Por Thiago Oliveira
Roteiro:
1. Batismo:
Ordenança e Sacramento
2. Batismo
como Meio de Graça
3. O
Batismo anterior ao Cristianismo
4. O
Batismo de João
5. Crenças
Equivocadas sobre o Batismo
6. A Forma
de se Batizar
7. O
Batismo Infantil
1. Batismo: Ordenança e Sacramento
(a) Quando dizemos que o Batismo é uma ordenança,
significa que ele é uma prescrição contida na Escritura, ou seja, uma ordem a
ser cumprida por todo aquele que se professa cristão. No caso do Batismo, o
próprio Cristo ordena que se batize em nome da Trindade e faz dele um selo de
identificação que serve àqueles que compõem a comunidade da fé (Mt 28.19).
(b) Quando dizemos que o Batismo é um sacramento,
significa que ele é um sinal visível da graça invisível. Ele é a marca - ou
selo – das bênçãos e promessas que são propriedades da fé cristã. A Palavra
precede os sacramentos, e os sacramentos tem por base a Palavra, sendo Cristo o
conteúdo central de ambos. O Batismo e a Ceia do Senhor são os dois sacramentos
ministrados na Nova Aliança. Seus equivalentes no Antigo Testamento são a
Circuncisão e a Páscoa.
2. Batismo como Meio de Graça
Os Meios de Graça formam a via ordinária pela qual Deus
transmite a Sua Graça, acionando-a no coração dos pecadores remidos. São
através deles que o Espírito Santo opera, produzindo e confirmando a fé. Assim
sendo, tais meios (Pregação + Sacramentos) são instrumentos contínuos da divina
Graça.
Os benefícios que o Batismo traz a nossa fé são (i) a confirmação de que obtivemos a
purificação dos nossos pecados mediante a salvação conquistada por Cristo (Ef
5.26 e Tt 3.5); (ii) a identificação
de uma nova vida por meio de Cristo, pois, morremos para o mundo a semelhança
de Sua morte e renascemos tal como Ele ressurgiu dos mortos (Rm 6.4 e Cl
2.12-13); e (iii) o revestimento de
Cristo sobre nossas vidas, de modo que estamos n’Ele unidos, formando um mesmo
corpo, num só Espírito (1Co 12.13 e Gl 3.27).
3. O Batismo anterior ao Cristianismo
Antes de se tornar uma ordenança cristã, os judeus
praticavam o Batismo como parte cerimonial das suas purificações. Também havia
o Batismo dos prosélitos, quando os gentios eram inclusos na comunidade de
Israel. Nesse caso, o Batismo era posterior a Circuncisão. As crianças já
nascidas também recebiam o Batismo, juntamente com seu pai. As que nasciam
depois não eram batizadas, pois, eram consideradas já limpas por conta do
Batismo de seu genitor.
4. O Batismo de João
Há diferença entre o
Batismo cristão para aquele executado por João Batista? Teólogos mais antigos e
da linha reformada, tais como João Calvino, sustentam a ideia de que os dois
batismos são doutrinariamente idênticos. João administrava o Batismo numa
relação sacramental com o perdão dos pecados (Mc 1.4), utilizando a água como
elemento visível e apontando para Cristo (Jo 1. 29-31). Além do mais, foi o
próprio Deus quem estabeleceu o Batismo de João (Jo 1.33).
Aqueles que objetam essa
ideia, geralmente utilizam a passagem de Atos 19. 1-6. Segundo eles, Paulo
rebatizou um grupo de homens em Éfeso que haviam recebido apenas o Batismo de
João. Mas, essa interpretação do rebatismo é contestada. O próprio Calvino foi
um que rejeitou a ideia do rebatismo. Calvino defendia que o Batismo em nome de
Jesus foi a imposição de mãos e o recebimento do Espírito Santo.
5. Crenças Equivocadas sobre o Batismo
Dentre os equívocos
doutrinários acerca do Batismo, ainda no período patrístico, encontramos a
ideia da “regeneração batismal”. Agostinho, por exemplo, cria que o Batismo
eliminava a culpa original. Ele usava esse argumento em favor do Batismo
infantil. Na compreensão de Agostinho, as crianças não batizadas estavam
perdidas.
Já outros pensavam que o
Batismo purificava os homens apenas de seus pecados passados, por isso, muitos
desejavam obter a purificação, batizando-se já nos momentos finais de suas
vidas. Tal concepção derivava-se do erro de considerar o Batismo um ritual
metafísico. O próprio Lutero, reformador da Igreja, chegou a dizer que a água
batismal era modificada pela Palavra, tornando-se assim uma água purificadora.
Já um dos erros mais
recorrentes é considerar o Batismo indispensável para a salvação, quando na
verdade, a condição é somente a fé, sendo o Batismo uma forma de professar a fé
em Cristo.
No mormonismo existe a
prática do Batismo pelos mortos. Eles se apoiam no texto de 1 Coríntios 15.29.
