Por Leandro Lima
Entendo, que Jesus, sendo Deus, ama e
tem compaixão de todos sem exceção. Deus manifesta sua graça indistintamente
sobre todos os homens (graça comum), mas a salvadora é especial para os eleitos
(graça especial). Assim, Deus ama (de modo comum) todos os homens, pois são
suas criaturas, afinal Deus ama tudo o que criou, e desde o início disse que
era tudo “muito bom”. Mas ele tem um amor especial (soteriológico) apenas por
seu povo, a quem de fato ele salvará.
O Senhor Jesus "amou" o jovem rico (Mc 10.21). Usa essa palavra de forma clara e explícita, e não é boa exegese tentar enfraquecê-la, pois é a palavra bíblica mais usada para “amor”. Aparentemente, o jovem não foi salvo, pois como todos os evangelistas o citam, teriam perdido uma grande oportunidade de dizer que ele posteriormente se converteu (como parece ser o caso de Nicodemos). Separar as naturezas de Jesus, dizendo que ele o amou como homem, mas não o amou como Deus, nos faz cair na heresia do Nestorianismo, portanto, também não é boa solução. Resta-nos, portanto, admitir que Jesus de fato pode amar pecadores que não são salvos e consequentemente, também não são eleitos.
Assim, o amor de Jesus pelo jovem rico era sincero, como uma criatura pecadora que ele era, e nos ensina que também devemos amar todos os perdidos, apesar de sabermos que somente os eleitos serão salvos, os quais, mostrarão com seu arrependimento, fé e humildade, que são de fato eleitos de Deus e amados com aquele amor eterno, incompreensível para nós.
É importante que fique claro, que em meu texto, estou falando de um amor "genérico", não um amor soteriológico. Essas distinções são necessárias para fazer justiça ao ensino bíblico como um todo. Nós não podemos nos apoiar em apenas parte dos textos bíblicos, a teologia precisa considerar todos eles, e harmonizá-los. A solução racionalista é sempre ignorar alguns textos em benefício de outros que temos mais familiariedade, mas isso faz nossa teologia ter um severo calcanhar de Aquiles. Por isso, historicamente, a teologia reformada tem feito uma distinção entre "vontade decretiva" e "vontade preceptiva" ou "de desejo".
Soa um pouco estranho para nossas
mentes iluministas pensar que Deus tenha "duas vontades", e, no
fundo, de fato não são duas, mas complementos da mesma. Ainda assim, nós vemos
um aspecto da vontade divina em seu decreto pelo qual ele determinou o número
exato dos salvos, e vemos o outro aspecto em suas manifestações bíblicas de que
"não tem prazer na morte do perverso", ou como no caso do próprio
Jesus, diante de Jerusalém, quando diz: "quantas vezes eu quis ajuntar os
teus filhos...". Portanto, o mesmo Deus que determinou a salvação e a
condenação, também diz que "quis" salvar Jerusalém. Resta-nos
reconhecer a biblicidade das duas informações, e submissamente aceitar que Deus
revelou isso, talvez para humilhar nossa arrogância em acreditar que possamos
compreendê-lo, ou pior, a idolatria de querer fazê-lo ser como nós achamos que
ele deveria ser
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