Por Alan Rennê Alexandrino
Na chamada parte prática da Epístola aos Efésios o
apóstolo Paulo, dentre vários mandamentos, apresentou o seguinte aos cristãos
efésios: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a
que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça
aos que ouvem” (4.29). Nos versículos anteriores Paulo aplica a sua
doutrina afirmando que os efésios deveriam andar de modo diferente dos gentios,
isto é, daqueles que não conhecem a Deus. Como? Eis a resposta: “na vaidade
dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de
Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, os
quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com
avidez, cometerem toda sorte de impureza” (v. 17). De acordo com ele, não
foi dessa maneira que os efésios aprenderam. Seus leitores deveriam se despojar
do velho homem, “que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos
renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem,
criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (vv.
22-24).
A partir daí o apóstolo apresenta os seguintes
imperativos:
1. Deixem a mentira e falem a verdade uns aos
outros, pois somos membros uns dos outros (v. 25);
2. Irem-se sem pecar. Não permitam que o sol se
ponha sobre sua ira (v. 26);
3. Não deem lugar ao diabo (v. 27);
4. Aquele que furtava pare com essa prática. Comece
a trabalhar, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para também ter
condições de socorrer aqueles que estão em necessidade (v. 28);
5. Não falem palavras torpes, mas apenas aquelas
que contribuírem para a edificação mútua (v. 29);
6. Não entristeçam o Espírito de Deus, pois vocês
foram selados nele para o dia da redenção (v. 30);
7. Lancem fora toda amargura, cólera, ira,
gritaria, blasfêmias, bem como toda malícia (v. 31);
e 8. Sejam benignos uns com os outros, perdoando-se
uns aos outros, segundo o que o próprio Deus, em Cristo, fez (v. 32).
Convém voltar nossa atenção para o versículo 29,
onde Paulo fala do conteúdo das nossas palavras. Em primeiro lugar, Paulo nos
proíbe falar aquilo que é “torpe”. A palavra grega utilizada aqui é σαπρός –
saprós, que significa literalmente, de acordo com o Friberg Lexicon:
“deteriorado, podre, apodrecido ou decomposto”.[1] Ainda de acordo com o mesmo
léxico, o termo também pode significar, de modo mais geral “inútil, sem valor,
impróprio”.[2] De acordo com outro léxico, o Thayer’s Greek Lexicon, o termo
foi usado pelo filósofo grego Aristófanes, no 5º século antes de Cristo, para
falar daquilo que foi “corrompido pela idade e já não é mais apto para uso”.[3]
De modo geral, o termo fala daquilo que é de “qualidade pobre, má, inadequado
para o uso e indigno”.[4] É interessante notar que este léxico também destaca
que a palavra é oposta a καλός – kalós, que significa “bom, excelente em sua
natureza e características”.[5]
Sendo assim, o apóstolo Paulo, ao nos proibir de
falarmos aquilo que é torpe não está pensando apenas em palavras chulas,
imorais e vergonhosas. Ele tem em mente qualquer tipo de palavra má, ímpia e
pecaminosa. Isso inclui, por exemplo, a maledicência e a fofoca, que são
pecados através dos quais o nome de alguém é difamado, caluniado etc. Jerry
Bridges, em seu fantástico livro PECADOS INTOCÁVEIS, aplica o versículo 29,
dizendo o seguinte:
“Ao examinarmos Efésios 4.29, observamos que não
devemos permitir que nenhuma conversa corrupta saia de nossa boca. Essa
conversa não se limita a palavrões e obscenidades. Inclui todos os tipos de
conversas negativas que mencionei anteriormente. Note a proibição absoluta de
Paulo. Nada de palavra destruidora. Nenhuma sequer. Isso significa nada de
fofoca, nada de sarcasmo, nada de críticas, nada de palavras grosseiras. Todas
essas conversas malignas que geralmente destroem outra pessoa têm de estar fora
de nossas conversas”[6].
Em vez de palavras más, nossa palavra deve ser
“unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim,
transmita graça aos que ouvem”. Primeiramente, Paulo diz que aquilo que falamos
deve ser bom para edificação. O que significa “edificar”? Seria uma palavra
edificante apenas aquela que traz enlevo à nossa alma, que desperta bons
sentimentos em nossos corações, que produz em nós boas sensações? Há alguma
possibilidade de uma palavra edificante suscitar uma resposta de oposição ao
pregador/escritor? Além disso, há alguma desarmonia ou incompatibilidade entre
a palavra boa para a edificação e a veemência, a firmeza das convicções e a
ousadia no falar?
