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29 de fev. de 2016

Cristo: Nosso Formoso Ajudador

Por Thiago Oliveira

Texto Base

1 João 2:1-6

1. Meus filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo.

2. Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo.

3. Sabemos que o conhecemos, se obedecemos aos seus mandamentos.

4. Aquele que diz: "Eu o conheço", mas não obedece aos seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele.

5. Mas, se alguém obedece à sua palavra, nele verdadeiramente o amor de Deus está aperfeiçoado. Desta forma sabemos que estamos nele:

6. aquele que afirma que permanece nele, deve andar como ele andou.

Introdução

João, provavelmente era muito idoso ao escrever esta epístola. Ele usa um tom muito terno para falar com a igreja. O termo “meus filhinhos” demonstra o amor e o afeto que este homem nutria pela igreja do Senhor. E após demonstrar a universalidade do pecado e seus efeitos nocivos (Capítulo 1), diz que seu objetivo é fazer com que os irmãos não pequem. A pergunta que surge é: Mas como? Se todos somos pecadores e se dissermos que não temos pecado estaremos mentindo, como não pecar?

Aqui veremos a nossa incapacidade de vencermos sozinhos e de uma maneira bastante clara, entenderemos qual o papel de Cristo e como ele atua em nós depois que o conhecemos e nos convertemos a sua pessoa. A singularidade do Evangelho, uma religião da graça, fica evidente nos versículos que se seguem.

O Papel de Cristo (1-2)

Alguns cristãos não entendem a graça. Vivem uma vida de legalismo e incerteza, pois, acham que por terem pecado, perdem a salvação e precisam fazer algo por conta própria afim de reverter esta situação e não serem pegos de surpresa quando Cristo voltar para apanhar os que são seus. Não é isto que diz a Escritura. A salvação pertence ao Senhor (Jn 2.9). Se Cristo nos resgatou e nos salvou por sua graça, não há nada que nos tire de suas mãos. Você só perde aquilo que está sob a sua responsabilidade, não é o caso da salvação. Jesus quando verteu seu sangue na cruz, cobriu nossos pecados passados, presentes e futuros. O que você fez de errado e o que ainda fará repousa no perdão de um salvador que é misericordioso e que não deixou a sua obra expiatória , isto é, quando tomou para a si a punição que nós deveríamos cumprir, incompleta.

Todavia, também a quem não compreenda a graça e aja de uma forma leviana, achando que por termos o perdão dos nossos pecados, a nossa consciência não deve pesar ao infligirmos às leis de Deus. Quem assim procede não compreendeu o evangelho e possivelmente é alguém que não foi regenerado pelo Espírito Santo. Temendo esse entendimento errôneo, o apóstolo João diz “escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem”. Mas e se pecarmos? Evidente que pecaremos, e quando isto acontecer, o nosso Salvador entra em ação na função de parakletos.

O que em algumas versões leva o termo de “advogado” e em outras “intercessor” é a palavra grega parakletos. Em seu uso comum, ela indica alguém que se coloca do lado de outrem com a finalidade de ajudar. Essa ajuda pode vir em forma de consolo ou sustento, mas aqui, a ideia é de alguém que se lança em defesa de uma pessoa. Por isso que os tradutores em língua portuguesa traduziram esta palavra como “advogado”. Ora, este é o papel de quem advoga, defender a causa do seu cliente. Nesse caso, Jesus comparece diante de Deus Pai e fala em nosso favor, para que assim, o Supremo Juiz tenha misericórdia de nós, pobres pecadores. Mas Cristo só defenderá os pecadores arrependidos que vão até ele implorando para que ele tome nosso caso em suas mãos e interceda em favor de nós. O Messias não é do tipo “advogado de porta de cadeia”. Precisamos ir até a sua presença e rogar pelo perdão. Se nosso coração não estiver contrito e o pecado não nos entristece, não teremos a mediação do nosso Parakletos diante d’Aquele que é Senhor e Juiz. Mas se nos arrependermos e confessarmos, o Salmista nos diz: “um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás” Salmos 51:17. Assim temos a certeza de que o Senhor será conosco.

E qual o argumento de Cristo ao interceder ao nosso favor? Ele apela para a sua própria justiça. Como ele é justo e foi obediente em todas as coisas, ele tem as credenciais para nos conferir justiça. Se somos absorvidos no tribunal celestial, é graças a Jesus Cristo, o justo. Por isso ele deve ser magnificado e exaltado em nossas vidas. Se passarmos 24 horas do dia, sete dias por semana, agradecendo ao nosso Salvador, ainda seria muito pouco se comparado a grande obra que ele fez pelos que são seus. O Evangelho não é uma religião de obras, pois, “Pela graça sois salvos, mediante a fé, e isso não vem de vós, é dom de Deus, não vem de obras para que ninguém se glorie”. Efésios 2.8-9. Toda glória seja dada ao Cordeiro Santo, Filho de Deus, nosso SENHOR!

A outra função de Cristo é a de aplacar a Ira de Deus e nos reconciliar com Ele. Por isso que o apóstolo João nos diz que ele é a nossa propiciação. Este termo remete ao sacrifício feito no Templo. O sumo-sacerdote sacrificava um animal que tomava o lugar do homem pecador e o sangue do sacrificado era aspergido no propiciatório. Ali a Ira de Deus era apaziguada, ou para ser mais literal, desviada. E porque motivo Deus se ira? Pelo pecado! Uma coisa que deve ficar muito clara para todo cristão é que um Deus Santo não pode conviver com o pecado. Sua ira não é uma cólera sem motivo, mas sim, algo que visa à preservação de sua santidade. A santidade divina jamais deverá ser maculada, e por isso todo o pecador seria fulminado diante de Deus. E por que não somos? Porque Jesus desviou para si a Ira de Deus. Ele sentiu na pele e fez isso por amor. Cristo torna vívido aquele versículo que diz “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim” Lamentações 3:22.

E o sacrifício de Cristo é universal. Não ficou restrito aos judeus. Ele é a propiciação “pelos pecados de todo o mundo”. Como diz em Apocalipse 5:9: "Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação”.

A Santificação que Opera em Nós (3-6)

Após tratar sobre a remissão, João falará daquilo que a sucede, a saber, a santificação. Se Cristo nos perdoa, intercede ao nosso favor e apazigua a ira divina, nos reconciliando com o Pai, ele também faz brotar em nós santidade, moldando o nosso caráter ao dele. Por isso que a obediência aos mandamentos do Senhor é uma clara evidência da nossa salvação. Não somos salvos por termos realizado boas obras, mas a Escritura é clara quando afirma que somos salvos para tal (vide Efésios 2:10). Se os mandamentos são um reflexo do caráter santo de Deus, nós só cumpriremos estes mandamentos se este divino caráter estiver sendo formado em nós. Por isso, aquele que conhece a Deus deve ser alguém marcado com o zelo pela obediência a Palavra de Deus.

