Por Thiago Oliveira
Texto Base: 1 João 4.7-21
7.
Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é
nascido de Deus e conhece a Deus. 8. Quem não ama não conhece a Deus, porque
Deus é amor. 9. Foi assim que Deus manifestou o seu amor entre nós: enviou o
seu Filho Unigênito ao mundo, para que pudéssemos viver por meio dele. 10.
Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos
amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. 11. Amados,
visto que Deus assim nos amou, nós também devemos amar-nos uns aos outros. 12.
Ninguém jamais viu a Deus; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em
nós, e o seu amor está aperfeiçoado em nós. 13. Sabemos que permanecemos nele,
e ele em nós, porque ele nos deu do seu Espírito. 14. E vimos e testemunhamos
que o Pai enviou seu Filho para ser o Salvador do mundo. 15. Se alguém confessa
publicamente que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus.
16. Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor. Deus é
amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele. 17.
Dessa forma o amor está aperfeiçoado entre nós, para que no dia do juízo
tenhamos confiança, porque neste mundo somos como ele. 18. No amor não há medo;
pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo.
Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor. 19. Nós amamos porque ele
nos amou primeiro. 20. Se alguém afirmar: "Eu amo a Deus", mas odiar
seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a
Deus, a quem não vê. 21. Ele nos deu este mandamento: Quem ama a Deus, ame
também seu irmão.
Introdução
Hoje
concluiremos o 4º capítulo da primeira carta joanina. Veremos que o apóstolo
retoma a pauta do amor ao próximo. “A Primeira Epístola de João é,
predominantemente, um livro sobre o amor. Nessa epístola, o verbo amar aparece
28 vezes e seu substantivo correspondente, amor, é usado 18 vezes” (Simon
Kistemaker). Aqui
ele fundamenta o amor no atributo divino e conclama a sua igreja a servir a Deus
amando as pessoas. No mundo em que vivemos, de tamanho egoísmo e hostilidade,
resultado no pecado, os cristãos têm a responsabilidade de fazer diferente e
exalar o perfume do amor pelos quatro cantos da terra.
Que
o Espírito Santo nos faça compreender isso e nos mover na direção de ações
concretas que resultem no amar prático.
O Fundamento do Amor (7-10)
O
apóstolo conclama os seus leitores e diz que deve existir um amor fraternal
entre eles. E a razão disso é que o amor é um atributo divino, faz parte do que
Deus é. Deus tem outros atributos, sem os quais ele deixaria de ser Deus. Por
exemplo: santidade, justiça, onisciência, onipresença, etc. Mas dentre todos,
João escolhe falar sobre o amor para fundamentar o mandamento que temos
recebido de Deus, que é amar ao próximo. Se amar é algo que está presente no
nosso Senhor, também deve existir em nós. Por isso que se diz que quem não ama
não conhece à Deus. Não se trata aqui do conhecimento intelectual. A palavra
tem enfoque relacional e sintetiza uma verdade absoluta. Daí, se até então não
havia ficado entendido, agora não resta a menor dúvida do porque que o amor é
assunto central da vida cristã. Amar nos dá credencial de pertencimento, sendo
assim, pode-se afirmar que apenas os que amam, de fato, os seus semelhantes,
tem comunhão com o Pai. Isso parece refutar os gnósticos que apontavam para uma
experiência de “iluminação” com o objetivo de conhecer a Deus.
Apelando
para a obra de Cristo, nosso redentor, João exemplifica o amor através do ato
vicário que Jesus realizou. Como disse Agostinho: “A cruz foi o púlpito onde
Deus pregou o amor”. Esse ato foi um ato de amor. Os homens, por se rebelarem
em pecado, apenas merecem a ira de Deus. Como registrado na carta aos efésios,
éramos merecedores da ira (Ef 2.3). Sujeitos destinados ao inferno, pois, Deus
odeia o pecado e também quem o pratica. Precisamos ser claros: Deus odeia o
pecado e o pecador, contrariando uma famosa frase de efeito que circula entre
as igrejas. Se formos para as Escrituras veremos que Deus abomina os pecadores
(vide Salmo 5. 5, 11.5). Essa ira é santa, pois santidade e justiça também são
atributos divinos. Por amar a santidade e a justiça, Deus odeia os que praticam
o inverso e sua ira está fundamentada em seus atributos.
Mas
então, se Deus abomina o pecado e odeia os que o praticam, onde o amor se
enquadraria? Para respondermos isso é necessário olhar para cruz. Em Cristo
vemos o amor, pois, ele resgatou parte dessa massa pecadora ao morrer no lugar
deles. Esse amor é gracioso: “Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo
grande amor com que nos amou, deu-nos vida juntamente com Cristo, quando ainda
estávamos mortos em transgressões — pela graça vocês são salvos” (Efésios
2.4,5). Se temos vida, temos por meio de Cristo, devemos isso a ele, louvado
seja o cordeiro de Deus que nos vivificou!
O
termo propiciação não está nesse texto à toa. Ele significa “desvio da ira”.
