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10 de mar. de 2015

Desviados: De quem é a falha?

Por Daniel Clós Cesar

O primeiro passo neste texto é definir o que é um desviado. Popularmente, dentro de uma teologia que crê que o homem pode “perder” a Salvação, crê-se que desviado é aquele que converte-se a Cristo, tem seus pecados anulados na Cruz, torna-se salvo, nasce de novo, recebe o Espírito Santo de Deus, Cristo começa até a construir uma casa para ele no paraíso, mas que por fim ele abandona a Fé (dando inclusive um baita gasto pro Reino de Deus que terá que dispensar os anjos-pedreiros*).

Dentro da Teologia Reformada, obviamente, não existe espaço para essa figura do cristão desviado. Não cremos que aquele que conheceu a Cristo e foi liberto da escravidão do pecado e ressuscitado da morte por Ele perca-se, pois em Cristo reside toda nossa Esperança e Segurança: “Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou.” (Romanos 8.29-30 NVI). Mas existe sim a figura daquele que a Palavra descreve em Hebreus 6.4. Que não consideramos “desviado”, mas como o apóstolo João explicou em sua primeira carta (1 João 2.19): “saíram porque não eram dos nossos”. Isso deixa claro que para “reformados”, “uma vez salvo, salvo para sempre”. No entanto, isso não significa que todos que vão à igreja são salvos apenas porque disseram sim a um apelo ao final do sermão. Nossa definição de “Salvo” é completamente diferente.


Definido o que é um desviado voltamos a pergunta do título: De quem é a falha?

Alguém tem culpa nesse cartório e só podemos culpar o homem, já que Deus é Justo, Santo e Perfeito. Também não podemos culpar satanás, pois ele age conforme a permissão de Deus e Deus nunca colocaria sobre o homem uma tentação que ele não pudesse suportar, como aprendemos em 1 Coríntios 10.13. Logo, apenas o homem pode ser culpado. Quem leva a culpa então? Sim, leva a culpa o que se perde. Mas segue-se aqui um ensino bastante interessante que temos no Antigo Testamento. Em Ezequiel 33.1-9, Deus apresenta a Ezequiel a responsabilidade do atalaia sobre os homens. Se é responsabilidade do homem se defender das flechas do inimigo e preparar-se devidamente para a batalha, é tarefa do atalaia avisar da aproximação do inimigo.

Quantos pastores simplesmente deixaram de ser atalaias porque avisar que o mar de trevas se aproxima é péssimo para alguém que quer apenas carregar boas notícias? Atalaias estão permitindo que soldados morram porque estão mais preocupados com suas posições eclesiásticas e sociais que com sua posição de submissão a Deus.

No entanto, o grande problema dos pregadores e líderes cristãos contemporâneos é o conceito de Salvação que têm. Pessoas salvas são aquelas que respondem ao apelo e começam a vir aos domingos, entregam seus dízimos e suas ofertas e eventualmente participam de algum ministério ou programação promovida pela igreja. Péssimo conceito a ser adotado, pois, no afã de aumentar seus números, sua arrecadação e junto com isso seu prestígio junto à comunidade evangélica, pastores barateiam o Evangelho. E como isso é feito? Separo em três pontos:

1º. Simplificação do Evangelho: simplificação aqui não é tornar a Palavra de fácil entendimento, isto seria e é pedagogicamente correto. Ensinar a Bíblia para um letrado e diferente de ensiná-la para um analfabeto, ou do ensinar a Palavra para uma criança ou adulto. Não é dessa simplificação. A simplificação que falo é a simplista. A Palavra perde todo seu teor poderoso para transformar o homem e é transformada em um reles manual de “uma vida melhor” ou “uma vida vitoriosa”.

2º. Abandono do Ensino das Escrituras: isso tornou a Palavra apenas um adendo a todo tipo de programação antropocêntrica a que a igreja está mergulhada. Com tanto tempo dedicado a teatro, música, chá das senhoras, futebol, reunião dançante, almoço de casais, jantar de solteiros etc. O tempo dedicado ao Ensino das Escrituras é substituído por eventos que acredita o pastor, são mais fortes para segurar e atrair novos membros.

3º. Adoção de métodos de crescimento de igreja: Veja, uma coisa é você adotar um método de ensino da Palavra, como a EBD, ou de evangelismo, método de abordagem ou coisas do tipo, que podem ser uteis, principalmente para novos na Fé. Métodos para crescimento de igreja não são isso. Modelos como G12, M12 ou MDA, por exemplo, são métodos baseados em modelos administrativos que visam o crescimento da igreja unicamente pelo crescimento. A igreja (instituição) cresce, mas a igreja (noiva de Cristo), nem mesmo nasce nesses lugares. Crentes raquíticos e uma igreja fraca, resultado, grande rotatividade da membresia e elevado número de desviados ou “crentes carnais” (mais um dos absurdos conceituais da igreja contemporânea). Adotar um método de crescimento é um atestado de que este líder ou pastor não confia no poder sobrenatural da mesma Palavra que criou o Universo tem agora o poder para Salvar. Como está escrito em Jeremias 17.5: “"Maldito é o homem que confia nos homens...”, e isso inclui seus métodos para inchar igrejas.

Tenho uma teoria, é apenas uma teoria, mas tenho bons argumentos para ela. Se uma igreja recebe muitas pessoas e elas não conseguem ficar muito tempo sentadas nos seus bancos, é porque talvez não tenha sido gerada nenhuma Fé para Salvação em suas vidas. Elas podem estar bem alimentadas quanto a relacionamentos e ter uma vasta carta de programação para preencher o vazio de suas vidas pouco sociais por toda uma semana, quem sabe um mês.

Mas se os pastores dessas igrejas parassem para ouvir suas próprias pregações, talvez encontrassem o erro que tem transformado suas congregações em parada de ônibus e não em aprisco para ovelhas. "A Fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Romanos 10.17)... então talvez o que eles estejam ouvindo não seja a Palavra de Deus... e este é só um dos argumentos."
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*Anjos-Pedreiros não existem, então se alguma denominação neopentecostal começar a utilizar este anjo para alguma coisa vou cobrar direitos autorais.

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