A fé cristã não se resume a um assentimento teórico. Precisamos vivenciar a nossa fé e com um bom testemunho a graça de Deus vai sendo manifesta através de nossas vidas. Quem se diz conhecedor da Palavra e não a pratica, está mentindo, e não possui a verdade. Quem obedece a Palavra tem o amor de Deus aperfeiçoado em si e demonstra que é alguém que faz parte do rebanho do Supremo Pastor.

“Aquele que afirma que permanece nele, deve andar como ele andou”. A força dessas palavras deve nos impelir a olharmos para nós mesmos e fazer uma avaliação. Será que temos levado o evangelho a sério? Trazemos conosco o nome de cristãos e nos damos conta da responsabilidade que esta nomenclatura representa? Um cristão é um “pequeno Cristo”, um seguidor que caminha na direção em que seu Mestre aponta. Mas e o pecado? Ele não nos impede de seguir a Cristo? Sim! Contudo, somos o que Lutero sabiamente chamou de “pecadores e justos”. Embora ainda tenhamos a nossa natureza carnal, os que Cristo comprou com seu sangue foram declarados justos e herdaram a sua justiça. Assim, não teremos mais uma vida desregrada, pecando de maneira indiscriminada e sem pesar. O pecado irá nos rondar, vez ou outra cairemos, mas diferente do tempo em que não conhecíamos a Cristo, estamos sob processo de santificação.

Certa feita, determinado pregador ilustrou da seguinte maneira a santificação: Imaginemos um carro que corta diversos lugares pela estrada. Com frequência, seus pneus estouram e precisam ser trocados, mas o motorista apenas remenda-os. Digamos que isso ocorre a cada 2 mil quilômetros. Este seria o carro do pecador que não se arrependeu de seus atos e não se entregou a Cristo. Já o convertido, que está sendo santificado dia após dia, este tem um percurso mais tranquilo. Seu pneu será trocado a cada 40 mil quilômetros, pois, quando estourar, será trocado por um novo. A troca de pneus é uma ilustração do ato de pecar. Alguém santificado é alguém que peca, mas com uma menor intensidade e gravidade que um incrédulo. Perfeição? Esta será obtida apenas na Glória, quando de fato nos tornaremos santos de uma maneira que nos será impossível pecar.

Nosso anseio é vislumbrar uma Igreja em que os santos valorizem o nome que carregam. Que saibam lidar com a graça, não tendendo para o legalismo e nem para a libertinagem. Que sejam seguros do que fez por ela o seu Formoso Ajudador. Entregando-se voluntariamente “para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável”. Efésios 5:26,27

Aplicações

Compreendo que a graça não pode ser barateada e nem acrescida por obra alguma? Quando se acrescenta algo ao evangelho, mesmo tendo uma boa intenção, o evangelho acaba se corrompendo. Focalizemos a pessoa e a obra de Cristo e tenhamos total confiança nele.

Estou ciente de que como cristão preciso ostentar uma conduta que evidencie que passo por um processo de santificação? Tenho me portado como um santo neste mundo?

Será que ainda trago comigo pecados da minha vida pregressa? Por que não consigo deixa-los e vez ou outra eles voltam à tona? Talvez o que falta seja uma fé que repousa naquele que é o nosso parakletos, único capaz de nos tornar justos. Que hoje seja um tempo de contrição e confissão. 

26 de fev. de 2016

Aliança da Redenção

Por Michael Horton

Quase todas as alianças bíblicas são pactos históricos feitos por Deus com suas criaturas. A aliança da redenção, porém, é um pacto eterno entre as pessoas da Trindade. O Pai elege um povo no Filho, como seu mediador, que será levado à fé salvadora por meio do Espírito. Assim, a aliança feita pela Trindade na eternidade já leva em conta a queda da raça humana. Escolhidos dentre a massa condenada da humanidade, os eleitos não são melhores ou mais bem qualificados que o restante. Deus simplesmente escolheu, de acordo com a sua própria liberdade, demonstrar a sua justiça e a sua misericórdia, e a aliança da redenção é o ato de abertura desse drama da redenção.

Já podemos ver como uma estrutura pactual desafia a ideia de um déspota solitário. O Pai elege um povo no Filho por meio do Espírito. Nossa salvação, portanto, surge primeiro pela solidariedade das pessoas da divindade. A alegria de dar e receber, experimentadas pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo derrama-se, por assim dizer, sobre o relacionamento Criador-criatura. Na aliança da redenção, o amor do Pai e do Espírito pelo Filho é demonstrado na dádiva de um povo que o terá como sua cabeça viva. Ao mesmo tempo, o amor do Filho pelo Pai e pelo Espírito é demonstrado pelo seu compromisso de redimir essa família a um grande custo pessoal.

É por isso que não devemos procurar o decreto secreto de Deus na predestinação ou tentar encontrar evidência dela em nós mesmos, mas, como insistia Calvino, ver Cristo como o “espelho” de nossa eleição. A predestinação de Deus nos é escondida, mas Cristo não é. O desvendar do mistério oculto em eras passadas, a pessoa e a obra de Cristo, torna-se o único testemunho confiável da nossa eleição. Aqueles que confiam em Cristo pertencem a Cristo e são eleitos em Cristo.

Até aqui ofereci algumas definições, mas ainda não apresentei qualquer defesa bíblica. Essa aliança da redenção é produzida por especulação teológica ou por cuidadosa interpretação bíblica?

Em resposta a essa pergunta, devemos observar primeiro que alguns teólogos reformados contemporâneos sugerem que a Escritura é silenciosa sobre essa aliança eterna. Contudo, esse mesmos escritores afirmam a doutrina reformada tradicional da eleição: Deus escolheu muitos da raça condenada de Adão para estarem em Cristo, à parte de qualquer coisa pertencente ou prevista naqueles que foram escolhidos e de acordo somente com a livre graça de Deus. Se nos ativermos simultaneamente à doutrina da Trindade e da eleição incondicional, não fica claro que objeção poderia ser feita, a princípio, para descrever esse decreto divino em termos do conceito de uma aliança eterna entre as pessoas da Divindade. Segundo, não contamos apenas com argumentos a partir do silêncio. No ministério de Cristo, por exemplo, o Filho é representado (especialmente no quarto Evangelho) como tendo recebido do Pai um povo (Jo. 6:39; 10:29; 17:2,4-10; Ef. 1:4-12; Hb. 2:13 citando Is. 8:18), que é chamado e guardado pelo Espírito Santo para a consumação da nova criação (Rm. 8:29,30; Ef. 1:11-13; Tt.3:5; 1 Pe. 1:5). Na verdade, afirmar a aliança da redenção é algo mais que afirmar que a auto-entraga do Filho e a obra regeneradora do Espírito foram a execução do plano eterno do Pai. Não somente fomos escolhidos em Cristo “antes da fundação do mundo” (Ef. 1:4), mas também o próprio Cristo é referido como “o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap. 13:8).

