.
A palavra encontra-se na forma passiva, faraó sofre a ação junto com todo seu
exército (a mesma palavra é usada em Êxodo 14: 27 no texto da travessia do mar
vermelho em que os egípcios foram lançados e sacudidos no mar). Os produtores
dos “Dez Mandamentos” se ativeram apenas ao texto de Êxodo e se esqueceram de
que a Bíblia é um conjunto literário que se completa – A própria Bíblia se
responde.
Nosso conselho
aos que se aventuram numa tentativa de remontar as histórias bíblicas em filmes,
novelas ou seriados, diretores e produtores, internacionais ou nacionais, aconselhamos
que leiam a única fonte que vocês podem usar como base para tais produções, a
saber, A Bíblia. Procurem ser fiéis aos relatos ali contidos e não as suas
próprias imaginações férteis e marcadas pelos interesses visionários lucrativos
da atualidade. Sabemos que os interesses hollywoodianos visam tão somente os
lucros, e como o Brasil é a caixa receptora de tudo isso, o perigo se faz
eminente. Outro conselho que damos se direciona ao público que acompanha a
telenovela “Os Dez Mandamentos” ou qualquer outra produção desta natureza. A
importância da leitura do texto sagrado. Nada será melhor e mais importante que
este procedimento. Ver estas produções é até um exercício salutar para aqueles
que leem e conhecem o texto Bíblico, assim se tornará mais fácil identificar as
possíveis desconexões. O entretenimento possui uma sutileza em enganar, alterar
e adulterar um fato. Mas, geralmente, sem ser percebido pelo telespectador
desatento.
Por fim, há de
fato um caráter pedagógico intrínseco às imagens; filmes, seriados, telenovelas
etc., porém você pode estar aprendendo algo errado e que não existiu. Você pode
está se nutrindo de informações desconexas com da fonte principal que é A
Bíblia. Moisés nunca teve seu cajado roubado e faraó morreu na travessia do mar
vermelho. Noé nunca levou uma filha adotiva na arca e nem a praga das águas,
transformadas em sangue no antigo Egito, se deu por meio dos ataques de
crocodilos. A Bíblia não mostra Deus como uma criança mimada, até mesmo porque
a Deus não se aplica as fases da vida – criança, adulto e idoso –, tudo Isso
não passa de invenção!
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