Por Fred Lins
Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode
negar-se a si mesmo.
II Tim. 2.13
Deus é fiel a mim?
Quando me deparo com
canções e citações com as seguintes frases: “Deus é fiel aqueles que são fiéis”,“
Deus vai honrar a tua fidelidade”, “Fiel,
Senhor meu Deus, fiel a mim,”. Fico me perguntando: O que seria de
Abraão se Deus não tivesse se manifestado a Ele? O que seria de Moisés? De
Davi? Do colégio apostólico? Enfim, da
história progressiva da revelação? Com toda certeza essa história nunca teria
acontecido. A verdade que sustenta toda a fundamentação Bíblica é que Deus
revelou-se a nós, a sua iniciativa e ação resultou no que somos hoje, logo não
há méritos para nós, não há elogio.
A
quem Deus é fiel?
O texto citado no
início assegura-nos de que a fidelidade de Deus não estar fundamentada em nós,
mas fundamenta-se nEle mesmo, em seus decretos, sua palavra e sua Graça
(natural e especial). Não há uma só expressão Bíblica que me garanta que a
fidelidade de Deus tem a mim como finalidade. A fidelidade de Deus é reflexo do
seu caráter, justiça e bondade. Quando sou agraciado com bens espirituais,
materiais, ou bens de qualquer natureza é a manifestação da Graça e bondade de
Deus em minha vida.
Se
Deus não é fiel a mim, logo posso fazer o que fizer e serei abençoado?
Vamos partir do
princípio usado no Antigo Testamento. Quando Deus exigia dos homens retidão,
justiça e fidelidade não que dizer que Deus estava estabelecendo uma
meritocracia, nem muito menos estimulando uma barganha, mas ensinando o
princípio da responsabilidade humana. Na nova aliança o princípio é mais
sofisticado, mas não exclui o mesmo princípio utilizado antes, logo manter-me
fiel a Deus não me garante mais do que realmente Deus possa me agraciar, mas o
oposto traz sobre mim profundas consequências. O princípio da fidelidade em
Deus não passa por nuances e instabilidades humanas, mas persiste em
fundamentar-se no caráter imutável e estável de Deus.
A
fidelidade de Deus e o evangelicalismo Brasileiro
Em um contexto onde as
características da suposta espiritualidade não passam de misticismo,
experiencialismo e subjetivismo. O que esperar em se tratando do conceito
acerca de fidelidade? É obvio que neste ambiente sobressai sempre o exclusivismo
do “evangelho” egocêntrico, encharcado de si mesmo e muito mais comprometido
com suas “vãs” experiências sobrenaturais. A fidelidade em ambientes
narcisistas e maquiados de piedade transforma-se em troféu de crente fiel,
quando não é usado como enredo do confronto revanchista entre irmãos, mas
também é oferecido como um “toma lá da cá” para aqueles que entram nos
“desafios”, “carnês” e “campanhas” das arapucas preparadas para fisgar o
primeiro que aparecer.
Deus
é fiel
Essa frase esta estampada como slogan de uma determinada denominação, mas certamente não
evidencia a realidade textual de tão profunda declaração. A fidelidade e a ação
de Deus trabalham em conjunto sempre com o propósito de enaltecer a sua glória,
de estabelecer a sua vontade, de fazer cumprir os seus estatutos. Há um texto
que me faz perceber esta fidelidade de Deus que independe de mim, mas ao mesmo
tempo me impõe responsabilidade. É a narrativa de Deuteronômio capítulo 7 e
versículo 9 que diz o seguinte:
Saberás, pois, que o Senhor teu Deus, ele é Deus, o Deus
fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e
guardam os seus mandamentos.
A narrativa em destaque faz parte de uma orientação de Moisés
ao povo que estava no deserto, para que eles não se contaminassem com os
povos cananeus, mas que se preservassem em favor de cumprir o que Deus estaava exigindo.
Mas observe que a narrativa trata Deus como “Deus fiel” muito antes de
adentrarem na terra, logo a atribuição de Deus fiel, não depende de mim, mas do
próprio caráter de Deus em conjunto com a sua ação. Outra observação pertinente
faz parte da responsabilidade humana: ... guarda a aliança e a misericórdia...
aos que o amam e guardam os seus mandamentos.Quem guarda a aliança e
permanece inalterável é Deus, logo é Ele mesmo que garante a sua palavra. Deus
é o penhor daquilo que Ele mesmo fala. Outra observação ocorre na
responsabilidade do homem, ou seja, somente aqueles que guardassem os
mandamentos provariam a fidelidade de Deus, mas não por causa do homem, mas por
conta dEle (Deus) mesmo.