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5 de dez. de 2014

Hans Rookmaaker e Francis Schaeffer

Por Laurel Gasque


Faz-se necessária uma leitura europeia e continental de Rookmaaker. Muito do que já foi escrito sobre ele nos oferece apenas uma perspectiva americana de uma pessoa cujo pensamento foi formado fora da cultura americana; e, até certo ponto, fora da cultura ocidental, já que seus anos formativos foram vividos nas Índias Orientais Holandesas.
O fato acima, aliado à tendência de associar Rookmaaker com pensadores teológicos e filosóficos, tem mascarado sua singular voz como crítico e historiador de arte informado pela perspectiva cristã. Incluí-lo em uma perspectiva teológica não é útil ao entendimento de seu pensamento, do diálogo entre arte e fé ou à compreensão do abrangente mundo artístico atual. Rookmaaker precisa ser visto sob uma luz adequada.  Na época em que viveu, ele não estava separado do mundo da arte do qual ele falava como está a maioria daqueles que comentam sobre Rookmaaker nos dias atuais.
Os pensadores calvinistas aos quais ele é associado, como Francis Schaeffer e Calvin Seerveld, têm uma história diferente.  Schaeffer era muito americano, apesar de ter vivido a melhor parte de sua vida adulta na Europa.  Seerveld, apesar de americano, reside no Canadá há décadas.  Providencialmente, a família de Seerveld, composta de imigrantes, lhe deu o dom de falar holandês e se tornar poliglota. Schaeffer era monoglota, apesar de ter vivido na Suíça. Rookmaaker era multilíngue, algo que escapou a seus críticos de língua inglesa, que mal leram suas Obras Completas,traduzidas para o inglês para sua conveniência.
Schaeffer e Rookmaaker se conheceram em 1948 através da noiva de Rookmaaker, Anky Huitker, que organizou o encontro dos dois, quando Schaeffer estava em Amsterdã para ajudar a convocar uma reunião do Conselho Internacional de Igrejas Cristãs (ICCC – the International Council of Christian Churches), uma resposta fundamentalista ao estabelecimento do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
Rookmaaker era dez anos mais jovem que Schaeffer, ainda estudante de graduação. Não há dúvida de que esse encontro teve um enorme impacto sobre a vida de ambos. O encontro começou com o que era para ser uma conversa de meia hora de duração cujo objetivo era levar Rookmaaker a aprender mais sobre música negra americana. (É duvidoso que o próprio Schaeffer soubesse algo sobre este assunto!) Sua conversa terminou às 16:00! Para seu crédito, parece que Schaeffer ouviu este jovem e, portanto, recebeu sua primeira lição sobre a história do jazzblues espirituals, e também sobre arte moderna.
Certamente houve uma identificação mútua entre eles, visto que ali começou o que viria a se tornar uma amizade para toda vida; mas não foi uma forma sistemática e simbiótica de pensamento que levou a um projeto intelectual em comum entre os dois homens. Rookmaaker, na verdade, tornou-se tutor de Schaeffer na arte. E, novamente, para crédito de Schaeffer, ele prestou bastante atenção no que lhe foi dito. Mas Schaeffer já havia sido formado tanto pelo fundamentalismo cristão americano de Carl McIntire quanto pela apologética filosófica de Cornelius van Til, seu professor no Westminster Theological Seminary na Philadelphia.
Não resta dúvida de que Rookmaaker apreciava ter um amigo mais velho que lhe abrisse o mundo para os falantes de língua inglesa. Mas ele sempre manteve o seu próprio caráter. O vínculo entre Rookmaaker e Schaeffer era profundo. Entretanto, eles eram muito diferentes um do outro. Amizade sincera não significa necessariamente concordância total, mesmo quando se têm valores e crenças profundos.  Vemos isso, por exemplo, na profunda amizade de C. S. Lewis e Owen Barfield.
Schaeffer era um evangelista americano de formação fundamentalista e que também era um intelectual. Rookmaaker era um intelectual europeu de formação reformada e que também era, de maneira particular, um evangelista. Artistas e estudantes de arte professaram fé em Jesus após muitas de suas palestras. Rookmaaker certamente não estava em busca de recrutar convertidos, mas suas apresentações eram convincentes. Schaeffer e Rookmaaker se completavam de uma forma extraordinária e impactaram para o bem a vida real de muitas.
Intelectualmente, eles devem ser considerados de forma independente um do outro, a fim de apreciar e direção adequada na qual Rookmaaker estava seguindo. Ele não era o racionalista que Schaeffer tendia a ser. Antes de Rookmaaker morrer em 1977, ele levou alguns discípulos de Schaeffer a se preocupar com o rumo de seu pensamento. Ele era embasado e pensava em diversas áreas.  Em sua crítica da modernidade, ele não teve medo de ir aonde muitos críticos da atualidade – associados com o pós-modernismo – só chegaram agora. Ele igualmente defendia a criação artística dos cristãos no mundo contemporâneo, sem qualquer tipo de controle ou restrições no estilo. Para esse fim, ele orientava artistas e cuidava amorosamente de seus alunos de história da arte, mesmo quando eles não entendiam claramente sua formação, direção e missão.
O vínculo pessoal de amizade entre Schaeffer e Rookmaaker deve permanecer intacto, mas as trajetórias intelectuais dos dois homens devem ser separadas para que possamos ter uma ideia mais clara de quem Rookmaaker realmente era e o que ele realmente pensava e realizou.
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Fonte: L'abrart

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