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23 de jun. de 2015

Antítese ou Síntese: Onde o Cristianismo se encaixa?

Por Thiago Oliveira

“E disse-lhes Jesus: eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém nem ao Pai, senão por mim”.

João 14:6

Se você já leu alguma coisa do Kuyper ou do Schaeffer, você faz ideia do que as palavras antítese e síntese querem dizer na pergunta que dá título ao texto. Ambas remetem a uma metodologia do pensamento. O Cristianismo - visto como um sistema - se utiliza da antítese. Já os sistemas mundanos usam a síntese para chegar as suas conclusões.

A antítese funciona da seguinte maneira: Se A é verdadeiro, logo A não pode ser falso. Tendo duas alternativas, poderíamos ilustrar assim: A e B, se A é verdadeiro, logo B é falso. Já a síntese vai dizer que a verdade é parcial tanto em A quanto em B, desembocando numa terceira via: C. Portanto, temos: 
De acordo com a dialética, da qual o filósofo alemão - Hegel - pode ser considerado o patrono, a síntese pode gerar outra tese e outra antítese, que por sua vez criam uma nova síntese e a coisa vai se repetindo de forma contínua e inesgotável.

Em termos práticos, veremos como o sistema da síntese funciona, e como ele se opõe ao Cristianismo: A Bíblia afirma que Deus criou homem e mulher (Gn 1.27). Se Adão é macho (A), Eva (B) é fêmea. Logo, Adão não pode ser mulher e nem Eva pode ser homem. Todavia, sabemos que isto já foi sintetizado. Vemos em nossa sociedade homens e mulheres com a aparência cada vez mais andrógina. Também presenciamos o nascimento de outro gênero para além de homem e mulher, que é o transexual (C). Raciocinando pelo escopo da síntese, o homem nasce João, mas pode se tornar Joana e assumir uma identidade de gênero contrária a do seu nascimento.

E para ilustrar a dialética, que está sempre desenvolvendo novas sínteses, o próprio conceito de transexualidade já está sendo questionado pelos representantes do segmento LGBT. Transexual é a pessoa que fez a cirurgia de mudança de sexo e passou a ter uma identidade de gênero distinta da do seu nascimento, e travesti é aquela que apesar de se apresentar como alguém de um gênero diferente, ainda possui seu órgão sexual original. Mas, recentemente estive numa palestra sobre homofobia onde o palestrante falou algo mais ou menos assim: “Quem foi que disse que para ser mulher tem que ter vagina e para ser homem tem que ter pênis?” Soa absurdo esse tipo de questionamento? Não para quem abraça o sistema da síntese.

Negar a antítese é abdicar dos absolutos morais. Eis o perigo. Verdade e mentira; certo e errado; justo e injusto;  esses conceitos todos serão relativizados, perdendo assim o seu significado. Se não existe significado no campo da moral, a vida perde o sentido. Daí vem o niilismo e leva a humanidade a viver num estágio de desespero. Quando alcançamos o niilismo, barbárie ou suicídio são as alternativas mais comuns. O homem da síntese “matou” Deus, como sugeriu Nietzsche, e com isso também assassinou a si próprio: desespero total.

No entanto, o niilismo não é só capaz de produzir ateus com potencial suicida. Ele também foi capaz de fazer o homem moderno dar um salto de fé irracional, em busca de um significado para a sua existência. Fugindo assim da razão, o homem tenta escapar do desespero e parte em busca de experiências que vão desde o uso de entorpecentes, até o misticismo religioso. Por isso que a religião – contrariando os iluministas que previam o fim da mesma no século 20 – continua firme e forte no novo milênio.

Isso explica o crescimento do sincretismo religioso. O que importa, para o homem de nossa época, é buscar uma experiência que fuja do campo racional e nos leve a um campo metafísico inexplicável. É o que vemos constantemente na mídia. Num certo programa de domingo, um cantor gospel evangélico é uma das atrações. Só que ele está rodeado de pessoas que professam outros credos. Cada um começa a falar sobre sua fé. Daí, constatamos o discurso comum de que a fé pela fé é algo bom. No fim do programa, a apresentadora pede para que todos cantem em veneração ao “deus-Samba”. O pagode então começa e os créditos vão subindo na tela.

