Por Thiago Oliveira
*Texto Base: João 1.1-14
Introdução
João
começa o seu Evangelho de um modo diferente. O nascimento de Jesus não é
relatado como em Mateus e Lucas, que narram os fatos tal como aconteceram. João
fala sobre o mesmo assunto, porém elabora uma sentença teológica e nos diz que
o Verbo se fez carne e habitou entre nós (v.14). A expressão que foi traduzida
como o Verbo, ou Palavra em algumas versões, é um termo grego muito abrangente:
logos. O que o apóstolo intencionou
ao se utilizar dessa expressão? O que estava querendo ensinar aos seus
leitores?
A
igreja do primeiro século estava entre dois “mundos”, o judeu e o grego. A
revelação, o Messias, os apóstolos e a Igreja possuíam uma origem judaica,
todavia, o evangelho tem um caráter universal e os empreendimentos para
evangelizar o mundo helênico fizeram com que muitos elementos da cultura grega
fossem utilizados para que as boas novas fossem entendidas pelos gentios. Não
podemos esquecer que todo o Novo Testamento foi escrito em grego koiné. João,
um judeu, nascido e criado na Palestina, era agora ministro na igreja de Éfeso
e de lá escreve o seu relato acerca de Cristo. Fazendo uma ponte entre os dois
mundos supracitados, ele intenta apresentar Jesus como o Logos já no início do seu
Evangelho para que fique claro: Jesus
Cristo é Deus. Ele é eterno e Senhor sobre todas as coisas.
Jesus: O Verbo Eterno (v.1-3)
“No princípio” remete ao Gênesis. O
Evangelho joanino começa tal como o Pentateuco e demonstra que o Verbo (Jesus)
era desde o princípio, ou seja, já existia quando a terra ainda era sem forma e
vazia. Na verdade, quem deu forma a Terra e criou todas as coisas ex nihilo, isto é, do nada, foi Jesus, o
Nazareno a quem o apóstolo apresenta como Deus. “O Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus”. Pai e Filho são um. Eles têm a mesma substância, o
mesmo caráter, e se amam e se relacionam desde sempre. Juntos com o Espírito Santo
formam a Trindade. Jesus não foi criado, sempre existiu, ele é um dos
componentes da Trindade, ele não é nada menos que Divino. Daí o termo Logos – traduzido por Verbo ou Palavra – faz jus ao que o apóstolo quis expressar
aos seus leitores.
Para o
judeu, a Palavra de Deus era responsável por criar o mundo. Observando o relato
da criação em Gênesis entendemos o porquê desta concepção. Todas as coisas
começaram a existir após Deus ter dito “haja”. Deus falava e a coisa criada
surgia. “Pela palavra do SENHOR foram feitos os céus” (Sal. 33:6), diz
o salmista. Heráclito, um dos mais renomados filósofos pré-socráticos, e que
não por acaso era de Éfeso, dizia que o Logos
era o princípio que dava ordem ao Universo e era também quem o sustentava, para
que este não se tornasse caótico. Assim, com um termo compreendido por judeus e
gregos, João demonstra que a Palavra criadora e o princípio que dá ordem ao
mundo é Jesus Cristo. Paulo vai dizer o mesmo em Colossenses 1. 15-17. Este é o
Cristo verdadeiro, aquele que criou todo o Universo “e, sem ele, nada do que foi
feito existiria”.
Geralmente
no Natal, as pessoas tendem a celebrar o Deus-menino. Usam esta linguagem para
se remeter a Jesus como se ele fosse um eterno infante. O Evangelho de João nos
lembra de que Jesus não foi um simples menininho. Ele é o Soberano do Universo,
que existe desde a Eternidade. Não podemos tirar Jesus do seu trono ao
contemplá-lo. Ele precisa ser adorado como Deus e ser o nosso SENHOR. Quem
assim não o professa, não está adorando o Jesus verdadeiro, apenas criou um
ídolo, um falso Senhor.
Jesus: A Luz dos Homens (v.
4-9)
“A vida estava nele e era a
luz dos homens”. Como criador; Jesus é o autor da vida. O sentido da palavra vida aqui
não é simplesmente vida física, mas sim espiritual. É a vida eterna prometida
por Jesus em outras partes do Evangelho joanino, tal como em 10.10 e 14.6. Não
se trata de ser apenas duradoura, sem fim. Trata-se de uma vida plena, onde o
homem se sente satisfeito e feliz, pois, sabe que em Deus tem tudo que precisa.
