Por John
Stott
Muitos
dos segredos da santidade nos são revelados nas páginas da Bíblia. De fato, um
dos objetivos principais da Escritura é mostrar ao povo de Deus como levar uma
vida que lhe seja digna e que lhe agrade. Porém um dos aspectos mais
negligenciados na busca da santidade é a parte que compete à mente, conquanto o
próprio Jesus tenha posto o assunto fora de qualquer dúvida quando prometeu:
“conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. É mediante a sua verdade
que Cristo nos liberta da escravidão do pecado. De que forma? Onde se encontra
o poder libertador da verdade?
Para
começarmos, precisamos ter um quadro bem claro do tipo de pessoa que Deus
pretende que sejamos. Temos de conhecer a lei moral de Deus e os mandamentos.
Como o expressou John Owen: “o bem que a mente não é capaz de descobrir, a
vontade não pode escolher, nem as afeições podem se apegar”.. Portanto, “na
Escritura o engano da mente comumente se apresenta como o princípio de todo
pecado”.
O
melhor exemplo disso pode-se encontrar na vida terrena do nosso Salvador. Por
três vezes o diabo aproximou-se dele e o tentou no deserto da Judéia. Nas três
vezes Ele reconheceu ser má a sugestão que lhe fizera Satanás e contrária à
vontade de Deus. Três vezes Ele se opôs à tentação com a palavra gegraptai:
“está escrito”. Jesus não deu margem a qualquer discussão ou argumentação. A
questão já estava decidida, logo de partida, em sua mente. Pois a Escritura
estabelecera o que é certo. Este claro conhecimento bíblico da vontade de Deus
é o segredo básico de uma vida reta.
Não
basta sabermos o que deveríamos ser, entretanto. Temos de ir mais além,
resolvendo, em nossas mentes, a alcançá-la. A batalha é quase sempre ganha na
mente. É pela renovação de nossa mente que nosso caráter e comportamento se
transformam. Assim é que, seguidamente, a Escritura nos exorta a uma disciplina
mental nesse sentido. “Tudo o que é verdadeiro”, diz ela, “tudo o que
respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há
e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento”.
De
novo: Se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do
alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do
alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está
oculta juntamente com Cristo, em Deus.
De
novo ainda: “Os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas
os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito. Porque o pendor da
carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz”.
O
autocontrole é, antes de tudo, o controle da mente. O que semeamos em nossas
mentes, colhemos em nossas ações. “Ler É Viver” foi o lema de uma recente
campanha publicitária. É um testemunho do fato de que a vida não consiste
apenas em trabalhar, comer, dormir. A mente tem de ser também alimentada. E o
tipo de comida que nossas mentes receberem determinará que tipo de pessoa
seremos. Mentes sadias têm um apetite sadio. Temos de satisfazê-las com
alimento saudável, e não com drogas e venenos intelectuais perigosos.
Há,
entretanto, uma outra espécie de disciplina mental a que somos convocados no
Novo Testamento. Temos que considerar não somente o que deveríamos ser, mas
também o que, pela graça de Deus, já somos. Devemos constantemente nos lembrar
do que Deus já fez por nós, e dizer a nós mesmos: “Deus uniu-me com Cristo em
sua morte e ressurreição, e assim acabou com a minha velha vida e me deu uma
vida completamente nova em Cristo. Adotou-me em sua família e me fez seu filho.
Pôs em mim seu Espírito Santo, fazendo de meu corpo seu templo. Também
tornou-se seu herdeiro e prometeu-me um destino eterno, consigo, no céu. Isto é
o que Ele fez para mim e em mim. Isto é o que sou em Cristo”.
Paulo
não se cansa de nos incitar a que deixemos nossas mentes pensar nessas coisas.
“Quero que saibais”, ele escreve. “Porque não quero, irmãos, que ignoreis...”E
cerca de dez vezes em suas cartas aos Romanos e Coríntios ele profere esta
pergunta incrédula: “Não sabeis...” “Não sabeis que todos os que fomos
batizados em Cristo Jesus , fomos batizados na sua morte?” Não sabeis que
daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem
obedeceis sois servos...? “Não sabeis que sois santuários de Deus, e que o
Espírito de Deus habita em vós?” “Não sabeis que os vossos corpos são membros
de Cristo?
A
intenção do apóstolo nesta enxurrada de perguntas não é apenas fazer-nos sentir
envergonhados por nossa ignorância. É antes fazer com que nos dizem respeito,
as quais de fato nos são bem conhecidas; e que falemos entre nós sobre elas até
o ponto em que se apoderem de nossas mentes e moldem o nosso caráter. Não se
trata do otimismo de autoconfiança de Norman Vicent Peale, cujo método procura
conseguir que façamos de conta que somos algo que não somos. O método de Paulo
é nos lembrar do que realmente somos, porque assim nos fez Deus em Cristo.
Fonte:
Crer é também pensar, John Stott. (via monergismo.com)
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