Por Thiago Oliveira
Sola
Scriptura tornou-se o lema mais conhecido da Reforma
Protestante. Dele derivam outros quatro “solas”, todavia focaremos apenas neste
e na sua relevância. No século 16, quando a Reforma eclodiu, a Igreja Católica
Romana colocava a tradição em pé de igualdade com o texto sagrado. Assim, uma
doutrina que não tivesse respaldo bíblico poderia ser aceita desde que
tradicionalmente fosse adotada pelos pais da igreja, por resoluções conciliares
e decretos papais. Lutero, Zuínglio, Calvino, Knox e antes deles Wycliffe e
Huss, foram vozes que denunciaram esse preceito e com todas as letras
declararam que somente a partir das Escrituras é que as doutrinas devem ser
estabelecidas, pois, esta é a forma mais segura de se saber sobre Deus e sobre
nós mesmos, afinal de contas, Deus se revelou desta maneira.
A Bíblia é o nosso livro
revelacional. Tudo o que sabemos sobre o evangelho de Jesus Cristo está em suas
páginas. Ela fala do Salvador desde o Gênesis até o Apocalipse. O que chamamos
de Antigo Testamento apresenta o Cristo como uma profecia, uma promessa, uma
esperança de salvação. Já no Novo Testamento temos o cumprimento de todo o
prenúncio veterotestamentário. Toda a Bíblia é inspirada e nos serve como fonte
de revelação para que sejamos edificados mediante o seu conteúdo. A Escritura
precisa assumir o seu lugar central em nossas vidas. Infelizmente, ela tem sido
periférica até mesmo em nossos cultos, mas o lema da Reforma não foi escolhido à
toa, acredito que Sola Scriptura
tenha sido orquestrado pelo próprio Deus para lembrar ao seu povo de que este é
o povo do livro, detentor da Palavra revelada. Desde então, em cada geração,
homens tem sido levantados para bradar estas palavras latinas e defender a
autoridade única da Bíblia em nos conduzir até o SENHOR dos senhores. Os homens
são conduzidos à fé através da Palavra e este é o método ordinário que Deus usa
para chamar os seus eleitos para Si.
Alguns cristãos cometem o
equívoco de achar que os dois testamentos bíblicos são concorrentes e que o
Novo tornou o Antigo obsoleto. É como se este último fosse apenas um registro
do que Deus havia dito e feito para os judeus. Isso está bem longe da verdade.
O Antigo Testamento é tão vívido e tão atual que é constantemente citado no
Novo. C.S. Lewis, certa feita, disse que o Novo Testamento é uma colcha de
retalhos feita com citações do Antigo, de tanto que Jesus e os apóstolos o
citam. Até partes em que pensamos que Cristo e seus discípulos apresentaram
algo novo, na verdade o que eles fizeram foi aprofundar um conceito que já
estava presente no cânon hebraico. Vejamos o quanto Jesus fez uso do Antigo
Testamento, que era a Escritura compilada de sua época.
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Lendo Isaías em Nazaré
Ainda no começo de seu
ministério Jesus parte para Nazaré, cidade em que foi criado, onde residiam
familiares e amigos. Num sábado, vai até a sinagoga e segundo o registro de
Lucas (4.14-30) lê Isaías 58.6 e 61.1,2. Ao terminar de ler, devolve o rolo ao
assistente e quando todos têm os olhos fitos nele, exclama: “hoje se cumpriu a Escritura que vocês
acabaram de ouvir”. O texto do profeta era uma profecia messiânica, ou
seja, após ler o que estava escrito (Sola
Scriptura) a respeito do Cristo, Jesus afirmou ser ele o prometido a
Israel. Muitos ficaram intrigados, a grande maioria rejeitou a sua mensagem,
mas ele fez o que era de costume: ia até a sinagoga e através de um manuscrito
do Antigo Testamento começava a ensinar que aquilo era um testemunho sobre si
mesmo. Mais adiante, ao ser perseguido por causa de sua pregação, Jesus diz aos
judeus: “Se vocês cressem em Moisés,
creriam em mim, pois ele escreveu a meu respeito. Visto, porém, que não creem
no que ele escreveu, como crerão no que eu digo? (Jo 5.46,47)”. É no Pentateuco,
isto é, nos cinco primeiros livros da Bíblia que Jesus vai afirmar que estão as
bases para que creiamos nele. Isso corrobora ou não com o Sola Scritura?