A aliança da redenção destaca a soberania e a liberdade de Deus na graça eletiva, como também o caráter trinitariano e especificamente cristocêntrico desse propósito divino. Tudo acontece “em Cristo”; assim a ênfase na teologia da aliança sobre o tema de “Cristo, o mediador”. Mesmo antes da criação e da queda, os eleitos estavam “em Cristo” em termos do propósito divino para a História, ainda que não na História em si. Longe de ser resultado de especulação abstrata, esse conceito da aliança da redenção é um ensinamento revelado da Escritura e a melhor defesa contra essa especulação. Sempre que a soberania de Deus na predestinação for fortemente defendida fora de um arcabouço de aliança, a revelação concreta de nossa eleição em Cristo, de acordo com a promessa do evangelho, cede a debates teóricos que nos levam a especulações sem fim sobre os conselhos escondidos de Deus.

Apesar desse consenso passado, teólogos reformados em nossos dias não estão unanimemente persuadidos que o decreto eterno pode ser formalizado como uma aliança com base na exegese. Por exemplo, O. Palmer Robertson reconhece o decreto eterno:

Mas afirmar o papel da redenção nos conselhos eternos não é o mesmo que propor a existência de uma aliança pré-criação entre Pai e Filho. Um sentido de artificialidade tempera o esforço de estruturar em termos pactuais os mistérios dos conselhos eternos de Deus. A Escritura simplesmente não diz muito sobre o formato pré-criação dos decretos de Deus. Falar concretamente sobre uma “aliança” intertrinitariana [sic] com termos e condições entre Pai e Filho, mutuamente aprovados antes da fundação do mundo, é estender os limites da evidência das Escrituras além do que é próprio [1].

Além do mais, como uma “disposição soberana” poderia ser verdadeira no caso da Trindade?

Aqui vemos novamente os perigos inerentes a uma definição estreita demais de aliança. Nas passagens citadas acima, parece claro que as pessoas da Trindade estavam envolvidas numa disposição “pré-temporal” de alguma espécie: a eleição de um povo dado ao Filho como mediador a ser preservado pelo Espírito. Nessas passagens, especialmente no Evangelho de João, Jesus fala repetidas vezes de “aqueles que tu me deste” (17:6,9,11,12). A própria noção de mediação soteriológica requer alguma espécie de concordância de juramento. Na verdade, é exatamente essa aliança trinitariana que é capaz de contrabalancear uma tendência hipercalvinista de soteriologia unitariana em que “Deus” (isto é, o Pai) soberanamente decreta a salvação e reprovação sem ser pela operação do Filho e do Espírito. Uma soteriologia trinitariana emerge necessariamente dessa ênfase. “Assim como a bênção de Deus existe na relação livre das três Pessoas do Ser adorável, do mesmo modo, o homem encontrará bênção no relacionamento pactual com Deus”, escreve Vos [2].

Parte da dificuldade para os intérpretes é que essas passagens não identificam especificamente o decreto como uma aliança. No entanto, como já vimos, a aliança davídica só foi reconhecida como tal pelos profetas muito mais tarde (Sl. 89 e 132). Apesar de sua acusação de que essa doutrina de aliança é especulativa, o próprio Robertson introduz alianças antes jamais ouvidas. Além das alianças com Noé, Abraão, Moisés e Davi, ele acrescenta “uma aliança de começo” (com Adão pós-lapsariano) e uma “aliança de consumação” (Cristo) , nenhuma das quais é identificada especificamente como aliança na Escritura. Certamente a Escritura não reconhece o tipo de tratado de suserano-vassalo entre as Pessoas da Trindade. Afinal, cada pessoa é igualmente divina: não há senhores e servos no relacionamento trinitariano eterno. Além do mais, não existe uma estrutura formal de tratado nessa aliança da Escritura – nenhum prólogo histórico, nem estipulações, nada de sanções, e assim por diante. Já vimos, porém, que nem todas as alianças bíblicas se encaixam no estilo de suserania. Só uma definição exageradamente restrita de aliança poderia justificar a ideia de que a aliança da redenção é especulativa e não bíblica.

Portanto, a aliança da redenção é tão claramente revelada na Escritura quanto a Trindade e o decreto eterno de eleger, redimir, chamar, justificar, santificar e glorificar um povo para o Filho. Ao mesmo tempo, esse propósito eterno teria permanecido escondido de nós se não tivesse sido realizado em nosso tempo e espaço. É aí que se dá maior atenção bíblica. Enquanto a aliança da redenção é eterna e tem como participantes as pessoas da Divindade, as alianças da criação e da graça se desenrolam na história humana e tem como parceiros o Criador e criatura.

Uma das declarações mais sucintas desse esquema das duas alianças históricas se encontra no capítulo sete da Confissão de Fé de Westminster:

A distância entre Deus e a criatura é tão grande que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como seu Criador, nunca poderiam fruir nada dele, como bem-aventurança e recompensa, senão por voluntária condescendência da parte de Deus, a qual agradou a ele expressar por meio de um pacto. O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e, nele, à sua posteridade, sob condição de perfeita e pessoal obediência. Tendo-se o homem tornando, pela sua queda, incapaz de ter vida por meio desse pacto, o Senhor dignou-se a fazer um segundo pacto, geralmente chamado de pacto da graça; nesse pacto da graça ele livremente oferece aos pecadores a vida e a salvação por meio de Jesus Cristo, exigindo deles a fé nele, para que sejam salvos, e prometendo o seu Santo Espírito a todos os que estão ordenados para a vida, a fim de dispô-los e habilitá-los a crer.
___________

[1] Robertson, Christ of the Covenants, 54
[2] Vos, Redemptive History and Biblical Interpretation, 245

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Trecho do livro O Deus da Promessa - Introdução à Teologia da Aliança. Ed. Cultura Cristã

24 de fev. de 2016

Entrevista Exclusiva com David T. Koyzis


David T. Koyzis é um cientista político canadense, autor do livro Visões e Ilusões Políticas, uma das melhores obras de teoria política sob uma perspectiva cristã. Procurado pela equipe do nosso blog, aceitou de bom grado responder 5 perguntas que foram elaboradas por nossos editores (Thiago Oliveira e Thomas Magnum), nos concedendo uma entrevista exclusiva e com excelentes respostas - que podem auxiliar aqueles que estão começando a se interessar pelo assunto e querem aprender mais a respeito de política. 

Agradecemos ao Alison Aquino, do blog Pelo Calvinismo, que deu uma tremenda ajuda na tradução. 

Entrevista

Electus (E): Parece que chegamos na “era dos extremos”. Na política mundial, conservadores e progressistas estão cada vez mais tendendo ao radicalismo em seus discursos. As redes sociais parecem alimentar esse extremismo. O que o Senhor tem a dizer a respeito? Acredita que esta “era” já chegou?

Koyzis (K): É verdade, muitos discursos políticos têm soado extremos, um exemplo atual se vê na campanha eleitoral para a presidência nos EUA . E, sim, mídias sociais, como o Facebook, incentivam este tipo de coisa. Por outro lado, se formos um pouco mais longe, nos anos 1920 e 30, vemos que foi uma época consideravelmente pior, com o comunismo, o fascismo e nacional-socialismo (nazismo) no poder sobre um grande número de pessoas no continente eurasiano. Graças a Deus, não temos, Hitler’s, Mussolini’s e Stalin’s, no século 21. Hoje, as mais poderosas visões ideológicas são muito mais sutis, fazendo sentir a sua presença através da mídia, educação e até mesmo nas igrejas, que usam de sua influência para persuadir as pessoas a aceitarem suas interpretações da realidade, inclusive na vida política.

