Por John Piper
Depois da minha mensagem
ao corpo discente da University Liberty semana passada, um estudante atento me
perguntou essa questão esclarecedora: "Então você não acredita que atos
altruístas são possíveis ou desejáveis?".
Eu pedi para ele definir
altruísmo de modo que eu pudesse responder o que ele realmente estava
perguntando. Ele disse: "Fazer uma boa obra a outros sem vislumbrar uma
recompensa". Eu respondi: "Está certo, sendo ou não possível, eu não
acredito que é desejável, porque não é o que a Bíblia nos ensina a fazer; e não
é o que pessoas sentem como sendo um amor genuíno. Porque isto não é amor
genuíno."
QUANDO DEUS É GLORIFICADO
Eu tinha dito na mensagem
de convocação: "Fazer o certo pela causa da retidão é ateísmo. Crentes
deveriam fazer o que é certo pela causa de Deus; porque a Bíblia nos ensina a
fazer tudo para a glória de Deus (1 Coríntios 10:31). Mas Deus não é
glorificado se nós O deixamos fora da questão e dizemos que fazer a obra certa
é sua própria justificação. Nada justifica a si mesmo se Deus é deixado de
lado.
Crentes deveriam fazer o
que Deus diz que é certo porque, ao fazer isso, nós apreciamos mais a Deus.
Jesus estava nos motivando a ser generosos aos outros quando Ele disse:
"Mais bem-aventurado é dar que receber" (Atos 20:35). Estou
simplesmente dizendo que essa benção motivadora prometida não é principalmente
mais dinheiro, mas mais de Deus. Deus gosta mais de revelar mais de si mesmo ao
generoso do que ao mesquinho (João 14:23).
Esse motivo glorifica a
Deus. Deus é glorificado quando Ele é desejado como um tesouro. Se nós queremos
uma comunhão mais profunda com Ele porque Ele nos faz mais felizes do que
qualquer pessoa, nós O glorificamos. Então, estar motivado a fazer o certo pelo
desejo de mais de Deus, glorifica a Deus.
COMO JESUS MOTIVA
Jesus disse que quando nós
somos difamados enquanto crentes, devemos nos regozijar (Mateus 5:12) e amar os
nossos inimigos (Mateus 5:44) "porque é grande o vosso galardão nos
céus" (Mateus 5:12), e "para que vos torneis filhos do vosso Pai
celeste" (Mateus 5:45). A motivação a qual ele apela é que o caminho do
amor sacrificial leva a um aumento de alegria no nosso relacionamento com Deus
enquanto Pai.
Jesus nos motiva a
"convida(r) os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos" para nosso
banquete" pelo fato de não terem eles com que recompensar [a nós]". E
adiciona: "a tua recompensa, porém, tu a receberás na ressurreição dos
justos." (Lucas 14:13-14). Em outras palavras: seja generoso; faça sacrifícios
nesse mundo; porque grande é a sua recompensa no céu.
A recompensa, é claro,
inclui tudo na herança de Deus. Você será um "herdeiro do mundo"
(Romanos 4:13). "Porque tudo é vosso" (1 Coríntios 3:21). Os mansos
"herdarão a terra" (Mateus 5:5). Sim, a recompensa inclui coisas
terrenas. Mas naquele dia não haverá o perigo da idolatria. A terra, os céus e
todas as coisas declararão a glória de Deus, e a essência da nossa alegria
nelas será a alegria Nele. O que faz nossa recompensa verdadeiramente excelente
é a plenitude maravilhosa da nossa comunhão com Deus. "Tu me farás ver os
caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra,
delícias perpetuamente." (Salmos 16:11).
Essa "plenitude"
e esse "perpetuamente" estão por trás da motivação dos crentes da
igreja primitiva quando eles faziam o certo e sofriam. Eles visitavam amigos
crentes na prisão porque eles viam a recompensa. "Porque não somente vos
compadecestes dos encarcerados, como também aceitastes com alegria o espólio
dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e
durável." (Hebreus 10:34). Eles se regozijavam na prisão porque sua
recompensa era grande no céu. É disto que eles ganhavam coragem para arriscar
suas vidas: "tem grande galardão." (Hebreus 10:35).
Então, eu respondo
novamente: "Fazer uma boa obra a outros sem vislumbrar uma
recompensa" é antibíblico e ateísta. Isto desonra a Deus. Ele oferece mais
alegria na sua comunhão àqueles que fazem o certo "pela Sua Causa" do
que "pela causa da retidão". Se não abraçarmos a oferta da Sua
Recompensa, nós O desprezamos. Mas se abraçarmos a oferta, mostramos que Ele É
O Nosso Tesouro supremamente desejado — acima de todas as recompensas de fazer
o que é errado.
NOSSA ALEGRIA EM AMAR OS
OUTROS
Finalmente, eu disse como
resposta à ótima pergunta do estudante: "Não apenas tentar fazer o bem
pela causa da retidão desonra a Deus, mas também não mostra amor aos outros.
Pessoas não experimentam isto como amor." Mas por que elas experimentariam
o nosso bem como amor se estivéssemos buscando a nossa grande alegria em Deus?
Elas não estariam sendo apenas usadas?
Não. Porque parte da
alegria maior que buscamos em Deus, fazendo o bem a elas, é a inclusão delas na
nossa alegria. Nossa alegria em Deus seria expandida pela alegria deles em
Deus. Nós não os estamos usando para a nossa maior alegria. Nós os estamos
trazendo para a grande alegria e desejando que eles sejam parte disso.
Mas fazer o certo pela
causa da retidão não tem esse efeito. Suponha que eu vá visitar Ethel no
hospital, uma senhora idosa que teve um ataque cardíaco. Eu estendo a minha mão
no seu braço frágil, ela abre os olhos e diz: "Oh pastor, você não
precisava vir". Suponha que eu responda: "Eu sei, mas era meu dever
vir. Isso era a coisa certa a fazer por si mesma. Portanto, eu vim." Esta
resposta não faz Ethel se sentir amada.
Mas suponha que eu diga:
"Eu sei, mas sempre me faz mais feliz em Deus, Ethel, trazer um pouco de
encorajamento para você e lembrá-la das promessas do Senhor." Ethel nunca
diria: "Você é tão egoísta. Tudo o que você pensa é o que faz você ficar
feliz." Ela não sentiria isso, embora eu tenha dito: "Sempre me faz
mais feliz...". E a razão pela qual ela não o sentiria é porque minha
busca de mais alegria em Deus ao fazer o bem a ela, e querer que ela faça parte
disso, é o que amor genuíno é.
Que Deus nos proteja da
noção ateísta de fazer o bem pela causa da retidão. E que ele nos transforme
nesse tipo de adoradores esquisitos e maravilhosos que negam a si mesmos os
"prazeres transitórios do pecado" e "preferem ser maltratados
junto com o povo de Deus", porque nós "contemplamos o galardão"
(Hebreus 11:25-26).
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Fonte: Desiring God