Há forte evidência de que
salientar as diferenças pouco trabalha para melhorar as relações raciais, e
pode ainda exacerbar as mesmas diferenças.
Por exemplo, os distritos
escolares de Minneapolis e St. Paul fizeram da dispendiosa educação de
diversidade uma prioridade por décadas. Apesar disso, o distrito de Minneapolis
recentemente anunciou que “racismo embutido” continua a permear as suas
escolas, enquanto que um estudo de 1994 da People para a American Way descobriu
que as “relações raciais e a tolerância” nas escolas de ensino médio de St.
Paul estão “desmoronando”. (Katherine Kersten, “‘Diversity Training’ Efforts
Proceed from False Premise,” StarTribune, 10 de Janeiro de 1996, p. A13)
E a situação também não é
boa nas igrejas. Eu já ouvi observações humilhantes e prejudiciais em nossa
própria igreja sobre minorias étnicas. E um pastor negro me disse recentemente
que um de seus membros negros se sentiu provocado com um novo frequentador
branco e disse: “Eu tenho que me aborrecer com gente branca a semana inteira;
eu não quero ter que fazer isso na igreja aos domingos”.
Então já é tempo de a
igreja, colocar nova energia nessa questão e trabalhá-la. Para esse fim, eu
quero estabelecer um fundamento bíblico na forma de oito teses.
1.
Deus criou todos os grupos étnicos a partir de um ancestral humano.
Atos 17.26:
[Deus] de um só fez toda a
raça humana [pan ethnos = todo grupo étnico] para habitar sobre toda a face da
terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua
habitação.
Observe duas coisas nesse
texto.
Primeiro, observe que Deus é
o CRIADOR dos grupos étnicos. “Deus fez de um só toda a raça humana”. Grupos
étnicos não simplesmente aconteceram a partir de mudanças genéticas aleatórias.
Eles aconteceram pelo desígnio e propósito de Deus. O texto diz claramente:
“DEUS criou cada ethnos”.
Segundo, observe que Deus
criou todos os grupos étnicos a partir de um ancestral humano. Paulo diz: “Ele
fez DE UM SÓ cada ethnos”. Isso tem um murro especial quando você pondera o
porquê de ele escolher dizer especificamente isso a esses atenienses no
aerópago. Os atenienses apreciavam se vangloriar de que eles eram os
autochthones, que quer dizer que eles haviam nascido em seu próprio solo nativo
e não eram imigrantes de algum outro lugar ou grupo étnico. (Veja Lenski e Bruce,
ad. loc.) Paulo escolhe confrontar esse orgulho étnico logo de cara. Deus criou
todos os grupos étnicos — atenienses e bárbaros — e ele os criou a partir de um
ancestral comum. Então vocês, atenienses, são feitos do mesmo tecido que os
desprezados bárbaros e citas.
2.
Todo membro de todo grupo étnico é feito à imagem de Deus.
Gênesis 1.27:
Criou Deus, pois, o homem à
sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.
Quando você coloca esse
ensino de Gênesis 1 (que Deus criou o primeiro homem à sua imagem) junto com o
ensino de Atos 17.26 (que Deus criou todos os grupos étnicos a partir desse
primeiro ancestral), o que surge é que todos os membros de todos os grupos
étnicos são criados à imagem de Deus.
Não importa qual a cor da
pele, ou as feições do rosto, ou a textura do cabelo, ou outros traços
genéticos; todo ser humano em todo grupo étnico possui uma alma imortal à
imagem de Deus: uma mente com poderes de raciocínio singulares semelhantes aos
de Deus, um coração com capacidade para julgamentos morais e afeições
espirituais, e um potencial para relacionamento com Deus que separa
completamente cada pessoa dos animais que Deus criou. Todo ser humano, seja
qual for a cor, forma, idade, gênero, inteligência, saúde ou classe social, é
criado à imagem de Deus.
3.
Na determinação do significado de quem você é, ser uma pessoa à imagem de Deus
se compara com as diferenças étnicas da mesma maneira que o sol do meio dia se
compara com um castiçal.
Em outras palavras,
encontrar a sua identidade principal em ser branco ou ser negro, ou em qualquer
outro traço de cor étnico, é como se orgulhar de carregar uma luz de vela
debaixo do céu sem nuvens ao meio dia. Velas têm seu lugar. Mas não para
iluminar o dia. Então cor e etnia têm o seu lugar, mas não como a glória e
maravilha principal da nossa identidade como seres humanos. A glória primária
de quem nós somos é o que nos une em nossa humanidade semelhante a Deus, não o
que nos diferencia em nossa própria afiliação étnica.
Essa é a mais fundamental razão
pela qual programas de “treinamento de diversidade” normalmente dão um tiro no
pé em sua tentativa de nutrir respeito mútuo entre grupos étnicos. Eles
concentram maior atenção no que é comparativamente menor, e virtualmente
nenhuma atenção no que é infinita e gloriosamente maior — nossa permanência
singular sobre toda a criação como indivíduos criados à imagem de Deus.