E: O Brasil ainda está engatinhando nas ideias conservadoras e liberais, pois, há muito tempo, principalmente após o Regime Militar, os pensamentos marxistas dominam a nossa política. De forma geral, e também entre os cristãos protestantes, os brasileiros estão conhecendo autores conservadores como Roger Scruton, Russell Kirk e Edmund Burke. Qual a sua avaliação de possíveis aproximações do pensamento político cristão do conservadorismo - mais precisamente britânico?

K: Definitivamente, existem possibilidades de ter alguma forma de aproximação, mas os cristãos fariam bem em ter cautela. Muitos conservadores, como Aleksandr Solzhenitsyn, Russell Kirk e Pe Richard John Neuhaus, eram de fato os cristãos sérios que, tanto quanto podemos dizer, realmente acreditavam na verdade da fé. Mas outros conservadores abraçam o cristianismo, não necessariamente porque é verdade, mas porque tem um certo valor utilitário na defesa da moral pública.

Conservadorismo, no seu melhor, oferece conselhos sábios em face das ideologias transformacionais que visam revolucionar a sociedade, sob o pretexto de começar de novo ao longo de linhas mais ostensivamente racionais. Escrevendo em 1790, Burke previu com surpreendente clareza o futuro da Revolução Francesa e do seu resultado provável nas mãos de um governante tirânico. Ele entendeu que, apesar das aparências superficiais, os franceses foram finalmente substituindo a monarquia absoluta com o governo constitucional, havia um espírito destrutivo em geral que traria a revolução para um fim nada bom. Ele estava certo, é claro, e é por isso que continuo a ler os escritos de Burke hoje.

Por outro lado, conservadores (de carne e osso) estão por todo o mapa político quando se trata de princípios políticos específicos. Konstantin Pobedonostsev (1827-1907), tutor conservador para os dois últimos czares russos, defendeu o absolutismo monárquico, enquanto os conservadores norte-americanos dificilmente concordariam. Conservadores canadenses defendem uma monarquia constitucional e um governo parlamentar, enquanto os conservadores americanos defendem a separação dos poderes instituídos por seus fundadores na década de 1780. Onde eles estão propensos a concordar é em afirmar que o governo não pode fazer tudo. Mas isso não é suficiente para expor uma visão de governança justa em uma sociedade complexa. Então, não, os cristãos não podem se contentar em serem conservadores, mesmo quando podemos vê-los como aliados em questões específicas.

E: As ideias políticas são frutos de cosmovisões. Temos dentro de centros acadêmicos grande parte da doutrinação em ideologias políticas que são frutos de uma cosmovisão. Que conselho você dá aos jovens cristãos que tem estudado, principalmente na área de humanas, e tem sido bombardeados por ideologias idolátricas nas universidades?

K: Primeiramente, gostaria de dizer-lhes para manter seus olhos em Jesus Cristo e na centralidade da cruz e da ressurreição. É fácil se desviar no meio das diversas responsabilidades de uma vida agitada. Isso não significa que devemos abandonar tais responsabilidades e nos dedicar exclusivamente a uma vida de oração. Isso significa que nós vivemos nossas diversas vocações (por exemplo, como maridos, esposas, cidadãos, funcionários, alunos, professores e assim por diante) reconhecendo que a nossa lealdade final é o Deus que criou, redimiu e nos capacitou a viver de acordo a sua palavra.

Que implicações isso tem para ideologias políticas? Os seguidores de tais visões ideológicas estão usando uma cortina que lhes permite ver somente algumas poucas coisas - e só a partir de um determinado ponto de vista. Os liberais podem ver apenas a liberdade individual e tendem a minimizar a importância de outros fatores legítimos. Conservadores veem corretamente o lugar importante da tradição, mas têm dificuldade em formular critérios que permitam avaliar o valor dessas tradições. Nacionalistas compreendem a importância da solidariedade no seio de determinados grupos de pessoas que partilham características e objetivos comuns, mas eles tendem a tornar a nação em um ídolo.

Os alunos expostos a essas ideologias precisam estar cientes de que as cosmovisões em que estão enraizados dão-lhes uma imagem distorcida do mundo real, que é muito mais complexo do que eles são levados a acreditar. Um marxista acredita que removendo as barreiras econômicas simplesmente irá desbloquear as virtudes inatas dos seres humanos e levá-los a uma sociedade sem classes, florescente, ignorando não só a realidade do pecado - que não pode ser erradicada antes da segunda vinda de Cristo - mas também os múltiplos fatores de motivação que condicionam a vida em uma sociedade real. A economia não é tudo.

Por outro lado, uma cosmovisão bíblica tem a vantagem decisiva de reconhecer que o nosso mundo pertence a Deus e encontra o seu sentido último nele. Se somos cristãos, não temos que depositar a esperança em um princípio de unidade dentro da criação, pois ela nunca será encontrada. Em vez disso, nós reconhecemos a verdadeira diversidade da criação de Deus cuja unidade vem dele somente.

E: A católica Teologia da Libertação (TL) é conhecida por aliar o cristianismo aos ideais marxistas. Mas também existe uma linha evangélica que se assemelha a proposta da TL. Via de regra eles usam o termo missão integral, cunhado em Lausanne, mas não condenam o marxismo tal como fez o relatório de Pattaya (1980). Autores como Francis Schaeffer dizem que o marxismo é uma heresia cristã por ter também uma base soteriológica. O Senhor comunga da mesma opinião? E quais são os danos de sintetizar teologia com ideologia política? 

K: Sim, de fato o marxismo é uma heresia cristã, mas não está sozinho nesta. Todas as visões ideológicas que influenciaram o mundo moderno são - com efeito - heresias cristãs. Cada uma postula uma narrativa redentora falsa, que começa com um problema central capaz de ser resolvido apenas por algum tipo de redentor terreno. Para os marxistas, o proletariado (ou seja, a classe operária industrial) é o messias que inaugura a sociedade sem classes, uma forma secularizada do reino de Deus. Para os nacionalistas, a redenção vem com a libertação da nação do domínio estrangeiro. Para os liberais, a maximização da liberdade individual traz o reino. Na verdade, neste momento, pode-se argumentar que a religião estabelecida em grande parte do mundo de hoje é a religião dos direitos humanos, tais direitos são atribuídos à auto-expansão dos desejos particulares, muitas vezes em detrimento de outras considerações legítimas, incluindo o bem das comunidades maiores do qual fazemos parte.

Sobre os perigos da "síntese entre teologia e ideologia política", gostaria de expressá-lo da seguinte forma: O perigo é de ter lealdades divididas. "Ninguém pode servir a dois senhores" (Mateus 6:24). Se dissermos que servirmos a Deus, devemos servi-lo totalmente e não manter qualquer coisa por trás dele. Devemos permitir que Ele transforme os nossos desejos e aspirações, para que eles estejam em conformidade com a sua vontade para nossas vidas. Se contentar com menos, é, na verdade, se contentar com um outro evangelho.

