Por Thomas Magnum
Porque com o
coração se crê para a justiça
e com a boca se
confessa a respeito da salvação.
Apóstolo Paulo.
Romanos 10.10
Crer em Deus é pertencer a Ele.
Alister Macgrath
Muito já escreveu sobre o credo
apostólico. Sua importância é sem sombra de dúvidas, grandiosa para uma
realidade religiosa no Brasil, cada dia mais deísta e inconfecional ou anticonfecional,
pragmática e apática no que se refere à doutrina.
De fato, muitos alimentam a ideia de
que a doutrina obscurece a vida espiritual, mas, ao contrário deste quase
adágio, doutrina é vida, é solidez num mundo líquido. Doutrina é vitalidade
para uma era notoriamente letárgica no que se diz a respeito do que é ser
cristão. Numa geração em que a confissão da fé é incompreendida e confundida
com mistificações assombrosas e teatralizações frias de uma ortodoxia morta.
A ortodoxia não se resume apenas ao
correto ensino. Como o rio que regava o Éden (Gênesis 2.10), a doutrina rega a
prática cristã (Ortopraxia) e as afeições religiosas (Ortopatia). A doutrina é
o resultante sistemático da revelação, da progressividade da atuação divina no
drama do mundo criado. Temos então no credo uma consubstancialidade evangélica,
uma importância dinâmica no curso do crer e proferir. Do pensar e do falar. Do
abraçar e do avançar. O credo tem um caráter evangélico kerigmático, isto é, proclamador, missionário. E oferece para
demanda do coração uma resposta para uma religião imersa na fé no Deus-Trindade.
Esse texto não tem por objetivo tratar
da historicidade do credo, muito menos, versar sobre as possíveis datas para
sua conclusão histórica. A nossa reflexão se dará sobre a confissão, sobre o
crer e sobre o resultado do crer; afinal, o crer não é estéril, não é apático
ou imóvel. Nossa modesta escrita pretende contribuir para uma teologia
evangélica credal, confessional, missional e estar fundamentada numa tríplice
estrutura para fé: ortodoxia, ortopraxia e ortopatia.
Credo in Deun
Importante para nós, sob ótica
cristocêntrica, o inicio do credo, ou melhor, a primeira palavra do credo:
Esse Credo, no início do Símbolo, significa em primeiro lugar, apenas e
tão somente, o ato de reconhecimento – na forma de conhecimentos decisivos
alcançados pela revelação de Deus – da realidade de Deus em seu relacionamento
com o homem[i].
O Creio
derivado da fé na revelação é o resultado da equação credal. A fé resulta
no Credo in Deun. Não há credo sem
fé. Não há ortodoxia sem graça, sem revelação cristocêntrica, sem redenção
histórica do perdido. Não há credo sem morte, não há credo sem ressurreição.
Isso deve nos constranger a uma confessionalidade credal intensa e vigorosa:
creio! Creio não por mim, creio, por Ele. Creio pela mediação de Cristo, creio
pela obra do Espírito. Creio In Deun, essa
confissão é trinitária, pactual e missionária. Creio somente por meio do Deus Triúno
e no Deus Triúno. O solus Christus só é possível pelo sola gratia. Não detendo o poder da Trindade na economia da
salvação, mas, adorando-o na expansão que causa essa obra. Onde o Deus salvador
opera em nós, por meio dEle mesmo para nos levar a Ele mesmo, ou seja, Ele é a
fonte, o meio e a finalidade da salvação. Por isso, a economia da salvação
pertence somente a Ele. Esse fato me faz adorar: Credo In Deun!
O
ato do credo é o ato de confissão da fé apostólica
A fé descrita no credo é confessional e
emblemática para a doutrina cristã.
1. A Fé como aceitação (Jo 1.12)
2. A Fé como confiança (Hb 11.1)
3. A Fé como compromisso (Cl 1.4)
4. A Fé como obediência (Rm 1.5)
Aqui está uma amostra da fé credal, da confissão que resulta
do que crê o coração.
Mas que diz? A palavra
está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que
pregamos, A
saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres
que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a
boca se faz confissão para a salvação. Porque
a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. (Romanos
10:8-11)
A confissão da fé que o coração esboça
é credo. O credo é a divina proclamação
da eterna obra trinitária no tempo e no espaço, num povo salvo, que confessa a
obra salvífica, que pela providência se consumou na cruz, em Cristo.
Ter Fé não significa apenas ter uma
nova ideia. Significa reconhecer em nossa mente quem é Deus, quais são seus
atributos e corresponder a ele em nosso coração[ii].
Deus
– O Centro da Fé Credal
- A fé credal é uma confissão, um ato
proclamador, testemunhador, espiritual e de adoração a Deus. Por isso o Credo
inicia-se com “Creio em Deus”.
- Temos então no credo uma fé depositada
não no simples documento confessional, mas, no que ele professa e quem ele
professa, o Deus Triúno.
- O credo começa dizendo “creio em Deus”,
a questão aqui é de extrema importância para o entendimento do credo como
documento trinitário.
