Por Thiago Oliveira
12. Filhinhos, eu lhes
escrevo porque os seus pecados foram perdoados, graças ao nome de Jesus.
13. Pais, eu lhes escrevo
porque vocês conhecem aquele que é desde o princípio. Jovens, eu lhes escrevo
porque venceram o Maligno.
14. Filhinhos, eu lhes
escrevi porque vocês conhecem o Pai. Pais, eu lhes escrevi porque vocês
conhecem aquele que é desde o princípio. Jovens, eu lhes escrevi, porque vocês
são fortes, e em vocês a Palavra de Deus permanece e vocês venceram o Maligno.
15. Não amem o mundo nem o
que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele.
16. Pois tudo o que há no
mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não
provém do Pai, mas do mundo.
17. O mundo e a sua cobiça
passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.
Introdução
Após o apóstolo João falar
do mandamento do amor e advertir os crentes de que a ausência do amor é a
ausência de luz, ele passa a falar sobre o mundanismo. João vai se dirigir a
toda a Igreja. Ele não segmenta a sua fala a um grupo, mas exorta toda a
congregação dos santos. Uma das coisas que vale a pena ressaltar é o caráter
multi-geracional do Corpo de Cristo. A Igreja é composta de crianças, jovens,
adultos e idosos. Quando fala que escreveu aos seus filhos no versículo 12, João
usa uma linguagem fraterna, que lhe é particular. Ele, por ser idoso,
considerava as ovelhas de seu rebanho filhos, e por elas tinha um afeto
paternal. Após o termo generalizado, no versículo 14 ele parece falar com os
filhos dos pais mencionados no versículo anterior. Podemos deduzir que sua fala
alcançava aos jovens, citados diretamente nos versículos 13 e 14, mas também
crianças, que podem preencher o espaço existente entre os “pais e filhos” a
quem o apóstolo se dirige.
Antes de exortar a Igreja
para que ela não seja seduzida pelo sistema maligno que assola o mundo desde a
Queda, João a encoraja e lhe faz lembrar as bênçãos que vem do Senhor Jesus
para sua amada noiva. Ele enfatiza que escreveu, justamente porque a escrita é
um registro de algo que é dito. Louvado seja Deus que inspirou tais homens
santos e deixou registrada as suas Palavras, assim, nós hoje temos acesso a
este banquete espiritual e podemos desfrutar deste maná.
Bênçãos
em Cristo (12-14)
Ao dirigir-se ao Corpo de
Cristo e falar alguns motivos de ter escrito a sua epístola, João fala das
bênçãos que o Senhor Jesus concede a sua igreja. A primeira delas é o perdão
dos pecados. Isto se dá por graça e graças ao nome de Jesus. Ao falar do
“nome”, o apóstolo tenciona falar daquilo que ele representa, que é a pessoa e
o ofício de Cristo como sendo o enviado de Deus para salvar a humanidade do
pecado e da morte. Esta é a dádiva maior que herdamos de Cristo. Ser perdoado é
não ter mais empecilho ao nos relacionarmos com Deus. Está escrito: “Mas as suas maldades separaram vocês do seu
Deus; os seus pecados esconderam de vocês o rosto dele, e por isso ele não os
ouvirá”. Isaías 59:2. Todavia, quando perdoados, nossos pecados são
lançados fora e estamos livres e podemos atender ao convite feito pelo autor do
livro de Hebreus: “Sendo assim,
aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé,
tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e
tendo os nossos corpos lavados com água pura”. Hebreus 10:22. Maravilhoso é
saber que antes erámos inimigos do SENHOR por causa de nossa rebeldia para com
suas santas ordenanças, mas que purificados por Cristo somos íntimos do Deus
triúno e podemos gozar de sua presença e infinita bondade.
A segunda benção é o
conhecimento de Deus. Este se dá por meio da revelação. O Soberano se revelou
aos homens e num sentido geral fez-se conhecido através da natureza (Rm 1.20).
Mas aos seus filhos Deus se revela de uma forma especial. Pois, através do
Espírito que habita em nós, temos discernimento daquilo que é espiritual e o
que antes enxergávamos embaçado, agora vemos com nitidez. Obviamente que o
nosso conhecimento de Deus não é exaustivo, pois muita coisa ainda é mistério
para nós, todavia, conhecemos o suficiente para nos prestarmos em adoração
diante do nosso Senhor, sabendo que Ele é o único e verdadeiro Deus, e fora
dEle não há outro. Este conhecimento não é apenas teórico, ele é também
relacional. Conhecemos a Cristo de andarmos com Ele. Ao dirigir-se aos pais,
isto é, aos mais velhos, o apóstolo apela para que eles transmitam este
conhecimento para os mais jovens. A fé precisa dos pais precisa ser transmitida
aos filhos. Isto se dá em casa, no ambiente familiar. Temos um grande problema
em nossa geração: os pais terceirizam a educação de suas crianças. E aqui
inclui-se também a terceirização da instrução bíblica. Que os pais não esqueçam
do provérbio que diz: “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até
quando envelhecer não se desviará dele”. Provérbios 22:6.