Como diz uma frase célebre de Agostinho “Senhor,
criaste-nos para Ti e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousar em
Ti”. Jesus é a luz dos homens por dissipar as trevas e reconciliar o ser
humano com Deus. Desde que o pecado entrou no coração do homem, através de
Adão, que as pessoas andam inquietas, tentando justificar a si mesmas, com medo
do que o amanhã pode reservar, buscando preencher seu vazio existencial. Apenas
Cristo faz cessar esta busca e conecta a criatura com o Criador, fazendo com
que o homem ao alcançar a plenitude também encontre a paz e se deleite na
presença de Deus.
A vida
é comparada com a luz, pois onde há luz, tudo resplandece e a escuridão é
dissipada. A vida ofertada por Cristo é aquela que faz as trevas interiores
fugirem com a entrada da candeia divina no coração de quem por Ele é
regenerado. O verso 5 nos diz que “a luz resplandece nas trevas”.
Quando Jesus ilumina o coração humano, faz dissipar toda a escuridão. Como uma
lâmpada, o homem foi feito para brilhar, mas para isso precisa da luz, senão
continuará apagado, preso na inutilidade. Eis a diferença entre existir e
viver. O homem com Cristo vive, cumpre o propósito pelo qual foi criado e se
deleita nisso. O homem sem Cristo apenas existe e sua existência se torna
pesada, desprovida de valor. Ao lermos no final do versículo que “as
trevas não prevaleceram contra ela”, isto é, a Luz, devemos trocar
prevalecer por apoderar-se, fazendo mais sentido com o sentido original da
palavra no grego. O que o apóstolo diz é o seguinte: A luz veio para a
humanidade, aqui representada como “as trevas” numa clara referência a natureza
pecaminosa que obscurece o intelecto e a alma, mas, a humanidade continuou na
escuridão. Os versos 10 e 11 corroboram com essa interpretação. Assim como 3.19
que diz: “A luz veio ao mundo, e os homens amaram as trevas em lugar da luz”.
E por que os homens preferem andar no escuro ao invés de andar na luz? “Porque
todo aquele que pratica o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que suas
obras não sejam expostas” (3.20).
Há uma
quebra no pensamento para falar sobre João Batista. O interlúdio vai do
versículo 6 ao 9 e com muita clareza afirma que Cristo é a luz e não João
Batista. Comentaristas dizem que esta ênfase é destinada a um grupo que
exaltava João Batista, colocando-o numa posição que ele nunca reclamou para si.
Não há muitos indícios que corroborem com a existência desse grupo, mas a
suspeita é a que melhor explica a posição destes quatro versículos que entrecortam
a exposição acerca dos atributos divinos de Cristo. Ademais, João Batista foi
um profeta muito admirado e cheio de seguidores. Após quatro séculos de
silêncio profético, Deus o havia levantado para pregar uma mensagem de alerta
aos judeus, conclamando o povo ao arrependimento e avisando que o Messias estava
prestes a chegar. Não é uma ideia tão absurda pensar que alguns o viam como o
salvador prometido (vide 1.19-21). Logo, o evangelista esclarece que a
verdadeira luz é Cristo e que o próprio João Batista deu testemunho disso, ao
falar que Jesus era o Filho de Deus (1.34).
A luz
exclusiva, capaz de tirar o homem das densas trevas que o assola, é Jesus
Cristo. Não existe outra forma ou pessoa que possa fazer esta obra. Entenda de
uma vez que se não for Jesus, toda a sua vida é penosa, pois no escuro tudo é
encoberto. Para contemplar o mundo e gozar a vida de maneira integral, Jesus
precisa nascer em seu coração e alumiar tudo o que está em sua volta.
Jesus: Nosso Natal (10-14)
O
pensamento do evangelista volta a fluir e retoma no versículo 10 o que já havia
explanado no 5. “O Verbo estava no mundo, e este foi feito por meio dele, mas o mundo
não o reconheceu”. Mundo aqui não é o planeta Terra. São as pessoas que
nele habita. Os homens, ingratos, criados pelo Verbo, que é luz, rejeitaram-no
e seguem o curso de suas vidas nas sombras. Nem os que eram seus, isto é, os
judeus, povo da aliança, o receberam (v.11). A rejeição aconteceu de ambos os
lados. Circuncisos e incircuncisos desprezaram o Messias e não depositaram nele
a sua fé. No entanto, há um grupo minoritário que não o desprezou. Há um
remanescente que creu em Jesus e tomaram posse de uma maravilhosa benção: “a
todos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes a prerrogativa de
se tornarem filhos de Deus”.
