Por Morgana Mendonça dos Santos
É
incrível, como existe no meio evangélico dos nossos dias, cristãos avessos ao
labor teológico. Eis uma realidade que nem os reformadores gostariam de
presenciar no nosso tempo. Nos últimos dias, percebi isso de forma mais aguda e
acentuada. Há nos arraiais evangélicos pessoas que de tal forma rejeitam a
teologia, não seria isso um grande contrassenso? Me parece que o discurso do
amor é uma antítese ao labor teológico.
Dificilmente um texto como esse
resolveria a questão, dificilmente um sermão pregado no púlpito dia de domingo
conseguiria destruir essa fortaleza que existe no coração de muitos. Acredito
que, uma clareza de conceitos, processo de ensino e advertência sobre a
importância da teologia, provocariam um passo no longo percurso da quebra de
paradigmas.
Não se deve negar que, durante muito
tempo, a teologia esteve confinada num mundo acadêmico, toda a questão que
envolve a teologia sempre distanciou o público leigo desse privilégio bíblico.
Talvez sua linguagem técnica, sua rigorosidade científica, seu aspecto erudito,
construíram muros ao invés de pontes para com o público cristão leigo. É
possível que, certa "distinção clerical", tenha gerado ao longo do
tempo um abismo entre a teologia e os iniciantes no caminho do saber
bíblico.
No entanto, a Escritura afirma e
direciona o caminho do sacerdócio universal, não apenas a liderança
eclesiástica deve vivenciar o labor teológico, mas, todo aquele que professa ser
cristão (1Pd 2.9). Todos os cristãos, a Escritura afirma, devem crescer não
apenas na graça, mas também no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo (2Pe 3.18). Retomemos o ensino bíblico do sacerdócio de todos os
crentes! É verdade que entre abismos e muros, o trabalho de criar pontes será
bem maior. Lembro-me, várias vezes, em aulas do seminário, dos professores
repetirem: "somos chamados como construtores de pontes e não de
muros".
A ideia que Deus capacita apenas
alguns e outros ficam somente como expectadores existe, e tem causado desperdício
e desconforto na causa do Reino. Infelizmente, o que se dedica ao labor
teológico é visto como orgulhoso, prepotente, sabedor da verdade e que de forma
arrogante só sabe criticar ao invés daquele que mesmo sem saber muita coisa,
consegue amar sem fazer acepções. Nunca deveria existir essa oposição da
teologia e o amor, da teologia e a humildade, da teologia e a piedade. Na
verdade, o verdadeiro propósito do conhecimento redundará em adoração através de
uma vida piedosa, como testemunho. Esse é o fundamento da teologia, a glória de
Deus e uma vida piedosa.
Como um cristão pensa que se opor a
teologia o faz mestre na piedade? A definição da teologia não deveria ser
aquilo, que o cristão leigo ou não, deveria admitir buscar todos os dias?
Conhecimento de Deus não deveria ser desejado? É importante perceber o fato de
que hoje muitos dos que rejeitam essa vida acadêmica, são os mesmo que criticam
quem assim o faz, negando por sua própria conduta seu discurso repetitivo e
obsessivo por mais amor e menos intelecto. Devemos considerar do mesmo modo
quem usa o academicismo como chicote e Bíblia como pedrada. De fato, muitos
usam do "tulipar" ou "teologizar" para bater e pisar no
corpo no qual Cristo é o cabeça, não sabendo realmente como usar esse labor
para a glória de Deus.
Há passagens bíblicas que mostram
claramente a importância da teologia para todo o cristão e o quanto ela está a
serviço do povo de Deus. Mais ainda: que existe benefício para todo o povo de
Deus em todos os campos do labor teológico.
Conforme a ordem dada ao sacerdócio
real e a nação santa sobre o anúncio das grandezas de Deus (1Pd 2.9), esse é um
ponto que se requer preparo no falar. Não deve ser negligenciado, pois as
grandezas de Deus não podem ser anunciadas de qualquer forma. E, a parte da
teologia que esmera-se nesse assunto, é a homilética, visto que, não somente
prepara bem o pregador para o púlpito, mas, todo cristão para uma boa
transmissão dessa verdade bíblica.
A
grande comissão nos ordena a fazer discípulos e a forma como devemos fazer é
ensinando (Mt 28.19-20), a ordem deve ser obedecida. Devemos ensinar tudo
aquilo que Cristo ordenou e isso requer conhecimento sobre Deus, seus
mandamentos, sua lei. Como podemos fazer discípulos sem teologia? A teologia
nos ajuda a romper com os métodos modernos, para crescer no conhecimento da
teologia bíblica e exegética.
Pedro, no capítulo 3, verso 15, da
sua primeira carta, nos diz que devemos estar preparados para responder à todo
aquele que nos inquirir a respeito da esperança que há em nós, a razão da nossa
fé. Ou seja, é necessário que tenhamos conhecimento bíblico. Chamamos isso na
teologia de apologética, isto é, um discurso de defesa da fé cristã bem
embasado nas Escrituras.
Há passagens na Bíblia de difícil
interpretação, até o apóstolo Pedro concordou com isso (2Pd 3.16), inclusive,
nesse mesmo verso, ele fala de homens que distorcem a Escritura para a sua
própria destruição. Pedro traz-nos um alerta para que não sejamos enganados, de
forma que não suceda perdermos nossa firmeza. A hermenêutica é o campo da
teologia que se encarrega de examinar o sentido preciso de uma passagem
bíblica. Como disse Pedro, todo cristão deve crescer na graça e no conhecimento
de Cristo Jesus.
Poderia
continuar propondo pontos que, de forma clara, são necessários a todo cristão,
de fato, todos nós precisamos da teologia. Aprimorar nosso conhecimento a
respeito de Deus através da Sua Palavra. Devemos ser inclinados ao labor
teológico, ortodoxia e ortopraxia não são opostas, na verdade, são
inseparáveis. Sejamos construtores de uma teologia saudável, que seja uma ponte
para nossos irmãos da igreja local. Todo cristão deve desejar conhecer a
respeito da revelação especial, eis um exemplo claro do conselho de Paulo a
Tito:
Você, porém, fale o que está de
acordo com a sã doutrina. Em tudo seja você mesmo um exemplo para eles, fazendo
boas obras. Em seu ensino, mostre integridade e seriedade; use linguagem sadia,
contra a qual nada se possa dizer, para que aqueles que se opõem a você fiquem
envergonhados por não poderem falar mal de nós.
Tito 2.1, 7-8.
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