Toda ira, santa e justa, do Pai recaiu sobre o Filho ao invés de ter caído
sobre nós. É como se Cristo fosse um para-raio que atrai para si a carga
energética e mortal do relâmpago. Ele foi castigado em nosso lugar, como diz o
profeta Isaías no capítulo 53 de seu livro. Jesus é aquele homem de dores
transpassado, moído no lugar daqueles que por seu sangue foram comprados. Nós não
o amávamos, mesmo assim ele nos amou e nos salvou. É graça, maravilhosa graça
que não somos capazes de mensurar o seu tamanho. Ela extrapola toda e qualquer
noção de espaço que temos. Em Cristo, fomos e somos assombrosamente amados pelo
Pai!
O Desdobramento do Amor (11-16)
É
por ter o fundamento do amor de Deus em nossas vidas, que devemos amar as
pessoas. João atenta para o fato da proximidade com que temos das pessoas em
nossa volta. Podemos vê-las, tocá-las, senti-las. Deus, por mais que se
relacione conosco de uma maneira real, é um relacionamento que não podemos ver
a olho nu, muito menos sentir de maneira tangível. Deus é imanente, mas é ao
mesmo tempo transcendente, ficando muito além da nossa total compreensão. Nessa
proximidade com os nossos semelhantes, somos aperfeiçoados pelo próprio Senhor
que em nós atua por meio do seu Santo Espírito. Da mesma forma que o Pai
demonstrou seu amor de maneira visível, ao enviar seu Filho ao mundo, sendo o
próprio Deus encarnado, nosso amor também precisa ter esse viés
“encarnacional”, ou seja, deve se concretizar nas nossas relações para com
nossos semelhantes.
O
Espírito Santo é um presente que nos foi dado e é Ele quem nos conduz em amor e
nos dá a segurança da salvação. É nesse relacionamento íntimo com o Espírito
que sabemos que pertencemos a Deus. Também é Ele quem nos dá a compreensão da
graciosa obra salvífica, da relação do Pai com o Filho, que arquitetaram o
plano para redimir os que amaram desde a eternidade (Ef 1.3-6). O mesmo
Espírito nos direciona a confessarmos a Cristo como sendo nosso salvador.
Tal
condução é uma benção. Ela nos dá confiança de que graças à atuação poderosa do
Espírito Santo através de nós, perseveraremos até ouvirmos a chamada celestial.
Temos que se confiantes no amor de Deus para conosco e lembrarmos, como povo
dEle, que Deus é amor! Esses são os desdobramentos de quem tem Cristo por
fundamento.
A Plenitude do Amor (17-21)
O
amor aperfeiçoado é o amor pleno. Todos que foram comprados por Cristo e
receberam dele o Espírito Santo caminham neste pleno amor e por isso não
temerão o juízo vindouro. Não devemos temer castigo algum, pois, o que Jesus
conquistou por nós foi o perdão dos pecados e a garantia de que habitaremos na
presença do Deus que é santo, e para isso ele tem nos santificado. Devemos ter
a noção de que estamos seguros não pela forma que o amamos, mas por causa de
como Cristo nos amou. Ele nos amou primeiro, sendo o nosso amar, um ato
secundário e em resposta a sua atuação em nossas vidas. Por isso um velho hino
cristão diz: “Que segurança, sou de Jesus, e já desfruto o gozo da luz, sou por
Jesus herdeiro de Deus, ele nos leva a glória dos céus”. O músico e poeta
brasileiro Stenio Marcius descreve na canção “O Sonho” a confiança inabalável
que o crente deve possuir:
“Sonhei que eu tinha morrido, não lembro
direito do quê. Me vi frente a um alto e belo portão com uma placa escrito
"Céu". Bati com um certo receio, um anjo saiu pra atender. Me disse
"Pois não?”, eu falei "Quero entrar, pois aí é o meu lugar". O
anjo me disse: "Curioso, eu não acho seu nome em nossos registros".
Eu disse: "Procure num livro antigo, escrito antes que houvesse mundo, e
ali achará com a letra do Rei meu nome em tinta vermelha". Alguém entregou
para o anjo registros que eu reconheci. Compêndio de todas as leis que eu
quebrei e os pecados que cometi. O anjo olhava os registros visivelmente
assutado, e me perguntou: "Foi assim que viveu?" Eu então respondi
que sim. "Então como é que você tem coragem de vir nessa porta
bater?". Eu disse: "Olhe bem no final dessa lista, você reconhece
esta letra?"E o anjo sorrindo me disse "É verdade, o Rei escreveu
PERDOADO". E ao som dessa bela palavra aquele portão se abriu. Então eu
entrava cantando um hino. Que pena que o sonho acabou! Ficaram comigo aquelas
palavras. Primeiro eu quero ver meu Salvador”.
Agora
o capítulo termina com uma ressalva que fará os hipócritas temerem: Quem diz
amar a Deus e odeia seu irmão, é mentiroso. Ora, o mentiroso não é amado, pois
o provérbio diz que: “O Senhor odeia os lábios mentirosos (Pv 1. 22)”. Assim,
na nossa confiança no amor que recebemos, temos que cumprir o mandamento de
amamos uns aos outros.
Aplicação
-
Reconheço que recebi amor do Senhor sem que tenha merecido, e por isso devo
amar o meu semelhante de maneira graciosa?
- Tenho
procurado imitar a Cristo, amando de maneira concreta, colocando-me no lugar do
outro para compartilhar de suas alegrias e dores?
-
Estou seguro de que Deus me ama em Cristo e que seu amor me conduz em segurança
para o céu?
Nenhum comentário:
Postar um comentário