Por César Augusto
O
título do livro é bem chamativo. Vivemos super-ocupados. O livro não é uma
fórmula mágica que resolverá a sua vida. O autor deixa isso bem claro: "Não prometo uma transformação
total". O propósito do autor é oferecer ideias práticas e conselhos bíblico-teológicos
para "enfrentar nossos
horários" e proporcionar "muito
encorajamento para a nossa alma". A divisão do livro é simples, e
ajuda na compreensão:
1) Três perigos a evitar (Cap 2)
2)
Sete diagnósticos a considerar (Cap 3-9)
3)
Uma coisa que você deve fazer
CAPÍTULO 1
No
primeiro capítulo Kevin[1] diagnostica o problema dos tempos modernos,
"Vivemos ocupados". Ele relata a história de uma mulher estrangeira
que foi viver nos Estados Unidos, e se apresentava como Senhora Busy (ocupada),
pois era a palavra que ela mais ouvia em solo americano. O ponto central do
capítulo é que, todos nós vivemos ocupados, uns mais e outros menos.
No
mundo globalizado, e principalmente nos países industrializados, o ritmo de vida
é frenético. Vivemos super-ocupados, reclamamos da falta de tempo, por
consequência, não planejamos bem nossos compromissos, desperdiçamos tempo com
coisas triviais, e a sensação é de que a vida está nos devorando aos poucos. Sentimo-nos
dentro da areia movediça, e, quanto mais tentamos escapar, mais afundamos. Tudo
isso gera "stress, irritabilidade,
mau humor, negligência", coisas que não são boas para a nossa
convivência na família, na igreja, no trabalho e na sociedade.
CAPÍTUL O 2
No
segundo capítulo, DeYoung trata de três perigos que devemos evitar: Estar
ocupado demais pode roubar nossa alegria;
Ocupação desenfreada pode roubar nosso coração; E o ativismo pode
encobrir nossa podridão.
1)
Estar ocupado demais pode roubar nossa alegria, pois quem quer fazer tudo,
acaba não fazendo nada. Quem tudo quer, nada consegue. Geralmente acordamos
tentando "sobreviver, e não
servir". O autor utiliza-se do termo, "doença da pressa"[2], para descrever o quão mal estamos. A frase de
Tyler Durden , do filme Clube da Luta, retrata bem a nossa época: "Trabalhamos em empregos que odiamos
para comprar porcarias que não precisamos". Trabalhar demais, para
comprar coisas demais, não significa que estamos felizes. O único que pode, e
deve ser nossa fonte de alegria é Cristo. Lembremo-nos da advertência de Cristo: "Porque, onde estiver o teu tesouro,
aí também estará o teu coração" (Mt 6:21.
2)
A ocupação desenfreada pode roubar nosso coração. Segundo Kevin, a ocupação
mata os cristãos espiritualmente. Não temos limites em nossas vidas. Temos mais
oportunidades do que qualquer outra época na história da humanidade. Não havia
eletricidade na época de Lutero e Calvino. Jesus não tinha carro para ir de uma
cidade para outra. Nas palavras de Kevin,
a ocupação desenfreada é como o pecado: "Mate-o
ou ele vai matar você".
3)
O ativismo, aliado a moralidade pode esconder a podridão do nosso coração. O
moralismo é o pai da falsa santidade. O ativismo pode nos levar a ter
reputação, porém, nas palavras do grande pregador Moody, "Caráter é o que
você é na escuridão". Enganamo-nos a nós mesmos, se nos esconder atrás do
ativismo, principalmente o "ativismo religioso". Deus conhece os
nossos corações (Sl 139:23-24).
Ocupação, segundo Kevin, não significa que você "seja um cristão fiel e frutífero". Devemos buscar ser
fiéis nas pequenas coisas. Se não somos fiéis nas pequenas coisas, como
esperamos fazer grandes coisas? E mesmo que fossemos pastores, pregadores,
seminaristas, obreiros ocupados na obra de Deus, é importante a advertência da
Escritura: "Somos servos inúteis, pois fazemos apenas aquilo que o Senhor
manda" (Lc 17:10). A verdade é que, muitos de nós, nem de inúteis podemos
ser chamados, portanto, examinar nosso coração é crucial para não cairmos na
armadilha do ativismo.