Como cristãos, precisamos nos opor a síntese e continuar raciocinando por antítese. No texto de João 14.6, Jesus disse que ele era o caminho para Deus-Pai. Logo, nenhum outro ente pode nos conduzir a Deus. A salvação está garantida apenas por intermédio de Cristo. Quem crer nele está salvo, quem não crer está condenado (Jo 3.36). Jesus também alega ser a verdade. Esta é uma declaração singular. Ele não é mais uma dentre tantas verdades espalhadas mundo afora. A antítese dessa proposição é a de que outro credo, que não confessa Cristo como verdadeiro, é totalmente falso. E o que é falso, por antítese, não pode ser verdade.

Por fim, Jesus diz que é a vida. Não é Buda que é a vida. Tampouco Maomé. Nenhuma divindade africana, hindu, grega ou romana é a vida. Apenas Cristo é. Portanto, em Jesus está o sentido que os homens em seu desespero tanto procuram nos seus experimentos místicos e irracionais. Ele é a resposta para o dilema dos homens pós-modernos.

Fica claro que a antítese se encaixa no Cristianismo, caindo nele como uma luva. Só que o evangelicalismo precisa ficar atento. A síntese tem adentrado em muitas congregações. O que mais vemos por aí são manifestações misteriosas e incomunicáveis. Quando se pede uma razão para tais experiências, a saída é alegar que são mistérios de Deus impossíveis de serem explicados. Isto é fé pela fé e não coaduna com o Cristianismo revelacional, no qual Deus se comunica e opera também no campo da razão. A revelação está ligada a razão e devemos crer porque é verdade. A fé cristã não é cega e inexplicável, ela faz sentido e é comunicável.

Em sua carta, Pedro diz que devemos estar aptos para responder a qualquer um que nos pedir a razão da nossa esperança (1 Pd 3.15). E Paulo aos romanos vai falar do culto racional, que transforma o mundo pela renovação do entendimento (Rm 12.1-2). Agir contrariando estes preceitos é dar o salto irracional que os homens no desespero têm dado para tentar encontrar algum significado no mundo. Conversando certa vez com um rapaz, ouvia-o falar com entusiasmo sobre a sua conversão. Ele falava que sentiu algo diferente, não sabia explicar direito. Perguntei a ele o porquê de ter confessado a Cristo e ele me disse que não fazia ideia. Aquele rapaz não foi ao Salvador por ter reconhecido sua miserável natureza pecaminosa. Ele não foi até o nosso Redentor por ter ciência de que estava condenado sem Jesus. Foi apenas uma experiência mística sem envolver a razão.

Pude ter uma boa conversa com aquele irmão. Falei do texto de 1 Pedro 3.15 para ele e o instiguei a estar sempre discernindo as experiências com embasamento bíblico. Dias depois ele me agradeceu e disse que aquela conversa estava reverberando em seu íntimo. Passado um tempo, vi o mesmo com um bloco de anotações e uma caneta, estava tomando nota daquilo que o pregador estava expondo. Louvei a Deus por ter visto aquela cena.

O Cristianismo é a verdade. A Bíblia é verdadeira em todo seu conteúdo. Alguns dizem erroneamente que sem o Espírito Santo a Bíblia é um livro como qualquer outro. Não! A Escritura não se torna verdadeira por conta da atuação do Espírito de Deus. O que o Santo Espírito faz é apenas atestar aos que por Ele são iluminados, que cada linha que ali está registrada é verdadeira. Logo, o que é verdade não pode ser falso. Continuemos por este caminho. Na antítese permanecemos na ortodoxia; e o SENHOR é glorificado nisso.
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GLOSSÁRIO:

Andrógino: Aquele que mescla em sua aparência traços masculinos e femininos.
Antítese: O oposto de uma tese, ou, o contraste entre duas coisas. Ex: alegria é a antítese da tristeza.
Dialética: Movimento triplo em que tese e antítese resultam numa síntese, que por sua vez cria outra tese e outra antítese e o movimento continua nesse fluxo.
Metafísico: Usado aqui como sinônimo para sobrenatural, ou seja, aquilo que empírica e experiencialmente não se pode catalogar.
Misticismo: Disposição para crer e procurar viver no sobrenatural, sem muita fundamentação. A busca pela realidade metafísica através de iluminação imediata.
Niilismo: A crença de que a existência não tem significado e com isso toda a vida não faz sentido.
Ortodoxia: O ensino correto, sistematizado e alinhado à Escritura.
Síntese: O resultado da combinação parcial de tese e antítese

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