O termo grego para edificação é οἰκοδομή - oikodomê, que fala de uma construção, um edifício
cuja construção avança rumo ao seu acabamento. Novamente evocando o Thayer’s
Greek Lexicon, o termo fala “da ação de alguém que promove o crescimento de
outrem na sabedoria, piedade, santidade e felicidade cristãs”.[7] Comentando
Efésios 4.29, o reformador João Calvino diz que interpreta a ordem de Paulo
“como sendo o progresso de nossa edificação, pois edificar é progredir,
avançar”.[8] Assim, a edificação busca que o outro avance, cresça, vá adiante,
progrida na fé cristã.
É interessante que versículos antes o apóstolo
Paulo fala do ofício pastoral e sua relação com a edificação dos crentes: “E
ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para
evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento
dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo” (4.11-12). Assim, o objetivo do Senhor Jesus ao conceder pastores e
mestres à sua Igreja é o aperfeiçoamento dos santos e a edificação do corpo de
Cristo. Logo em seguida, ele acrescenta um alvo positivo e outro negativo. O
alvo positivo é até que “cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento
do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de
Cristo” (v. 13). Já o alvo negativo é: “para que não mais sejamos como
meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de
doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”
(v. 14).
Com isto em mente, com qual objetivo pastores e
mestres devem trabalhar? O que eles devem pretender ao pregarem, ensinarem,
falarem e escreverem? Pelo princípio de 4.29, aquilo que edifica as pessoas de
acordo com a necessidade. De acordo com 4.12, isso significa que, de um lado,
que suas ovelhas se tornam cada vez mais parecidos com o Senhor Jesus Cristo.
De outro, que elas não sejam suscetíveis aos maus ensinamentos dos falsos
mestres. Paulo deixa claro que parte da natureza do ministério pastoral é ser
combativo, veemente, firme e ousado frente à enxurrada de falsos mestres que
estão em operação. Ele tem seus olhos postos na atuação de falsos mestres que
podem enganar os cristãos. D. Martyn Lloyd-Jones, em sua exposição dessa
passagem nos diz que, “de todos os perigos, nenhum é maior do que ‘o engano dos
homens’ e a astúcia com que eles enganam fraudulosamente’”.[9]
Esse perigo é reforçado quando observamos o
ensinamento geral das Escrituras a respeito das falsas doutrinas e da postura
combativa que o pastor deve adotar, a fim de repelir o erro. Nesse sentido,
precisamos lembrar que o apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, afirma que a
linguagem dos falsos mestres “corrói como câncer” (2Timóteo
2.17). Escrevendo a Tito, Paulo fala daqueles que eram “insubordinados,
palradores frívolos e enganadores” (1.10). A palavra de Paulo a Tito a
respeito desses homens foi: “É preciso fazê-los calar, porque andam
pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância”
(1.11). No versículo 13, Paulo continua: “Portanto, repreende-os
severamente, para que sejam sadios na fé”. Pela regra de Efésios 4.29,
Tito deveria falar de modo que contribuísse para a edificação conforme a
necessidade. Há alguma incompatibilidade entre esse princípio e as ordens dadas
por Paulo em sua carta pastoral? De modo nenhum! No caso específico, Tito
estaria contribuindo com a edificação das outras pessoas a partir do momento em
que fizesse os falsos mestres calarem e os repreendesse severamente. Fazê-los
calar e repreendê-los severamente não é incompatível com a boa palavra que
coopera para a edificação dos outros. Antes, é algo que está incluído. Pela
regra de Efésios 4.12-14, ao silenciar e repreender os falsos mestres, Tito
estaria cooperando para a edificação dos santos, para que eles não fossem
enganados pela astúcia dos falsos mestres.
Nesse sentido, podemos pensar também em como o
princípio de Efésios 4.29 se aplica ao ministério daquele que é conhecido como
o último profeta do Antigo Testamento, João Batista. O ensino de João Batista
compreendia o chamado ao arrependimento: “Arrependei-vos, porque está
próximo o reino dos céus” (Mateus 3.2; conferir Marcos 1.4). No entanto, ao
se dirigir aos muitos fariseus e saduceus que iam até ele para serem batizados,
o discurso de João Batista adquiria um tom ainda mais forte: “Raça de
víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos
de arrependimento; e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a
Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a
Abraão. Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não
produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo” (Mateus 3.7-10). É bom
observar que, de acordo com Lucas, esse discurso também era dirigido às
multidões, e não apenas aos fariseus e saduceus (Lucas 3.7). Qual foi mesmo o
fim de João Batista, por ter ele se pronunciado contra o pecado de Herodes?