CAPÍTULO 3
No terceiro capítulo, Kevin trata das várias manifestações de orgulho (1º Diagnóstico) dos nossos corações: querer agradar os outros, a necessidade de aprovação, provar nossa capacidade,perfeccionismo, louvor dos homens entre outras coisas. Como Calvino afirmou, o coração humano "é uma floresta de espinhos". O orgulho é como um "vilão de mil caras". Temos que clamar pela graça de Deus, a fim de que o orgulho seja extirpado dos nossos corações. Segundo o autor, o orgulho se manifesta nos nossos corações, porque "estamos mais preocupados em parecer bem do que fazer o bem". A Escritura é bem enfática: "Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes". (Tg 4:6)
CAPÍTULO 4
Queremos
fazer a diferença no mundo, às vezes, temos a síndrome do
"super-crente" (2º Diagnóstico). Entretanto, Deus não te chamou para
ser um super-crente, como foram Spurgeon, Edwards, entre outros. Deus te chamou
para ser fiel, seja nas pequenas ou nas grandes coisas. Kevin diz que o
"terror da obrigação total" pode trazer frustrações, decepções e
angústia. Como remédio para este terror, ele mostra o exemplo de Jesus. Nossa missão é servir a Deus servindo as
pessoas, valorizando e servindo na Igreja. Orare
e Labutare - orar e labutar; Deus dará os resultados conforme lhe aprouver,
porém, temos de labutar, trabalhar, não ficar estagnados. Grande é a seara?
Sim! Poucos são os obreiros? Sim! Contudo, você não pode fazer tudo. Temos
diferentes dons e chamados. Deus usa cada um conforme seus dons, e nisto vemos
a "multiforme sabedoria de Deus" (Ef 3:10).
CAPÍTULO 5
Para
servir as pessoas, você precisa estabelecer prioridades, este é o terceiro
diagnóstico. Kevin dá um conselho prático:
Você tem que estabelecer prioridades. Você não é o Superman. Você não pode ajudar todas as pessoas ao mesmo tempo. Você não pode fazer tudo nem conseguirá fazer tudo. Estabeleça prioridades, prefira as coisas excelentes às coisas boas. Entre servir sua família, ou algum irmão devemos escolher a família. Como disse Paul Washer: "Que proveito tem ao homem, ganhar o mundo, e perder sua família. Se estabelecermos prioridades, poderemos servir melhor- seja nossa família, igreja, amigos, etc.
CAPÍTULO 6
No
sexto capítulo, DeYoung trata da puerigarquia, isto é, a noção de que os pais
tem que dar tudo para seus filhos, como se o futuro dos filhos dependesse dos
pais. O autor cita estudos de autores não cristãos que evidenciam que nos
tempos modernos, a vida gira em torno dos filhos, e isto leva os pais a
trabalharem demais, e viverem estressados. O futuro dos nossos filhos depende
da providência divina. Kevin mostra que, segundo a Bíblia, nossa missão é ensinar
nossos filhos sobre Deus (Dt 6:7; Pv 1-9) e discipliná-los (Pv 23:13; Hb
12:7-11). Não existem pais perfeitos nem
tampouco filhos perfeitos. O legalismo pode levar os pais provocar ira em seus
filhos (Ef 6:4). O argumento de Kevin neste capítulo é que, o futuro dos nossos
filhos depende de Deus. Falharemos, erraremos, pecaremos, porém, Deus é
misericordioso e gracioso, tanto para nos dar graça na criação dos pequeninos,
como para guiar a vida deles.
CAPÍTULO 7
No
sétimo capítulo, Kevin trata dos perigos da internet. Ele diz que estamos
deixando a tela estrangular nossa alma. Corremos o perigo de estar viciados, de
maneira que a internet controla nossas vidas, e isto pode nos levar a acédia
(indolência e esfriamento espiritual). Kevin aconselha que temos de utilizar a
internet para nosso benefício, estabelecer limites. Não podemos viver em função
da internet. Ele nos encoraja a utilizar
as "tecnologias antigas", isto é, existe vida fora da internet, e
temos que viver. Ele encerra o capítulo mostrando que a internet trouxe-nos a
falsa sensação de que "somos onicompetentes, oni-informados e
onipresentes", porém, isto é uma grande ilusão.