Diz-nos Franklin Ferreira:
O fato é que o Credo dos Apóstolos
começando com “Creio”, exige de nós uma resposta pessoal; o Credo exige de nós
uma aderência ao que está sendo ensinado, uma confiança em seu ensino. Mas a
recitação do Credo lembra que somos chamados a expor de forma pública a nossa
fé. Ao recitar o Credo, o cristão oferece uma confissão de fé pública: “Porque
com o coração se crê para a justiça e com a boca se confessa a respeito da
salvação” (Rm 10.10). Então, o Credo lembra que há uma dimensão pública da
nossa fé. Nós somos chamados – todos nós, não somente pastores, missionários,
teólogos e seminaristas, mas toda a comunidade cristã – a estarmos aptos a
expressar na Escritura. Em outras palavras, o que se crê é o que se confessa[iii].
Qual a importância do Credo na
comunidade de fé? Quero apontar alguns pontos que tenho pensado a respeito.
1. Confissão
doutrinária no Deus Triúno;
2. Parte
integrante de uma adoração trinitária;
3. Proclamação
do Evangelho aos pecadores.
Sobre
essas questões devemos observar que não há confissão sem doutrina, o que há é
confusão. A adoração a Deus como Trindade ainda é em muitos círculos
evangélicos incompreendida e na prática, muitas vezes o que existe é um monismo
ou modalismo na adoração, que se assim o for, resulta em idolatria, se está
adorando um Deus diferente do que está revelado nas Escrituras. E por fim, em
relação a missões Barth diz algo interessante: “O Credo finalmente mostra a Igreja comprometida com o trabalho
missionário, encaminhada em direção ao mundo que não está ainda congregado
junto à Igreja, encarando-o com responsabilidade e apelo” [iv].
O credo impele a Igreja a ser kerigmática,
a ser arauto do rei.
O Credo e o Primeiro Mandamento
Que
relação teria o Credo com o primeiro mandamento? Toda, absolutamente. O Credo
invoca o verdadeiro Deus, o Deus único, o Deus que se auto-revelou. O Deus que
é redentor. Vejamos os primeiros versículos do decálogo: Então falou Deus todas estas palavras,
dizendo: Eu sou o Senhor teu Deus, que te
tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim
(Êxodo 20:1-3). Que ligação credal temos aqui? Deus! Credo In Deun! Sou o Senhor teu Deus!
Qual é a reivindicação dessa fala divina? Creia! E não é somente essa a
analogia teológica da fé credal expressa do Credo Apostólico. Vejamos que o
prefácio do decálogo e o primeiro mandamento nos dizem muita coisa. Te tirei da terra do Egito, é expresso
no prefácio dos mandamentos a redenção que Deus concedeu a seu povo escolhido. O
que expressa o Credo na segunda parte, sobre o Deus redentor?
Em
Jesus Cristo, ao único Filho, nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do
Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi
crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao
terceiro dia; subiu aos céus; está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso,
donde há de vir a julgar os vivos e os mortos[v].
O que temos no Credo aqui? Redenção. O
requer ainda o mandamento? Não terás
outros deuses diante de mim. O que nos diz o Credo? Credo In Deun? Que
Deus? Aquele que se revelou nas Escrituras.
O
Credo e o segundo mandamento
“Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança
do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos” (Êxodo 20:4-6)
Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos” (Êxodo 20:4-6)
Observemos que o Credo professa,
confessa e testemunha do Deus Triúno, que se revelou na história da redenção,
descrita na Bíblia. Não terás outros deuses implica em algumas questões
importantes apontadas pelo catecismo maior de Westminster, nosso dever e nosso
pecado diante do mandamento. Devemos repudiar a idolatria em todas as espécies.
Por que motivo? Porque Creio em Deus – Pai, Filho e Espírito Santo.
Conclusão
A confissão credal, é monoteísta,
trinitária e pactual. A fé em Deus resulta em confissão. Com o coração se crê e
com a boca se confessa para a salvação. A confissão é para a salvação e
decorrente da salvação – Fala o que convém a sã doutrina (Tt 2.1). Não há credo
verdadeiro, sem doutrina sã. “Creio” é resultado da fé que obedece, que aceita
o corpus da revelação, que confessa o Senhorio do Deus eterno Triúno. Credo In
Deun é condição sine qua non para
o ethos e a práxis cristã.
Credo
In Deun! Amém.
[i] Barth, Karl. Credo, comentários ao credo dos Apóstolos. São Paulo. 2003, ed.
Novo Século, p.20.
[ii] Macgrath, Alister. Creio – Um estudo sobre as verdades essenciais da fé cristã no Credo
Apostólico. São Paulo. 2013, ed. Vida Nova, p. 25.
[iii] Ferreira, Franklin. O Credo dos Apóstolos. Doutrinas Fundamentais da Fé Cristã. São
José dos Campos, SP. 2015, ed. Fiel.
[iv]
Barth, Karl. Credo, comentários ao credo
dos Apóstolos. São Paulo. 2003, ed. Novo Século, p. 24,25.
[v]
Extraído do livro: O Credo dos Apóstolos. Doutrinas Fundamentais da Fé Cristã.
Franklin Ferreira, p.22.
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