E: A teologia reformada contempla todos os campos da ação humana, como ensina a soberania das esferas. Qual a importância de uma boa base teológica para ter uma boa visão política cristã? Que autores recomendaria para os leitores que estejam interessados em aprofundar sua visão política?

K: Temos que começar reconhecimento as palavras do Catecismo de Heidelberg (1563), que diz que não pertencemos a nós mesmos, mas pertencemos, corpo e alma, na vida e na morte, ao nosso fiel Salvador Jesus Cristo. Nosso mundo pertence a Deus e não a nós. Nós não podemos fazer o que queremos com o mundo de Deus, isso traz profundas implicações para a nossa forma de fazer política. Se não formos capazes de reconhecer essa realidade, estamos propensos a sermos vítimas de qualquer número de promessas ilusórias que nenhum governo em qualquer lugar está em condições de cumprir.

Mas não é apenas uma questão de teologia correta, isso poderia implicar que somos salvos pela teorização correta. Como cristãos, somos moldados pelas práticas litúrgicas da Igreja, à qual somos chamados como membros do corpo de Cristo. Devemos ler as Escrituras e, como Lesslie Newbigin coloca, encontrar o nosso próprio lugar dentro da narrativa redentora bíblica. Precisamos seguir nossos antepassados ​​antigos na fé e orar através do Saltério – numa base regular. (A leitura mensal do Salmo 88 pode imunizar as pessoas contra as tentações de um evangelho da falsa prosperidade!) O evangelho deve residir em nossos corações e não apenas em nossas cabeças.

E quais os autores que eu recomendaria? Bem, mais escritos de Abraham Kuyper estão sendo traduzidos do holandês para o inglês a cada ano, e espero que um dia eles sejam traduzidos em Português também. Estou satisfeito pela tremenda recepção que meu livro Visões e Ilusões Politicas recebeu no Brasil. Para aqueles que sabem Inglês, eu recomendaria qualquer coisa escrita por James W. Skillen, Paul Marshall, Jonathan Chaplin, e as publicações on-line do Centro pela Justiça Pública e Cardus , que é do Canadá. E, claro, eu ficaria feliz em oferecer meus próprios escritos (aqui) para qualquer pessoa interessada.

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22 de fev. de 2016

19 de fev. de 2016

Como ser uma mulher sábia

Por Luciana Barbosa

Vamos ter como base Provérbios 14:1 que o Senhor, amorosamente, deixou para nós:

"Toda mulher sábia edifica a sua casa; mas a tola a derruba com as próprias mãos."

Edificar significa construir, levantar, um lar não é apenas a casa, mas também meu marido e filhos. Quero ter uma casa bonita, atraente mas quero também ter meu marido e filhos felizes em um ambiente onde tudo combina, onde todos têm o mesmo objetivo: FAZER O OUTRO FELIZ.

Quando a Bíblia me diz que "toda a mulher sábia edifica a sua casa", vejo que o Senhor está me dizendo que a qualidade de vida dentro do meu lar vai depender de mim. O Senhor em Provérbios 31:27, ainda me diz que a mulher sábia "está atenta ao andamento da sua casa, e não come o pão da preguiça." Então, eu sou a pessoa que o Senhor escolheu, dentro da minha casa, para torná-la mais agradável para todos.

Se a edificação do meu lar me foi confiada por Deus, então  o que devo fazer para edifica-la?

1) Tenho que ter Deus como exemplo. E para aprender dEle, devo ler diariamente, a Sua Palavra, aprendendo para saber quais passos tenho que dar a cada dia e tê-lo como meu orientador; quando lemos a formação de Eva lemos que Deus deu a Adão uma auxiliadora (Gn.2.18-20), esta deve capacitar o macho a cumprir a sua humanidade na sua totalidade, assim como ele deve fazer com ela. Quando tomamos Deus como exemplo, percebemos em várias passagens Deus sendo nosso auxilio, vejamos:

Salmo 10.14: ‘Tu tens sido o defensor do órfão”; Davi orou (Sl.30.10): “Ouve, Senhor, e tem compaixão de mim; sê Tu, Senhor, o meu auxilio”; Sl.54.4: “Eis que Deus é o meu ajudador”; Sl.118.7: “O Senhor está comigo entre os que me ajudam”.

Perceba, Deus é o auxiliador, é Ele que habilita as mulheres a se tornarem mães, a serem portadoras da semente que por sua vez é a imagem e semelhança de Deus. Em suma, Deus coloca a mulher ao lado do seu marido, assim como Ele mesmo se coloca ao lado do seu povo e sendo assim, temos que ser sábias, pois, Deus é sábio.

2) Tenho que ser uma esposa e uma mãe equilibrada. E por equilíbrio não posso ser mais nem menos antes, estar no ponto certo, controlada, e isto, só posso conseguir, se Ele estiver controlando o meu coração.

3) Tenho que fazer a minha parte de apaziguadora do lar. Se vejo que está existindo desavenças, brigas ou alguma confusão, tenho que controlar a situação. Preciso ser um extintor e não um litro de querosene. Aqui acho que seja a parte mais difícil de um casamento, saber a hora de falar e ficar calada, promover a paz e não a guerra. Tranquilizar ou pacificar; fazer ficar tranquilo ou pacífico: Comedir; tornar um sentimento menos intenso.

4) Tenho que evitar certas coisas que possam destruir o meu lar. A amargura é uma delas. Este é um sentimento que pode destruir um lar. Um coração cheio de amargura é capaz de usar palavras que machucam, ferem, destroem, dilaceram, separam... Um ambiente cheio de ódio jamais poderá ser chamado de lar.

O "pão da preguiça" também faz parte das coisas que destroem um lar. Há mulheres que "não têm tempo" ou não se importam em cuidar da sua casa, dos filhos pelo fato de: Ela tem que ter tempo para as amigas, ela passa muito tempo no telefone, ela passa muito tempo na internet ou até mesmo na igreja, negligenciando assim sua casa (marido, filhos).

À guisa de conclusão, só uma mulher sábia pode se considerar a videira frutífera da qual o salmista fala:

“Sua mulher será como videira frutífera em sua casa; seus filhos serão como brotos de oliveira ao redor da sua mesa.”
Sl.128.3

17 de fev. de 2016

Evangelismo Moderno: Tem algo errado nesta receita

Por Thiago Azevedo

Imagine que um grupo de pessoas começa um novo empreendimento na área alimentícia. A produção vai de vento em poupa e os resultados financeiros que foram programados em longo prazo começam a serem vistos em curto tempo.  O grupo se encontra extasiado com o sucesso e só falam em prosseguir com a produção e as vendas. Porém, um imprevisto ocorre. Pessoas começam a adoecer ao ingerir aquele alimento produzido, elas passam mal e muitos começam a dar entrada em hospitais diversos. O caos é notório. Qual deveria ser o procedimento daquele referido grupo de empreendedores em relação à sua produção? Temos três alternativas:

1) Continuar a todo vapor as vendas, mesmo sabendo que seus clientes vão passar mal e correr risco de morte.