CAPÍTULO 8
No
oitavo capítulo, Kevin alerta algo que, muitas vezes, nos esquecemos,
precisamos descansar. Deus estabeleceu um dia de descanso na criação. Ele
brevemente trata a questão do sábado, dizendo que "a parte mais importante quanto ao mandamento do sábado é que
devemos descansar somente em Cristo como nossa salvação". Não entrarei
aqui no debate em relação à guarda do Dia do Senhor, uma vez que este assunto é
profundo e um livro não seria suficiente para tratar sobre o mandamento. Pontuo
aqui que é a tradição da igreja, desde os tempos dos pais da Igreja à guarda do
Dia do Senhor. Para aqueles que querem se aprofundar no assunto, podem estudar
o período da Patrística, a Reforma Protestante, o puritanismo, as grandes
confissões e os catecismos reformados. Kevin diz que "se quisermos continuar correndo, temos de aprender a parar",
pois, muitas vezes, "o descanso é o
antídoto de que realmente necessitamos". Não podemos misturar trabalho
e lazer, levar trabalho para casa. Precisamos relaxar, pois Deus nos deu o sono
(Sl 127:2). Kevin cita um sermão de Don Carson: "Ás vezes, a coisa mais piedosa que você poderá fazer é conseguir
dormir bem por uma noite - não é orar a noite toda, mas dormir".
CAPÍTULO 9
O nono capítulo é um chamado para abraçarmos o sofrimento. Tal capítulo é um antídoto contra à teologia da prosperidade, que leva as pessoas a pensarem que servir a Jesus é ter uma vida sem problemas, sem doenças, sem provações, sem frustrações entre outras coisas. A vida não é um conto de fadas, se quisermos servir a Jesus precisamos estar dispostos a tomar a nossa cruz (Mt 10:38 ), ter bom ânimo ( Jo 16:33 ) para vencer o mundo. Se Jesus vestiu uma coroa de espinhos, por que você espera uma vida fácil na terra? Se Paulo e os apóstolos sofreram, por que esperamos uma vida de comodismo? Como diz Lewis: "o sofrimento é o megafone de Deus". Deus fala por meio do sofrimento". A vida não é fácil para ninguém, passaremos por muitas tribulações e angústias, porém, nenhuma delas se compara ao peso da eternidade que nos aguarda.
CAPÍTULO 10
No
último capítulo, Kevin fala da única coisa que precisamos, e temos que fazer.
Temos que ter uma vida devocional. Orar e ler a Bíblia diariamente. Kevin diz
que "não podemos ficar lendo livros ou escutar sermões o dia todo". E
isto é verdade, além da nossa vida espiritual, temos uma vida nessa terra.
Temos que trabalhar, levar o lixo para a fora, cuidar dos filhos, ir para a
faculdade, entre outras coisas. Todos nós vivemos semanas de loucura,
frenéticas, porém, lendo a Bíblia e orando diariamente, Deus cuidará de nós. A
coisa mais importante da nossa vida é, segundo Jesus, que "nem só de pão
viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor" (Mt 4:4).
Precisamos desesperadamente correr para Jesus, pois num mundo onde todos vivem
ocupados, cansados e fatigados, Ele é o único que pode nos dar descanso (Mt
11:28). Encerro esta resenha com as palavras de Agostinho:
"Já
li, Sócrates, Platão e Aristóteles, mas em nenhum deles li: Vinde a mim, todos
os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei".
***
Notas
[1] Kevin
DeYoung é o
pastor da University Reformed Church em East Lansing, Michigan. Obteve sua graduação pelo Hope College e seu mestrado em
Teologia pelo Gordon-Conwell Theological Seminary. É preletor em conferências
teológicas e mantém um blog na página do ministério The Gospel Coalition. Ele é
autor de vários livros, incluindo Qual a Missão da Igreja, Faça Alguma Coisa,
Não quero um Pastor Bacana, Por que Amamos a Igreja e Brecha em nossa Santidade.
[2] "doença da pressa": Terminologia usada por Tim Chester, autor do livro The Busy Christian's Guide to Busyness,
[Guia de ocupação do cristãos ocupado]. O autor é citado por Kevin, no segundo
capítulo do seu livro, na página 21.
Nenhum comentário:
Postar um comentário