Todos sabemos. Seria ele o tipo de profeta benquisto? Por qual razão ele não
era benquisto? Teria ele errado ao falar como falou? Teria ele agido contra o
princípio da edificação? Eu creio que a resposta é óbvia.
E Jesus? Ah, com Jesus é diferente. Afinal de
contas, ele disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de
mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa
alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mateus 11.28-30).
Palavras doces, não é mesmo? Certamente, tratam-se de palavras edificantes. No
entanto, este mesmo Jesus, em diversas ocasiões, endureceu o seu discurso, foi
veemente, ousado e intolerante em seus pronunciamentos. O que dizer do
escandaloso discurso registrado em Mateus 23.13-36, no qual, por sete vezes
Jesus se dirigiu aos escribas e fariseus, dizendo: “Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas”? O que dizer das duras expressões usadas para adjetivar
os escribas e fariseus, como por exemplo, “Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez
feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!” (Mateus
23.15)? Não é possível deixar de perceber que, aqui, Jesus chamou os escribas e
fariseus de “filhos do inferno”! Ele também os chamou de “insensatos e
cegos!” (v. 17), “guias cegos” (vv. 16,24), “sepulcros caiados,
que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de
mortos e de toda imundícia!” (v. 27), “serpentes, raça de víboras!”
(v. 33), condenados do inferno (v. 33). O que dizer de tais palavras de nosso
Senhor? Foram elas ditas para edificação? Elas serviram ao propósito de
edificar os santos e, assim, livrá-los dos falsos mestres que enganam com todo
tipo de astúcia? Certamente, que sim!
Temos ainda o famoso sermão sobre o Pão que desceu
do céu, registrado em João 6. Qual foi a reação dos judeus que ouviram as
palavras de Jesus naquela ocasião? Eis: “Muitos dos seus discípulos, tendo
ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?”
(João 6.60). As palavras de Jesus, disseram os judeus, foram duras. De acordo
com eles, tal discurso era insuportável. No versículo 66 está escrito: “À
vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele”.
Tudo ia bem até Jesus adotar um tom ousado e veemente em suas palavras. Ele era
“edificante” até pregar o sermão de João 6. Mas, teria Jesus falhado em dizer
palavras propícias à edificação daquelas pessoas, uma vez que elas não
gostaram, na verdade, não suportaram aquele discurso? Ou será que, sim, Jesus
disse palavras edificantes e a culpa estava, na realidade, nos corações dos
ouvintes? Eu acredito firmemente que as palavras de Pedro respondem a estes
questionamentos: “Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu
tens as palavras da vida eterna” (v. 68). Pedro reconhece que aquele duro
discurso, aquele discurso intolerável para muitas pessoas era, na verdade,
constituído de palavras de vida. Aquele discurso intolerável era, sim, um
discurso edificante.
Não é incomum a existência de uma tensão em razão
do discurso mais duro e combativo de ministros do evangelho. Isso ocorre mesmo
dentro das igrejas cristãs. Isso ocorreu com Paulo e uma igreja local plantada
por ele. Em 2Coríntios 10.10 Paulo reproduz o que era dito pelos crentes da
igreja de Corinto a respeito daquilo que ele escrevia: “As cartas, com
efeito, dizem, são graves e fortes; mas a presença pessoal dele é fraca, e a
palavra, desprezível”. O contraste entre “as cartas graves e fortes”
e a “palavra desprezível” é digno de nota. Era como se dissessem que
havia uma diferença entre o Paulo no púlpito e o Paulo escritor. Escrevendo ele
era ousado, forte, impetuoso, intolerante. E isso não agradava os coríntios. E
como os coríntios julgavam a Paulo? Ele mesmo responde no versículo 2: “nos
julgam como se andássemos em disposições de mundano proceder”. Será que,
naquilo que escrevia, Paulo não atentava para a edificação dos coríntios? Não é
este o caso. A carta inteira, então, é uma defesa de Paulo, da corretude do seu
procedimento. O que mais chama a minha atenção é o fato de que temos aqui
crentes que eram filhos na fé de Paulo, e que o julgavam dessa forma. Não é de
admirar, pois, que o mesmo ocorra com pastores cujas igrejas não foram
plantadas por eles.