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Citando Deuteronômio na Tentação
Antes de ter chegado a
Nazaré, o Filho de Deus havia sido tentado no deserto (ver Lc 4.1-13) e lá, diante
de todas as armadilhas falaciosas de Satanás, defendeu-se usando por três vezes
o livro de Deuteronômio. Na primeira resposta que deu, usou Dt 8.3, depois rebateu
outra mentira diabólica com Dt. 6.13 e por fim utilizou Dt 6.16. O Diabo foi
derrotado pela Palavra. Jesus poderia ter derrotado o seu adversário de
qualquer outra forma, mas quis demonstrar o poderio do texto sagrado frente às
tentações que o nosso vil tentador lança sobre nós. Será que nós deveríamos
almejar vencer portando outra arma que não seja a Escritura?
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Ética com base no Gênesis
Quando indagado acerca do
divórcio (ver Mt 19), a resposta de Jesus foi baseada em Gn 2.24. Assim, fundamentado
em um princípio da Escritura, afirmou que não competia aos homens separar
aquilo que tinha sido Deus quem havia juntado. O casamento tem uma base moral,
é realizado mediante juramento. Logo, trata-se de uma questão ética. Os
princípios éticos que devem nortear os cristãos são os encontrados na Bíblia,
por isso dizemos que ela é nossa regra de fé e prática. Jesus foi abordado e
questionado com argumentos que derivavam da tradição humana e respondeu com um
princípio bíblico. Estamos imitando o nosso Mestre?
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Agindo sem ferir a Escritura
Jesus e os doze colhiam
espigas num dia de sábado e foram repreendidos pelos fariseus (ver Mt 12). A
acusação era de que eles estavam fazendo algo ilícito. A resposta dada por
Jesus é novamente embasada na Escritura. Ele responde fazendo uma pergunta “Vocês não leram o que fez Davi quando ele
os seus companheiros estavam com fome?”. A referência está em 1 Samuel 21
quando o Rei Davi e seus homens comeram os pães que eram destinados apenas aos
sacerdotes. Obviamente os fariseus tinham lido, pois, esta era uma parte
importante do seu trabalho de intérpretes da lei. Jesus estava agindo sem ferir
a Escritura e diante da acusação mostrou que sua atitude era respaldada com um
exemplo que vem da Bíblia. Será que em nosso meio há esta convicção? Será que
nossos atos coadunam com o que está na Bíblia?
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Caminhando e Expondo o Texto Sagrado
Após morrer e ressuscitar,
Jesus aborda dois discípulos que estavam caminhando na estrada para Emaús.
Entristecidos e confusos, os dois discutiam enquanto andavam. Jesus se
aproximou sem que eles o reconhecessem e perguntou o que estava se passando (ver
Lc 24.14-35). Eles estranharam a pergunta, pois, era de conhecimento de todos o
que havia acontecido com Jesus de Nazaré, mas responderam. Eles começaram a
relatar os fatos e até disseram que a tumba estava vazia e que as mulheres e os
apóstolos confirmavam isso, porém estavam tão atordoados que não conseguiam
ligar os fatos. Cristo, ainda sem ser reconhecido, tratou de confortá-los e
elucidou que tudo aquilo era cumprimento do que estava registrado no Antigo
Testamento. “E começando por Moisés e
todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as
Escrituras”. Isso é algo magnífico. A Palavra encarnada explicava a palavra
revelada e registrada na lei e nos profetas. A Bíblia é a testemunha mais
segura da pessoa e da obra de Cristo, e o próprio fazia uso com maestria desse
testemunho. Quando falamos sobre Jesus em nossa evangelização, adotamos a
Escritura como fonte suprema de revelação ou procuramos fontes nada confiantes
para testemunharmos do Evangelho?
Finalizo esse texto
enfatizando que terminei com uma pergunta em todos os tópicos acima. Se alguém
não reparou, peço que releia novamente, agora com mais atenção, e procure
responder todas elas. É importante que as respostas retratem uma alta estima
pela Bíblia. Acredito que tenha ficado muito claro o papel central das
Escrituras na vida do cristão. Vimos que o próprio Cristo deu um imenso
destaque ao texto sagrado. Não poderia ser diferente, a Bíblia é o livro que
foi escrito para revelar as boas novas de salvação e Cristo é a o salvador do
mundo.
Soli Deo Gloria
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