2) Parar a produção e refletir sobre os ingredientes da receita, encontrar os possíveis erros, pois antes não ocorria este tipo de problema, corrigi-los e retornar às atividades de venda.

3) Abandonar tudo e decretar falência.

Qual você escolheria?

Nossa opinião recai sobre a alternativa de número 2. Pois, a partir de uma base reflexiva se encontraria o problema e este seria corrigido. Com isso as vendas regressariam e consequentemente todo o sucesso anterior seria retomado.

A grande pergunta que vos faço a partir desta pequena analogia é a seguinte: Por que não se age assim em relação à prática do Evangelismo moderno? O produto está sendo fornecido com algum erro na receita, o que tem levado muitos a adoecerem. O Evangelismo contemporâneo tem sido muito marcado pelo aspecto emocional e não pelo aspecto teológico-reflexivo. É preciso sentir menos a presença de Deus e vivê-la mais. Quem sente, logo, logo não sente mais, é igual a dor de dente, às vezes demora, mas passa. A presença de Deus precisa ser vivida, pois viver é diferente de sentir. Os clichês e jargões têm permeado todo o ambiente do evangelho brasileiro, com isso a prática do evangelismo moderno também é afetada. Um dos clichês mais utilizados na evangelização moderna é este: “Deus tem um grande plano para realizar na sua vida”. Meus irmãos, bem possível seja que quem profira estas palavras em direção a alguém na evangelização esteja repleto de boa vontade e até com o coração puro, bem intencionado, porém, boa vontade, boa intenção e coração puro só são de bom proveito no reino de Deus quando se coadunam com a vontade de Deus expressa nas Sagradas Escrituras. Será que Davi não estava cheio de boas intenções e com o coração puro quando carregou a Arca da Aliança sobre bois, em festejo pelo regresso da Arca que estava sob domínio filisteu (1 Crônicas 13: 6-8)? Será que Uzá não estava repleto de boa vontade e de coração puro quando tentou livrar da queda a Arca da Aliança a segurando (1 Crônicas 13: 9-10)? A resposta é sim, mas a Arca da Aliança não era nem para ser carregada por bois (e Davi conhecia o preceito divino [1 Crônicas 15: 1-2]) nem muito menos ser tocada por mãos humanas. As consequências destes atos foram trágicas, mesmo mediante a boa intenção, boa vontade e coração puro dos personagens em questão. Parece-nos que o ambiente de festa suprime todo e qualquer senso reflexivo, como já mencionamos. Davi e seu séquito estava festejando o regresso da Arca do Senhor do domínio dos filisteus para o domínio israelita, motivo suficiente para comemoração, mas comemorar não significa deixar a emoção sobrepujar à razão, o que mais tem ocorrido. Não quero aqui colocar a razão no trono e vê-la como a rainha soberana. Mas um bom senso reflexivo em todas as áreas da vida, juntamente com canja de galinha, não faz mal a ninguém – e isso faltou a Davi na ocasião mencionada.

O Evangelismo moderno, sobretudo aquele que envolve os jovens, é marcado por uma verdadeira festa nas ruas, mais parece um carnaval fora de época. Grupos de jovens nos semáforos, muitos deles com a face pintada, outros até segurando faixas com dizeres cristãos enquanto o semáforo está vermelho, outros entregando literaturas etc. Sabe-se de igrejas que formam grupos e estipulam metas evangelísticas para estes grupos; quem entregar mais panfletos e quem conseguir maior número de conversões é o campeão, e no final do dia, ainda rola um lanchinho para o grupo vencedor enquanto o grupo perdedor vai servir os campeões. Deva ser por este ambiente festivo que envolve a evangelização moderna, sobretudo a que se utiliza de pessoas jovens sem o devido treinamento, que muitos pontos principais do evangelho em si, e a capacidade reflexiva, são suprimidos. Se se erra no início, tudo mais que vier após isso, estará errado também. Ou seja, aparentes conversões, aparentes novos cristãos e um aparente “Evangelho” sendo alimentado. Um “Evangelho do Falso”: falsas conversões, que geram falsos cristãos, que geram falsa adoração, que geram uma falsa compreensão da genuína Fé Cristã. Como dizíamos anteriormente, o clichê que “Deus tem um plano para realizar na sua vida” é grande prova disso. Está carregado de emocionalismo de festejo, mas de pouco senso de reflexão Bíblico-teológico. Na realidade, Deus não tem plano nenhum para realizar na vida de seu ninguém. Sabe por quê? Porque Ele já realizou! O plano redentivo da salvação já fora realizado por Deus na vida de sua igreja e esta notícia é muito mais atrativa do que àquela anterior (de que o plano ainda estar por ser feito). É muito melhor saber que alguém já fez algo de bom para nós do que saber que ainda vai fazer.

Parafraseando o professor Leadro Karnal, “o maior desafio dos cristãos modernos é cristianizar os próprios cristãos”. Entendemos que é muito melhor propagar uma fé bem digerida do que propagar uma fé inacabada ou com uma falha na receita principal que adoece pessoas. Uma fé bem digerida, ruminada e processada gerará frutos com sementes, e não frutos ocos sem conteúdos. Algumas alas cristãs de nosso país precisam de fato cessar com a propagação de uma fé mal digerida, que mais adoece do que faz bem. Parar com a propagação de um evangelho que se distingue da receita principal. Precisam regressar ao ambiente interno, rever o que está errado, corrigir, e depois voltar às ruas propagando uma fé bem digerida e que gera saúde espiritual. Não se pode continuar fornecendo um alimento que faz mal por tempo prolongado! Os consumidores correm risco eminente de morte! E em muitos casos, o óbito já fora atestado! 

15 de fev. de 2016

1 João 1 - Uma Breve Exposição

Por Thiago Oliveira

1 João 1
1.O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam — isto proclamamos a respeito da Palavra da vida.2.A vida se manifestou; nós a vimos e dela testemunhamos, e proclamamos a vocês a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada.3. Nós lhes proclamamos o que vimos e ouvimos para que vocês também tenham comunhão conosco. Nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo.4.Escrevemos estas coisas para que a nossa alegria seja completa.5.Esta é a mensagem que dele ouvimos e transmitimos a vocês: Deus é luz; nele não há treva alguma.6.Se afirmarmos que temos comunhão com ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade.7.Se, porém, andamos na luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.8.Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós.9.Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça.10. Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós.
Prefácio (1-4)

Em concordância com o evangelho de sua autoria, o apóstolo João endossa a pré-existência de Cristo. “O que era desde o princípio” soa semelhante ao “No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Jesus é novamente apresentado como a Palavra viva de Deus, criadora de todas as coisas. Ele é a própria vida, e nele está toda a plenitude para que o homem, através dele, viva completamente preenchido de sentido. João se coloca como testemunha ocular, alguém que sabe do que está falando porque viu, ouviu, apalpou... Os anos em que conviveu com o Senhor, e dele aprendeu, sendo comissionado pelo próprio Jesus para o ofício apostólico faz com que João seja uma autoridade ao falar a respeito do evangelho.

