Por Thiago Oliveira
Discorrer sobre as duas naturezas de Cristo demonstra o quanto que esta doutrina é essencial para nossa compreensão do Evangelho. De fato, Jesus foi portador de uma natureza dupla e que não podia ser desassociada uma da outra. A Singularidade de Cristo está no fato dele ser totalmente homem e concomitantemente ser totalmente divino. Esse antinômio, gerou uma série de questionamentos e desembocou em muitas heresias, tais como o nestorianismo, docetismo e eutiquianismo.
Diante de uma vastidão de textos que abordam este assunto, escolhi apenas dois que evidenciam tanto a humanidade quanto a divindade de Cristo Jesus.
Colossenses 1.15-17: Cristo-Deus
O apóstolo Paulo contrariando os mestres heréticos que se infiltraram na igreja de Colossos, deixa claro aqui o ensino de que Jesus é um ser divino e que não é mais uma criatura que o Deus-Pai trouxe a existência. Quando se é dito que Jesus é a imagem (Gr. eikõri) do Deus invisível, a ideia é a de que Cristo não é uma simples figura representativa. Ele é a manifestação que contém a mesma substância daquilo que revela. Deus é invisível, e isso é corroborado por outros autores neotestamentários, e Cristo, num propósito revelacional é aquele que projeta Deus para que os homens possam vislumbrá-lo. Tudo que Deus é, igualmente Jesus é. Mas na frente, Paulo nos diz que “nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”.
Para que não aja dúvida de sua divindade, nos é dito que Jesus é “o primogênito de toda a criação”. O termo que foi traduzido por primogênito não tem relação temporal. Prototokos é, na verdade, um título honorífico, e ao decorrer do discurso paulino fica evidente a honra que ele concedeu a Cristo: “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele”. Jesus é o artífice da criação, tudo partiu dele e foi feito para ele. O que isso quer dizer? Que toda a criação se movimenta na direção de Cristo, ele é o alvo. Por isso que “ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele”.
Cristo - nos ensina Paulo - não tem rivais dentre as coisas criadas. Ele está bem acima, exercendo seu governo no mundo. É a partir deEle que o mundo se formou ex nihilo. Ele é a fonte, o agente, o alvo e sustentador de todo o mundo criado. Ou seja: Jesus é Deus.
Romanos 5.12-19: Cristo-Homem
Nesse trecho da carta aos Romanos, o apóstolo Paulo equipara Cristo a um segundo Adão. Enquanto que Adão pecou e através da sua transgressão, foram encerrados debaixo do pecado – que é mortal – todo o gênero humano. Da mesma forma, através da morte de Cristo na cruz, muitos obtiveram o seu resgate e receberam a vida por graça e não a morte por salário. Se Adão é o cabeça dos homens decaídos, Jesus é o cabeça dos homens redimidos.
No versículo 15, é dito com todas as letras que Jesus Cristo é homem, e por meio dele, a graça superabundou o pecado. Usando um jogo de contrastes em sua argumentação, Paulo deixa claro que Jesus cumpriu aquilo que Adão tinha falhado. Essa é uma teologia pactual. Na medida que Adão desobedeceu a Deus e fez com que o pecado atingisse todo o cosmos, Jesus, como um servo totalmente obediente fez aquilo que era o dever do primeiro homem.
Desde o Antigo Testamento vemos que Deus utilizou-se alguns homens para realizar o trabalho dos antecessores que haviam falhado. Veja por exemplo Moisés e Josué e Saul e Davi. Quem então tomaria o lugar de Adão? O próprio Deus se encarregou disso ao assumir a forma humana. Como dizia Thomas Goodwin no século XVII: "Diante de Deus, há dois homens — Adão e Jesus Cristo, e todos os outros homens estão pendurados nos cinturões deles dois".
Conclusão
A crença da dupla natureza de Cristo nos dá segurança acerca da nossa fé, sabendo que a justificação é real, pois foi um homem que morreu pelos pecados dos homens, isto quer dizer, a substituição foi real. Ao mesmo tempo, tratando-se do Divino, a morte não pode deter o Cristo que foi morto. Ele ressuscitou por ser Senhor da vida e dos vivos. Porque ele ressuscitou, temos a garantia de que com ele, também triunfaremos sobre a morte.
Louvado seja Deus!
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REFERÊNCIAS
BRUCE. F.F. Romanos: Introdução e Comentário. São Paulo: Edições Vida Nova, 2002.
HENDRIKSEN. Willian. Romanos. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001.
LOPES. Hernandes Dias, Colossenses: A suprema grandeza de Cristo, o cabeça da Igreja. São Paulo: Editora Hagnos, 2008.
MARTIN. Ralph P., Colossenses e Filemon: Introdução e Comentário. São Paulo: Edições Vida Nova, 2002.
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