Todavia, é inconcebível estabelecer uma prática - ou doutrina – tendo por base
um único versículo isolado. Ademais, o versículo em questão tem um significado
não tão claro, além de não ser prescritivo.
6. A Forma de se Batizar
Com exceção dos batistas, que defendem a ideia de que a
única forma correta de se batizar seja a imersão, a opinião predominante é a de
que o modo não é muito importante, desde que o fundamento (a purificação/remissão
dos pecados) esteja evidente no ritual. Portanto seja por imersão, aspersão ou
afusão, o que deveras importa é que sirva de sinal para o que se batiza e para
as demais testemunhas de que em Cristo, os pecados presentes, passados e
futuros foram lavados de uma vez por todas, nos tornando limpos diante de um
Deus Santo e incluídos em Seu povo, eleitos no Seu amado Filho.
Aqueles que defendem a imersão como sendo a única forma
correta de se batizar, fundamentam sua tese nas palavras “bapto” e “baptizo”.
Segundo alegam, os termos significam imergir/mergulhar. Logo, a imersão seria a
maneira biblicamente correta para batizar. Acontece que na Escritura, nem
sempre estes termos significam mergulhar. Um exemplo claro é Marcos 7.4. Nesse
versículo encontramos “baptizo” e “baptismos” sendo usados em referência a lavar/limpar
o corpo e objetos. Já em 1 Coríntios 10.2 é impossível pensar que os hebreus
mergulharam na nuvem.
Ademais, quando Paulo diz que somos batizados no
Espírito (1 Co 12.13), devemos recordar que o Espírito que nos purifica,
simbolizado pela água no Batismo, foi derramado sobre nós, tal como nos diz
Joel 2.28-29 e Atos 2. 4 e 33. Em Hebreus 10.22, o termo purificado, no
original tem o sentido de borrifar/aspergir.
Em suma, podemos dizer que a aspersão e a afusão são
boas representações tanto quanto é o Batismo por imersão.
7. O Batismo Infantil
A prática do Pedobatismo, isto é, o Batismo Infantil,
gera polêmica desde que os anabatistas (séc 16) passaram a pregar que somente
os adultos deveriam ser batizados, pois, para receber o sacramento seria
imprescindível a profissão da fé. Fora os anabatistas e os seus herdeiros, as
demais igrejas cristãs batizam crianças pequenas, não lhes negando o sinal da
Graça Divina.
Como vimos, o Batismo é um sacramento, tal como é a
Ceia do Senhor. Os seus equivalentes no Antigo Testamento são a Circuncisão e a
Páscoa. Isso quer dizer que a Circuncisão era o Batismo dos que pertenciam a Antiga
Aliança. Ela era um sinal da purificação executada por Deus no coração do homem
(Dt 10.16 e 30.6). Também indicava uma mortificação do ego para se viver em
novidade de vida, gozando das bênçãos advindas do Senhor, pois, a obediência a
Deus foi requerida no estabelecimento da Circuncisão (Gn 17.9-10). E por fim,
representava a inclusão na comunidade do Senhor, gerando identificação com Ele
(Gn 17.14).
Aos efésios, Paulo diz que os que estavam sem Cristo
eram os da incircuncisão, identificando o sinal da aliança com o objeto da sua
promessa, que é Cristo (Ef 2. 11-12). Para os que ainda tem dúvidas sobre a
correlação entre a Circuncisão e o Batismo, basta ler Colossenses 2. 11-12.
Aqui, Paulo é bastante claro ao afirmar que os irmãos de Colossos foram circuncidados,
assim como foram os judeus, e a Circuncisão deles ocorreu quando foram
sepultados com Cristo no Batismo.
Logo, se na Antiga Aliança os filhos do povo santo
recebiam o selo da inclusão aliancista, porque seria diferente com os filhos do
povo santo na Nova Aliança? Todos os que são crentes em Jesus são filhos de
Abraão e herdeiros da promessa (Gl 3.29 e 4.28). Assim, como os filhos de
Israel recebiam de seus pais o sinal de que eram pertencentes a uma nação
eleita e separada das demais, a Escritura afirma que os filhos dos crentes
também são santos (1 Co 7.14). Ademais, no discurso de Pedro no Pentecostes ele
diz que o perdão dos pecados e o dom do Espírito são promessas para seus
ouvintes adultos e para seus filhos 9At 2.38-39). Portanto, quando um cristão
batiza seus filhos, ele esá confiando nas promessas da Aliança de que por meio
de Cristo (a semente de Abraão) a sua família é bendita (Gn 12.3). Não nos
esqueçamos de que Deus se deleita em salvar famílias.
Ao longo dos séculos, algumas objeções ao Pedobatismo
se tornaram constantes e comuns. Iremos responder uma fatia considerável dessas
objeções:
a) Não está nítida a substituição da
Circuncisão para o Batismo.