Se os nossos filhos e filhas
têm cem ovos, vamos ensiná-los a colocar noventa e nove ovos na cesta chamada
“pessoa feita à imagem de Deus” e um ovo na cesta chamada “distinção étnica”.
4.
A predição de uma maldição que Noé proclamou sobre alguns descendentes de Cam
em Gênesis 9.25 é irrelevante na decisão de como a raça negra deve ser vista e
tratada.
Ao longo dos séculos algumas
pessoas tentaram provar que a raça negra está destinada a ser subserviente por
causa das palavras de Noé sobre o seu filho Cam que foi o pai dos povos
africanos. Observemos o próprio texto da Escritura, e então eu darei três
razões de porque isso não determina como os povos da África devem ser vistos e
tratados. Lembre-se que Noé tinha três filhos: Sem, Cam e Jafé.
Gênesis 9.21–25:
Bebendo do vinho,
embriagou-se [Noé] e se pôs nu dentro de sua tenda. Cam, pai de Canaã, vendo a
nudez do pai, fê-lo saber, fora, a seus dois irmãos. Então, Sem e Jafé tomaram
uma capa, puseram-na sobre os próprios ombros de ambos e, andando de costas,
rostos desviados, cobriram a nudez do pai, sem que a vissem. Despertando Noé do
seu vinho, soube o que lhe fizera o filho mais moço. Então disse: “Maldito seja
[ou “será”] Canaã; seja servo dos servos a seus irmãos”.
Agora observe três coisas:
A
Maldição de Noé Cai sobre Canaã
Primeiro, Noé toma essa
ocasião do pecado de seu filho Cam e a usa para fazer uma predição sobre a
prosperidade do filho mais novo de Cam, Canaã. Basicamente a predição é que os
cananitas eventualmente seriam subjugados pelos descendentes de Sem e Jafé.
Ora, há muitas perguntas a
se fazer aqui. Mas eu só tenho tempo para apontar algumas poucas relevantes ao
nosso ponto principal. Cam tinha quatro filhos de acordo com Gênesis 10.6. “Os
filhos de [eram] Cam: Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã”. Ora, em termos gerais, Cuxe
é provavelmente o ancestral dos povos da Etiópia; Mizraim é o ancestral dos
egípcios; e Pute é o ancestral dos povos do norte da África, os líbios. Mas
Canaã é o único dos quatro filhos que não é ancestral de povos africanos.
Gênesis 10.15–18 cita os descendentes de Canaã: “Canaã gerou a Sidom, seu
primogênito, e a Hete, e aos jebuseus, aos amorreus, aos girgaseus, aos heveus,
aos arqueus, aos sineus, aos arvadeus, aos zemareus e aos hamateus”. Todos
esses povos eram habitantes de Canaã e proximidades, não da África. E a
predição de Noé se tornou verdade quando as nações cananitas foram expulsas
pelos israelitas por causa de sua perversidade (Deuteronômio 9.4–5). Então a
maldição não recai sobre os povos africanos, mas sobre os cananitas.
A
Maldição de Noé Não Trata de Indivíduos
Segundo, a nação predita de
Noé não dita como o povo de Deus deve tratar cananitas individuais. Por
exemplo, cinco capítulos depois, em Gênesis 14.18, Abraão, descendente de Sete,
encontra um cananita nativo chamado Melquisedeque, que era homem justo e
“sacerdote do Deus Altíssimo”, e que abençoou Abraão. Abraão deu a ele o dízimo
dos seus espólios. Então nem mesmo o fato de que Deus ordena julgamento sobre
nações perversas dita a nós como devemos tratar indivíduos nas mesmas nações.
Deus
Planeja Redenção para Todas as Nações
Terceiro, em Gênesis 12,
Deus coloca em ação um grande plano de rendenção para todas as nações, para
resgatá-las dessa e de qualquer outra maldição de pecado e julgamento. Ele
chama a Abrão para todas as nações e faz uma aliança com ele e promete:
Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti
serão benditas todas as famílias da terra”. “Todas as famílias da terra” inclui
as famílias cananitas.
Então o que vemos é que, com
Abraão, Deus está colocando em ação um plano de redenção que derruba cada
maldição sobre qualquer pessoa que recebe a bênção de Abraão, a saber, o perdão
e a aceitação de Deus que vem através de Jesus Cristo, a semente de Abraão
(Gálatas 3.13–14). O que nos leva para a quinta tese:
5.
É propósito e ordem de Deus que façamos discípulos para Jesus Cristo de cada
grupo étnico do mundo, sem distinção.
Mateus 28.18–20:
Toda a autoridade me foi
dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos
os dias até à consumação do século.