A terceira benção, é a
vitória sobre o maligno. O apóstolo endereça aos jovens esta fala, pois, na
juventude as mais diversas tentações nos assolam. O mundo parece mais sedutor
para aquele que está no auge de seu vigor físico. Os que estão na flor da idade
têm muitos atrativos. E são nestes atrativos que muitos são fisgados e sucumbem
aos desejos pecaminosos, entregando-se as paixões da mocidade. No entanto, João
assevera que mesmo jovem, o crente tem a vitória decretada sobre as hostes do
mal, e sua vitória não está na sua força física ou capacidade intelectual. O
jovem que vence o maligno é aquele que tem a Palavra de Deus.
Muitas igrejas tem
negligenciado a doutrinação de sua juventude. Para atrair os jovens apostam em
entretenimento, e muitos estão dentro das igrejas sem ter um conhecimento
substancial da Palavra. Não é o entretenimento que deve “prender” os jovens na
igreja. Eles precisar ter consciência de que o mais importante na vida cristã é
ouvir e assim aprender mais do Evangelho, para praticar em seu cotidiano. Não
levar a sério a pregação da Palavra para os jovens é uma característica daquilo
que João irá falar em seguida.
Cuidado
com o mundanismo (15-17)
O mundo, no contexto da
passagem, é o sistema de valores que opera entre pessoas pecadoras que tem
Satanás como seu mentor. João novamente faz o uso de contraste e numa afirmação
categórica diz que aquele que ama o mundo não tem o amor do Pai celestial. Não
existe um meio termo: ou se deseja a Deus e as coisas que são do alto, ou se
deseja as coisas terrenas, transformando-as em ídolos.
As coisas do mundo são
resumidas em uma lista com termos abrangentes. A saber temos: i) a
concupiscência da carne, ii) a concupiscência dos olhos e iii) a soberba da
vida. Os desejos da carne são desejos perversos, uma cobiça que fere o décimo
mandamento. Muitas vezes este desejo é ativado pelos olhos, que quando fitam
determinada coisa, faz o interior desejar o objeto que está sendo olhado. Daí
vem a ganância e a vontade de ter passando por cima de qualquer coisa. Esse
“ter” resulta em orgulho. O homem olha para o que já fez e já acumulou para si
nesta vida e se engrandece por isso. Precisamos ter muito cuidado com isso.
Infelizmente, alguns
líderes evangélicos tem dado ênfase a um estilo de vida materialista e o
consumismo tem invadido as igrejas com uma infinidade de produtos com o selo
“gospel”, concebido e voltado para o público evangélico, que já tem sido
explorado pelo mercado como um bom nicho para se investir. John Stott, como
presidente do Grupo de Trabalho sobre Teologia e Educação da Comissão de
Lausanne para Evangelização Mundial, foi um dos responsáveis por elaborar, em Outubro
de 1980, o Compromisso Evangélico Com Um Estilo de Vida Simples. Em sua obra,
Discípulo Radical, ele afirma que a simplicidade é uma característica essencial
de um discípulo de Jesus. Esse estilo de vida simples está associado a uma
postura de mordomia, que é o cuidado com os recursos que Deus colocou sobre a
nossa responsabilidade. O cristão não precisa se isolar do mundo. Ele não tem
que viver como um monge, longe de tudo e todos. O apóstolo João não adverte
para que deixemos o mundo, sua advertência é dirigida ao amor ao mundo.
Sim, podemos ter posses.
Não é errado possuir bens e até mesmo investir para que eles frutifiquem. O
errado é colocar neles todo o sentido par a vida. Por que quando alguns homens
de negócio quando perdem seu patrimônio cometem suicídio? Porque fizeram de
suas posses um fim em si mesmo, quando na verdade, se temos algo, este algo
deve servir para nosso desfrute e para a ajuda ao nosso semelhante. Compartilhar
é uma benção! Quando alguém é cristão e é rico, este faz de sua riqueza seja
usada para fins nobres. Há muitos que investiram e investem suas fortunas em
missões e obras sociais. Não são os dias daqui que importam para nós, por isso
que o conselho do apóstolo Paulo é o de que devemos pensar nas coisas que são
de cima (Cl 3.2). Aqui tudo é corruptível e passageiro, portanto, focados na
Eternidade, sejamos desapegados a este mundo. Esta é uma marca dos verdadeiros
membros do Corpo de Cristo.
Aplicações
1. Devo estar ciente de
que em Cristo Jesus, nas regiões celestiais, eu sou abençoado. As coisas mais
preciosas já me foram dadas. Sendo assim, devo descansar no meu Senhor e com
gratidão prestar um culto sincero e jubiloso durante todo o meu viver.
2. Não posso depositar a
minha esperança nas coisas do mundo, pois, se eu fizer isto, serei um idólatra
e não tenho o amor do Pai. É necessário desapegar do materialismo e adotar um
estilo de vida simples.
3. Preciso ser um bom
mordomo dos recursos que graciosamente recebi dos céus. Administrar bem os
recursos desta terra é cultuar a Deus e prestar-Lhe serviço.
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