“Uma maldição jaz sobre aqueles”, dizia Sibbes
[1], “que, quando a verdade sofre, não têm uma palavra para defendê-la”.
Os jargões do evangelicalismo são inúmeros, têm
vocábulos para todo gosto e qualidade. É difícil compreender alguns, mesmo
sendo um cristão fervoroso. Nossos cultos e homilias estão recheados por
expressões e frases esquisitas. Confesso que muitas dessas expressões não só
agridem os ouvidos como também afastam as pessoas. Nosso culto tem deixado de
ser bíblico, cristocêntrico e simples por causa de tantas atrações e
entretenimentos. Na verdade, o exemplo de Cristo (Lc 15.1) é o oposto do que
vemos nas comunidades cristãs. Os pecadores não são atraídos com o intuito de
ouvir o que deve ser dito.
Certamente devemos ensina, escrever e motivar
as nossas igrejas em prol de uma liturgia adequada sobre o princípio que deve
reger o culto ao Senhor - Bíblia. Todavia, o ponto desse texto deve ser: o
mover de Deus. Acredito que você já ouviu da boca de algum cristão: "hoje
vai ser um mover de Deus no culto (congresso, vigília, reunião de oração,
acampamento)!" Ou, você deve também já ter ouvido que aquele evento ou
aquela pregação foi um "mover dos céus". Sensações e arrepios são os
aperitivos destes "encontros com Deus", para o prato principal é
oferecido uma variedade de elementos como: "palavras e danças
proféticas", "línguas estranhas", "cair no espírito" e
por aí vai... Como sobremesa, ainda temos "apelos" e
"correntes". E sobre isso, cá pra nós, os "evangélicos"
fazem muito bem. E olhe que não quero entrar no campo da música, daquelas
infinitas repetições de frases que parecem um "mantra gospel".
O que devemos perceber é que o culto deixou de
ser um lugar onde Deus é adorado como deveria ser (Jo 4.23-24), a Escritura
deixou de ser pregada com autoridade e equilíbrio e o Dia do Senhor passou a
ser o dia do centro das nossas satisfações (Is 1.12). Precisamos voltar às
Escrituras, observar um momento propício onde Cristo ensinava uma grande
multidão e no término da sua exposição havia perplexidade e maravilhas entre
todos (Mt 7.28-29). O sermão do Monte é um texto riquíssimo, espetacular, nele
é ensinado de fato o que deveria ser para nós o mover de Deus. O texto do
Evangelho de Mateus nos mostra que logo após a tentação de Cristo (Mt 4.1-11),
no início do seu ministério, ao ver as multidões decide investir tempo com o
propósito de expor seus ensinamentos (Mt 5.1-8.1).
Durante toda a exposição percebemos a
quantidade de assuntos que é tocado com tanta autoridade por Cristo, a
linguagem de Cristo é simples aos ouvintes e clara para que todos possam
compreender. As bem aventuranças (Mt 5.3-12), as responsabilidades do cristão
(Mt 5.13-16; 19-20; 29-30), adultério (Mt 5.27-28), vingança (Mt 5.38-42),
juramentos (Mt 5.33-37), casamento (Mt 5.31-32), relacionamentos (Mt 5.43-48),
oração (Mt 6.5-15), jejum (Mt 6.16-18), reino (Mt 6.33), serviço (Mt 6.24),
providência divina (Mt 5.26-34), julgamentos (Mt 7.1-6), frutos (Mt 7.15-23).
Um sermão que se estende a uma teologia prática, com um desafio de viver uma
vida como um culto ao Senhor. Então, devemos nos questionar: não seria esse o
mover de Deus na nossa vida, o tipo de mover que deveríamos buscar?
Há tempos que a igreja brasileira fala de
avivamento, há tempos que ouço os cristãos tratando do mover sobrenatural de
Deus "disso" e "daquilo outro". Já ouvi cantor gospel
imitando leão, gritando suado num palco cantando línguas estranhas, correntes
para trocar anjo e receber a chave da promessa, pastor pregando vestido de Chapolin
e tantas outras bizarrices sendo seguidas por um povo cego e manipulado por uma
cultura pilantra do mover sobrenatural gospel. Avivamento existe e sempre
existiu, todavia precede de arrependimento e retorno ao evangelho verdadeiro.
Mover de Deus começa com o arrependimento de
pecados (Ne 9.2-3), renovação de mente (Rm 12.1-2), coração quebrantado e
humilhado diante do Senhor (Sl 51.17). Mover de Deus é a guarda do Dia do
Senhor (Ex 20.8-11) como o dia da feira da alma, como diziam os puritanos.
Mover de Deus é reconciliar-se com o irmão antes de ir ao altar entregar a sua
oferta (Mt 5.23-26), examinar a si mesmo diante da Ceia do Senhor (1Co 11.28).
Mover de Deus é andar a segunda milha (Mt 5.41), dar a outra face (Mt 5.39),
não julgar segundo os seus próprios padrões de conduta (Mt 7.1-2), amar o seu
inimigo e orar por aqueles que te perseguem (Mt 5.43-47). O mover de Deus não
deixa ir embora aquele que tem sede ou fome (Tg 2.15-16), o mover de Deus é
compaixão pelos que sofrem e alegria pelos que são honrados (1Co 12.26). O
mover de Deus é quando o pregador expõe a Bíblia sendo coerente com o texto
bíblico (Mt 5.19), é quando os músicos na igreja exaltam somente o Senhor (Sl
100.4). O mover de Deus é fazer tudo para a Sua glória (1Co 10.31), é obedecer
os seus mandamentos que não são penosos (1Jo 5.3). Agora, pergunte onde existe
o mover de Deus dentro destes "arraiais gospel’s", onde tudo é para o
ego inflado e individualista.
A denúncia deste mover ególatra deve ser uma
realidade na nossa conduta cristã. Mas, antes disso, precisamos tirar as traves
dos nossos olhos (Mt 7.3-4), pois isso também é mover de Deus. Ele ordenou e
devemos obedecer. Mover de Deus é a obediência aos seus mandamentos, assim
seremos seus discípulos e provaremos o nosso amor por Ele (Jo 14.21). Resultado
disso é que daremos muitos frutos (Jo 15.8). O mover de Deus tem um objetivo:
Sua glória (Rm 11.36). Como já foi dito, o mover é de Deus, Ele
faz o que lhe apraz, segundo sua palavra e o seu poder que opera em nós.
Assim resplandeça a vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que
está nos céus.
Mateus 5.16.
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[1] SIBBES, Richard. O Caniço Ferido. Editora Monergismo.
[1] SIBBES, Richard. O Caniço Ferido. Editora Monergismo.
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