Por Bruno Rafael Souza
A VERDADE NA COSMOVISÃO CRISTÃ E NO PÓS-MODERNISMO – O DESESPERO.
Não é de hoje que o homem busca a verdade, mas de
onde ela vem? Que fundamento eu tenho para afirmar que a conheço ou a possuo? Será
que ela não existe e os pós-modernos estão corretos em afirmar que cada um cria
a sua verdade? Se a verdade não existe, o que sobra para mim, para a família,
para o mundo e a história? Essas perguntas fazem parte de nossa vida mesmo que
pensemos nelas tacitamente. Nesse texto, procuraremos mostrar os pressupostos
de uma cosmovisão, compará-la com a visão de nosso tempo e trabalhar um pouco
as consequências de uma vida sem uma epistemologia baseada na revelação.
A DEFINIÇÃO DA VERDADE NA COSMOVISÃO CRISTÃ
O mundo é visto sempre com um conjunto de ideias
admitidas sem testes e estes estão fundamentados pelos pressupostos. Por isso,
quando queremos definir qualquer conceito, devemos levar em consideração a
questão da cosmovisão. Franklin Ferreira diz o seguinte:
A cosmovisão é uma pirâmide construída de cima para
baixo. Sendo assim, o ápice determina toda a estrutura da parte inferior. No
ápice estão os pressupostos, os axiomas principais, que são o ponto de partida
para tudo que vem depois. Pressupostos são as pressuposições básicas, tomadas
como verdade, sem prova anterior, que formam a base para determinar todas as
demais preposições que fazem parte de uma interpretação de mundo daquela
cosmovisão. É importante entender que os pressupostos não são o resultado de
argumentos anteriores. Se fossem, eles seriam conclusões e não pressupostos. Os
pressupostos são aquelas verdades consideradas tão obvias, que ninguém ousa
duvidar delas.[1]
É notório diante dessa explicação que ao
trabalharmos o que é a verdade, devemos vê-la a partir dos pressupostos. Um
exemplo é quando dizemos que o mundo veio de uma explosão (Big-Bang). Nessa
afirmação fica claro nossa definição sobre a natureza da vida (metafísica), que
seria evolucionista e também que admitimos que é possível conhecer a verdade
(epistemologia). Não iremos tratar da metafísica aqui, mas sim da epistemologia
que é o princípio do que tange o desenvolvimento de uma cosmovisão, para depois
partirmos para a comparação da cosmovisão cristã da verdade contra a cosmovisão
pós-moderna da verdade. Sobre epistemologia Frankin ainda afirma:
A primeira é a teoria do conhecimento, a
epistemologia, que é o ponto de partida. Seria impossível construir uma
cosmovisão sem um método para distinguir entre o verdadeiro e o falso. A
epistemologia responde a questão: Como é que nós conhecemos o que é verdadeiro?
Será que é por meio da razão e da lógica (racionalismo); da ciência e da
experiência dos sentidos (empirismo); da intuição (misticismo); ou da
revelação? Será que o conhecimento existe ou não há conhecimento (ceticismo)? A
verdade é absoluta ou relativa? Tudo isso se encaixa no campo da epistemologia.[2]
Está evidente que o que conhecemos como verdade na
cosmovisão cristã, parte da revelação. Contra o outro ponto que é da linha
pós-moderna da verdade, que parte do misticismo ou existencialismo. Vejamos o
que Bavinck tece sobre a revelação vinda da religião, como ponto de partida
para o conhecimento:
As ideias sobre a revelação seguiram o seguinte
esquema: Deus pode ser conhecido somente por Deus. Todo conhecimento e serviço
de Deus, consequentemente, está arraigado na revelação feita por ele, mas essa
revelação de Deus na natureza e na história é insuficiente. Por essa razão, se
faz necessária uma revelação especial, sobrenatural, que começa imediatamente
depois da queda.[3]
Francis Schaeffer no livro a morte da Razão explica
bem esse conceito de revelação que trás o ponto de partida para todo o
conhecimento, citando diretamente o importantíssimo trabalho dos reformadores:
Deus falou nas escrituras tanto sobre o andar de
cima como sobre o andar de baixo. Falou em verdadeira revelação de si mesmo –
as coisas celestiais – e falou em verdadeira revelação a respeito da própria
natureza – o cosmos e o homem. Portanto, os reformadores tinham uma real unidade
de conhecimento.[4]
Em suma, o que se entende por cosmovisão cristã da
verdade, parte da revelação como método de interpretação do mundo. Os
reformadores captaram bem essa verdade. As demais definições como ética,
teleologia, metafísica (como demonstramos antes), são subsequentes ao que
entendemos por verdade e como a conhecemos. Entender
tudo isso é fundamental para dizermos o que é de valor, quer seja para
afirmarmos de onde viemos, o ideal de família, do trabalho, da vida após a
morte ou o sentido da vida.