Esta carta é endereçada a Igreja para reforçar a comunhão que foi conferida ao corpo de Cristo. Todos os que fazem parte da Igreja tem um relacionamento íntimo e verdadeiro com Deus Pai, Deus Filho, e mesmo não citado aqui, com o Santo Espírito. Esta comunhão enche o apóstolo João e os demais (reparem que ele fala no plural) de alegria. Mas, para que haja verdadeira comunhão entre Deus e os homens é necessário que Cristo ilumine todo aquele que está em trevas.

Luz e Trevas (5-7)

João passa a transmitir um resumo da mensagem que ele e os demais apóstolos anunciam pelo mundo. O versículo 5 deixa claro que a mensagem não é uma invenção humana, mas é vinda do próprio Cristo. “Deus é luz” é uma sentença curta, todavia, expressa muitas verdades. Ela fala dos atributos divinos e descreve o SENHOR como um ente majestoso e santo que se revelou aos homens. Usando a sua peculiar linguagem de contraste, o apóstolo dá ênfase ao fato de Deus ser luz dizendo logo em seguida que “nele não há treva alguma”. A luz representa a verdade, enquanto que as trevas são o engano. Ademais, podemos tratar dessa questão no campo moral:

LUZ = PUREZA
TREVAS = INIQUIDADE

Por isso, aqueles que pertencem as trevas não podem dizer que tem comunhão com Deus. Eles estão mentindo ao fazer tal afirmação. Não importa se mentem para eles mesmos, estão fora da verdade, sendo assim, destituídos estão da presença do Altíssimo. Sendo assim, a forma de se conectar ao Criador é através do “sangue de Jesus, seu Filho”. Pois, Jesus é a luz dos homens e se seguirmos os seus passos andaremos na luz (ver João 8.12). Como sua palavra é verdadeira e sua conduta foi sem pecado algum, ele é capaz de nos dar acesso ao Santo dos Santos. E através de seu sangue temos a purificação dos nossos pecados.

Quem nós somos (8-10)

O que precisamos entender é que nossa natureza é pecaminosa. Isaías profetizando ao povo de Israel diz o seguinte: “Mas as suas maldades separaram vocês do seu Deus; os seus pecados esconderam de vocês o rosto dele, e por isso ele não os ouvirá”. (Is 59:2). O apóstolo Paulo na carta aos Romanos é enfático: “pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm 3:23). João segue o que é o ensino bíblico e adverte aqueles que dizem que não pecam. A verdadeira conduta do cristão é reconhecer sua natureza caída que herdou de Adão. Não existe super-crente! O que precisamos é de humildade e colocar nossas vidas nas mãos daquele que é o único capaz de vencer o pecado: Jesus Cristo!

Se nos achegarmos até ele, com confissão e contrição, encontraremos perdão. João diz que ele nos dá esta dádiva por ser fiel e justo. Não é uma fidelidade a nós, mas sim fidelidade a sua palavra. Cristo prometeu nos dar vida e isto só é possível quando estamos conectados com Deus. Esta conexão só é viável quando os nossos pecados são purificados e uma vez puros podemos participar da pureza de Deus. Cristo é justo e só ele pode nos conceder justiça, eliminando a injustiça que há em nós. Caso alguém insista que não tem pecados, faz de Deus mentiroso, pois, é a Sua palavra que nos acusa de sermos pecadores. Isto é blasfemo e resultará num severo castigo pela ofensa dirigida ao SENHOR.

Aplicações

Compreendemos que a Palavra de Deus é verdade, e que aquilo que anunciamos, o Evangelho, são palavras de vida eterna? Se sim, então que possamos anunciar com ousadia e contentamento. Pregar é um dever, uma responsabilidade do cristão, todavia, é também um privilégio e neste anúncio podemos encontrar satisfação.

Entendemos que Deus é um ser puríssimo e que ele não comunga com o pecado? Sigamos a Cristo que nos purifica e nos possibilita termos comunhão com Deus. Apenas nele temos este acesso e esta vida plena. Abandonemos o caminho de mentira e de impureza. Sigamos a verdade que liberta e santifica.

Reconheço minha condição de pecador e vivo clamando pela graça divina? Todo aquele que chora pelo seu pecado e vai correndo aos pés da cruz arrependido clamando por misericórdia será perdoado, purificado, guardado naquele que é refúgio e fortaleza. Quando caímos, um Deus fiel e justo é capaz de nos levantar e nos fazer andar novamente, com passos cada vez mais firmes.  

12 de fev. de 2016

Teologia Reformada é Teologia do Pacto

Richard Pratt Jr.

A teologia reformada é frequentemente associada como "teologia do pacto." Se você ouvir atentamente, você vai ouvir muitas vezes pastores e professores que se descrevem como "reformado e pactual". Os termos "reformado" e "pactual" são utilizados em conjunto tão amplamente que cabe a nós entender por que eles estão conectados.

A teologia do pacto refere-se a uma das crenças básicas que os calvinistas têm mantido sobre a Bíblia. Todos os protestantes que se mantiveram fiéis à sua herança afirmam o Sola Scriptura , a crença de que a Bíblia é a nossa autoridade suprema e inquestionável. A teologia do pacto, no entanto, distingue a visão reformada da Escritura de outras perspectivas protestantes, enfatizando que os pactos divinos unificam os ensinamentos da Bíblia inteira.

Desenvolvida anteriormente no seio Reformado, a compreensão pactual da Escritura chegou a um ponto alto na Inglaterra do século XVII com a Confissão de Fé de Westminster (1646), a Declaração de Savoy (1658), de Londres, Confissão Batista de 1689, e cada uma representando diferentes grupos de ingleses - calvinistas. Com apenas pequenas variações entre estes documentos, eles dedicam um capítulo inteiro à administração das alianças de Deus com a humanidade revelando a unidade do todo que a Bíblia ensina.

Por exemplo, a Confissão de Fé de Westminster fala de Deus condescendendo para revelar-se à humanidade por meio de um pacto. Em seguida, ela divide toda a história da Bíblia em apenas dois pactos: o "pacto de obras" em Adão e o "pacto da graça" em Cristo. O pacto das obras foi arranjo de Deus com Adão e Eva antes da queda no pecado. O pacto da graça governa o resto da Bíblia. Neste ponto de vista, todas as fases do pacto de graça eram de mesma substância. Eles diferem apenas como Deus administrou Seu único pacto de graça em Cristo de várias maneiras ao longo da história bíblica.

Nessa mesma linha, uma série de teólogos reformados mais recentes têm afirmado a unidade pactual da Escritura, relacionando particulares alianças bíblicas para o que o Novo Testamento chama de "o reino de Deus". Jesus indicou a importância do reino de Deus nas palavras de abertura do Pai Nosso: "Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu" (Mateus 6: 9,10). As palavras de Jesus primeiro indicam que o principal objetivo da história é a glória e honra de Deus. No entanto, suas palavras indicam também que Deus receberá esta glória através da vinda de Seu reino à terra assim como no céu. O objetivo de Deus sempre foi de receber o louvor eterno de cada criatura, estabelecendo Seu glorioso reino na Terra. Pegando emprestado o louvor bem conhecido de Apocalipse 11:15, no fim da história "o reino do mundo [irá] tornar-se o reino de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre."

