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23 de mar. de 2016

O Pacto de Obras

Por R.C. Sproul

A teologia do pacto é muito importante por várias razões. Embora a teologia do pacto, em torno de milênios, encontre sua formulação mais refinada e sistemática na Reforma Protestante. Sua importância, no entanto, tem sido intensificada em nossos dias por causa de sua relação com outra teologia que é relativamente nova. No final do século XIX, a teologia chamada de "dispensacionalismo" surgiu como uma nova abordagem para a compreensão da Bíblia. A velha Bíblia de Referência Scofield definiu dispensacionalismo em termos de sete dispensações distintas, de períodos, de tempos, dentro de Sagrada Escritura. Cada dispensação foi definida como "um período de tempo durante o qual o homem é testado em relação a obediência a alguma revelação específica da vontade de Deus" (p. 5, Scofield Reference Bible). Scofield distinguiu sete dispensações, inclui inocência, consciência, governo civil, promessa, lei, graça e o período do reino. Contra esta visão diversificada da história da redenção, a teologia do pacto visa apresentar uma imagem clara da unidade da redenção, tal unidade é vista na continuidade dos pactos que Deus fez ao longo da história e como eles são cumpridos na pessoa e obra de Cristo.

Além da contínua discussão entre dispensacionalistas tradicionais e teólogos reformados no que diz respeito à estrutura básica da revelação bíblica, tem surgido em nossos dias uma crise ainda maior no que diz respeito à nossa compreensão da redenção. Esta crise se concentra no lugar da imputação, em nossa compreensão da doutrina da justificação. Assim como a doutrina da imputação foi a questão central no debate do século XVI entre os reformadores e os católicos romanos no entendimento da justificação, então agora a questão da imputação cresceu novamente, mesmo entre os evangélicos professos que negam a compreensão Reformada da imputação. O cerne desta questão da justificação e imputação é a rejeição do que é chamado por pacto das obras. A teologia da aliança histórica faz uma importante distinção entre o pacto das obras e o pacto da graça. A aliança das obras refere-se à aliança que Deus fez com Adão e Eva em sua pureza original, antes da queda, em que Deus lhes prometeu bem-aventurança se fossem obedientes as suas ordens. Após a queda, o fato de Deus continuar a promessa de redenção para as criaturas que violaram o pacto das obras, esse andamento da promessa de redenção é chamado de aliança da graça.

Tecnicamente, a partir de uma perspectiva, todos os pactos que Deus faz com suas criaturas são graciosos, no sentido que Ele não é obrigado a fazer quaisquer promessas a suas criaturas. Mas a distinção entre o pacto das obras e o pacto da graça adquire vital importância, uma vez que tem a ver com o Evangelho. O pacto da graça indica a promessa de Deus para nos salvar, mesmo quando deixamos de guardarmos as obrigações impostas na criação. Isto é visto com mais importância na obra de Jesus como o novo Adão. Repetidas vezes o Novo Testamento faz a distinção e contraste entre a falha e calamidades trazidas sobre a humanidade através da desobediência de primeiro Adão, e os benefícios que fluem através da obra de obediência de Jesus, que é o novo Adão. Embora haja uma clara distinção entre o novo e o velho Adão, o ponto de continuidade entre os dois é que ambos foram chamados a apresentar perfeita obediência a Deus.

Quando entendemos a obra redentora de Cristo no Novo Testamento, concentramos nossa atenção em grande parte em dois aspectos do mesmo. Por um lado, nós olhamos para a expiação. Isso claro nos ensinamentos do Novo Testamento, que na expiação Jesus carrega os nossos pecados e é punido por eles em nosso lugar. Isto é, a expiação é vicária e substitutiva. Neste sentido, na cruz, Cristo tomou sobre si as sanções negativas da antiga aliança. Ou seja, ele suportou em seu corpo a punição devida por àqueles que violaram não só a lei de Moisés, mas também a lei que foi imposta no paraíso. Ele tomou sobre si a maldição merecida por todos aqueles que desobedeceram a lei de Deus. Isto, a teologia reformada chama de "a obediência passiva de Jesus". Este ponto foca para a sua vontade de submeter-se a condição de receber a maldição de Deus em nosso lugar.

Além do cumprimento negativo do pacto de obras, ao tomar a punição devida àqueles que o desobedeceram, Jesus oferece a dimensão positiva que é vital para a nossa redenção. Ele ganha a bênção do pacto de obras para a descendência de Adão que deposita fé nele. Enquanto Adão foi o transgressor da aliança, Jesus é o cumpridor da aliança. Onde Adão não conseguiu conquistar a bem-aventurança da árvore da vida, Cristo conquistou a bem-aventurança por sua obediência, o que proporciona bem-aventurança para aqueles que depositam sua fé nele. Nesta obra de cumprir o pacto para nós em nosso lugar, a teologia fala sobre a "obediência ativa" de Cristo. Ou seja, a obra redentora de Cristo inclui não só a sua morte, mas a sua vida. Sua vida de perfeita obediência torna-se o único fundamento da nossa justificação. É a sua perfeita justiça, adquirida através de sua obediência perfeita, que é imputada a todos os que depositam sua fé nele. Portanto, a obra de Cristo de obediência ativa é absolutamente essencial para a justificação de qualquer um. Sem obediência ativa de Cristo ao pacto das obras, não há nenhuma razão para a imputação, não há motivo para a justificação. Se nós tiramos o pacto das obras, nós tiramos a obediência ativa de Jesus. Se tiramos a obediência ativa de Jesus, tiramos a imputação da sua justiça em nossa vida. Se tiramos a imputação da justiça de Cristo para nós, tiramos a justificação pela fé. Se nós tiramos a justificação pela fé, tiramos o Evangelho, e nós somos deixados em nossos pecados. Nós somos deixados como os filhos miseráveis de Adão, que só podem olhar para a frente sentindo a plena medida de maldição de Deus sobre nós por nossa desobediência. É a obediência de Cristo, que é o fundamento de nossa salvação, tanto na sua obediência passiva na cruz, como sua obediência ativa em sua vida. Tudo isso está indissociavelmente relacionado com a compreensão bíblica de Jesus como o novo Adão (Rm. 5:12-20), que teve êxito onde o primeiro Adão falhou, que prevaleceu onde Adão perdeu. Há nada menos do que a nossa salvação em jogo nessa questão.

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Fonte: Ligonier

Traduzido por Pedro Paulo.


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