COMPARAÇÃO DE COSMOVISÕES – UMA ANÁLISE SOBRE A
VERDADE NO PÓS-MODERNISMO
Segundo os autores citados, a cosmovisão cristã da
verdade parte da revelação, ou seja, sua base epistêmica é a revelação de Deus
na escritura. Com isto em mente, comparando com a questão da verdade na
pós-modernidade, ficará claro a inconsistência dos teóricos da pós-modernidade,
pois a religião cristã traz a revelação de tudo, não restando dúvidas ou uma
busca desenfreada pela verdade, onde vemos solidez e um apoio lógico para a
análise do mundo.
No entanto, é preciso voltar um pouco os olhares
para a história, pois foi em Tomás de Aquino que foi aberta a porta para o
homem autônomo, que usava a razão para interpretar o mundo, dando o passo para
a frustração em não encontrar a verdade, trazendo assim uma futura
irracionalidade:
Tomas de Aquino abriu a porta para o homem
independente no andar inferior, para uma teologia natural e uma filosofia que
eram autônomas em relação às escrituras. Isso levou, no pensamento secular, a
necessidade de depositar finalmente a esperança toda em um andar superior não
racional.[5]
O que sobra depois dessa brilhante afirmação de
Schaeffer, é dizer que dar um salto no andar superior, é mergulhar no não
racional, na loucura, onde não há fundamentos para verdade, deixando tudo um
vácuo só. Agora, imaginemos o que pode vir concernente à ética, metafísica e
teleologia? Nessa visão, Edward Veith contribui com mais uma explicação sobre o
que veio depois da frustração do racionalismo iluminista:
O romantismo do começo do século dezenove lançou em
completa desordem o iluminismo. Em vez de ver a natureza como uma vasta
máquina, os românticos a viam como organismo vivo. Em vez de crer com os deístas
que Deus está longe e desinteressado, os românticos criam que Deus está perto e
intimamente envolvido no mundo físico. Deus é imanente na natureza e em nós
mesmos. Alguns chegaram a acreditar que Deus é idêntico com a natureza e o eu,
rejeitando o Deus da Bíblia (que é tanto imanente como transcendente) em favor
de um novo panteísmo. Onde o iluminismo considerava a razão a faculdade humana
de maior importância, o romantismo tinha a emoção como essência de nossa
condição humana. Os românticos exaltavam o individual acima dos sistemas
impessoais e abstratos. A auto-realização, e não a praticalidade, era a base
para a moralidade.[6]
Em suma, os homens sem a verdade buscaram ainda
encontrá-la, procuraram dar sentido a existência, vendo Deus como a natureza,
confundindo tudo, desaguando em si mesmos emotivamente, sem a razão como
instrumento ou a revelação. Um passo mais adiante veio o existencialismo e sua
relativização da verdade vinda desse “eu” humano:
Segundo o existencialismo, não há sentido nem
finalidade inerente na vida. A ordem automática cega da natureza e as
conclusões lógicas do racionalismo podem até mostrar ordem, mas são desumanas.
No que diz respeito ao ser humano, as repetições estúpidas das leis naturais
não têm sentido. A esfera objetiva é absurda, vazia de qualquer significação
humana.
O existencialismo oferece a base lógica para o
relativismo contemporâneo. Visto que cada um cria seu próprio significado,
todos os significados são igualmente válidos.[7]
A conclusão que chegamos comparando as duas cosmovisões
da verdade, é que o pós-modernismo relativiza a verdade a cada pessoa, pois
cada pessoa teria sua própria verdade. A razão autônoma não era capaz de ser um
instrumento confiável, nem também a revelação, portanto, ninguém poderia chegar
à verdade bruta, caímos no desespero e na desesperança criando nosso próprio
significado. Quais garantias temos do futuro? Por isso depositamos atualmente
nossas esperanças nos artistas, no pessimismo dos filósofos atuais e caímos
muitas vezes na depressão, drogas e suicídio. Sob essa ótica, sem os
fundamentos, a família seria destruída, como também a ética, a visão
criacionista e o sentido da história. A única saída é um retorno às bases, com
uma epistemologia fundamentada na revelação, que nos dê subsequentemente uma
boa metafísica, ética e teleologia. Voltaríamos a ter uma família saudável, com
uma história redentiva pautada na revelação e a possibilidade do conhecimento.
[1]
FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia sistemática. 1.ed. São Paulo: Edições
vida nova, 2007. p. 6.
[2]
Ibid. p. 9.
[3] BAVINCK, Herman. Dogmática reformada.
Vol. 2. São Paulo: Cultura Cristã, 2012. p. 287.
[4] SCHAEFFER, Francis. A morte da razão.
1 ed. São Paulo: Ultimato, 2014. p. 29.
[5] SCHAEFFER, Francis. A morte da razão.
1 ed. São Paulo: Ultimato, 2014. p. 57.
[6] VEITH, Edward. Tempos pós modernos. 1
ed. São Paulo: Cultura cristã, 1999. p. 18.
[7]
Ibid. p. 19.
Nenhum comentário:
Postar um comentário