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5 de out. de 2016

Doutrina, Igreja e Vitalidade

Por Thomas Magnum

A visão puritana da vida cristã era uma teologia solidamente reformada que resultava na prática da piedade. Sem doutrina não há vitalidade na comunhão. Mas, de fato devemos reconhecer que existem muitas congregações que possuem até instrução teológica, mas, são apáticas, mornas e indiferentes em relação a prática da doutrina. Também temos congregações que são extremamente calorosas nos relacionamentos, mas, divorciadas da boa doutrina, da pura doutrina.

Temos então dois problemas comuns, que ocorrem com considerável “normalidade”. Ao ler os puritanos, percebemos que há uma preocupação em seus sermões e livros quanto a doutrina na prática da igreja. A ideia de que a teologia reformada deve ser apática acentuadamente racionalista (racionalista não é racional), eivada de paixão, amor a Deus, experiências afetivas com o Deus que é amor é no minimo estranho ao que lemos na história e na prática puritana da fé.

Estudantes de teologia tendem muitas vezes a associar a igreja a uma faculdade ou seminário, obviamente, a igreja deve ser ensinada doutrinariamente, mas, ali não é um centro acadêmico, onde o que mais interessa é a intelectualidade e submerge a vitalidade, a comunhão, o afeto, o culto, a fraternidade etc.

Na igreja os crentes devem ser instruídos na doutrina e essa instrução deve culminar na prática, na vida diária dos cristãos, na família, no trabalho, nos estudos e/ou em qualquer atividade exercida por cristãos regenerados.

Os dois casos que mencionei acima precisam ser pontuados.

1Igrejas que são doutrinadas não devem esquecer a comunhão, teologia e prática não são um hiato. Toda teologia ensinada na igreja deve resultar na transformação e amadurecimento dos cristãos e não o contrário.

2Igrejas fervorosas, fraternas, que gostam de proximidade entre os crentes, não devem ignorar o estudo das Escrituras, o conhecimento doutrinário. Esse fato é muito importante para uma igreja saudável: doutrina, adoração e comunhão, são basilares para a comunidade de fé.

Aqui chegamos então a um ponto importante na questão, o pastor. Se o pastor não for esse canal de ensino e exemplo na teologia e na prática cristã, como teremos uma capilarização dessa práxis na igreja?

É sem dúvida necessário que o pastor seja um homem que tenha a capacidade intelectual para guiar o rebanho nas Escrituras. De fato, um teólogo, no sentido nato do termo. Um conhecedor da doutrina, um homem temente a Deus e que não negocia a teologia saudável, que sabe que o alimento do rebanho será fundamental para o crescimento do mesmo. Obviamente, cada cristão tem sua responsabilidade individual para com sua própria vida espiritual, mas, o pastor é o responsável em alimentar esse rebanho. De fato em muitos lugares e denominações o pastor também administra a congregação local em vários aspectos, mas, devemos sempre lembrar que a sua principal tarefa é dedicar-se a oração e ao ministério da palavra (Atos 6).

Essa vitalidade almejada por crentes sinceros, deve ser cultivada. O sólido ensino teológico deve ser dado as igrejas. Não por imposição implacável, mas, com amor e graça. Instruindo o rebanho no que está sendo feito. Por exemplo, pregar expositivamente é fundamental para o desenvolvimento da igreja em crescimento bíblico, mas, antes de “forçar” uma igreja a aceitar a pregação expositiva (visto que em muitos lugares há real resistência a esse tipo de pregação), ensine primeiro a igreja o que é a pregação. Como meio de graça, como ele se desenvolve nas Escrituras, o que as Escrituras dizem sobre pregar expositivamente.

Não acabamos aqui. Muitas igrejas tem teologia boa, mas, não são tão boas na comunhão, no envolvimento, no serviço. Sabemos que não há como o pastor transformar pessoas, e as vezes esse fato é muito duro para o pastor, quando não há cooperação e falta de comunhão, mas, o pastor também é exemplo para isso. Seu relacionamento com os membros e congregados, o acompanhamento pastoral, o ensino, as pregações são meios divinos para instrução na justiça.

Minha reflexão aqui se dá pela necessidade de termos igrejas que sejam bíblicas, com sólida educação cristã, pregação doutrinária e expositiva e também, comunhão, calor, amor, graça e misericórdia. A prática cristã comunitária, regida pela doutrina nos levam ao que nosso Senhor ensinou:

Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade. João 17.17

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