Se nitidez significa um versículo que fale: “troquem a
Circuncisão pelo Batismo”, não temos. Mas, diante do que já foi exposto, basta
um pouco de boa vontade para ver a relação entre ambos. Os sacramentos do
Antigo Testamento foram trocados, pois, depois de Cristo não há mais
necessidade de derramamento de sangue e nem necessidade de sacrificar. A
Circuncisão e a Páscoa continham esses elementos desnecessários – derramavam
sangue – uma vez que Cristo já nos purificou com Seu sangue (1 Jo 1.7) e o Seu
sacrifício pelos nossos pecados é pleno, válido para sempre (Hb 10.10-12).
b) A Bíblia não mostra crianças sendo
batizadas, só adultos.
Sim, em Atos vemos que muitos adultos foram batizados
após crer na pregação do Evangelho. Isso é óbvio, pois são os adultos, e não os
bebês o alvo da pregação. No entanto, vemos que quando Pedro pregou em
Pentecostes, disse que as promessas eram também para os filhos (At 2. 38-39).
Visto que não havia “departamento infantil”, os pais que ali se encontravam com
seus filhos entenderam perfeitamente que seus rebentos estavam inclusos na
Aliança. E em três passagens, Lucas registra no livro de Atos que famílias
inteiras foram batizadas (At 10. 2, 44-48; 16. 14-15; 16.31-34). Difícil
pressupor que não havia crianças numa família do século 1, e como Lucas não
menciona nenhuma exceção, não há motivos paa não crer que crianças foram
batizadas juntamente com seus pais.
c) É preciso crer para ser batizado.
Esse é um princípio válido para adultos que estão fora
da Aliança. Foi assim com Abraão no início. Primeiro ele creu, depois recebeu o
selo. Já com Isaque, não foi assim e nem com Jacó. Depois de incluído na
Aliança, o pai pode selar seus filhos. É preciso fazer uma ressalva: Muitos no
Antigo Testamento receberam o selo da Aliança, mas, foram rejeitados por Deus.
Em Romanos 9, Paulo usa o exemplo de Ismael e Esaú como rejeitados, mesmo circuncidados. Da mesma forma, nem todos
os que são selados no Novo Testamento serão salvos. Mesmo assim, Deus ordenou
que todos fossem selados. Ele é quem faz a seleção, não nós. Há também a
responsabilidade paterna de ensinar aos filhos os preceitos da Aliança (Dt
6.4-9).
d) A questão das mulheres
Os detratores do Batismo Infantil alegam que apenas os
homens recebiam o selo no Antigo Testamento, e as mulheres ficavam de fora.
Logo, já que o Batismo é o equivalente da Circuncisão, elas não deveriam ser
batizadas.
É verdade que as mulheres não eram circuncidadas, e o
motivo é fisicamente óbvio. Mas isso não quer dizer que elas estavam fora da
comunidade de Israel. De alguma forma, o sinal do seu genitor lhe garantia a
inclusão. O mesmo acontecia com estrangeiras. Raabe e Rute são prova disso. O
selo dos seus maridos lhes asseguraram o direito a identidade israelita. Isso é
tão verdade que elas são inclusas na genealogia (Mt 1.5).
Uma vez que a água passa ser o elemento purificador no
Novo Testamento, não existe nenhum impedimento físico, como no caso da
Circuncisão, que prive as mulheres de receberem o sacramento.
e) A questão da Ceia
Outra alegação dos contrários ao Pedobatismo é a de que
existe contradição ao batizar crianças e não deixar que elas participem da
Ceia. A questão é que na Ceia existe uma dupla limitação para os infantes: Examinar
a si mesmo (1 Co 11.28) e anunciar a morte do Senhor (1 Co 11.26). É como já vimos,
no Batismo não é necessário a confissão daqueles que nascem de pais cristãos
para que recebam o sacramento. A confissão de fé será requerida na idade da
razão, confirmando ou não o sacramento recebido.
O Batismo não é para anunciar a redenção, como é a Ceia
e como era também a refeição pascoal (Ex 12.24-27). O Batismo é o sinal da
pureza por meio de Cristo. Se a confissão de fé for elemento essencial para as
crianças se purificarem, podemos então dizer que todos os que morrem antes de
atingirem a idade da razão estão condenados ao inferno? Óbvio que não
chegaremos a essa conclusão. O Espírito Santo pode e de fato purifica os seus,
tornando-os justos diante de Deus, mesmo ainda dentro do ventre materno (Lc
1.15 e Rm 9.10-13).
Aqui concluímos as refutações dos argumentos
anti-pedobatistas. Fica explícito que não são argumentos tão fortes para
destruir a sólida base do Batismo Infantil. Assim sendo, que as nossas crianças
sejam celebradas como membros da Aliança e que não sejam provadas de receberem
a identificação de que pertencem ao Senhor Jesus e não ao mundo.
Soli
Deo Gloria
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