Eu poderia falar também do que era experimentado
pelos profetas do Antigo Testamento. Limito-me, todavia, a Jeremias, chamado
para falar contra os pecados do povo de Deus. No capítulo 20 do seu livro nós
nos deparamos com uma triste ocorrência. Somos apresentados a um homem chamado
Pasur, filho do sacerdote Imer. O versículo 1 diz que Pasur “ouviu a
Jeremias profetizando estas coisas”. Que coisas? Precisamos voltar ao verso
15 do capítulo 19: “Assim diz o SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Eis
que trarei sobre esta cidade e sobre todas as suas vilas todo o mal que
pronunciei contra ela, porque endureceram a cerviz, para não ouvirem as minhas
palavras”. Jeremias proferira uma profecia de juízo, um anúncio de castigo
da parte de Deus. O que Pasur fez? Como ele reagiu? Como ele tratou a Jeremias?
Eis a resposta: “Então, feriu Pasur ao profeta Jeremias e o meteu no tronco
que estava na porta superior de Benjamim, na Casa do SENHOR. No dia seguinte,
Pasur tirou a Jeremias do tronco” (v. 2). Isso é simplesmente inimaginável!
Um profeta espancado, amarrado a um tronco e deixado ao relento noturno! E por
quê? Pela fidelidade a Deus! E Jeremias lamenta a sua situação diante do
Senhor: “Persuadiste-me, ó SENHOR, e persuadido fiquei; mais forte foste do
que eu e prevaleceste; sirvo de escárnio todo o dia; cada um deles zomba de
mim” (v. 7). Ele era escarnecido. Ele era zombado. E por quê? Pela
fidelidade a Deus! Mais à frente, do versículo 14 ao 18, o lamento de Jeremias
ganha contornos ainda mais doloridos.
O que se requer, então, dos cristãos em relação aos
seus ministros nesse sentido? Compreensão, simpatia, empatia e boa vontade.
Pastores precisam ser combativos. Paulo deixou isso bem claro aos presbíteros
de Éfeso (Atos 20.17-35). Lobos vorazes que não poupam o rebanho penetram na
igreja (v. 29). E, em nossos dias, isso acontece por meio da televisão e também
da internet. Muitas vezes, do meio da própria liderança homens se levantam
falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles (v. 30).
Pastores precisam vigiar, estar atentos (v. 31). Eles precisam enfrentar tais lobos.
E, ao fazerem isso, eles estão lutando pela edificação dos crentes. É uma
tarefa dolorosa. É angustiante. É desgastante ter de lutar contra o erro, que
muitas vezes se apresenta de modo sutil. Hebreus 13.17 diz que os crentes devem
obedecer aos seus guias/líderes/ministros, pois eles velam por suas almas. E
mais, os ministros prestarão contas pelas almas dos crentes. Meu coração
acelera quando penso em que, um dia, eu estarei diante de Deus e prestarei
contas pelas almas das pessoas que passaram pelos meus cuidados. E se eu não
tiver vigiado atentamente contra os lobos? Se eu não tiver calado os falsos
mestres? E se eu não os tiver combatido e repreendido? O que será de mim? Além
disso, Hebreus 13.17 também diz que os crentes devem se submeter aos seus pastores,
para que, no exercício do seu ministério eles façam isso com alegria e não
gemendo. Será que quando uma ovelha se volta contra o ensino do seu pastor e o
rejeita isso não faz com que ele gema?
Ainda evocando a Paulo, ele diz a Timóteo que “devem
ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem
bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1Timóteo
5.17). Afadigar-se na palavra e no ensino... Fadiga é o resultado natural do
pastorado. Essa fadiga pode ser aumentada, dependendo da resposta ao ministério
do pastor. Mas, o pastor, que se afadiga na palavra e no ensino, que se esforça
por fazer os falsos mestres calarem, que os repreende, que os combate, que
vigia contra os lobos, e, em tudo isso, ele busca a edificação da igreja, o que
ele merece? Paulo diz: “dobrados honorários” ou “duplicada honra”, como diz a
versão Corrigida Fiel. Encerro com as palavras de um pastor, Jonathan Edwards,
que, no passado, foi alvo de incompreensão, e que falando sobre a excelência do
ministro cristão, fez o seguinte apelo aos crentes:
E aqui me dirijo especialmente ao povo de Deus,
cujas almas em breve estarão sob os cuidados dEle, mas agora está solenemente
sendo separado para a obra do ministério.