Recentes descobertas arqueológicas mostraram como às alianças de Deus sem relacionavam com o Seu reino terrestre. Nos dias da Bíblia, muitos reis das nações ao redor de Israel administravam a expansão de seus reinos através de tratados internacionais. Os estudiosos da Bíblia notaram semelhanças notáveis entre esses tratados antigos e as alianças bíblicas com Adão, Noé, Abraão, Moisés, Davi, e Cristo. Essas similaridades indicam que a Escritura apresenta os pactos como a maneira de Deus administrar a expansão do Seu reino na terra.

Alianças bíblicas enfatizam o que era necessário em fases específicas do reino de Deus, promovendo os princípios de alianças anteriores. Com Adão, Deus começou a revelar sua própria realeza, o papel da humanidade, e o destino que Ele havia planejado para a terra (Gn. 1-3). Estes princípios foram avançando, em diante, Deus promete estabilidade na natureza para o serviço da humanidade no pacto com Noé (Gn. 6,9). Deus reforça seus pactos anteriores, prometendo que os descendentes de Abraão se tornariam um grande império e espalhariam as bênçãos de Deus para todas as outras nações (Gn 15, 17). Deus fez esses pactos para abençoar a Israel com a sua Lei nos dias de Moisés (Êx. 19-24). Cada aliança anterior foi levada a novas alturas quando Deus estabeleceu a dinastia de Davi e prometeu que um de seus filhos iria governar com justiça sobre Israel e sobre o mundo inteiro (Sl. 72;. 89; 132). Todos os pactos do Antigo Testamento foram então promovidos e cumpridos em Cristo (Jr. 31:31; 2 Co. 1: 19-20). Como o grande filho de Davi, sua vida, morte, ressurreição, ascensão e retornar eternamente garantiram a transformação de toda a terra em glorioso reino de Deus.

Muitos cristãos evangélicos hoje acham difícil acreditar que tudo na Escritura após Gênesis 3:15 diz respeito ao reino de Deus administrado através do desdobramento de um pacto de graça. A maioria dos evangélicos americanos visualiza a Escritura como dividida em períodos de tempo regidas por, substancialmente, diferentes princípios teológicos. Quando os cristãos seguem esta abordagem popular com as Escrituras, não demora para que eles se convençam de que o novo pacto de nossos dias está, na verdade, em desacordo com muitos aspectos do Velho Testamento.

Pelo menos três questões muitas vezes passam para o primeiro plano: obras e graça, fé corporativa e individual, e preocupações terrenas e espirituais. Em primeiro lugar, muitos evangélicos acreditam que a ênfase do Antigo Testamento em boas obras é incompatível com a salvação pela graça mediante a fé em Cristo. Em segundo lugar, o relacionamento corporativo de Israel com Deus como comunidade parece ter sido substituído por um foco sobre as relações pessoais dos indivíduos com Deus. Em terceiro lugar, muitos evangélicos acreditam que o Antigo Testamento chama para estabelecimento de um reino terreno de Deus este em contraste com a ênfase do Novo Testamento sobre um reino espiritual em Cristo.

A teologia do pacto permitiu aos teólogos reformados a percepção de que o Novo Testamento é realmente muito semelhante ao Velho Testamento nessas três áreas. Primeiro, nessa visão a salvação pela graça mediante a fé em Cristo é a única forma de salvação em ambos os Testamentos. Toda a Bíblia chama para boas obras, porque a fé salvadora sempre produz frutos de obediência a Deus. Em segundo lugar, teologia da aliança nos ajuda a ver que ambos os Testamentos falam sobre relacionamentos individuais e corporativos com Deus. Todas as alianças de Deus lidam com pessoas em ambos níveis. Em terceiro lugar, a teologia do pacto mostra que o reino de Deus sempre foi terreno e espiritual. O Antigo e Novo Testamento se concentram em nossos serviços em ambos os reinos. Nesses e em outros aspectos, a teologia do pacto tem muito a oferecer a comunidade evangélica.

Ao mesmo tempo, há também uma necessidade crescente de que teologia do pacto seja fortemente reafirmada em círculos reformados contemporâneos. Nas últimas décadas, muitos defensores mais recentes da teologia reformada têm negligenciado a teologia do pacto.

Cada vez mais, vemos que a teologia reformada está sendo reduzida para o que costumamos chamar de, as doutrinas da graça - crenças essenciais como depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos. Claro, devemos valorizar essas verdades da Escritura, mas quando deixamos de salientar a estrutura maior que a teologia da aliança oferece, a nossa compreensão da Bíblia em breve começa a sofrer nas três áreas mencionadas.

Em primeiro lugar, as doutrinas da graça destituídas da teologia do pacto levam alguns a acreditar que a teologia reformada está principalmente preocupada em ensinar que a graça de Deus sustenta a vida cristã do início ao fim. Claro, com certeza isso é verdade. No entanto, as alianças de ambos os testamentos consistentemente ensinam que Deus sempre exigiu determinado esforço de seu povo em resposta à sua graça, e que Ele recompensará a obediência e punirá a desobediência.

Em segundo lugar, separadas da teologia do pacto, muitas pessoas em nossos círculos parecem pensar que nossa teologia é sempre sobre como encontrar maneiras exclusivamente reformadas para as pessoas aprimorarem suas relações com Deus. Em nossos dias, uma série de caminhos para a santidade pessoal e devoção foram tratados como as características centrais da teologia reformada. Tão importante quanto os indivíduos na Bíblia, a teologia do pacto, também, destaca o nosso relacionamento corporativo com Deus. Nenhuma aliança bíblica foi feita com apenas uma pessoa. Eles também envolvem Deus estabelecendo relacionamentos com grupos de pessoas. Por esta razão, ambos os testamentos nos ensinam que as famílias dos crentes são comunidades de aliança, em que a misericórdia de Deus é passada de uma geração para outra. Além disso, a igreja visível em ambos os testamentos é a comunidade da aliança em que recebemos o evangelho e os meios comuns de graça.

Em terceiro lugar, as doutrinas da graça facilmente nos passam a impressão de que a teologia reformada só está preocupada com assuntos espirituais. Muitas pessoas em nossos círculos estão profundamente preocupadas com a transformação interior por meio de uma verdadeira compreensão das Escrituras. No entanto, muitas vezes negligenciam os efeitos naturais e sociais do pecado e da salvação. A teologia do pacto dá-nos uma visão muito maior e mais convincente de nossas esperanças como cristãos. Em ambos os testamentos, os crentes expandem o reino de Deus, tanto para a esfera espiritual quanto terrena. Devemos ensinar o evangelho de Cristo a todas as nações para que as pessoas possam ser transformadas espiritualmente, mas essa renovação espiritual é por uma questão de estender o senhorio de Cristo a todas as facetas da cultura em todo o mundo.

Tudo isso é para dizer que a teologia do pacto tem muito a oferecer todos os cristãos. Então, quando nos perguntamos: "O que é a teologia reformada?" isto nos servirá de boa resposta: "a teologia reformada é teologia do pacto."
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Tradução cedida por Pedro Paulo, fonte original aqui.