Fazei discípulos de “todas
as nações” — isto é, de todo grupo étnico. É a mesma expressão de Atos 17.26,
onde diz que Deus de um só criou “toda a raça humana” — todo grupo étnico.
Assim como todos os grupos étnicos são criados à imagem de Deus, o objetivo de
Deus é redimir pessoas de todo grupo étnico. O fato de sermos feitos à imagem
de Deus não significa que somos salvos. Todos somos distorcidos pelo pecado. As
singulares maneiras em que fomos criados para refletir a glória e o valor de
Deus foram amplamente arruinadas. Então Deus enviou o seu Filho, Jesus, ao
mundo para morrer por nós para que possamos crer nele e ser perdoados, limpos e
restaurados, para que nos tornássemos troféus da sua graça.
6.
Todos os crentes em Jesus Cristo, de todo grupo étnico, são unidos uns aos
outros não apenas em uma simples humanidade à imagem de Deus, mas ainda mais,
como irmãos e irmãs em Cristo e membros do mesmo corpo.
Romanos 12.4–5:
Assim como num só corpo
temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, assim também
nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros.
O corpo de Cristo tem uma
mão negra, um pulso branco, um braço amarelo e um ombro vermelho. E o pulso
branco não pode dizer para a mão negra: “Não preciso de você” (1 Coríntios
12.21). E o braço amarelo não pode dizer ao ombro vermelho: “Por eu não ser um
ombro, não sou parte do corpo” (1 Coríntios 12.15).
Outra figura, além de um
corpo, é uma família.
1 João 3.1:
Vede que grande amor nos tem
concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos
filhos de Deus.
Em outras palavras, se a
nossa identidade como indivíduos humanos criados à imagem de Deus é maior do
que todas as diferenças étnicas (visto no ponto no. 3), então a nossa
identidade como filhos de Deus renascidos é ainda maior do que todas as
diferenças étnicas. Eu diria da seguinte maneira: A glória da nossa semelhança
familiar em Cristo é muito maior do que as nossas diferenças étnicas, tanto
quanto o oceano é maior do que um dedal.
Antes vimos uma grande
verdade — de que somos mais unidos pela nossa humanidade do que separados pela
nossa afiliação étnica. Mas essa é uma verdade ainda maior, que em Cristo temos
unidade sobre unidade. No topo de uma comum pessoalidade humana à imagem de
Deus, temos uma comum pessoalidade redimida à imagem de Cristo. E quão menos
devemos ser divididos pelas nossas diferenças étnicas! “[Não há] grego nem
judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém
Cristo é tudo em todos” (Colossenses 3.11).
7.
A Bíblia proíbe casamento entre um crente e um incrédulo, mas não entre membros
de diferentes grupos étnicos.
1 Coríntios 7.39:
A mulher está ligada
enquanto vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com
quem quiser, mas somente no Senhor.
“Somente no Senhor”. A
Bíblia nos direciona claramente a não casar com incrédulos. Se já estamos
casados com um incrédulo, devemos permanecer casados (1 Coríntios 7.12–13; 1
Pedro 3.1–6). Mas se estamos livres para casar, devemos casar apenas com aquele
que compartilha da nossa lealdade a Jesus.
Esse era o ponto principal
das advertências do Antigo quanto a casar com aqueles que pertenciam a nações
pagãs. Por exemplo, Deuteronômio 7.3–4:
Nem contrairás matrimônio
com os filhos dessas nações; não darás tuas filhas a seus filhos, nem tomarás
suas filhas para teus filhos; pois elas fariam desviar teus filhos de mim, para
que servissem a outros deuses; e a ira do SENHOR se acenderia contra vós
outros.
A questão não é mistura de
cores, ou mistura de costumes, ou identidade do clã. A questão é: haverá uma
lealdade comum ao Deus verdadeiro nesse casamento, ou haverá afeições
divididas? A proibição na Palavra de Deus não é contra casamento inter-racial,
mas contra casamento entre crente e incrédulo. Isso é exatamente o que
esperaríamos se a grande base da nossa identidade não são as nossas diferenças
étnicas, mas a nossa comum humanidade à imagem de Deus e a nossa nova
humanidade à imagem de Cristo.
8.
Portanto, contra o crescente espírito de indiferença, alienação e hostilidade
no nosso país, nós abraçaremos a supremacia do amor de Deus para dar novos
passos pessoal e coletivamente em direção à reconciliação racial, expressada
visivelmente em nossa comunidade e em nossa igreja.
Que venhamos a banir cada
pensamento de depreciação e falta de amor das nossas mentes.
Expulsemos de nossas bocas
cada palavra ou tom de escárnio ou desdém.
Saiamos do nosso conforto
para mostrar unidade pessoal e afetuosa com cristãos de todos os contextos
étnicos.
Sejamos o sal e a luz da
nossa hostil e assustadora sociedade com atos corajosos de bondade e respeito
inter-raciais.
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Fonte: Voltemos Ao Evangelho
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