Se de fato, vocês ouviram, é a excelência
apropriada de um ministro do Evangelho ser como uma lâmpada que arde e alumia,
então é dever de vocês orarem seriamente pelo seu ministro, a fim de que ele se
encha com a luz divina e com o poder do Espírito Santo. Pois aqui vocês estarão
orando por algo que é para o vosso próprio benefício. Pois se o ministro de
vocês queimar e iluminar, será para a vida e luz de vocês. Aquilo que foi
exposto, que é a principal excelência de um ministro, a fim de se tornar um
ministro a maior bênção de todas as coisas que Deus sempre dá a um povo.
E como é dever de vocês, orar pedindo que seu
ministro seja tornado uma bênção tal para vocês, então devem fazer a sua parte
para que seja assim, apoiando-o, e colocando-o na melhor das circunstâncias,
com uma mente livre dos cuidados do mundo, e a pressão das demandas e
dificuldades exteriores, para que ele se dedique inteiramente à sua obra. E por
todas as formas devidas de respeito, e gentileza, e ajuda, vocês devem
encorajar seu coração, e fortalecer suas mãos. E tomar cuidado a fim de que não
façam nada para obscurecer e apagar a luz que brilha no meio de vocês, e abafar
e apagar a chama, ao lançar terra e sujeira sobre ela; ao ter o ministro de
vocês a necessidade de se envolver em preocupações mundanas, pela indigência
com que o tratarem; e ao desencorajarem seu coração pelo desrespeito e rudeza.
E, particularmente, quando o ministro de vocês se
mostrar uma lâmpada que queima, ao queimar com o zelo apropriado contra toda e
qualquer impiedade que talvez esteja acontecendo no meio do seu povo, e
manifeste esse zelo ao testemunhar apropriadamente contra isso na pregação da
Palavra, ou por um exercício fiel da disciplina da casa de Deus, em vez de
receber isso com gratidão, e o apoiando nisso, como vocês devem, não levantem
outro fogo, de natureza de oposição contra isso, qual seja, o fogo de suas
paixões ímpias, se manifestando ao reprová-lo por sua fidelidade. Aqui vocês
irão agir de inconformidade com o povo cristão, e se mostrarem muito ingratos
para com seu ministro, e para Cristo, que lhes deu um ministro tão fiel. E irão
também, enquanto vocês lutam contra ele, e contra Cristo, lutar mais
eficientemente contra suas próprias almas.
Se Cristo deu a vocês um ministro que é uma lâmpada
que arde e alumia, tomem cuidado para que vocês não odeiem a luz, porque suas
obras são reprovadas por ela. Mas amem e se regozijem na sua luz; e isso não
somente por um tempo, como os ouvintes apóstatas de João Batista; e venham à
luz. Que o seu auxílio frequente seja o seu ministro para os assuntos da alma,
e em relação a qualquer dificuldade espiritual. E estejam abertos à luz e
desejosos de recebê-la. E sejam obedientes a ela. E assim andem como os filhos
da luz, e sigam o seu ministro assim como ele é seguidor de Cristo, isto é,
quando ele é uma lâmpada que arde e alumia. Se vocês continuarem a fazer isso,
seus caminhos serão como o caminho dos justos, que brilha mais e mais até ser o
dia perfeito, e o fim do curso de vocês será naquelas regiões de alegria da
infinita luz do Altíssimo, onde vocês brilharão com o vosso ministro, e vocês
com Cristo, como o sol, no reino de nosso Pai celeste.[10]
Em Cristo, Senhor nosso,
Alan
***
REFERÊNCIAS:
[1] BibleWorks 10.
[2] Ibid.
[3] Ibid.
[4] Ibid.
[5] Ibid.
[6] Jerry Bridges. Pecados Intocáveis. São
Paulo: Vida Nova, 2013. p. 154.
[7] BibleWorks 10.
[8] João Calvino. Efésios. São José dos
Campos: Fiel, 2007. p. 117.
[9] D. Martyn Lloyd-Jones. A Unidade Cristã:
Exposição sobre Efésios 4.1-16. São Paulo: PES, 1994. p. 199.
[10] Jonathan Edwards. A Verdadeira Excelência
do Ministro Cristão. Niterói, RJ: Interferência, 2012. pp. 47-50.
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