Por Fábio Henrique
Pelo menos uma vez na vida com certeza você já viu esta cena: Ao abrir um refrigerante e depositar o líquido no copo, rapidamente sobem até a superfície aquelas bolhinhas que costumeiramente chamamos de espuma. Algumas pessoas quando inadequadamente despejam o líquido no copo se assustam com a quantidade de espuma imaginando ser o tão precioso líquido quando na verdade não passa de gás carbônico evaporando. Resultado, tudo não passou de uma falsa impressão. Desta cena tão corriqueira podemos retirar pelo menos uma lição: “nem tudo que parece é ”.
Pensando nesta cena, recordei do tipo de fé manifestada por alguns cristãos e que podemos fazer uma analogia com o que o Senhor Jesus afirmou na parábola do semeador. Quando ao explicar tal tipo de espiritualidade, Ele afirmou: “..este é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria.Todavia, visto que não tem raiz em si mesmo, permanece por pouco tempo Quando surge alguma tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo a abandona.” (Mateus 13:20,21) Parece um paradoxo, mas a suposta fé que transbordava em alegria se transformou em desânimo e abandono da mesma. Qual seria o motivo disso tudo? O versículo de forma clara o expõe: “não tem raiz.”
Não precisa ser um profundo conhecedor de teologia para entender o significado do que Jesus esta dizendo. A ausência de raiz em uma planta é sinal de uma morte prematura, superficialidade e ausência de profundidade. Infelizmente, assim tem sido a espiritualidade de muitos que querem seguir a Cristo, mas não estão dispostos a enfrentar as adversidades e dificuldades de levar a sua palavra a sério. Ou seja, é uma espiritualidade incapaz de ultrapassar as portas de um templo religioso, pois assim como a espuma de um refrigerante se dissolve facilmente ao primeiro contato com o mundo fora da garrafa, assim é a fé destes em relação à vida cristã fora dos portões de suas igrejas.
É a espiritualidade do “oba-oba”, programações, louvorzão, congressos, acampamentos, encontros de casais ou de jovens e tantos outros “encontros” com Cristo. Da performance, do canta, pula, grita, gira, da espiritualidade exposta apenas na camisa de marketing daquele evento famoso, mas que não é fruto de um coração sincero para com Deus. É a espiritualidade da euforia provocada pela adrenalina do momento, porém desprovida de profundidade e intimidade com o Senhor através da oração diária e da devoção e obediência a sua Palavra. O problema dessa espiritualidade é sua fragilidade e artificialidade, além de ser viciada em doses cada vez mais fortes da “adrenalina gospel”. Os reflexos desse tipo de espiritualidade são perceptíveis tanto na vida do indivíduo quanto na própria igreja, pois essa mesma euforia e entusiasmo não são demonstrados quando o palco é desarmado, as luzes se apagam e é chegada a hora de por em prática tudo aquilo que foi pregado. O que resta é uma apatia em relação ao envolvimento, seriedade e comprometimento com as verdades do evangelho de Cristo e com sua igreja.
Talvez o que mais nos atraía nos refrigerantes seja seu sabor adocicado e a sensação de prazer causada pelo mesmo. Todavia, com o passar dos anos, surgem às consequências para a saúde - e caso não sejam tratadas podem levar ao óbito. Que possamos parar de nos iludir com a espiritualidade da espuma de refrigerante, ao invés dela, nos aprofundemos mais em nosso relacionamento com o Senhor através da oração, leitura e obediência a sua Palavra. Só assim estaremos isentos desta triste estatística relatada pelo Senhor Jesus de uma espiritualidade sem vida, sem profundidade, superficial, sem raiz e morta.
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O autor é seminarista do Seminário Presbiteriano do Norte e membro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Rio Doce, Olinda-PE.
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