Num
certo sentido, toda a humanidade tem o mesmo Pai, por ter sido criada pelo
único Deus. Todavia, a filiação aqui apontada é diferente. Aqui é uma filiação
que nos remete tomar posse de tudo aquilo que pertence a Cristo. Jesus é o
unigênito do Pai no sentido de não ter sido criado. Tudo que é do Pai é dele.
Os seres criados, homens e mulheres, que recebem a Cristo são gerados pelo
Espírito Santo e tornam-se novas criaturas, sendo coparticipantes desta relação
do Pai com Jesus. Não é uma filiação que depende de algo feito por nós, e nem
tem a ver com ser da linhagem física de Abraão, como se orgulhavam os judeus
(v.11). Os verdadeiros filhos de Deus são os que estão firmados em Cristo, que
concedeu esta filiação de maneira graciosa, por ter nos amado desde a
eternidade e nos chamado para si como povo adquirido e propriedade exclusiva do
SENHOR. Louvado seja o Verbo eterno, a Luz dos homens. Ele é o nosso Natal,
pois, por meio dele nascemos de novo para herdarmos tudo àquilo que foi
prometido e cumprido em Jesus.
C.S.
Lewis, o criador de Nárnia, disse que “O
Filho de Deus tornou-se homem para possibilitar que os homens se tornem filhos
de Deus”. Frase extremamente acertada. “O Verbo se fez carne e habitou entre
nós...” A encarnação de Cristo, o nascimento que celebramos nesta época
natalina, deve nos fazer lembrar que foi um ato de amor. O Verbo que sempre
existiu assumiu a forma humana e foi um servo, mesmo sendo Senhor (vide Fl
2.5-11). Ao nascer entre os animais, num estábulo em Belém, e habitar entre
nós, no mundo em que ele criou, ele estava iniciando o ministério que
restauraria o que o pecado desfigurou. A
Palavra que criou, agora recria. Jesus, cheio de graça e de verdade, fez
resplandecer a sua glória fazendo de corações manjedouras. Nascendo em meio às
trevas, fez brilhar uma grande luz. Que neste Natal, a luz possa brilhar entre
os homens, convertendo o seu status, para que não mais sejam pecadores, filhos
da Ira. Que sejam filhos de Deus, herdeiros do Reino dos Céus.
Conclusão
Se você
já é cristão e ouviu esta mensagem, celebre! Você é filho de Deus. Houve um dia
em que se fez natal em seu coração. Não deixe que a frieza, o ceticismo ou as
circunstâncias da vida lhe tirem a compreensão de quanto abençoado você é por
ter esta filiação. Nada neste mundo se compara com a benção de sermos chamados
de filhos pelo SENHOR. Caso você não seja, saiba que o Céu é um lugar restrito.
Só entrarão os filhos, os nascidos de novo. Quem fica de fora viverá
atormentado e longe daquele que lhe fez para experimentar comunhão com Ele.
Minha oração é que você experimente um Natal dentro de si e que Jesus nasça em
você, fazendo a luz irradiar de maneira tal que a escuridão seja varrida, assim
como a noite se esvai com a chegada do astro-rei.
VOCÊ QUE É FILHO DA NOITE
QUE TATEIA PELA ESCURIDÃO
O VERBO VEIO A ESTE MUNDO
CONCEDER A VOCÊ SALVAÇÃO
CONFESSE-O POR SENHOR TEU
DEIXE A LUZ ALUMIAR O BREU
ALOJADO EM TEU CORAÇÃO
TORNE-SE UM FILHO DE DEUS
LEGÍTIMO E COHERDEIRO
DAS DÁDIVAS VINDAS DO CÉU
QUE VALEM BEM MAIS QUE DINHEIRO
NÃO HÁ O QUE SE COMPARE
MUITO MENOS SE IGUALE
A SER SALVO POR INTEIRO
A SALVAÇÃO É DOM DE DEUS
E PELA GRAÇA ELE NOS DOA
MENINO, HOMEM OU MULHER
SEJA QUAL FOR A PESSOA
ELE PERDOA O PECADO
CREIA NO VERBO ENCARNADO
E SERÁS UMA NOVA PESSOA.
Excelente texto! Que nós possamos reconhecer sempre essa tão grande graça que nos alcançou!
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